Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz apenas até onde outros já foram.
- Alexander Graham Bell
Um espaço de reflexão e questionamento, abrangendo desde assuntos do cotidiano, passando pelas artes, até história e cultura.
Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz apenas até onde outros já foram.
- Alexander Graham Bell
Independência ou Morte, por Samanta M. Sampaio
ENTRE OS BURACOS DA MEMÓRIA
A
extraordinária obra acima é de autoria de um artista suíço chamado Dominique
Appia, que viveu toda sua vida em Genebra.
Não se trata de um nome muito
conhecido, pois sua obra não é muito extensa, não havendo praticamente nenhum material
impresso sobre ele ou sobre sua vida. O pouco que se sabe é que ele foi um arquiteto
durante grande parte de sua vida e, ao ter uma crise de meia idade, decidiu
pintar, que era uma atividade que fazia antes de ser tornar arquiteto.
Seus
quadros são todos no estilo surrealista, muitas vezes sendo confundidos com
obras de Salvador Dalí. A temática principal de seus quadros é o inconsciente,
a psicologia e o mundo dos sonhos.
Quando
vi a obra acima fiquei encantado e comprei um poster de grandes proporções, o
qual está em minha sala há muitos anos. Toda vez que olho para ele vejo algo
novo e que não havia percebido ou entendido anteriormente. Desta forma, não
farei uma análise do quadro, deixando que cada um o “leia” e entenda de acordo
com sua própria interpretação pessoal.
No entanto, uma coisa é evidente: Dominique Appia foi um artista genial que merecia ter tido mais reconhecimento do que teve. Suas obras são magníficas e artisticamente riquíssimas. Sem dúvida alguma, um grande mestre da pintura.
PELADA NA VÁRZEA
Boa noite caros telespectadores! Bem-vindos
ao duelo desta noite: o brasileiro versus a incompetência do governo! Este
promete ser um jogo duríssimo!
O brasileiro entra otimista em campo. Tem confiança de conseguirá embarcar ainda hoje em seu voo para a extremidade oposta do país. O governo está disposto a fazer de tudo para impedi-lo, e é extremamente competente nisso. Todos os adversários do governo reconhecem sua infinita capacidade de sorver todos os recursos de seus oponentes, deixando-os sem energia para enfrentá-lo.
Começa o jogo. O brasileiro pega a bola, o governo vem e entra duríssimo, na canela e sai correndo e, como não tem nenhum escrúpulo mesmo, considera a jogada normal e prossegue.
A situação começa a ficar difícil para o
brasileiro, pois o governo demonstra que as regras do jogo só se aplicam ao
brasileiro, não para si, pois ele tem foro especial e privilegiado em Brasília.
Como sempre, correndo atrás do prejuízo que lhe é imposto pelo governo, o brasileiro corre atrás da bola e consegue tomá-la do governo, já que ele é extremamente lento e burocrático ao correr.
Feliz da vida, o brasileiro parte velozmente em direção ao saguão principal do aeroporto. A torcida está toda a favor do brasileiro, mas não o demonstra, afinal, o povo daqui só lembra que é brasileiro durante a copa do mundo, não em um jogo sem qualquer glamour como este.
Mesmo sem o apoio da torcida, silenciosa devido à apatia e acomodação que lhe são peculiares, o brasileiro consegue passar driblar os motoristas de táxis que tentam bloquear sua passagem, oferecendo preço fechado na bandeirada deles por apenas R$200,00.
O brasileiro entra na área do adversário, porém, fica desorientado, pois não consegue tocar sua bagagem até o check in. Há uma multidão de pessoas por lá, todas revoltadas. Reclamam, mas ninguém faz algo de concreto. Um esporte nacional realmente popular: ficar horas esperando em filas, reclamando, não fazer nada à respeito disso e, depois de atendido, ir embora e se esquecer de tudo.
Depois de muitos dribles e de mostrar toda sua ginga, o brasileiro consegue fazer o check in, não antes de ser confundido novamente pelas informações contraditórias dos funcionários da companhia aérea e ser tratado com a mesma cordialidade dos garçons franceses.
Porém, o governo, apesar de sua morosidade e incompetência, possui aliados por toda parte, que tentam de toda forma dificultar a vida do brasileiro e impedir sua viagem.
Portões são abertos e fechados, informações
contraditórias nos painéis, todo tipo de artifício é usado para desorientar o
infeliz brasileiro.
Usando de suas últimas forças, o brasileiro dá um chapeuzinho no adversário em frente ao portão de embarque. Ufa! Consegue passar por mais um! Agora corre obstinadamente em direção ao embarque, onde uma barreira bloqueia sua visão. Mas o brasileiro realmente está decidido a embarcar neste voo.
Dá um chute em sua bagagem de mão e consegue
colocá-la por cima da barreira. Agora só falta ele conseguir embarcar!!!
Cada vez mais confiante em sua habilidade de superar os obstáculos, o brasileiro faz uma finta, finge que vai e não vai e consegue driblar a barreira à sua frente. Já com o grito de gol na garganta, penetra a pequena área adversária e consegue entrar no avião. Milagre!! Seu assento não está ocupado por nenhum idiota analfabeto que não consegue ler o número de seu assento no bilhete!
Parece inacreditável, caros telespectadores, mas o brasileiro consegue
sentar-se em sua poltrona e afivelar o cinto de segurança!
Goooooooooooooooooooooool!!!!!, grita ele euforicamente.
Porém, logo em seguida, ele ouve a voz do comandante da aeronave falando num tom digno de “A Voz do Brasil”.
-Informamos aos srs. passageiros do voo Goooooooooooooooooool 123, com destino à Fimdomundópolis que não teremos como decolar. Está chovendo e faltando eletricidade na cidade. O aeroporco de Pamonhas está fechado por sua pista não estar preparada para dias chuvosos.
Pedimos a gentileza que o povo brasileiro
engula mais esse sapo e volte amanhã às 4 horas da manhã para pegar uma senha
para o reembarque, provavelmente lá pelo final da tarde, se a chuva tiver
parado e os controladores de voo não estiverem mais em greve.
Este realmente não é um país sério.
ÁLBUNS
CLÁSSICOS DO ROCK – VOLUME 5
MARILLION – CLUTCHING AT STRAWS
FICHA TÉCNICA
ANO
DE LANÇAMENTO |
1987 |
PRODUZIDO
POR |
CHRIS
KIMSEY |
MÚSICOS
PRINCIPAIS |
TODAS
AS CANÇÕES DE AUTORIA DE FISH, STEVE ROTHERY, PETE TREWAVAS, MARK KELLY E IAN
MOSLEY FISH –
VOCAL STEVE
ROTHERY – GUITARRA PETE
TREWAVAS – BAIXO IAN MOSLEY
– BATERIA MARK
KELLY – TECLADOS TESSA
NILES – BACKING VOCALS NAS FAIXAS 3 E 11 |
LISTA DE CANÇÕES DO ÁLBUM
1 |
HOTEL HOBBIES |
2 |
WARM WET CIRCLES |
3 |
THAT TIME OF THE NIGHT |
4 |
GOING
UNDER |
5 |
JUST
FOR THE RECORD |
6 |
WHITE
RUSSIAN |
7 |
INCOMMUNICADO |
8 |
TORCH
SONG |
9 |
SLAINTE
MHATH |
10 |
SUGAR
MICE |
11 |
THE LAST STRAW /HAPPY ENDING |
ORIGENS DO ÁLBUM
"Se uma pessoa tentasse
tirar os trajes dos atores enquanto eles encenam uma cena no palco, mostrando
ao público sua aparência real e os rostos com os qual nasceram, ela não
estragaria toda a peça? E os espectadores não pensariam que ele mereceria ser
expulso do teatro à tijoladas, como um bêbado inconveniente? Agora, o que mais
é toda a vida dos mortais, além de uma espécie de comédia, em que os vários
atores, disfarçados por vários figurinos e máscaras, caminham e cada um faz o
seu papel, até que o diretor os acena para saírem do palco? Além disso, este mesmo
diretor frequentemente ordena ao mesmo ator que volte à cena em uma fantasia
diferente, de modo que ele que interpretou o rei vestido em escarlate agora atua
como um lacaio vestido em roupas remendadas. Assim, todas as coisas são
apresentadas por sombras.”
- Erasmo de Roterdã em sua
obra “O Elogio da Loucura”, de 1509
Essa é a citação que aparece
na contracapa do quarto álbum da banda inglesa/escocesa Marillion, em sua maior
obra prima, intitulada “Clutching at Straws”, e que dá o tom sombrio que
permeia todas as canções desse que foi o último álbum deles com o vocalista
Fish.
Contra capa do álbum |
O título do álbum em inglês
significa aproximadamente “Agarrando Palhas” em português. Essa expressão foi
criada originalmente por Thomas More em sua obra “Diálogo do Conforto Contra a
Atribulação”, de 1534. O sentido da expressão é a de que um homem que está
desesperado, se afogando, agarra qualquer coisa que ver pela frente, ainda que
sejam pedaços de palha, com o intuito de salvar sua vida antes de morrer afogado.
Em 1985 a banda lançou seu
álbum de maior sucesso comercial de toda sua carreira, intitulado “Misplaced
Childhood”. O obra teve uma enorme repercussão em todo mundo, principalmente
por duas de suas grandes canções: “Kayleigh” e “Lavender”.
Fizeram uma extensa tour
pela América do Norte e Europa, lotando os locais onde se apresentavam.
Aparentemente estavam no auge da carreira, alcançando a fama e o reconhecimento
que tanto haviam almejado. No entanto, o preço que pagaram por isso foi muito alto.
Tão alto que acabou gerando uma ruptura entre os membros da banda.
Da esquerda para a direita: Mark Kelly, Pete Trewavas, Ian Mosley, Steve Rothery e Fish (sentado) |
Uma pressão imensa por parte
da gravadora para que retornassem logo ao estúdio para gravarem um novo álbum
que fosse tão bem sucedido quanto seu antecessor, as contínuas demandas por
mais apresentações ao vivo, entrevistas, programas de TV e atividades
promocionais incessantes fizeram que os membros da banda se sentissem
exauridos. Além disso, todos esses elementos contribuíram para que surgissem
vários problemas de relacionamento entre os membros do grupo, particularmente
entre o vocalista Fish e os outros músicos da banda. Na época, Fish era o único
que ainda era solteiro, enquanto todos os outros já eram casados e tinham suas
famílias consolidadas. Para piorar a situação, pelo fato de ser o vocalista,
naturalmente ele atraía mais a atenção da imprensa e dos fãs, que o viam como
líder da banda, o que não era verdade. Era sempre o mais solicitado para
entrevistas, fotos e toda e qualquer atividade relativa ao Marillion. Era o
rosto da banda.
Todos os integrantes da
banda concordam em um ponto: a causa central de seus problemas foi a agenda
incessante de tours imposta à eles pelo antigo empresário do Marillion, que fez
com que a banda desse todo seu sangue e suor na estrada, levando os músicos a
se sentirem como se fossem animais em um circo itinerante, os deixando
fisicamente e mentalmente exaustos.
Pete Trewavas declarou que
provavelmente Fish sentiu a pressão mais do que todos os outros, pois era a
cara da banda, com quem todo mundo queria conversar e entrevistar, sendo
constantemente demandado e tendo seu tempo consumido.
A banda precisava de férias,
mas a pausa que necessitavam nunca ocorreu e os relacionamentos foram se
deteriorando. A gravadora os mandou de volta para o estúdio gravar um novo
álbum de sucesso. Ian Mosley afirmou que as tours acabaram com eles. Quando
entraram no estúdio eles tinham em sua frente uma tela em branco enquanto a
gravadora os pressionava perguntando “O novo álbum já está pronto?”. Tentaram
arduamente fazer um álbum de sucesso. O problema é que eles não estavam mais
conseguindo se relacionar entre si.
Fish acabou mergulhando em
um estilo de vida que lhe trouxe danos a sua saúde física e mental. Envolveu-se
seriamente com o álcool e a cocaína. Trocava a noite pelo dia e vivia em festas
que pareciam se emendar uma com a outra seguinte.
Fish |
Ele queria que os seus
colegas de banda participassem, mas ninguém conseguia acompanhar o seu ritmo
nem seu consumo desenfreado de álcool e cocaína. Além disso, precisavam voltar
para casa para suas esposas e filhos. O tecladista Mark Kelly declarou que
tentou acompanhar Fish em algumas ocasiões, mas mesmo quando ele voltava para
casa às 3h da madrugada Fish o fazia se sentir muito mal, como se ele fosse um
estraga-prazeres que não quisesse aproveitar a vida.
Cada vez mais Fish foi se
isolando do restante da banda, passando a fazer tudo sozinho e somente os
encontrando no estúdio de gravação e nos palcos. Se sentia solitário, deslocado
e frustrado. A fama não era aquilo que ele imaginava que fosse nem havia
trazido a felicidade e realização tão esperadas por ele. Cada membro da banda
lidou com a fama de uma forma diferente. Fish admitiu que seu ego fugiu do
controle na época e que ele de fato se tornara um idiota.
Como uma válvula de escape,
Fish decidiu começar a trabalhar nas letras daquele que seria sua última
participação com o Marillion. Criou um personagem fictício (mas nem tanto)
chamado Torch, de 29 anos (a mesma idade de Fish na época) o qual era um
escritor bem sucedido passando uma crise existencial e que queria mudar seu
estilo de vida. Estava com um bloqueio e não conseguia escrever. Para buscar
inspiração usava o álcool e cocaína, vivendo uma existência solitária e sem
sentido. À medida que ele vai ficando bêbado, começa a escrever sobre o que vê
a sua volta e sobre seus arrependimentos. Não precisamos ser muito perspicazes
para notarmos que, na realidade, Fish estava escrevendo sobre ele mesmo, apenas
usando um pseudônimo, fato que foi confirmado por ele anos depois, que declarou
que Torch era seu alter-ego, tentando disfarçar alguns dos excessos que ele
cometia e são descritos nas letras das canções, pois se sentia culpado. Na
época não teve coragem de assumir publicamente que, na realidade, Torch era ele
mesmo.
Uma peculiaridade do álbum é
que cada uma das canções é dedicada à uma cidade em particular, na qual a letra
daquela canção foi escrita, enquanto o Marillion estava na tour do álbum
anterior.
Todas as letras e canções
são interligadas entre si, formando um álbum conceitual, um estilo de obra
clássica dos anos 70, popularizado pelas maiores bandas de rock progressivo,
das quais os integrantes do Marillion sempre foram grandes fãs e admiradores,
como Genesis, Yes, Pink Floyd, Emerson, Lake and Palmer e tantos outros.
Nesse álbum extraordinário,
o Marillion e Fish em particular nos levam por uma viagem pela mente e
sentimentos de Torch. O brilhantismo da obra se dá pelo fato de os 5
integrantes terem conseguido fazer um trabalho absolutamente coeso,
inspiradíssimo e, embora bastante triste e sombrio, repleto de uma beleza
profunda. As letras são entoadas como por um ator Shakespeariano com uma alma
de poeta.
O tecladista Mark Kelly é um
grande mestre na criação de texturas e climas atmosféricos perfeitos para cada
uma das canções. O baixista Pete Trewavas e o baterista Ian Mosley formam uma
cozinha incrível, totalmente sincronizada, tocando exatamente aquilo que a
canção pede. O guitarrista Steve Rothery, que é fortemente influenciado por
dois dos maiores guitarristas do rock progressivo, David Gilmour (Pink Floyd) e
Steve Hackett (Genesis), faz solos maravilhosos, alguns dos melhores de toda a
sua carreira, enquanto o vocalista Fish abre o seu coração e alma para o ouvinte,
fazendo um relato visceral e pungente sobre seus medos, ansiedades, sonhos e
frustrações. Poucas vezes no rock se viu um artista se expor tanto, com tamanha
sinceridade, quanto o grande vocalista (em todos os sentidos, pois a altura
dele é de 1,95m!) fez em sua derradeira obra com o Marillion. Suas letras falam
sobre traumas emocionais, isolamento (um tema muito atual), baixa autoestima e
a busca por uma saída. Sua franqueza é brutal e os temas abordados são mais
relevantes do que nunca. O álbum é cru e repleto de confissões sinceras.
O que resultou de tudo isso
foi um trabalho inesquecível e muito marcante, que o próprio Fish reconhece,
embora seja um álbum estranho e sombrio, é o melhor de toda sua carreira com o
Marillion. Mark Kelly disse que gosta menos desse álbum do que seu antecessor
“Misplaced Childhood”, embora reconheça que algumas pessoas realmente gostem
dele. Steve Rothery declarou que é um álbum estranho. É muito poderoso, pois
ele tem algumas de dos melhores trabalhos da banda, mas você pode ver as linhas
de fratura nele. Alguns dos músicos ainda têm más lembranças do período e das
dificuldades que passaram na época, que acabaram levando à saída do vocalista
da banda, que disse que o álbum foi o seu obituário escrito por ele mesmo.
Steve Rothery afirmou que é um álbum bem menos otimista, pois simboliza a
desilusão de Fish. Ele queria ter sucesso e ele conseguiu, mas isso não trouxe
a felicidade pessoal que ele esperava ter. O próprio vocalista afirmou que esse
“é um álbum de um poeta bêbado”.
As letras das canções desse
álbum são fantásticas. Poderiam facilmente ser incluídas em um livro de poesia,
pois Fish é, sem sombra de dúvida, um dos maiores poetas e letristas de toda a
história do rock. Quem puder, não deixe de conferir cada uma delas
detalhadamente.
A capa do álbum é um
trabalho brilhante do artista Mark Wilkinson, que complementa perfeitamente a
obra musical que se encontra dentro dela. Na parte frontal podemos ver uma foto
escura da banda dentro do pub Baker’s Arms, em Colchester, no fundo do salão,
juntamente com colagens de vários personagens que tiveram sérios problemas com
o álcool, drogas ou ambos. Muitos deles citaram que usavam tais substâncias
para estimular sua criatividade ou como proteção da fama surreal que tinham. Na
parte frontal temos, da esquerda para a direita, Robert Burns (poeta nacional
da Escócia que morreu aos 37 anos devido ao álcool), Dylan Thomas (poeta galês
que morreu aos 39 anos também vítima do álcool), Truman Capote (escritor, que
morreu aos 59 anos devido à uma mistura de álcool, drogas e pílulas,
provavelmente se suicidando) e Lenny Bruce (comediante e comentarista social,
que morreu aos 40 anos devido a uma overdose de heroína). Na contra capa, outra
foto, agora no salão de bilhar do pub, com os membros da banda jogando em meio
à colagens de mais outros personagens: Da esquerda para a direita, John Lennon
(assassinado aos 40 anos mas que teve sérios problemas com o álcool e drogas
pesadas), James Dean (morto em um acidente de carro, provavelmente por estar
embriagado e drogado) e Jack Kerouac (o famoso poeta, criado do movimento beat,
que morreu de cirrose aos 47 anos).
Esse é um dos meus álbuns
favoritos. Eu o descobri quando ele foi lançado, em 1987, pois já acompanhava a
carreira da banda desde 1984. Fiquei fascinado desde a primeira vez que o
escutei e nunca mais o deixei. Realmente é uma obra pesada, triste e um pouco
deprimente. No entanto, esse álbum foi meu companheiro em alguns dos momentos
mais difíceis de minha vida, no qual eu o procurei como apoio emocional. Ele
sempre me mostrou que, mesmo em meio as dificuldades, tristeza e solidão, ainda
há muita beleza no mundo e na vida.
Eu os convido a fazerem essa
viagem comigo e a mergulharem no universo fantástico dessa banda de primeira
linha que, embora seja famosa, deveria ter um maior reconhecimento e sucesso de
público.
ANÁLISE DO ÁLBUM - FAIXA A
FAIXA
Hotel Hobbies
O álbum começa com uma
atmosfera sombria criada pelos músicos da banda até que o vocalista começa a
nos contar a história de Torch. A letra descreve o hotel de baixa categoria no
qual o personagem parece viver. Os rapazes da recepção estão de olho nas
prostitutas no salão de entrada do hotel enquanto personagens da noite circulam
pelos corredores. Torch está sentado no seu quarto, tentando escrever sua
próxima obra sem conseguir superar seu bloqueio. A fumaça de seus últimos
cigarros está se dissipando, assim como as horas que passam.
A cocaína não parece lhe
trazer nenhuma inspiração, nem o suor do copo de whisky em suas mãos. Torch
começa a escrever freneticamente, rabiscando as páginas, tentando apresentar
personagens em sua nova obra, como se através deles estivesse confessando seus
crimes, tudo em meio à “happy hour” eterna na qual leva sua existência. O dia
raia sem que Torch tenha conseguido iniciar sua obra
Fish declarou que essa
canção “É sobre estar em tour e é realmente tarde e você está aborrecido e ouve
todas essas garotas perambulando pelos corredores e você tentar ver algo
através do buraco da fechadura de seu quarto e entender o que está
acontecendo.”
Ian Mosley |
O baterista Ian Mosley e o
baixista Pete Trewavas fazem um trabalho brilhante nessa canção, criando o
ritmo sobre o qual toda a ação se desenrola. Steve Rothery faz alguns solos
incríveis, tudo complementado pelos climas criados pelo talentoso tecladista
Mark Kelly.
Warm Wet Circles
Amanhece e os bêbados tentam
voltar para suas casas, parando no caminho para fazer propostas para as
manequins solitárias nas vitrines, até que desistem e caminham em silêncio para
seus lares.
Vários personagens da noite
estão se preparando para regressarem para suas residências, aguardando
ansiosamente a chegada da noite. Os jogadores de bilhar em suas últimas
rodadas, acompanhadas da última dose com os amigos, o barman cansado, sonhando
em despachar os últimos bêbados para que possa ir para sua casa, garotas
flertando sob a luz tênue das cabines de telefone, todos são personagens da
história que Torch tenta colocar no papel, de forma hesitante. Lembranças de
amores e corações partidos, casamentos que foram planejados e nunca aconteceram,
até que o último ônibus parte e dá adeus à adolescência.
O vocalista declarou que
essa canção é “sobre os perigos de se ficar preso na rotina de trabalho de 9 às
17h e depois ir para o pub beber e falar sobre todas as coisas que sonharia em fazer,
mas que, na realidade, nunca se concretizarão. Torch regressa aos lugares que
costumava frequentar e vê como ele era antigamente. Isso o assusta,
especialmente os bêbados desenhando círculos com seus dedos em torno de seus
copos. Alcoólatras sempre fazem isso”.
A letra diz:
“Era um anel de casamento
Destinado a ser encontrado
em um hotel barato
Perdido na pia da cozinha
Ou jogado em um poço dos
desejos”
Essa é uma das melhores
faixas do álbum, sendo uma das favoritas dos fãs. Até hoje é executada ao vivo
em shows da banda.
Steve Rothery faz um
trabalho delicado e belíssimo com seus dedilhados e arpejos na guitarra, com
solos maravilhosos, sempre acompanhado pelo teclado sutil e por vezes dramático
de Mark Kelly. Sem dúvida, músicos de alta categoria.
O autor com o guitarrista Steve Rothery |
That Time of the Night
“Quando estávamos fazendo
aquele álbum eu simplesmente me sentia alienado. No estúdio eu era deixado
sozinho para gravar meus vocais. Você quer minha carta de renúncia? Está
naquele álbum. Leia a letra de “That Time of the Night”. Ela relata exatamente
como eu estava me sentindo na época. É uma canção sobre paranoia. Torch está
tentando se livrar de todos os seus vícios e se sentindo paranóico e
desesperado para tentar conseguir se aproximar de alguém”, declarou Fish.
Torch está deitado na cama.
As luzes da rua traçam cruzes nas paredes de seu quarto. Se alguém o pergunta
como ele se sente, ele diz que falaria honestamente que vem viajando
incessantemente e que, se seus donos lhe dessem algum tempo livre,
provavelmente ele fugiria.
A letra da canção diz:
“Se eu tivesse dinheiro
suficiente, pagaria uma rodada para aquele menino ali.
Meu companheiro em minha
loucura, no espelho, aquele com o cabelo grisalho
Se alguma alma caridosa puder
pagar a minha conta
Enquanto o fazem, poderiam
também catar os cacos do meu coração partido”.
Poesia pura, complementada
de maneira magistral pela cozinha impecável de Mosley e Trewavas.
Pete Trewavas |
Going Under
Essa é uma faixa peculiar em
vários aspectos. É a mais curta do álbum, não tem participação do baterista Ian
Mosley, além de ser a mais triste e, provavelmente, a mais bela da coleção.
Aqui Torch chegou ao fundo
do poço. Ele não tem mais nada a dizer nem desculpas para dar. Acha que está
enlouquecendo e afundando em seus hábitos e vícios dos quais não consegue se
livrar.
Fish interpreta de forma
muito emotiva a letra acompanhado por um lindo e marcante arpejo criado pelo
genial guitarrista Steve Rothery e um fundo climático criado, de muito bom
gosto, pelo tecladista Mark Kelly. Realmente a beleza dessa canção é muito
tocante.
Mark Kelly |
Just For the Record
Provavelmente a faixa menos
especial do álbum. É uma das poucas que nunca foi executada ao vivo pelo
Marillion. Apenas para constar, Torch diz a todos que quiserem ouvi-lo que ele
tem total controle sobre seu envolvimento com o álcool e que consegue parar na
hora que quiser, uma velha mentira que todo alcóolatra conta para os outros e
para si mesmo.
Essa é uma canção mais
alegre, pois o protagonista está no bar com seus amigos bebendo animadamente,
dizendo que poderá largar a bebida amanhã, não hoje, pois ele não precisa fazer
isso. Na realidade ele nunca irá parar de beber.
No entanto, Torch admite que
não tem disciplina nem autocontrole. Sua desculpa para beber é que o álcool lhe
traz inspiração. Por fim, afirma que é apenas uma fase passageira.
Musicalmente a faixa nos
remete muito às canções do Genesis nos anos 70, na fase em que Peter Gabriel
fazia parte da banda. Os teclado de Mark Kelly aqui tem uma forte influência de
Tony Banks, tecladista do Genesis.
White Russian
Tematicamente e musicalmente
a faixa mais pesada do álbum. É a canção mais política de todas. Aqui Torch
está observando com muita preocupação o surgimento do movimento Neonazista na
Áustria. Ele se dá conta de que precisa
fazer algo e encarar a realidade. Ele se sente dividido entre seu lado realista
e o escapista. Torch está muito perturbado com o que vê e não consegue mais
dormir à noite. Ele não é capaz de fingir que está tudo bem ao ver as sinagogas
serem queimadas. Segundo ele, há seis milhões de razões para ele se levantar e
lutar, aproximadamente o mesmo número de judeus mortos durante a Segunda Guerra
Mundial.
Torch está chocado como o
mundo ocidental esqueceu tão rapidamente seus votos e promessas de não permitir
que o nazismo ressurgisse. Você pode fechar os olhos, tentando esconder o que vê,
mas tudo voltará no dia seguinte.
Essa canção foi escrita na
época que Kurt Waldheim foi eleito presidente da Áustria, apesar de haver um
amplo reconhecimento por parte da sociedade austríaca que, provavelmente, ele
havia cometido crimes durante a Segunda Guerra Mundial, durante o governo
nazista. Sua eleição coincidiu com um aumento na atividade neonazista em toda a
Europa que, infelizmente, permanece até hoje.
Em vários momentos da canção
Torch se pergunta “Para onde iremos daqui em diante?” Seria realmente Torch se
perguntando sobre o futuro destino da Europa ou seria o próprio Fish se
perguntando qual seria o seu futuro no Marillion? Provavelmente ambos.
O título da canção é também
o nome de um cocktail à base de vodca, licor de café e creme
Incommunicado
Depois de toda a tristeza e
angústia refletidas na canção anterior, temos a canção mais “animada” do álbum.
O título da canção é uma gíria para “bêbado”.
Aqui, Torch quer realmente
ser reconhecido, com todos os benefícios que a fama traz, mas sem ter de
assumir as responsabilidades inerentes ao fato de ser famoso.
Podemos notar que há uma
grande influência da banda The Who aqui. Fish sempre declarou ser um fã da
banda e queria fazer algo inspirado neles. Os outros integrantes não se
entusiasmaram muito pela ideia. No entanto, parece que aqui a vontade de Fish
prevaleceu.
A banda toca de forma
energética e contagiante nesse que foi o primeiro single do álbum. Ao vivo,
sempre foi uma canção que levantou a plateia, fazendo com que todos cantassem
junto e batessem palmas. Realmente um dos pontos altos do álbum.
Na letra, Fish mostra o
cinismo de Torch, que adoraria encontrar pessoas desde que ele conseguisse se
lembrar do nome delas pois, desde que alcançou a fama, tem tido problemas com a
memória.
Alguns dos melhores versos
de sua carreira estão aqui, nessa canção. Torch afirma ser alérgico à água
mineral Perrier, à luz do sol e à responsabilidade. Ele quer fazer anúncios
para o cartão American Express, talk shows na TV, ter uma mansão na França e
seu próprio bar, onde ele poderá ser encontrado.
Os delírios com a fama
parecem tomado conta da mente de Torch. Ele quer alcançá-la a qualquer custo,
mesmo para isso tenha que renunciar a sua sanidade física e mental.
Mark Kelly faz um ótimo solo
de teclado que conduz magistralmente a banda ao refrão da canção. Além disso,
Pete Trewavas e Ian Mosley mostram todo seu virtuosismo levando a canção em um
ritmo contagiante.
Torch Song
Essa é uma canção fortemente
influenciada pelos escritos de Jack Kerouac, o líder do movimento beatnik no
final dos anos 50. Kerouac foi o autor do lendário livro “On The Road”, que foi
considerada a bíblia do movimento.
Torch aqui mostra todo seu
perfil de poeta romântico, alcoólatra e autodestrutivo, que busca ter todas as
experiências possíveis no mundo antes de alcançar uma morte prematura. No
início da canção podemos ouvir Torch sacando a rolha de uma garrafa e servindo
a bebida em seu copo.
Um dos melhores momentos é a
“consulta” que Torch faz na canção com o seu médico, Dr Finlay. O conselho que
recebe de seu médico é o de que se ele mantiver o estilo de vida atual não
chegará aos 30 anos. O detalhe é que o personagem Torch tinha 29 anos na época,
exatamente a mesma idade de Fish ao escrever as letras do álbum. Coincidência?
Claro que não.
Torch admite que está tarde
demais no jogo para demonstrar qualquer orgulho ou vergonha. Ele se considera
um caso perdido. Mais uma letra sensacional, acompanhada da guitarra
extraordinária de Steve Rothery. Um dos pontos altos da canção é quando Torch
acende um fósforo e Rothery simula um grito com sua guitarra. Brilhante.
O autor com o baixista Pete Trewavas |
Slainte Mhath
Essa canção tem seu título
escrito em celta, pois terra natal do vocalista Fish é a Escócia, tendo sido
ele nascido em Edimburgo. A pronúncia da expressão é “Slanj navá”, que quer
dizer “saúde”, dita sempre quando se faz um brinde a alguém.
É uma canção com forte
influência escocesa, sobre sonhos partidos e amigos se encontrando no pub e
fazendo brindes, dizendo “slainte mhath”!
Fish contou que escreveu
essa canção dentro de um pub, quando estava bebendo e lendo um livro quando um
bêbado chegou até ele e lhe perguntou se ele era um escritor e, antes que
recebesse uma resposta, passou a lhe relatar toda a história de sua vida,
culpando o destino por todos os seus fracassos e desilusões. Após ouvir
atentamente tal relato, a única coisa que o vocalista conseguiu dizer foi
“slainte mhath” e fez um brinde com seu recém conhecido companheiro de pub.
Fish faz um paralelo entre
seus ancestrais, que lutaram na Primeira Guerra Mundial e foram massacrados na
linha de fogo inimigo com seus compatriotas que viviam a situação de desemprego
devido ao fechamento das minas de carvão e fábricas na Escócia. Ambas gerações
estariam na “linha de fogo inimigo”, uma literalmente e a outra economicamente
e financeiramente.
Fish |
Uma das mais imponentes e
poderosas canções do álbum, foi a escolhida para abrir todos os shows da tour
promocional do álbum “Clutching at Straws”. Mark Kelly tem uma participação
decisiva na faixa, pois seu piano e teclados conduzem toda a melodia da canção
até que Steve Rothery entre com sua guitarra inconfundível tocando um belo arpejo
com o efeito de digital delay, que leva a canção juntamente com os teclados. Musicalmente
excelente, com uma letra incrível. Mais uma faixa sensacional nesse álbum repleto
de grandes momentos musicais e poéticos.
Sugar Mice
Uma das mais belas canções
de toda a carreira do Marillion, além de ser uma das favoritas dos fãs,
executada até hoje pela banda e por Fish em seus respectivos shows. Foi o
segundo single lançado do álbum.
Sobre a canção, Fish
declarou: “Eu estava deitado na cama do hotel Holiday Inn olhando para o teto e
vendo corações que alguns namorados haviam talhado no teto. Eu estava me
sentindo realmente deprimido. Então eu liguei para a minha namorada, mas foi
uma conversa ruim, vários silêncios longos. Eu fiquei ainda mais triste. Torch
decidiu fugir de tudo e todos e foi buscar um sonho que não existe.”
“Eu adoro a letra dessa
canção. Eu a escrevi em Milwaukee quando estávamos em tour pelos EUA. Eu fiquei
hospedado em um hotel muito ruim, imaginando como seria se alguém tivesse
deixado sua esposa e filhos na Escócia ou em algum outro lugar, e tivesse
atravessado metade do mundo para ficar hospedado em um hotel horrível com um
bar incrivelmente triste no térreo. Nós chegamos no domingo e tudo o que eu
podia ver pela janela eram os vendedores de droga na esquina. A canção é sobre
isso.”
Torch não tem mais ninguém
para culpar, a não ser a si mesmo. Desta forma, assume a culpa de todos os
problemas com os quais se envolveu.
Sem dúvida, uma das melhores
letras de toda a carreira do grande poeta. Aqui, várias estrofes são realmente
magníficas. A inspiração veio forte nesse domingo de solidão no hotel. Alguns
exemplos:
“Eu ouvi Sinatra me chamando
pelo piso de madeira
Onde você paga com uma moeda
para uma parceria em rima
Para a jukebox chorando no
canto
Enquanto a garçonete está
contando o tempo”
Mais uma estrofe:
“Bem, a coisa mais difícil
que eu já fiz foi falar com as crianças ao telefone
Quando eu as ouvi fazendo
perguntas eu soube que vocês estavam totalmente sozinhos
Será que você não pode
entender que o governo me deixou sem emprego
Eu simplesmente não pude
suportar o olhar deles dizendo: “Que idiota”
Então se você quer meu
endereço é o número 1 no fundo do bar
Onde eu me sento com os
anjos com asas partidas, agarrando as palhas e cuidando das cicatrizes
Ponha a culpa em mim, ponha
a culpa em mim.”
Se não bastasse a letra maravilhosa
da canção, Steve Rothery ainda faz um solo de guitarra simplesmente antológico,
talvez o melhor de toda a sua carreira. O solo é tão lindo que podemos até
mesmo cantá-lo, pois faz parte integral da faixa. Um momento de arrepiar o
ouvinte com tanta emoção. Sensacional.
Steve Rothery |
The Last Straw
Na faixa final do álbum
Torch volta a escrever compulsivamente em sua máquina de escrever (lembrem-se
que estamos em 1987), colocando no papel todos os seus pesadelos e lembranças,
tentando limpar a sua consciência e abrir a mente para ter novos sonhos
Faz uma crítica ao
isolamento em que vivemos, cada um fechado em seu pequeno mundo, nos enganando
achando que há alguém que se realmente se importa conosco e irá atender nossas
orações. Chega ao ponto de dizer que todos nós somos pacientes terminais que,
ainda assim, continuamos tomando nossas medicações, fingindo que o fim não está
próximo.
“Nós fazemos gestos fúteis,
posamos para as câmeras
Com nosso rosto maquiado e
sorrisos de relações públicas
E quando o anjo desce para
nos buscar
Nós descobriremos que, no
final das contas, nós somos apenas homens de palha
Mas tudo continua igual
Passando o tempo, jogando a
culpa
Nós seguimos em frente da
mesma maneira
Nós descobriremos um dia que
deixamos para tarde demais o que queríamos ter dito”
Torch não quer que ninguém
se solidarize com ele. Na realidade, se nós olharmos para ele, no reflexo de
seus olhos reconheceremos então que nós todos somos um só e somos iguais. Há um
pouco de Torch em cada um de nós. Todos estamos tentando nos agarrar em algo
para nos salvar.
Musicalmente é uma canção
forte, mais pesada, cantada com agressividade e com uma instrumentação idem. O
destaque aqui vai para a bateria de Ian Mosley.
O título da canção é “The
Last Straw / Happy Ending”, pois a gravadora insistiu muito com a banda que o
álbum tivesse um final feliz. Apenas para se vingarem tal atitude patética,
exercendo uma pressão sobre a obra que estava sendo criada, a banda decidiu
adicionar “Final Feliz” no título. Na realidade, após o término da faixa só
ouvimos Fish dizer “No!” e dar uma gargalhada pois, na realidade, não há nenhum
final feliz.
O LEGADO DE “CLUTCHING AT
STRAWS”
“Clutching at Straws” é o
álbum mais maduro e completo da banda, no qual conseguiram estabelecer um
equilíbrio entre a introspeção e a grandiosidade do sucesso. Um álbum estranhamente
romântico, embora tenha toda uma atmosfera sombria, triste e um pouco
depressiva. É um daqueles álbuns que merecem ser ouvidos atentamente, em
silêncio, a sós, de preferência acompanhado apenas de uma bebida e deixar que a
banda o leve nessa incrível viagem que, provavelmente, você ficará tentado a
repetir.
Considero que o ponto alto
dessa obra sejam as letras, ou poemas, escritos por Fish. São simplesmente
geniais, nas quais ele faz pinturas detalhadas em nossas mentes ao nos contar a
história de Torch. Além disso, a parte musical é também toda brilhante, com um
destaque especial para a atuação do guitarrista Steve Rothery que toca com todo
o seu coração, criando solos lindos e linhas melódicas que também são altamente
poéticas. Uma combinação única.
A tour promocional do álbum
foi a mais bem sucedida de toda a carreira da banda até então. Se apresentaram
para plateias cada vez maiores, chegando ao maior show da carreira deles em
Berlim, onde tocaram para 95.000 pessoas.
Ao vivo em 1987 |
No entanto, nos bastidores a
atmosfera não refletia tal entusiasmo. A banda apelidou a tour de “Tour dos
Infernos”, por ter sido a mais infeliz que fizeram. Na realidade, os músicos
estavam cada vez mais distantes entre si, particularmente de Fish, que passava
praticamente o tempo todo isolado dos outros, que não queriam ter nenhum tipo
de contato com ele.
Steve Rothery declarou que
“parecia que a coisa que Fish mais amava fazer agora ele havia passado a odiar.
Ele estava procurando pessoas para culpar”.
Fish afirmou “Nós não
estávamos nos dando bem e, quando saímos para a tour se tornou intolerável. O
ônibus da tour não era um lugar bom de se estar. Cada um de nós se sentava em
uma posição diferente, ninguém falava nada. O espírito de grupo havia sido
perdido.”
Fish nos dias de hoje |
Pete Trewavas disse “Nós
vivíamos em uma bolha. Não podíamos ir a lugar nenhum sem segurança, tínhamos
que usar pseudônimos nos hotéis, não podíamos sair sozinhos.”
Mark Kelly sentia que “Eu ia
para o palco a cada noite achando que eu estava tocando sozinho”.
Ian Mosley disse que “Após
nossa maior apresentação em Berlim nós descemos do palco e a banda estava
dizendo que não havia curtido o show. Foi aí que o alarme soou para mim. Se
você não aprecia tocar para uma plateia assim é sinal de que há algo muito
errado.”
O problema poderia ter sido
muito amenizado se eles tivessem podido tirar umas férias das tours incessantes
e uns dos outros. Mas o empresário deles estava determinado a mantê-los na
estrada, em detrimento da própria banda. Mark Kelly afirmou que eles precisavam
de seis meses de descanso. Se isso tivesse acontecido, provavelmente Fish não
teria saído da banda e eles não teriam se separado.
Ao final da tour, as coisas
começaram a piorar ainda mais. Havia uma relutância em trabalharem juntos
novamente. Foi feita uma última tentativa de trabalharem em um novo álbum, mas
ela foi fracassada. A banda não queria mais ficar junta, na mesma rotina de
sempre. Ficou nítido que havia um distanciamento entre o que o vocalista e o
restante da banda queria, cada parte querendo seguir em uma direção diferente.
Algum material chegou a ser produzido e gravado, sendo reaproveitado
posteriormente nos dois primeiros álbuns solo de Fish e do Marillion com o
sucessor do grande escocês, o novo vocalista Steve Hogarth.
O autor com Steve Hogarth |
Fish escreveu uma longa
carta para a banda listando os pontos que deveriam ser mudados para que ele
pudesse permanecer na banda. A banda não concordou e disse que aceitava a
renúncia dele como vocalista da banda. Uma fase muito importante do Marillion
havia se encerrado.
Os membros da banda ficaram
sem ter contato com Fish durante mais de uma década. Depois desse período, se
reaproximaram gradativamente e foram recuperando sua amizade. Isso pôde ser
comprovado quando todos os músicos fizeram uma participação especial na última
música de um show de Fish em Aylesbury, cidade onde o Marillion foi formado.
Depois disso, o próprio Fish se encontrou em várias ocasiões com o seu
sucessor, Steve Hogarth, afirmando que eles tem um bom relacionamento. Mais
recentemente, os cinco membros da formação clássica da banda se reuniram em um
pub para gravarem entrevistas sobre os quatro álbuns que gravaram juntos, tudo
em um clima de alegria e descontração.
Steve Hogarth e Fish |
Embora o álbum tenha um
final triste, ao menos na vida real os cinco músicos conseguiram resgatar a
amizade que os levou inicialmente a formar o Marillion.
Finais felizes também
acontecem.
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BIBLIOGRAFIA
Marillion – Separated Out –
por Jon Collins
The Inside Story Behind Marillion’s Clutching at
Straws – Prog Magazine, por Dave Everley
Shadow play – por Mark Wilkinson
Masque - The Graphic World of Mark Wilkinson, Fish and Marillion, por Mark Wilkinson e Fish
Marillion – Explanation of Song Elements - http://marillionations.blogspot.com/
LINKS NO YOUTUBE
http://www.metalstorm.net/bands/lyrics.php?album_id=19075&band_id=2373&bandname=
https://www.youtube.com/watch?v=x-wlNQll1mc
https://www.youtube.com/watch?v=ppgQPhtMib8
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https://www.youtube.com/watch?v=ck9vIB8F9_8
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https://www.youtube.com/watch?v=PSkj8rQ-5Vs
https://www.youtube.com/watch?v=TWrOSwx_ss0
https://www.youtube.com/watch?v=MHBQMewehFQ
https://www.youtube.com/watch?v=_hZnf-_XNiU