sábado, 28 de novembro de 2020

VAN HALEN - 1984

 

ÁLBUNS CLÁSSICOS DO ROCK – VOLUME 7

VAN HALEN – 1984

 



FICHA TÉCNICA

ANO DE LANÇAMENTO

1984

PRODUZIDO POR

TED TEMPLEMAN

MÚSICOS PRINCIPAIS

EDWARD VAN HALEN – GUITARRA, TECLADOS E BACKING VOCALS

ALEX VAN HALEN – BATERIA

DAVID LEE ROTH – VOCAL

MICHAEL ANTHONY – BAIXO, SINTETIZADOR DE BAIXO, BACKING VOCALS

TODAS AS FAIXAS DE AUTORIA DE EDWARD VAN HALEN / ALEX VAN HALEN/ DAVID LEE ROTH & MICHAEL ANTHONY, EXCETO A FAIXA 7, DOS MESMOS AUTORES ALÉM DE MICHAEL MCDONALD

 

LISTA DE CANÇÕES DO ÁLBUM

1

1984

2

JUMP

3

PANAMA

4

TOP JIMMY

5

DROP DEAD LEGS

6

HOT FOR TEACHER

7

I’LL WAIT

8

GIRL GONE BAD

9

HOUSE OF PAIN

 

ORIGENS DO ÁLBUM



No início dos anos 1980 o Van Halen já era uma banda consagrada e querida por multidões de fãs em todo o mundo. Eddie Van Halen era considerado o novo gênio da guitarra, o músico mais inovador no instrumento desde Jimi Hendrix pois, assim como seu antecessor, Eddie havia revolucionado a maneira de se tocar o instrumento, seu som, seus pedais de efeitos, amplificadores e aberto um novo horizonte musical para guitarristas em toda parte.

Em 1983 a banda já havia lançado 5 álbuns, todos recebidos entusiasticamente pelos fãs e grande parte da crítica especializada. No entanto, o líder de fato da banda e compositor de todas as canções, Eddie Van Halen, ainda não estava satisfeito com o trabalho que haviam feito. Primeiramente, ele queria gravar mais canções tocando teclado, pois havia estudado anos de piano e era fluente no instrumento. Eddie havia composto novas canções com uma  abordagem musical diferente, que necessitava dos teclados. Além disso, discordava das decisões tomadas anteriormente pela banda e seu produtor de incluírem uma grande quantidade de covers de outros artistas. Segundo o guitarrista, ele preferia fracassar executando suas próprias canções do que fazer sucesso com músicas de outros compositores. No próximo álbum, que se tornaria “1984”, Eddie havia decidido que usaria seus teclados e só entrariam canções músicas de sua autoria, sem concessões.

A primeira semente do novo álbum foi semeada quando o lendário Frank Zappa convidou Eddie Van Halen para fazer uma jam session em sua casa, pois ele possuía um estúdio em sua residência. Eddie compareceu, tocou com Zappa, seu guitarrista Steve Vai e seu filho de 12 anos, Dweezil, que estava iniciando no mundo musical. Zappa pediu que Eddie produzisse um single para seu filho, e esse concordou. No entanto, a ideia de construir um estúdio doméstico no qual ele pudesse gravar a qualquer hora, ter absoluto controle sobre o processo criativo e direcionar os rumos da banda foram que motivaram Eddie a construir seu próprio estúdio em casa. Ele chamou o engenheiro de som Donn Landee, que havia trabalhado em todos os álbuns do Van Halen até então para lhe ajudar a criar seu próprio estúdio, que acabou sendo batizado de “5150”, nome sugerido pelo próprio Landee, pois era um código usado pela polícia de Los Angeles para se referirem a uma pessoa mentalmente perturbada à solta. Landee disse que ele e Eddie se encaixavam perfeitamente em tal descrição, pois todos diziam que eles eram loucos ao quererem construir um estúdio profissional na casa de Eddie Van Halen. Desta forma, o estúdio doméstico de Eddie Van Halen foi batizado de “5150 Studios”. O álbum seguinte (1984), assim como todos os outros da carreira da banda foram gravados ali.

Um dia Eddie estava em sua residência quando recebeu uma ligação do produtor Quincy Jones, que estava produzindo o novo álbum de Michael Jackson, que ser chamaria “Thriller”. Jones contou a Eddie que haviam gravado uma faixa de rock no álbum, chamada “Beat It”, na qual o guitarrista Steve Lukather, da banda Toto e amigo pessoal de Eddie, havia gravado a guitarra base. No entanto, Jones queria um toque especial na canção e tinha a certeza de que Eddie era a pessoa que ele procurava para fazer a faixa brilhar com um solo espetacular.

Com Michael Jackson

Eddie aceitou o convite e foi imediatamente para o estúdio, no qual reestruturou totalmente a canção, dando a ela o formato que conhecemos e, além disso, gravou seu solo inacreditável, que se tornou lendário, além de ser um dos mais famosos de toda sua carreira, tendo sido copiado por incontáveis guitarristas. A contribuição de Eddie ajudou a tornar o álbum de Michael Jackson o mais vendido de todos os tempos, tendo permanecido na primeira posição das paradas por um longo tempo. Eddie não aceitou ser pago pelo seu trabalho. Considerou que estava apenas fazendo um favor para um amigo. Disse que um dia, se precisasse aprender a dançar, pediria que Michael Jackson lhe desse uma aula de dança como retribuição.

Um outro convite foi recebido por Eddie. Mais uma vez, ele não quis recusá-lo. O guitarrista do Queen, Brian May, o chamou para tocar durante dois dias com um grupo de amigos, pois pretendia gravar 3 canções para um Extended Play (um LP de curta duração). Eddie participou, executando vários solos incríveis com May e seus amigos. O projeto acabou sendo lançado com o título de “Star Fleet – Brian May + Friends”. Star Fleet era um programa de TV britânico, do qual May era fã e havia sido convidado para gravar um novo tema.


Com Brian May

Em meio às gravações do novo álbum, a banda recebeu mais um convite irrecusável: a quantia de 1 milhão e meio de dólares para fazerem uma única apresentação no US Festival, promovido pelo co-fundador da Apple, Steve Wozniak. O vocalista David Lee Roth interrompeu suas férias na Amazônia para voltar aos EUA para participar dos ensaios para o grande festival. Segundo Eddie Van Halen, não valeu a pena ter feito parte do festival, pois eles tiveram de parar temporariamente a gravação do novo álbum e, além disso, praticamente todo o cachê que ganharam foi usado para cobrir os gastos com ensaios, que duraram um mês, além da produção do show, luzes e telões para a única apresentação.

Cartaz do US Festival 1983

Depois de tantas interrupções, havia chegado a hora da banda toda se concentrar na composição e gravação daquele que se tornaria o álbum mais famoso de sua carreira: 1984

  

ANÁLISE DO ÁLBUM - FAIXA A FAIXA

 

1984

A faixa instrumental foi uma das primeiras a ser gravada para a nova coleção de canções. Originalmente era uma composição de 30 minutos, a qual o engenheiro Donn Landee editou para pouco mais de um minuto de duração, com Eddie mostrando seu virtuosismo e criatividade nos teclados, abrindo o álbum que levaria o Van Halen ao topo do sucesso e por novos caminhos musicais. A composição tem um atmosfera um pouco futurista, deixando os ouvintes instigados sobre a nova abordagem musical de Eddie Van Halen nos álbuns de sua banda.

 

Jump

Eddie havia apresentado essa canção ao produtor Ted Templeman e ao vocalista David Lee Roth dois anos antes. Nenhum dos dois tinha gostado do que ouvira. Roth chegou a dizer para Eddie que ninguém queria ouví-lo tocando teclados pois, afinal, ele era considerado um herói da guitarra, não dos teclados.

Eddie adorava “Jump” e estava seguro de que ela era especial, merecendo uma chance. Desta vez, ele insistiu que ela faria parte do álbum e não abriria mão da inclusão dela. Nenhum outro integrante da banda gostara da canção e não queriam gravá-la. No entanto, devido à insistência de Eddie, Roth escreveu uma letra e Alex Van Halen e Michael Anthony acabaram aceitando gravá-la. Roth teve a ideia para a letra para “Jump” ao ver na TV um homem que estava ameaçando se suicidar ao pular de cima de um prédio. No entanto, sua abordagem foi muito mais positiva, no sentido de que devemos “pular” para cima de nossos objetivos, não deixando que nada nos impeça e lutarmos pelo que acreditamos. Jump foi a primeira canção que Eddie gravou em seu estúdio caseiro, o “5150”.


David Lee Roth

A canção possui um incrível solo de teclado além do solo de guitarra favorito de Eddie Van Halen. Seus riffs de teclado e tema musical contagiante fizeram com que ela fosse um sucesso estrondoso, levando o novo álbum ao topo das paradas em vários países do mundo. Além disso, essa foi a única canção em toda a carreira da banda que atingiu o primeiro lugar das paradas dos EUA, ficando até mesmo na frente de Michael Jackson que, na época, estava com seu álbum “Thriller” em primeiro lugar das paradas, com a participação de Eddie Van Halen no inesquecível solo de guitarra em “Beat It”. Eddie mostrou aos seus colegas de banda e ao produtor Ted Templeman que ele tinha razão quando insistira na inclusão da faixa e potencial que ela tinha.

 

 

Panama

Quando estavam no processo de gravação do álbum, a banda pediu que Eddie compusesse uma faixa que soasse como o grupo AC/DC. O resultado final não tem nenhuma semelhança com a banda australiana, como o próprio Eddie admitiu. No entanto, foi sua interpretação do som dele que o levou a criar esse que se tornou um dos grandes clássicos da banda, sendo executado praticamente em todos os shows da banda desde então, até mesmo quando outros vocalistas foram membros da banda, como Sammy Hagar e Gary Cherone.

No meio da canção podemos ouvir o som do motor de um carro acelerando. A própria Lamborghini de Eddie foi gravada para ser incluída na faixa, como um efeito sonoro especial.

Roth afirmou que escreveu a letra de “Panama” ao assistir uma corrida de carros na TV, na qual havia um carro chamado “Panama Express”. No entanto, muitos fãs acreditam que na realidade a letra da canção é ambígua, podendo também ser interpretada com um uma alusão a uma mulher atraente.



Nessa faixa, o destaque é para o brilhante riff de guitarra de Eddie, assim como seus harmônicos e fraseados velozes, tudo completado incrivelmente pela bateria feroz de seu irmão Alex Van Halen.

Outro ponto interessante sobre essa faixa e a maioria das outras do álbum é que, durante a gravação de “1984”, Eddie Van Halen já havia formalmente aposentado sua lendária guitarra “Frankenstrat”, pintada de vermelho, preto e branco. Ele havia começado a usar um novo modelo criado especialmente para ele pelo fabricante Kramer, que criou o modelo 5150 em homenagem à Eddie, reproduzindo a famosa pintura vermelha com suas listras. Havia chegado o momento da “Frankenstrat” descansar, após tantos anos de serviços prestados ao Van Halen.

 

Top Jimmy

Para essa faixa, Eddie usou um protótipo de uma guitarra dada a ele pelo fabricante de guitarras Steve Ripley. Essa era uma guitarra muito especial, com uma infinidade de recursos, botões e regulagens. Entre eles, havia a possibilidade de se encaminhar o som de cada uma das cordas para o canal esquerdo ou direito do estéreo. Aproveitando tal possibilidade, Eddie criou a introdução baseada em harmônicos, que podem perfeitamente serem ouvidos fazendo um ping pong no estéreo se ouvirmos a canção com bons fones de ouvido.


Eddie com um protótipo da guitarra feita por Steve Ripley, usada para gravar "Top Jimmy"


Quanto à letra, Roth escreveu sobre Top Jimmy & the Rhythm Pigs, uma banda de rock e rhythm and blues que tocava toda segunda feira à noite no Cathay de Grande, em Hollywood, dos quais Roth era fã e sempre ir assistir ao vivo. O vocalista decidiu fazer uma homenagem ao vocalista da banda, do qual gostava muito e admirava, dizendo que “ele era o rei”.


 Michael Anthony

 

Drop Dead Legs

Mais uma vez e no mesmo álbum, Eddie se inspirou no AC/DC para criar uma canção. Dessa vez, a fonte foi o clássico “Back In Black”.  Realmente há alguma semelhança entre o andamento de ambas as faixas, com um ritmo muito sincopado e dançante. Usou uma guitarra Gibson Flying V.

A inspiração para a letra da canção, escrita por Roth, foi Marilyn Monroe, que era uma das estrelas de cinema favoritas do vocalista, que apreciava especialmente aquela cena do filme quando o vento sopra por baixo de sua saia, a levantando enquanto Marilyn tenta segurá-la. Sem dúvida, uma imagem icônica.



 

Hot For Teacher

Sem dúvida a canção mais divertida do álbum. Aqui, David Lee Roth faz referência à um sonho muito comum entre os jovens adolescentes do sexo masculino, de terem um professora na escola que seja linda e atraente como as modelos de revista. Os comentários feitos por Roth são hilariantes e mostram claramente o grande senso de humor do vocalista do Van Halen, além de seu grande carisma. O vídeo clipe feito para a canção levou a história contada às últimas consequências, mostrando um aluno “nerd” que vai para a escola e encontra meninos que representam os integrantes da banda e fazem uma enorme baderna na escola. Além disso, a professora é uma linda modelo que, ao chegar à sala de aula no primeiro dia letivo sobe em cima das carteiras e faz um strip tease para os alunos, que pulam enlouquecidos. Esse vídeo representa perfeitamente a banda durante essa fase de sua carreira, quando eram muito engraçados e não se levavam muito à sério. Na gravação, Eddie usou uma guitarra Gibson Flying V que permitiu que ele trocasse de captadores entre as partes mais agitadas e as mais tranquilas, nas quais Roth faz seus comentários engraçados. Destaque especial para a bateria incrível de Alex Van Halen, que faz um poderoso solo de bumbos na introdução da canção, parecendo os motores de um carro de corridas. Um dos melhores momentos desse grande álbum.


 Alex Van Halen

 

I’ll Wait

Mais uma faixa dominada pelos teclados de Eddie. Essa foi outra canção que nem o vocalista David Lee Roth nem o produtor Ted Templeman queriam incluir no álbum, pois achavam que não soava suficientemente como o Van Halen, devido a participação relativamente discreta da guitarra na faixa, apenas durante o solo.

Por outra vez, Eddie teve de insistir muito para que a faixa fosse trabalhada pela banda e incluída no álbum. Foi uma das últimas faixas a ser gravada. Mais uma vez ele acertou, pois se tornou uma das mais populares, tendo sido inclusive lançada como segundo single do álbum.

Roth afirmou que escreveu a letra da canção ao ver um anúncio da Calvin Klein na TV, com uma linda modelo. Decidiu contar como ele se sentia ao ver tal foto. De uma forma mais ampla, a letra aborda a fascinação das pessoas comuns ao verem fotos de seus ídolos ou modelos em revistas e como isso atiça a imaginação delas. Muitas vezes as pessoas se apaixonam apenas por uma imagem, que nada tem a ver com a realidade. Tudo é apenas um sonho, construído na mente quem as vê.

Além dos teclados, outro destaque na canção é a bateria inconfundível de Alex Van Halen. Outro diferencial é a participação do baixista Michael Anthony que, nessa exclusivamente nessa canção, não toca seu baixo elétrico, o substituindo por um sintetizador de baixo.

 

Girl Gone Bad

Uma versão instrumental dessa faixa foi apresentada pela banda no US Festival. Provavelmente eles já estavam a gravando no estúdio antes que o vocalista David Lee Roth tivesse tido a oportunidade de ouvi-la e escrever sua letra.

A letra aqui não é um destaque. Nela, Roth relata a história de uma prostituta vinda do interior para trabalhar na cidade. O ponto alto da canção é a interação musical entre os irmãos Van Halen e o baixista Michael Anthony. Em alguns momentos ela nos lembra um pouco um tema que poderia ter sido composta pela banda canadense Rush, por sua estrutura musical semelhante. Não é de se surpreender que ela predominantemente instrumental, pois inicialmente essa era o formato original dela, sem letra ou vocais de Roth.


 Eddie Van Halen e sua guitarra Frankenstrat

 

House of Pain

Uma das canções mais pesadas do álbum, também umas mais antigas da banda, já existindo na época da gravação do primeiro álbum em 1978. Também havia sido gravada em forma embrionária na fita demo que o baixista do Kiss, Gene Simmons havia produzido ao tentar conseguir um contrato com a gravadora Warner Bros para o Van Halen.

No entanto, a única parte que permaneceu da canção original foi o riff principal, pois a introdução e as estrofes são diferentes, pois a banda não havia ficado satisfeita com o formato original que a canção tinha. Alex Van Halen sugeriu que a banda trabalhasse novamente na faixa para inclusão no novo álbum.

A letra trata da história de um casal, cuja esposa está muito infeliz no relacionamento e decide sair de casa. Seu marido tenta convencê-la a ficar com ele, afirmando que ele mudará a situação para que ela não tenha de partir.

 

O LEGADO DE “1984”

Quando o álbum foi lançado, atingiu a posição de número 2 nas paradas americanas, ficando atrás apenas de “Thriller”, de Michael Jackson, no qual Eddie Van Halen havia tocado o inesquecível solo da canção “Beat It”. Michael Jackson teve o álbum de número 1, mas o Van Halen teve o single de número 1, o seu maior sucesso: “Jump”.

De uma certa forma, Eddie conseguira estar ao mesmo tempo no primeiro e segundo lugares da parada americana. 1984, juntamente com o primeiro álbum da banda, intitulado “Van Halen I”, foram os únicos da discografia da banda a alcançarem a cifra impressionante de mais de 10 milhões de unidades vendidas apenas nos Estados Unidos, fora todo o restante do mundo. Além disso, foi o único álbum na história da música dos Estados Unidos a receber o disco de diamante por suas vendas (10 milhões de unidades) e ter sido totalmente gravado em um estúdio caseiro, o já lendário “5150”, onde Eddie Van Halen passava a maior parte de seu tempo, praticamente morando no estúdio.

A tour promocional do álbum foi a maior já feita pela banda até então, lotando arenas e estádios em todos os locais onde se apresentavam. A banda estava em seu auge, absolutamente no pico de sua popularidade e sucesso.



Eddie afirmou que foi o primeiro álbum que o deixou totalmente satisfeito, pois ele conseguiu reproduzir nele exatamente as canções que gostava, da maneira que queria gravá-las em seu estúdio residencial, com uma enorme contribuição do seu grande amigo pessoal e engenheiro de som, Donn Landee. Embora oficialmente o álbum “1984” tenha sido creditado ao famoso produtor Ted Templeman, quem realmente o produziu foram Eddie Van Halen e Donn Landee. Outro motivo que fez com que o guitarrista ficasse muito feliz com o resultado das gravações do álbum foi o fato de ele ser muito diversificado, com canções muito diferentes umas das outras, até mesmo um pouco incomuns permitindo que o ouvinte seja levado em uma viagem musical ao ouvir o álbum inteiro. 

Na tour promocional a banda praticamente não ganhou nenhum dinheiro, pois a produção era descomunal, usando 18 caminhões para transportar o palco e equipamentos. Enquanto na época a quantidade comum de luzes para shows era entre 500 a 700, o do Van Halen tinha mais de 2000 luzes. A potência sonora também era incrivelmente poderosa e de alta fidelidade, permitindo que os fãs mais distantes do palco pudessem ouvir perfeitamente cada nota que a banda tocava, além de cada piada ou brincadeira que David Lee Roth fazia com a plateia.

Foram realizados mais de 100 shows durante 9 meses. No dia 14 de julho de 1984, os caminhos de Eddie Van Halen e Michael Jackson se cruzaram novamente. Nessa noite haveria uma apresentação do Van Halen em Dallas, enquanto Michael Jackson e seus irmãos se apresentariam na mesma noite em Irving, próximo à Dallas. Eddie foi convidado por Jackson a fazer uma participação e tocar ao vivo o seu solo em “Beat It”. Eddie aceitou e fez um aparição surpresa no show dos Jacksons, a única que fizeram juntos ao vivo, incendiando a plateia com sua guitarra enlouquecida. Um encontro de duas lendas da música ao vivo para os sortudos que estavam nessa noite única e histórica.

Ao vivo com Michael Jackson



Infelizmente, durante a tour, o relacionamento entre o vocalista David Lee Roth e o restante na banda, que já não estava bom há algum tempo, piorou drasticamente, levando o carismático cantor a deixar o grupo após ter lançado um Extended Play (EP) solo, cantando algumas canções de sua adolescência. Roth queria ser um ator de cinema, produzir filmes e vídeo clips, enquanto o resto do Van Halen estava esgotado após a tour, querendo mais focar os próximos trabalhos mais no estúdio e menos em show ao vivo.

Após a separação, Roth seguiu uma bem sucedida carreira solo, pelo menos durante os primeiros anos. O resto da banda convidou o vocalista Sammy Hagar, que já vinha de uma longa carreira solo, para se juntar ao Van Halen. A nova formação durou 10 anos e gravou 4 álbuns, os quais todos eles chegaram ao primeiro lugar das paradas nos EUA. Eu tive a oportunidade e sorte de ver um show do Van Halen, com Sammy Hagar nos vocais em Paris, em 1993, no tour promocional do álbum ao vivo “Right Here, Right Now”.

Somente em 2007 David Lee Roth voltou a fazer parte do Van Halen. No entanto, não foi uma reunião completa da formação clássica da banda, pois o baixista Michael Anthony havia sido demitido e fora substituído por Wolfgang Van Halen, filho de Eddie Van Halen. Tal formação gravou um álbum de estúdio, lançado em 2012, chamado “A Different Kind of Truth”.

Eddie na última tour do Van Halen, em 2015



A última tour que a banda fez foi em 2015, quando tocaram para enormes plateias, nas quais muitos fãs nunca haviam visto o Van Halen ao vivo antes e finalmente puderam ver seus ídolos de perto. O sucesso das apresentações foi enorme, tendo gerado um álbum ao vivo.

Em 2017, surgiram rumores que o Van Halen estaria planejando uma tour despedida, na qual tocariam em grande estádios e que, pela primeira vez, reuniria os dois maiores vocalistas da banda: David Lee Roth e Sammy Hagar, além do baixista Michael Anthony. Infelizmente, a tour foi cancelada pois Eddie Van Halen foi diagnosticado com vários tipos de câncer pelo seu corpo. Ele ficou em tratamento durante quase 3 anos, tragicamente vindo a falecer no dia 06 de outubro de 2020, deixando para trás um legado musical revolucionário e extremamente inovador, além de milhões de fãs por todo o mundo. Se foi o homem, mais sua música viverá eternamente nos ouvidos e corações de todos que reconheceram o seu enorme talento.

 



Essa matéria é minha pequena homenagem a um gigante da música, um mestre incomparável que sempre me inspirou e estimulou a estudar e aprender a tocar guitarra. Um inovador em todos os sentidos, com suas guitarras feitas em casa, seus pedais, seu amplificadores, efeitos e técnicas virtuosas em seu instrumento. Deixo registrado aqui meu agradecimento e gratidão ao fenomenal Edward Van Halen. Descanse em paz, mestre.

 

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BIBLIOGRAFIA

Guitar World - Eddie Van Halen revisits Van Halen's landmark '1984' album

por Chris Gill

Van Halen – Behind the Classic Album 1984 – por J. Benton

Everybody Wants Some – The Van Halen Saga – por Ian Christie

Edward Van Halen – A Definitive Biography – por Kevin Dodds

Red – My Uncensored Life in Rock – por Sammy Hagar

 

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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Boa noite, pessoal. Acabou de ser postada a minha mais recente matéria no portal Cidade & Cultura. Dessa vez eu escrevi sobre a cidade de Sorocaba e a famosa Feira do Tropeirismo, que ocorreu nela durante mais de 150 anos. Acho que essa foi a matéria mais trabalhosa que escrevi até hoje, pois tive de ler muitos livros e fazer muita pesquisa, já que esse é um assunto muito especial para mim. Espero que apreciem a leitura! https://www.cidadeecultura.com/sorocaba-tropeirismo/

terça-feira, 17 de novembro de 2020

NÃO IMPORTA O DESTINO, ELAS ESTARÃO LÁ

 Não importa o destino, elas estarão lá.

 

Fui convidado a escrever sobre astronomia, não acerca de termos técnicos e teorias, mas sobre o interesse pelo tema e como isso poderia despertar algo em leitores não familiarizados com o assunto. Desde já, fica uma pergunta ao leitor: o que o leitor poderia querer ver no céu noturno? A lua? Marte? Saturno? Alguma constelação? Ou quem sabe a Estação Espacial Internacional (EEI), cruzando o céu noturno como um pequenino ponto de luz em alta velocidade?

Bom, minha curiosidade pela astronomia começou ainda criança, numa infância recheada de filmes e livros de ficção científica, e foi fomentada por pais que, ainda que não dominassem conceitos e teorias astronômicas, queriam atiçar a curiosidade dos seus filhos e incentivá-los ao mundo científico

Assim, ainda criança, meus pais presentearam a mim e a meus irmãos com um telescópio refrator (que nada mais é do que uma grande e potente luneta). É bem verdade que o presente impressionava mais do que era útil, dada minha impaciência e inexperiência quando o assunto era estudar cartas celestes e apontar o telescópio para o escuro e desconhecido céu noturno. Não demorou muito para o presente tornar-se uma bela peça decorativa.

Com o passar dos anos, porém, o aparelho começou a sentir o desgaste do tempo, até pelas inúmeras faxinas e descuidos nossos, e logo retornou à sua embalagem original, sendo relegado ao fundo do armário.

Porém, quase como um cometa, que de tempos em tempos nos visita, o telescópio retornou à ativa. Ele precisou aguardar o momento em que seria “redescoberto" por alguém.

Assim é que, e muitos anos depois de ter sido presenteado, o telescópio foi novamente montado e posicionado próximo a uma janela. A diferença era que, desta vez, eu sabia um pouco mais o que queria procurar e como poderia identificar o que eu estava procurando, apesar de, ainda assim, não saber onde o meu alvo estaria no céu.

Armado de uma paciência muito maior, insisti madrugada adentro até que, finalmente, consegui avistar Marte, o planeta vermelho. E, adivinhe só, ele é realmente vermelho! Naquele dia, ou melhor, naquela madrugada, meu espírito astronômico foi renovado.

Algum tempo depois, ainda com o mesmo equipamento, outra longa noite de observação permitiu-me localizar o planeta Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. Aliás, o leitor sabia que é possível observar Júpiter ao longo de várias noites diferentes e aprender, a partir dessas observações, a encontrar algumas de suas luas? (O autor encontrou apenas quatro, de um total estimado de 79).

Outro planeta que aquele velho telescópio foi capaz de me mostrar foi Vênus. Planeta gasoso bem próximo ao Sol, pode ser visto ao entardecer ou amanhecer como se fosse uma estrela bem forte próximo da linha de horizonte, no ponto em que o sol for nascer ou se por.

Entretanto, para mim, nada supera as noites de visualização de Saturno e a beleza de seus anéis. Na primeira noite em que consegui observá-lo o impacto foi tão grande que meus batimentos cardíacos aceleraram e precisei parar para respirar antes de continuar a observação.

Naquele momento, tudo o que havia aprendido até então, tudo o que foi lecionado na escola, o que documentários buscam esclarecer, o que a Ciência tenta há séculos falar, foi provado verdadeiro para mim.

Daquela noite em diante nunca mais olhei para o céu noturno da mesma maneira. Na realidade, nunca mais deixei de olhar para o céu. Sempre à procura da Lua, por estrelas e, quem sabe, por planetas que, um dia, sejam o nosso próximo destino!

Se o leitor pensa que é preciso começar desde criança, ou que é preciso investir em algum equipamento caro, está bem enganado. É possível usufruir de um dos maiores prazeres da humanidade, o turismo, e aproveitar para aprender um pouco mais sobre astronomia, se este for o desejo do leitor.

Apenas a título de exemplo, em países bem próximos do Brasil, há três localidades muito interessantes para observações astronômicas.

A primeira é bastante conhecida dos brasileiros. Trata-se do Chile, onde, entre diversos pontos turísticos, localiza-se o Deserto do Atacama.

O local é tão seco e isolado que é considerado um ambiente único para a astronomia. Não é à toa que, ali, podemos encontrar diversos passeios voltados à observação astronômica.

Um deles é a visitação a propriedades/sítios particulares, que contam com telescópios e instrutores. Esses passeios são pagos, mas valem muito a pena para aqueles que anseiam ver algo no céu noturno, como constelações e galáxias distantes.

Outro passeio é a visitação pública ao ALMA, um projeto internacional de radiotelescópios localizado justamente na região do Atacama. A visitação, porém, não é noturna, mas pode aumentar o interesse ou curiosidade dos visitantes sobre o tema.

A segunda localidade, muito próxima da primeira e cuja visita normalmente é feita a partir do Atacama, é o Deserto de Sal da Bolívia, conhecido como Salar de Uyuni. Em que pese não exista infraestrutura ou passeios turísticos destinados à observação astronômica, o passeio ao deserto de sal, em especial nas últimas horas da madrugada, propicia uma vista a olha nu impressionante.

É possível ver, sem a ajuda de aparelhos, um dos braços de nossa galáxia. Uma quantidade tão grande de estrelas e poeira cósmica que parece formar um rio estrelar, chegando a iluminar o horizonte mesmo sem luz solar (aqui cabe um pequeno trocadilho: à noite não falta propriamente luz “solar", uma vez que as estrelas que vemos são sóis como o nosso Sol).



                                        Foto de Clara Markovitz - Space.com


Outro local que permite algum tipo de observação astronômica é o Equador. Ainda que não possua nenhuma atração específica sobre astronomia, a geografia do país (muitas montanhas e vulcões) e a posição sob a linha do equador permitem que alguns poucos particulares “aluguem" seus telescópios às noites, nas cheias ruas do centro histórico da cidade de Quito.

É muito interessante e curioso encontrar telescópios à espera de clientes, dividindo espaço com turistas, músicos, artistas e comidas de rua. Obviamente, a observação depende da quantidade de nuvens no céu noturno, da qualidade do equipamento e da experiência da pessoa que disponibiliza esse serviço, mas ao custo de cerca de um dólar norte americano (no ano de 2017), é possível arriscar e, quem sabe, surpreender-se com uma “vista" inesperada naquele país!

O leitor poderia argumentar: “não estou disposto a comprar um aparelho que não sei utilizar” ou não quero viajar para um desses três países.

Sem problemas! Hoje mais do que nunca a tecnologia permite transformar a astronomia em algo que nos acompanha todos os dias e que cabe em nossos bolsos: o nosso celular.

Existem diversos aplicativos de celular que utilizam o GPS (e, em alguns modelos mais completos, o giroscópio do aparelho) para ajudar a localizar objetos celestes, como planetas, estrelas, constelações etc. Para tanto, basta movimentar o aparelho com o app ligado e observar as indicações na tela. Alguns exemplos de apps são: Carta Celeste, Sky View e Sky Map.

E é importante lembrar: a astronomia tem mais relação com o costume de olhar para cima do que, de fato, com o conhecimento científico profundo que esperamos de astrônomos e astrofísicos.

Antes de terminar, caso o leitor esteja curioso quanto a que fim levou o meu telescópio: após um ano de boas observações em 2020, o equipamento voltou para a caixa, agora para uma provável aposentadoria definitiva após pouco mais de 20 anos de trabalho. A baixa qualidade das lentes já não permite as mesmas observações e o equipamento possui mais um valor sentimental do que prático.

Deixo aqui o meu convite ao leitor para, quem sabe, permitir-se despertar uma certa curiosidade pelo tema da astronomia e levá-la aonde for, inclusive em suas próximas viagens. Afinal, não importa para onde o leitor vá, as estrelas estarão lá.

Por fim, caso o leitor queira uma pequena dica para começar a olhar o céu noturno, aqui vai uma: sempre que encontrar um ponto luminoso, olhe fixamente e veja se ele costuma piscar rapidamente, ou “cintilar”. Se sim, é muito provável que se esteja olhando para uma estrela. Se não, provavelmente o leito encontrou um planeta. Resta a ele descobrir qual.


                                            Vênus observado ao amanhecer no Sala de Uyuni

                                            Arquivo pessoal do autor


Marcelo Frost Marchesan é advogado, estudante de tecnologia da informação, amante de viagens e um entusiasta da astronomia.

Novembro de 2020.