Autores Convidados

Não Importa o Destino, Elas Estarão Lá - por Marcelo Frost Marchezan










O Meio Ambiente e as Brumas Ouro-Pretanas  - por Emiliana Fonseca











Independência ou Morte, por Samanta M. Sampaio


Esta história só poderia ter acontecido mesmo durante essa pandemia. Estava eu ajudando meu filho com as atividades da escola, quando abrimos a aula gravada sobre o dia da independência do Brasil. Enquanto o vídeo rolava, meu assombro só crescia. A professora - muito dedicada e esforçada, admito com prazer - pôs-se a desfiar todos os mitos sobre os eventos referentes à data que eu, provavelmente mais ou menos da mesma idade do meu pequeno, ouvi na escola.
Desta feita, ficamos sabendo que D. Pedro era muito querido pelo povo brasileiro, e que por isso não seguiu com sua família quando ela decidiu abandonar o Brasil e voltar para Portugal. Também por isso, por esse afeto mútuo, ele decidiu dizer que ficaria com o povo tão amado, dando origem ao Dia do Fico. E que então, para defender os brasileiros - não se disse exatamente de que - ele subiu em seu cavalo, puxou a espada e proclamou “independência ou morte!!!”. Com direito a muitos pontos de exclamação, obviamente!
Quando eu ouvia estes mitos, há tantos anos atrás, o Brasil estava sob uma ditadura, o que forçosamente implica em dourar o passado do país e ocultar os defeitos daqueles que o formaram. É normal, faz-se isso desde que o mundo é mundo, ditadores são ditadores, releva-se. Mas fiquei a matutar alguns pontos que não consigo solucionar. Vejamos:
Ainda precisamos mesmo dourar a pílula para as crianças? Esta geração que hoje tem seus cinco ou seis anos já nasceu com o dedo indicador em riste - se não para nos corrigir, para tocar as telas onipresentes em suas vidas? Será que não os estamos subestimando?
A querida professora, que provavelmente teve uma vida simples, sem luxos, e uma formação deficitária - não podemos negar a baixa qualidade dos cursos de pedagogia no país, eu pessoalmente tenho experiência com eles - realmente acredita nas histórias que passou para as crianças ou foi orientada a ensiná-los assim?
Tenha sido iniciativa da professora ou da escola, por que contar mentiras em sala de aula? Eu acredito piamente na teoria de que às crianças basta responder suas perguntas com sinceridade e simplicidade e elas se darão por satisfeitas - sem necessidade de mentiras ou tratados sobre história e geopolítica, no caso.
Caso a professora ainda acredite nestas versões romanceadas da história do Brasil, o que lhe faltou? Pensamento crítico? Acesso aos fatos históricos? Tempo para pensar ou ler livros sobre o assunto? Interesse, puro e simples?
E estes últimos questionamentos me levaram a outros: o que mais, além de conteúdos escolares, ouvimos desde pequenos e nos esquecemos de questionar ou pôr à prova? Provavelmente, como parte do crescimento, todos nós, em algum momento, questionamos coisas básicas que eram dadas como verdades irrefutáveis na infância - a autoridade dos pais, os valores que eles tentaram nos passar, religião, política, visão de mundo, filosofias... mas não podemos esquecer que tudo faz parte de quem somos e de como nos posicionamos no mundo. Continuar acreditando que o mundo é como um romance histórico certamente vai nos decepcionar cedo ou tarde. Mas o mais importante é nunca deixar de questionar - tudo, toda informação que nos chega, todos os nossos pensamentos, nem que por ao menos um segundo. Esse exercício de pensar constantemente e analisar se continuamos no caminho que acreditamos ser o certo é o que nos faz humanos no melhor sentido da palavra.
É isso: pensar. Pensar e questionar é preciso. Isso sim significa independência - ou morte.


Samanta M. Sampaio é apaixonada por uma quantidade inacreditável de assuntos, que sempre a levam à sua paixão primordial: livros. Para entrar em contato, envie um e-mail para <pensarnaoeproibidoainda@gmail.com>.


Essa é a estréia da coluna "Autores Convidados". A autora do texto abaixo é Lizandra Soave, minha amiga pessoal e criadora do ótimo blog "Filmes Históricos" (http://filmeshistoricos.blogspot.com/).


Pioneiros do Cinema - por Lizandra Soave

O século XX estava só começando e com ele também nascia a sétima arte que encontrava, no entanto, dura resistência para ser reconhecida como tal logo nos primórdios de sua invenção. Mas aos poucos o cinema foi consolidando seu valor artístico e ocupando um espaço gigantesco no mundo do entretenimento.

O cinema não nasce em Hollywood, mas sim na Europa, mais precisamente na França. Na cidade de Lyon os irmãos Auguste e Louis Lumière vinham desenvolvendo e aprimorando uma invenção revolucionária, o cinematógrafo.

E o fascínio despertado por essa invenção rapidamente cresceu e se espalhou por todo o mundo depois que eles projetaram, em 1895, uma filmagem curta da saída dos funcionários da fábrica da família.

Eles fizeram diversas exibições públicas dos materiais registrados pelo aparelho, que até então se restringiam a cenas do cotidiano com poucos segundos de duração. E em uma dessas apresentações estava um gênio do entretenimento, o produtor teatral e ilusionista George Méliès, que imediatamente identificou o potencial daquela nova tecnologia caso ela fosse associada à arte da encenação.

Méliès rapidamente começou a fazer filmes curtos, já introduzindo alguns truques e técnicas de efeitos especiais unindo seu conhecimento em ilusionismo e elaboração de cenários.

Ao longo dos anos o estilo das obras foi se modificando, passando daquele modelo meio teatral para enredos mais sérios. O filme “O Assassinato do Duque de Guise”, de 1908, dirigido por Charles Le Bargy e André Calmettes, foi um marco dessa transformação. Ele reconstituía um evento histórico ocorrido no ano de 1588, quando o então rei da França, Henrique III, o último rei da casa de Valois, mandou assassinar seu rival, o Duque de Guise, por causa de uma mulher, a Marquesa de Noirmoutiers, ou Charlotte de Sauve.

As inspirações para os filmes eram geralmente fatos históricos, grandes obras da literatura, textos sagrados e poemas épicos. Sobre obras literárias, já começam a aparecer processos na justiça por direitos autorais.

A maioria dos filmes era em preto e branco, mas alguns apareceram em cores, o que era possível graças a uma técnica bem rudimentar de colorização à mão. Os filmes de Méliès, por exemplo, eram colorizados dessa maneira por ele e por sua esposa.

No Brasil quem começa a movimentar o mercado cinematográfico são imigrantes italianos. Inicialmente os filmes mostram cenas do tipo documentário, exibidas exclusivamente para elite, reconstituição de crimes, em seguida começam a trazer alguma narrativa passando para adaptações de obras literárias.

A seguir temos uma cronologia do desabrochar do cinema pelo mundo:

1895 – Em Lyon, os irmãos Lumière fazem a primeira projeção pública usando cinematógrafo da cena “A Saída dos Operários da Fábrica Lumière”.

1896 – Em Paris, Charles e Émile Pathé e outros irmãos criam a produtora de filmes Pathé Frères, que trazia o galo como logomarca.

1900 – O inglês James Williamson dirige o filme “Ataque a Uma Missão Chinesa”, de pouco mais de um minuto de duração, sobre o Levante dos Boxers, exibido na Inglaterra com enorme sucesso. O filme já começa a apresentar uma narrativa mais complexa e apresentada de uma forma inovadora.

1901 – Ferdinand Zecca dirige “A Conquista dos Ares”, com um minuto de duração, e aparece sobrevoando a cidade de Paris, utilizando um recurso de edição.

1901 - O francês George Méliès inicia seus experimentos cinematográficos com o filme “O Homem com a Cabeça de Borracha”, trazendo já o seu estilo que unia o fantástico ao macabro.

1902 – Méliès dirige uma reconstituição histórica da “Coroação do Rei Eduardo VII” da Inglaterra. Nesse mesmo ano ele dirige também  o emblemático “Viagem à Lua”, o épico cósmico de quatorze minutos, deixando aquela imagem icônica da lua com um rosto e um foguete enterrado em um de seus olhos.

1903 – O americano Edwin Porter lança o filme “A Vida de um Bombeiro Americano” e em seguida o filme “O Grande Roubo do Trem”, que viria a ser o primeiro faroeste americano.

1904 - George Méliès dirige “A Viagem Impossível”.

1907 – O canadense Sidney Olcott dirige a primeira versão de “Ben-Hur”, baseada no livro de Lew Wallace, e abriu um precedente para disputas por direitos autorais.

1908 – Fundação da Société Film d’Art, que já começa a elevar o cinema à categoria de arte de fato.

1908 - Charles Le Bargy e André Calmettes dirigem a reconstituição histórica “O Assassinato do Duque de Guise”.

1908 – No Brasil o imigrante italiano Francisco Marzullo dirige “Os Estranguladores”, baseado em fatos reais.

1909 – O francês Alfred Marchin dirige “O Moinho Maldito” para a Pathé Frères, com locação na Bélgica. O filme foi colorido à mão.

1910 – O influente diretor americano D. W. Griffith dirige “Na Velha Califórnia”.

1911 – Os italianos Francesco Bertolini, Adolfo Padovan e Giuseppe de Liguoro dirigem o primeiro longa-metragem italiano “L’Inferno” baseado no clássico A Divina Comédia, e Giovane Pastrone dirige o curta “A Queda de Troia”.

1913 - Também na Itália Mário Caserini dirige “Os Últimos Dias de Pompeia”.

1913 – O indiano D. G. Phalke  dirige o filme “O Rei Harishchandra”, dando início ao cinema na Índia, contando a história de um personagem do poema épico indiano Mahabharata.

1914 – Giovane Pastrone dirige o grandioso  “Cabiria” em parceria com o poeta também italiano Gabrielle D’Annunzio. A história se passa no período das Guerras Púnicas.

1915 - D. W. Griffith dirige o polêmico épico “O Nascimento de Uma Nação”, que se passa no contexto da Guerra Civil Americana.

1916 – Nos EUA, Scotsman Stuart Paton dirige o filme de ficção científica  “Vinte Mil Léguas Submarinas” baseado no romance de Júlio Verne.

1920 – O diretor alemão Robert Wiene dirige o influente “O Gabinete do Doutor Caligari”, inaugurando o cinema de horror e trazendo a influência do expressionismo alemão.

1922 – Seguindo no movimento expressionista, o alemão F. W. Murnau dirige “Nosferatu, uma Sinfonia do Horror”, baseado no livro Drácula, de Bram Stoker, de 1897.

1923 – O americano Cecil B. DeMille dirige “Os Dez Mandamentos”.

1925 – Outro americano, Fred Niblo, dirige a mais uma versão de “Ben-Hur”, dando início ao gênero “espada e sandália”.

1925 – O russo Sergei Eisenstein dirige o histórico “O Encouraçado Potemkin”.

1927 – O francês Abel Gance dirige o revolucionário “Napoleão”.

 

Essas foram apenas algumas das primeiras obras que pavimentaram o longo caminho que viria a ser explorado e percorrido pelas mentes criativas ávidas por dar vida a personagens, desenvolver novas técnicas, conceitos, paradigmas e principalmente contar novas  histórias para o deleite de um público absolutamente encantado pelo fascínio da sétima arte.

 

Fonte: “Tudo Sobre Cinema”, Philip Kemp (Editora Sextante)

Nenhum comentário:

Postar um comentário