ÁLBUNS
CLÁSSICOS DO ROCK – VOLUME 9
THE BEATLES – THE BEATLES (WHITE ALBUM)
FICHA TÉCNICA
ANO
DE LANÇAMENTO
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1968
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PRODUZIDO
POR
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GEORGE MARTIN & CHRIS THOMAS (faixas 8 e 18)
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MÚSICOS
PRINCIPAIS
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JOHN
LENNON – VOCAL, VIOLÃO, GUITARRA, BAIXO, PIANO, HARMONIUM, MELLOTRON, GAITA,
BATERIA, PERCUSSÃO, TAPE LOOPS, EFEITOS SONOROS
PAUL
MCCARTNEY – VOCAL, BAIXO, VIOLÃO, GUITARRA, HAMMOND, PIANO, PERCUSSÃO,
BATERIA
GEORGE
HARRISON – VOCAL, GUITARRA, VIOLÃO, BAIXO, HAMMOND, BATERIA, PERCUSSÃO,
EFEITOS SONOROS
RINGO
STARR – VOCAL, BATERIA, PERCUSSÃO, PIANO
ERIC
CLAPTON – SOLO DE GUITARRA NA FAIXA 7
YOKO
ONO – BACKING VOCAL, VOCAL E EFEITOS SONOROS
MAL EVANS – BACKING VOCAL, PALMAS, TRUMPETE
CHRIS THOMAS – PIANO, MELLOTRON, HARPSICHORD, ÓRGÃO
GEORGE
MARTIN - ARRANJOS E PIANO
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LISTA DE CANÇÕES DO ÁLBUM
1
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BACK IN THE USSR
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2
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DEAR PRUDENCE
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3
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GLASS ONION
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4
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OB-LA-DI,
OB-LA-DA
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5
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WILD HONEY PIE
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6
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THE CONTINUING STORY OF BUNGALOW BILL
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7
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WHILE MY GUITAR GENTLY WEEPS
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8
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HAPPINESS IS A WARM GUN
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9
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MARTHA MY DEAR
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10
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I’M SO TIRED
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11
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BLACKBIRD
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12
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PIGGIES
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13
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ROCKY RACCOON
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14
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DON’T PASS ME BY
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15
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WHY DON’T WE DO IT IN THE ROAD?
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16
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I WILL
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17
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JULIA
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18
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BIRTHDAY
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19
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YER BLUES
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20
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MOTHER NATURE’S SON
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21
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EVERYBODY’S GOT SOMETHING TO HIDE EXCEPT FOR ME AND
MY MONKEY
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22
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SEXY SADIE
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23
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HELTER SKELTER
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24
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LONG, LONG, LONG
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25
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REVOLUTION 1
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26
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HONEY PIE
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27
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SAVOY TRUFFLE
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28
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CRY BABY CRY
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29
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REVOLUTION 9
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30
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GOOD NIGHT
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ORIGENS DO ÁLBUM
No início de 1968 os Beatles
tinham um grande dilema: Como superar a criação de uma obra prima, como o álbum
mais recente deles “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e, ao mesmo tempo,
desbravarem novos rumos musicais e dar espaço à crescente criatividade
individual de seus integrantes, mantendo o padrão de qualidade musical
estabelecido por eles?
A resposta não era simples.
Precisariam se reinventar como grupo e resgatarem suas raízes no rock and roll
e outros estilos que fizeram parte de sua extensa formação musical. Seria
necessário também encontrar respostas para as perguntas e dúvidas sobre suas
vidas e carreiras, que estavam começando a surgir, já que a banda havia
atingido todo o sucesso financeiro, material, comercial e fama com os quais
poderiam sonhar. Talvez fosse o momento de se voltarem para dentro, para o autoconhecimento
a fim de descobrirem suas verdadeiras essências e, se possível, também
entenderem qual é o sentido da vida.
A solução para tais
problemas e questionamentos, aparentemente, foi encontrada na figura mística do
indiano Maharishi Mahesh Yogi, fundador da “Spiritual Regeneration Academy of
Transcendental Meditation” (Academia de Regeneração Espiritual de Meditação
Transcendental), em Rishikesh, na Índia.
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Os Beatles com o Maharishi |
Os Beatles haviam tomado conhecimento
do “guru” quando a ex-esposa de George Harrison, Patti Boyd, assistiu uma de
suas palestras em Londres e recomendou aos Beatles que o vissem também na
próxima oportunidade que surgisse.
George sempre teve um desejo
de conhecer mais sobre a Índia, sua música, cultura e religião, e estimulou
seus companheiros de banda a investigarem mais o trabalho do Maharishi e a conhecê-lo
pessoalmente. Desde o primeiro contato, ficaram muito interessados com o que
ouviram e impressionados com a figura do carismático guru indiano.
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Maharishi Mahesh Yogi |
Decidiram acompanhá-lo para
um seminário em Bangor, no País de Gales em agosto de 1967, com suas esposas
(exceto Cynthia, esposa de John, que acabou perdendo o trem e sido deixada para
trás por seu marido) e amigos, como Mick Jagger. Durante a estadia deles por lá
receberam a trágica notícia da morte de seu empresário, Brian Epstein, que
havia sido o responsável por descobri-los, criar a imagem da banda e levá-los
ao estrelato. Epstein era visto com muito respeito e exercia um papel
semelhante ao de uma figura paterna, sempre ditando os rumos e próximos
caminhos que os Beatles deveriam trilhar. Com sua morte, quase que
instantaneamente o Maharishi acabou assumindo tal papel e passou efetivamente a
ter uma enorme influência sobre os Beatles, particularmente sobre George e
John.
O guru indiano convidou os
Beatles para passarem uma temporada em Rishikesh, na Índia, para estudarem
meditação transcendental, com a finalidade de transformá-los em instrutores da
disciplina e, consequentemente, seus embaixadores por todo o mundo, divulgando
o trabalho e obra de Maharishi. Finalmente em fevereiro de 1968 John e George
partiram para Índia, junto com suas esposas. Paul com sua noiva e Ringo e sua
esposa se juntaram a eles na semana seguinte. A estadia dos Beatles na Índia
acabou se tornando um dos períodos mais férteis e criativos em toda a história
da banda, que compôs dezenas de canções em Rishikesh, sendo que a grande
maioria delas veio a ser incluída no próximo trabalho da banda, que se chamaria
simplesmente “The Beatles”, mas se tornaria mais conhecido pelos fãs, crítica e
até mesmo pela própria banda como o “Álbum Branco”.
A viagem para a Índia foi a
última que os Beatles fizeram juntos, ainda que todos eles não tenham permanecido
durante todo o tempo lá. Ringo passou apenas 10 dias, pois sua esposa não
suportava os constantes ataques dos insetos e Ringo não se adaptou à comida
local, pois sempre havia tido propensão para problemas estomacais. Paul
permaneceu durante um mês, o suficiente, segundo ele, para aprender e praticar
o queria. George e John ficaram mais tempo, passando dois meses no Ashram do
Maharishi.
Os Beatles não foram os
únicos a participarem do retiro para a prática da meditação transcendental na
Índia. Outras pessoas de vários lugares do mundo também estiveram por lá,
incluindo Mike Love, integrante dos Beach Boys, o “guru eletrônico” dos
Beatles, Alex Mardas, Mal Evans, assistente dos Beatles, o compositor folk
escocês Donovan, o fotógrafo americano Paul Saltzman, que registrou incríveis
imagens dos Beatles na ocasião, o músico Paul Horn, além da atriz Mia Farrow
(esposa de Frank Sinatra na época) e sua irmã Prudence.
A banda havia levado apenas
seus violões para a Índia, instrumento esse que acabou sendo a base para a
composição das 48 canções compostas apenas por John e Paul em Rishikesh, além
de outras compostas por George. John aprendeu uma nova técnica de dedilhado com
Donovan em dois dias e a usou em suas novas composições “Dear Prudence” e
“Julia”. A música da banda passou a ser mais simples após a visita à Índia,
principalmente pelo fato de grande parte das novas canções terem sido
originalmente compostas em violões. Assim que chegou na Índia, Mal Evans comprou
uma nova cítara para George, que se aprofundou no estudo do instrumento em sua
estadia no Ashram. Foi relatado pelos presentes que, enquanto compunham suas
novas obras, John e Paul tocaram versões acústicas de algumas de suas músicas
favoritas, como All You Need is Love, Eleanor Rigby, Michelle e Norwegian Wood.
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Compondo na Índia |
Porém, desde o início os
Beatles estavam insatisfeitos com algumas atitudes tomadas pelo Maharishi,
sendo consideradas no mínimo suspeitas ou questionáveis. O guru indiano havia
lançado um álbum de gravações de seus ensinamentos no qual constava na contracapa
a informação de que ele era o “guru” dos Beatles. Tal jogada de marketing para
alavancar as vendas não agradou nem um pouco a banda, que sequer foi consultada
sobre tal iniciativa. Além disso, o Maharishi deixou Neil Aspinall, responsável
pela gestão dos negócios dos Beatles completamente chocado ao lhe pedir 2,5%
dos rendimentos gerais dos Beatles, além de 25% da receita liquida deles.
Houve um grande assédio dos
fotógrafos no Ashram, pois todos queriam ter fotos e notícias dos Beatles em
sua passagem pela Índia. Inicialmente, tentavam registrar fotos da banda de
forma escondida e não autorizada. Depois de um tempo Mal Evans fez um acordo
com os fotógrafos e levava notícias para eles todos os dias, até que eles
acabaram desistindo e indo embora.
John e George já eram
vegetarianos na época, Paul sentia falta de comer carne e Ringo achava os
pratos condimentados demais. John declarou: “Conseguimos nossos mantras,
sentamo-nos nas montanhas comendo péssima comida vegetariana e compondo todas
aquelas canções. Escrevemos toneladas de canções na Índia.”
John passava a maior parte
do tempo em isolamento. Acordava cedo para buscar a correspondência de Yoko,
que lhe enviava cartas diariamente. Tanto ele quanto George levaram o curso a
sério. Já Paul encarou a viagem mais como umas merecidas férias, com um pouco
de meditação. Ringo não tinha nenhum interesse em estudar a meditação
transcendental ou os assuntos abordados nas palestras de Maharishi. Devido ao
profundo envolvimento de seus companheiros de banda (John e George), Paul tinha
receio de que ambos não voltassem ao Reino Unido, caso o Maharishi lhes fizesse
uma enorme revelação, que mudasse suas vidas, o que significaria o fim dos
Beatles. Felizmente para Paul, isso não aconteceu, pois John queria regressar
para encontrar Yoko e circulou um rumor, iniciado por Alex Mardas, que o
Maharishi havia assediado uma das mulheres participantes do curso, o que nunca
acabou sendo comprovado. Tal situação enfureceu John, que a usou como pretexto
para deixar a Índia e ir ao encontro de Yoko no Reino Unido, dando fim à
estadia dos Beatles em Rishikesh. John declarou que das 30 canções acabaram
sendo incluídas no novo álbum, 20 haviam sido compostas na Índia, enquanto que
as outras 10 foram concluídas após o regresso da viagem.
Antes de serem iniciadas as
sessões de gravação, os Beatles fizeram algo inédito na carreira deles até
então. Se reuniram na casa de George, em Esher, e fizeram uma gravação completa
de demos em um estúdio portátil de 4 canais de todas as faixas que haviam
composto na Índia para selecionarem em quais iriam trabalhar para o novo álbum.
Eles se divertiram muito gravando as demos, como pode ser constatado nas
gravações que foram disponibilizadas na edição de 50 anos do Álbum Branco. O
grupo nunca havia ensaiado e feito demos fora dos estúdios da EMI de forma tão
metódica e organizada quanto para o novo trabalho. No total, foram realizadas 27
gravações (15 de John, 7 de Paul e 5 de George), que acabaram se tornando
conhecidas como “Esher Tapes” ou “Esher Demos”. Paul achava que tinham material
para um álbum triplo. O produtor George Martin preferia que gravassem um álbum
simples, selecionando apenas as melhores canções. No entanto, 11 faixas que
foram incluídas no álbum não foram gravadas nas demos na casa de George. Nessa
época ocorreu uma proliferação de canções de George, que começava a compor
canções de qualidade cada vez melhor, começando a rivalizar com John e Paul.
Além disso, consegui finalmente ter sua primeira canção lançada em um single
(The Inner Light).
Outro fato interessante é
que os Beatles foram presenteados com uma grande quantidade de equipamentos e
instrumentos novos fornecidos pelos fabricantes Fender e Gibson. Todos eles foram
usados em maior ou menor grau nas novas faixas. Entre o material que receberam
se encontravam guitarras Fender Telecaster, baixos Fender Jazz Bass e Fender
Bass VI, amplificadores Fender Bassman 100, com falantes de 12 polegadas,
amplificadores Fender Twin Reverb, violões Gibson J200 e guitarras Gibson Les
Paul. Além disso, a qualidade das gravações realizadas nos estúdios de Abbey
Road contaram com mesas de som de 8 canais na parte final das sessões e, no
Trident Studios, desde o início das gravações, fato pelo qual os Beatles
preferiram gravar nele em detrimento de Abbey Road, que na época tinha um
equipamento defasado tecnologicamente comparado aos novos e mais modernos
estúdios de Londres. Fica claro, através da análise detalhada das gravações
realizadas, o quão os Beatles eram meticulosos em seus registros, prestando
atenção aos mínimos detalhes sonoros. Outra marca das novas sessões foram a
ocorrência constante de gravações nas quais nem todos os membros da banda
estavam presentes, algumas vezes apenas três, dois ou até mesmo um deles,
fazendo gravações solo.
O título do novo álbum
também foi motivo de controvérsia. Originalmente seria chamado de “A Doll’s
House” (Casa de Bonecas), inspirado na famosa peça teatral de Henrik Ibsen.
John chamava o álbum que estavam gravando de “Son of Sgt Pepper” (Filho de Sgt.
Pepper). Paul queria chamar o álbum de Umbrella (Guarda-Chuva), pois ele cobria
quase todos os estilos musicais. O “Álbum Branco” é conhecido como a “história
do rock and roll” por causa da grande quantidade de estilos representados e
parodiados. Parece que ouvimos uma banda diferente em cada faixa. Entre os
estilos abordados estão o rock clássico, blues, jazz, vaudeville, folk, heavy
metal, reggae, experimental, baladas, country, entre outros.
As gravações foram
realizadas durante 5 meses, de segunda a sexta feira, geralmente das 14:30h à
meia noite. Paul era incrivelmente animado quando estava trabalhando,
normalmente sendo o primeiro a chegar e o último a sair. Ele sempre se concentrava
muito e era a pessoa dominante no estúdio, segundo relatos de presentes às
sessões. Ele sabia tocar todos os instrumentos tão bem quanto os outros Beatles
e passava muito mais tempo no estúdio do que os outros, segundo Tony Bramwell. A
equipe do estúdio de Abbey Road considerava geralmente as ideias de Paul como viáveis,
as de John quase sempre eram inviáveis ou muito difíceis de serem executadas. Há
também uma grande diferença entre as técnicas de gravação utilizadas para o
registro do álbum “Sgt. Pepper’s
Lonely Hearts Club Band” e “The Beatles (White Album)”. No
primeiro caso, normalmente eram feitas “backing tracks”, com um esboço do que
seria a gravação final, e iam adicionando cada instrumento individualmente,
assim como as vozes. Já no trabalho seguinte, a banda tentava ao máximo captar
uma “performance” ao vivo, tentando manter o espírito de uma banda se
apresentando e adicionando o mínimo possível de “overdubs” posteriores. Em
alguns casos até mesmo o vocal final acabou sendo gravado ao vivo, junto com os
outros instrumentos.
Durante as tensas sessões de
gravação do Álbum Branco, o produtor George Martin saiu de férias durante 3
semanas, para se afastar no clima hostil e abrasivo que havia no estúdio. O
produtor Chris Thomas o substituiu durante sua ausência, pois tinha experiência
produzindo o The Who. O engenheiro de som devido Geoff Emerick abandonou as
gravações pelo mesmo motivo, só retornando à gravação do álbum final dos Beatles,
Abbey Road. Até mesmo o baterista Ringo Starr deixou a banda durante as sessões
de gravação durante 12 dias, pois se considerava esquecido e pouco respeitado
por seus colegas de banda. Acabou retornando após ter sido convencido que todos
sentiam a sua falta e ele era muito querido por seus colegas.
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Paul produzindo enquanto Ringo e George Martin olham |
Durante o ano de 1968 muitos
outros acontecimentos importantes ocorreram na vida dos Beatles. Paul e George
passaram a produzir outros artistas, gravando canções para eles e/ou as
produzindo. Paul produziu e compôs “Step Inside Love” para Cilla Black, além de
“Heather” e “How Do You Do?”, juntamente com Donovan nas sessões de gravação
para Mark Hopkin. George gravou o álbum “Wonderwall”, para a trilha sonora de
mesmo nome, empregando músicos indianos, a banda Remo Four e até mesmo seu
amigo Eric Clapton. Esse foi o primeiro lançamento do novo selo dos Beatles,
chamado de “Apple”, além de ter sido o primeiro álbum solo de um dos Beatles.
Fez parcerias também com seu amigo e ídolo Bob Dylan, compondo com ele duas
canções, “I’d Have You Anytime”, que seria incluída no álbum “All Things Must
Pass”, e “Nowhere To Go”, que acabou nunca sendo lançada. Até mesmo John
realizou gravações caseiras, compondo “A Case of the Blues”, que nunca foi
lançada, “Don’t Let Me Down”, que se tornou um single dos Beatles posteriormente,
“Oh My Love”, que foi lançada no álbum solo “Imagine” e “Everyone Had a Hard
Year”, que posteriormente foi juntada à uma outra composição de Paul, se
tornando “I’ve Got a Feeling”, que foi lançada no álbum “Let It Be”.
O selo criado pelos Beatles,
para a distribuição de seus novos trabalhos, assim como de seus protegidos, foi
inspirado por um quando do célebre pintor belga, René Magritte, do qual Paul
era um grande admirador e colecionador de seus quadros, tendo inclusive
adquirido e colocado a obra intitulada “Le Jeu de Mourre” em exposição na sala de
sua residência em Londres. Uma outra curiosidade pouco sabida é que a Apple
inicialmente seria formada pelos Beatles e Rolling Stones. Paul e Mick Jagger
chegaram a discutir o assunto sobre a criação de um estúdio de gravação
financiado por ambas as bandas, mas a ideia acabou sendo considerada
impraticável.
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Quadro "Le Jeu de Mourre", de René Magritte |
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Paul, Martha e o quadro de Magritte na parede da residência de Paul |
Outro projeto que acabou descartado
foi a ideia da banda em realizar uma adaptação cinematográfica da lendária obra
“O Senhor dos Anéis”, de Tolkien. A ideia da banda era a de que Stanley Kubrick
poderia dirigir o filme, que chegou a ser discutido com a United Artists em
Nova York. Kubrick jantou uma noite com Paul e John e os convenceu que era um
projeto inviável, pois o livro seria impossível de ser recriado na tela de
cinema com a tecnologia disponível na época, o que era um argumento verdadeiro,
pois tais filmagens acabaram só se concretizando décadas depois, com o advento
da computação gráfica. John estava tão entusiasmado que chegou a declarar que
comporia um álbum duplo de canções para a trilha sonora do filme.
O filme que efetivamente
acabou sendo produzido foi o desenho animado “Yellow Submarine”, com o qual os
Beatles tiveram um envolvimento mínimo, cedendo apenas um punhado de canções
que não haviam sido usadas até então e gravado uma pequena e rápida
participação no final da animação. Ao verem o resultado final do trabalho, os
Beatles lamentaram muito não terem se dedicado mais ao projeto, pois adoraram o
filme, que superou muito as expectativas que tinham do projeto. John declarou
que gostaria de escrever ele mesmo a próxima animação dos Beatles.
Em setembro de 1967, Sir
Joseph Lockwood, presidente da EMI (gravadora dos Beatles) compareceu a um
evento no Palácio de Buckingham. Ao vê-lo, a Rainha Elizabeth II o abordou e
fez o seguinte comentário: “Os Beatles estão se tornando terrivelmente
esquisitos, não é mesmo?”, mostrando a familiaridade da soberana com a obra da
banda e sua insatisfação com os novos caminhos musicais que estavam trilhando,
a partir de sua fase psicodélica. O Prince Philip considerava os Beatles como “caras
legais”. Até o Marechal Montgomery,
herói da Primeira e Segunda Guerra Mundial expressou o desejo de convidá-los
para passar um final de semana em sua residência para ver “que tipo de pessoas
eles eram”. Definitivamente, os Beatles haviam chegado ao topo da sociedade
britânica e do mundo. Agora estavam prestes a dar mais um importante novo passo
em suas carreiras: a gravação do lendário “Álbum Branco”.
ANÁLISE DO ÁLBUM - FAIXA A
FAIXA
Back in the USSR
O álbum abre com o som de um
avião decolando, seguido pelas guitarras dos Beatles. Uma excepcional faixa de
abertura, com um dos maiores rocks da carreira da banda.
Essa é uma faixa de autoria
de Paul e foi composta na Índia. A ideia inicial surgiu através de Mike Love,
integrante dos Beach Boys e amigo dos Beatles que estava em Rishikesh com eles.
Love sugeriu a Paul que eles compusessem juntos uma paródia da canção “Back in
the USA”, de Chuck Berry. Paul gostou muito da sugestão e começou imediatamente
a escrever a letra, contando a história de um soviético, provavelmente um
espião, que estava há muito tempo nos EUA, mas que sonhava em voltar para casa,
reencontrando as lindas garotas da Ucrânia e Moscou, que são muito mais belas
do que as do Ocidente. Além disso, Paul faz uma brilhante alusão à Georgia, que
é um estado nos EUA e era uma das repúblicas que fazia parte da URSS. Para
completar a brilhante inspiração, é também uma homenagem à canção “Georgia on
my Mind”, de Ray Charles, um dos ídolos de Paul.
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Mike Love e George |
Uma letra extremamente bem
humorada e divertida, apoiada por um instrumental de primeira qualidade. Sem
dúvida, uma das melhores faixas já compostas por Paul.
No entanto, por trás de uma composição
tão alegre e contagiante, o clima entre o grupo durante as gravações desse
álbum e, particularmente dessa canção, foi extremamente tenso. Paul criticou
continuamente a maneira como Ringo estava tocando. O baterista já vinha se
sentindo muito frustrado e irritado, pois dizia que não era amado nem apreciado
pelos outros membros da banda. Para piorar ainda mais a situação, toda vez que
ele ia ao banheiro ou beber uma xícara de chá, ao retornar encontrava Paul
sentado em sua bateria a tocando.
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Paul tocando a bateria de Ringo |
Nessas ocasiões, os Beatles
pediam para os técnicos e engenheiros de gravação saírem para beber ou comer
algo, e tinham sérios desentendimentos entre eles, que não queriam que fossem
presenciados por ninguém.
Ringo não suportou o clima
tão hostil e decidiu deixar o grupo. Partiu de férias com a família e Paul
acabou gravando a bateria dessa canção e da faixa seguinte também, “Dear
Prudence”. O baterista ficou ausente durante 12 dias e o motivo de sua partida
não foi revelado para ninguém de fora do grupo. Ringo só retornou quando
recebeu um telegrama dos Beatles dizendo que eles o amavam e sentiam muito sua
falta, que ele deveria voltar para casa. Ao finalmente regressar ao estúdio,
encontrou a sua bateria completamente coberta e decorada com flores, uma
iniciativa de George. Após o seu regresso, o clima melhorou entre os membro da
banda, que conseguiram concluir as gravações do álbum.
Em 2003, Paul fez sua
primeira apresentação na Rússia, tocando a Praça Vermelha em Moscou, com a
presença do líder Vladimir Putin. Ao executar a faixa “Back in the USSR” a plateia
enlouqueceu e o Paul conseguiu realizar seu sonho de tocar sua canção para os
russos ao vivo.
Dear Prudence
Um dos músicos que estava
presente em Rishikesh juntamente com os Beatles era o cantor folk escocês
Donovan. Foi um artista bastante popular nos anos 1960 e que se tornou amigo
dos quatro membros da banda. Pelo fato de ter uma formação musical folk, dominava
técnicas de violão que eram desconhecidas dos Beatles. John se mostrou
particularmente interessado em aprendê-las e Donovan as ensinou.
O escocês afirmou que John
aprendia muito rapidamente e, em pouco tempo, já havia dominado as novas
técnicas aprendidas e já as empregava em suas novas composições, como na canção
“Dear Prudence”.
Prudence Farrow é a irmã de
Mia Farrow, famosa atriz americana que na época era casada com Frank Sinatra.
As duas irmãs haviam ido para a Índia para estudarem meditação transcendental
com o Maharishi ao mesmo tempo que os Beatles. Eles se conheceram por lá e
ficaram amigos. No entanto, Prudence levava o curso extremamente a sério, pois
há muitos anos sonhava em estudar meditação transcendental. Desta forma, logo
após as palestras do Maharishi, ela se encaminhava para seu bangalô e ficava
dias sem ser vista. Os outros estudantes começaram a ficar preocupados com o
desaparecimento dela e os Beatles começaram a ir até o bangalô dela chamá-la
para participar das atividades com eles e a socializar como os outros
aprendizes.
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Prudence Farrow |
Prudence recebeu pelo menos
três visitas dos Beatles. Na primeira, John, Paul e George cantaram a faixa Sgt
Pepper’s Lonely Hearts Club Band inteira para ela, lhe convidando que saísse e
viesse ficar com eles, segundo relatos de Mia Farrow. Não tiveram êxito. Na
segunda tentativa, eles voltaram e Paul cantou uma canção nova que havia
compostos há poucos dias, que se chamava “Ob-la-di, Ob-la-da”. Mais uma vez não
tiveram sucesso. Na terceira vez, John cantou para Prudence uma linda canção
que havia composto especialmente para ela, chamada “Dear Prudence”, na qual ele
a convidava para sair para brincar, ver o som e apreciar a natureza. Desta vez,
Prudence abriu a cortina de sua janela. Viu os Beatles fazendo uma serenata
para ela, sorriu e finalmente abriu a porta e foi acompanhá-los.
Seguramente, um das mais
belas faixas do álbum e uma das melhores composições de John. Ringo não
participou dessa faixa, pois estava viajando com sua família. A bateria na
canção foi tocada por Paul.
Glass Onion
A primeira faixa do álbum na
qual Ringo toca sua bateria foi composta por John, que sempre ficara surpreso
com a tentativa dos fãs e da imprensa em descobrir significados ocultos em suas
letras, além de mensagens secretas. Há muitos anos surgiram rumores de que Paul
havia morrido durante as sessões de gravação de “Sgt. Pepper’s” e tinha sido
substituído por uma outra pessoa, o que era claramente absurdo.
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A volta de Ringo |
Desta forma, apenas para
confundir ainda mais os fãs e crítica, John criou essa letra, cheia de
mensagens ocultas e versos absurdos, apenas como diversão e gozação, mostrando
aos fanáticos que não havia nenhuma mensagem oculta em suas canções e que,
muitas vezes, ele criava versos e letras estranhas apenas pelo fato delas
soarem bem juntas, sem terem qualquer sentindo ou nexo.
Essa faixa é uma das
favoritas de George em todo o álbum.
Ob-la-di, Ob-la-da
Uma das faixas mais
populares do álbum e, seguramente, a que mais gerou atritos entre os
integrantes da banda.
Paul a compôs em Rishikesh
inspirado por uma frase em idioma yoruba que seu amigo Jimmy Scott,
percussionista nigeriano que atuava em Londres, repetia frequentemente em suas
apresentações ao vivo, que significa “A vida segue em frente”.
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Jimmy Scott |
Embora a letra tenha sido
composta com relativa facilidade, a gravação foi uma das mais problemáticas do
álbum, pois Paul enfrentou grandes dificuldades em conseguir captar no estúdio
o arranjo e interpretação que ele queria. A banda fez inúmeras tentativas e
gravações com andamentos e instrumentos diferentes, nunca conseguindo alcançar
os objetivos de Paul.
Lennon reclamou ter ficado
gravando a canção por 5 dias ininterruptos, pois já não aguentava mais ouvir
essa canção de Paul, que ele considerava péssima e detestava. George também não
gostava dela.
É uma letra típica de Paul,
contando a história de um casal, com seus filhos e tudo que ocorria na vida
deles.
Um dia a situação ficou
incrivelmente tensa, quando o produtor George Martin deu uma sugestão para
Paul, dizendo que o seu vocal poderia ser melhorado. Paul ficou muito irritado
e gritou para Martin lhe perguntando por que ele não descia ao estúdio e
cantava a canção ele mesmo. Martin ficou lívido e muito bravo, gritando de
volta para Paul cantar novamente a canção e ponto final. O engenheiro de som
Geoff Emerick, que havia sido premiado pelas brilhantes gravações que fizera no
álbum “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, e que já estava muito desgastado
com toda a tensão existente nas gravações do novo álbum, finalmente considerou
que esse desentendimento entre Paul e George Martin fora a gota d’água, e que
não tinha mais condições emocionais e psicológicas para continuar fazendo seu
trabalho, decidindo deixar as gravações imediatamente. George Martin ainda
tentou convencê-lo a ficar, assim como John, mas Emerick não quis saber de seus
argumentos e abandonou as gravações após tal incidente, tendo sido substituído
por Ken Scott.
Um dia, John chegou ao
estúdio e gritou para os outros: “Estou chapado e a canção deveria começar
assim”, tocando a introdução que conhecemos no piano. Paul ficou tão irritado
que quase brigou com John no momento. No entanto, depois percebeu que era
exatamente essa peça que estava faltando para a canção ficar completa, tendo
sido ela mantida na gravação final.
Paul queria lançá-la como
single, mas John e George vetaram tal lançamento, pois não suportavam a faixa
nem a consideravam boa o suficiente para um lançamento em nome do grupo como
sendo o próximo single da banda.
O famoso baterista Stewart
Copeland, do The Police declarou que essa foi uma das primeiras canções de
reggae branco já registradas.
Wild Honey Pie
A faixa mais fraca de todo o
álbum nada mais é do que uma repetição da frase “Honey Pie” por Paul,
acompanhado de vários instrumentos tocados por ele mesmo.
Foi gravada na segunda sessão
de gravação de “Mother Nature’s Son”, quando Paul decidiu criar uma pequena
canção no momento. Foi incluída apenas porque a esposa de George, Pattie Boyd,
gostava muito dela.
Uma faixa que poderia ter sido
perfeitamente cortada do álbum e ter sido substituída pela faixa “Not Guilty”,
de George, de qualidade muito superior e que foi eliminada da lista final de
canções no último instante. Seguramente a inclusão de “Not Guilty” teria
deixado o álbum ainda melhor e George menos frustrado pela pouca quantidade de
canções que ele tinha direito de incluir nos álbuns dos Beatles, especialmente
quando a qualidade de suas composições vinha melhorando de forma muito rápida e
contínua.
The Continuing Story of Bungalow Bill
O grupo de pessoas que
estava com os Beatles em Rishikesh era bastante diverso, incluindo pessoas de
várias nacionalidades e profissões diferentes. Entre elas, havia uma socialite
americana com seu filho, chamado Richard A. Cooke III.
Os dois seguiam participando
do curso de meditação transcendental com o Maharishi até que um dia decidiram
partir para um safári em um cidade próxima. Em tal ocasião, montaram em
elefantes e foram acompanhados por guias e assistentes indianos para um
excursão na selva local, onde existiam muitos tigres.
Quando um dos tigres surgiu,
o jovem Richard o matou com um rifle, trazendo o animal morto como troféu de
sua caça.
|
Richard A. Cooke (Bungalow Bill, sua mãe e sua presa) |
Ao regressarem ao retiro do
Maharishi, os Beatles tomaram conhecimento do ocorrido e ficaram horrorizados,
particularmente John, que chegou a questionar pessoalmente Richard por seu
comportamento absurdo, especialmente se considerarmos que ele e sua mãe haviam
viajado para a Índia para meditarem, não para matarem animais nativos a sangue
frio.
Essa foi a inspiração para a
canção, na qual John destila todo seu veneno contra Richard, o batizando de
“Bungalow Bill”, uma alusão ao personagem Buffallo Bill, só que em sua versão
bangalô indiano. John ridiculariza a estupidez de Richard, contando que o
personagem da canção gostava de caçar tigres e, em caso de acidentes, sempre
levava sua mãe consigo para ajudá-lo. O refrão da canção pergunta “Ei Bungalow
Bill, o que você matou?”, denotando o comportamento absurdo e inaceitável do
jovem americano.
O impressionante violão
flamenco na introdução é apenas uma função do teclado Mellotron que foi usado
na gravação, que era capaz de reproduzir 7 segundos de um determinado som. O
produtor Chris Thomas tocou Mellotron nessa faixa. Paul declarou que essa é uma
de suas canções favoritas até hoje.
While My Guitar Gently Weeps
Em suas leituras, George
havia se deparado com um ensinamento que dizia que nada na vida era aleatório,
tudo tinha um sentido e momento exato para ocorrer. Um dia, quando visitava
seus familiares em Liverpool, ele abriu um livro aleatoriamente para encontrar
uma ideia para uma canção. Achou as palavras “gently weeps” (chora delicadamente).
Desta forma, começou a compor inspirado nas palavras que encontrara. A canção é
um lamento pelo potencial não alcançado pela humanidade em imbuir a vida com
espiritualidade, o “amor que está adormecido”.
Ao apresentar a demo de sua
composição aos seus colegas de banda, a reação que teve deles não foi positiva,
pois os Beatles não gostaram muito da canção. Fizeram várias tentativas de gravá-la,
sem conseguirem atingir o resultado esperado por George. Ele sentia que eles
não estavam motivados a tocá-la nem se empenhando muito nas gravações.
George inicialmente queria
obter o som de uma guitarra chorando, mas sem usar o pedal Wah. Passaram uma
noite inteira buscando alcançar o som desejado, sem sucesso.
Um dia, quando pegara uma
carona para Londres com seu amigo Eric Clapton, George teve a ideia de
convidá-lo para participar da canção. Clapton inicialmente não aceitou,
afirmando que ninguém de fora tocava nas canções dos Beatles. George afirmou
que a canção era dele e que, desta forma, poderia convidar quem ele quisesse
para gravar com ele no estúdio. Clapton aceitou, ainda que com receio.
|
Eric Clapton |
Ao chegar ao estúdio, os
outros Beatles mudaram totalmente de comportamento, se mostrando cordiais,
animados, dispostos a fazer uma ótima gravação, apenas para não causar uma má
impressão no convidado de George, que ficou surpreso com a nova e melhor
atitude de seus colegas de banda com a presença de Clapton.
Clapton usou o equipamento
de George, inclusive seus amplificadores e guitarra Gibson Les Paul. Os solos
brilhantes que gravou elevaram a canção à um outro patamar, na qual essa se
tornou uma das melhores faixas do álbum e, alguns afirmam, de toda a carreira
de George Harrison.
A guitarra chorada de
Clapton se tornou uma marca registrada da canção. Esse foi considerado um dos
melhores solos de toda a carreira do então guitarrista do Cream, por sua
emotividade, criatividade e inspiração. Até mesmo Paul declarou que o som de
Clapton se encaixou bem com a canção.
Happiness is a Warm Gun
George Martin mostrou uma
revista de armas americana chamada “American Rifleman” para John que tinha um
artigo com esse título. John ficou espantado ao ler tal título pois, significa
que você acabou de atirar em algo. Como podemos ficar felizes se acabamos de
atirar em algo ou alguém? Tamanho absurdo atiçou a inspiração dele, que iniciou
a composição da letra dessa canção e que acabou se tornando uma das melhores do
novo álbum e a favorita de Paul nessa coleção.
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Revista American Rifleman |
Musicalmente, ela foi formada
por 3 ou 4 trechos inacabados que John tinha, mas que não conseguia concluir.
John decidiu colocá-los lado a lado e formar uma nova canção, que tem passagens
muito diferentes entre si, mas que combinam, criando um todo coeso e harmônico.
Os quatro Beatles participaram da canção, trabalhando duramente para fazerem
dela a melhor que fosse possível, pois todos eles gostavam da nova canção de
John, que dizia que era uma das melhores que já havia composto.
Um dos vários pontos altos
do “Álbum Branco”.
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O artigo que inspirou John |
Martha My Dear
Feita em homenagem ao primeiro cachorro que Paul teve em
sua vida, uma English Sheepdog chamada Martha, nascida em 1965 e que aparece em
várias fotos registradas na época do álbum “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club
Band” e posteriormente.
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Martha e Paul |
É uma canção de amor para sua cadela, que deixou John
surpreso como Paul a amava, lhe dizendo que nunca havia visto ele agir daquela
maneira.
Musicalmente, Paul estava tentando se aprimorar como
pianista e começou a praticar uma técnica nova para ele no piano, a do contraponto,
que ele aprendeu sozinho.
Uma das poucas canções de piano do álbum, que tem uma
clara predominância de canções de violão ou guitarra elétrica. Originalmente
eram duas canções separadas, “Martha My Dear” e “Silly Girl”, que foram juntadas
em uma só, sem a participação de John nas gravações.
Martha morreu em 1981, na
fazenda de Paul na Escócia.
I’m So Tired
Composta na Índia, a
inspiração para essa canção surgiu de uma sensação real de cansaço de John.
Como ele passava grande parte do dia em meditação e em palestras com o
Maharishi, à noite ao se deitar John sofria de insônia e tinha muita
dificuldade em dormir.
O fato de cigarros, álcool e
drogas serem proibidas no centro de meditação também não ajudavam, pois John
fazia uso regular de todos os itens proibidos. Tais restrições geraram
frustração, ansiedade e más noites de sono.
Para completar a situação,
enquanto ficava tentando dormir, John pensava em Yoko, que havia conhecido
pouco tempo antes de partir para Rishikesh, o que o deixava com saudades dela e
com o desejo de retornar para vê-la novamente. A letra da canção foi toda baseada
nessa situação em que vivia enquanto estava na Índia. Acabou se tornando uma
das favoritas de seu autor.
Blackbird
Quando Paul apresentou sua
nova canção os outros Beatles ficaram em silêncio. Inicialmente John tocaria
violão e piano nessa canção, juntamente com Paul, mas esse plano acabou sendo
abandonado. A pouca receptividade da nova peça provavelmente levou Paul a
gravá-la sozinho.
Foi composta na Escócia e
inspirada nas tensões raciais que havia na época, e infelizmente persistem até
hoje, nos EUA. Paul quis criar uma letra de encorajamento aos movimentos
negros, de otimismo e esperança, que dias melhores viriam e eles teriam seus
direitos civis reconhecidos e respeitados. No entanto, não quis fazer isso de
forma aberta e frontal, como seria mais o estilo de John, e preferiu trilhar um
caminho mais sutil, escolhendo um pássaro negro como símbolo para a canção.
Uma das melhores e mais
poéticas letras já compostas por Paul, na qual ele estimula o pássaro negro a
aprender a voar, pois o momento havia chegado de se levantar. Musicalmente foi baseada
na peça “Bourrée em Mi Menor” de J.S. Bach, que Paul ouvira em Liverpool
durante sua adolescência e o havia marcado muito. Criou sua própria versão
improvisada do que se lembrava e, como resultado, concluiu uma das suas maiores
obras primas, uma canção perfeita e profundamente tocante.
Piggies
A segunda canção de George
no álbum havia sido composta inicialmente em 1966, mas até então não havia sido
concluída.
Quando visitou sua família
em uma ocasião, reencontrou a canção esquecida anotada em uma folha de papel e
resolveu terminá-la. Sua mãe, Louise, contribuiu com um verso, assim como seu
primo John.
Musicalmente tem uma forte e
importante contribuição do produtor Chris Thomas tocando harpsichord, que é o
instrumento predominante na canção. Thomas também contribuiu tocando piano em
duas outras faixas de George no álbum, em “Long, Long, Long” e “Savoy Truffle”.
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Chris Thomas |
Tematicamente foi inspirada
em George Orwell e sua célebre obra “A Fazenda dos Animais”. Assim como no
livro, na canção os “porcos” são criaturas que oprimem os outros animais,
muitas vezes sendo associados aos policiais, deixando a sociedade acuada e amedrontada.
O absurdo e paradoxo de tal situação fica mais claro na letra da canção quando
os porcos saem para jantar com suas esposas, indo aos restaurantes para comer
bacon. Uma canção que é uma crítica social bem-humorada.
Rocky Raccoon
Inicialmente intitulada
“Rocky Sassoon”, essa é uma das canções mais divertidas e leves de todo o
álbum. Paul a compôs na Índia, como uma sátira aos antigos filmes de cowboy que
eram exibidos nos cinemas em sua infância.
O personagem principal,
Rocky, vive no velho oeste e resolve se vingar de seu rival, Daniel, que havia
“roubado” o amor de sua vida, Nancy. Ocorre um duelo, no qual Rocky é baleado
e, em seguida atendido em seu quarto por um médico que tinha bafo de gin.
Embora seja uma ficção, um
fruto da criativa mente de Paul, o personagem do médico é real, inspirado no
médico que o atendeu quando ele sofreu um pequeno acidente com sua motoneta em
1966, quando ele caiu no chão, sofreu um corte no lábio superior e quebrou um
pedaço de um de seus dentes. O médico que atendeu Paul tinha realmente bafo de
gin e fez um trabalho de segunda categoria no lábio de Paul, deixando a marca
de uma cicatriz, além do fato que ele apareceu com o dente quebrado em fotos da
época e até mesmo no vídeo de Paperback Writer e Rain. Posteriormente, isso o
levou a deixar crescer um bigode para encobrir a cicatriz, o que acabou sendo
copiado pelos outros Beatles e marcou o novo visual da banda na fase “Sgt.
Pepper’s Lonely Hearts Club Band”.
O piano “Honky Tonk” foi
tocando magistralmente pelo produtor George Martin.
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Paul após seu acidente |
Don’t Pass Me By
Embora tenha sido composta
em 1963, a primeira composição de Ringo nunca havia sido efetivamente concluída.
Toda vez que os Beatles gravavam um novo álbum, o baterista queria inclui-la,
mas isso não acontecia pelo fato dela não estar pronta.
Finalmente em 1968 a canção
foi concluída e Ringo quis novamente que o grupo a gravasse para o novo álbum.
Seu título original era “This is Some Friendly”.
Inicialmente Ringo não
queria cantá-la, tendo oferecido a canção para Paul. No entanto, na gravação
final o próprio compositor a gravou. Não é uma canção ótima, apenas tendo sido
incluída para agradar aos fãs de Ringo e para deixá-lo menos infeliz durante
todo o processo de gravação do novo álbum, que culminara com seu abandono
temporário da posição de baterista dos Beatles, como relatado anteriormente.
Why Don’t We Do it in the Road?
Durante sua estadia na
Índia, Paul presenciou uma cena que o marcou: viu dois macacos tendo uma
relação sexual em meio a uma estrada, de forma muito rápida e espontânea. Ficou
pensando como isso era diferente em meio aos seres humanos, no qual o sexo era
visto de uma forma muito mais complexa, com muitas regras e padrões de
comportamento a serem seguidos. Essa foi a inspiração para a brevíssima letra
da canção, na qual apenas ele e Ringo tocam.
O vocal de Paul é incrível,
com uma interpretação fortemente blueseira, evocando os grandes mestres negros
americanos. Em uma passagem, faz até mesmo um falsetto à James Brown, mostrando
toda a sua versatilidade e talento como um brilhante cantor.
Paul disse que ouviu John
cantando a canção um tempo depois. Posteriormente John confirmou que lamentava
não ter sido convidado a participar dessa canção, da qual ele gostava muito.
Declarou também que não podia falar por George, mas que ele sempre ficava
magoado quando Paul gravava alguma canção sem envolver os outros membros da
banda.
Foi a penúltima faixa a ser
gravada para o álbum.
I Will
A canção foi composta na Índia,
mas a letra não. Uma das mais belas e delicadas obras de Paul, em grande
contraste musical com a faixa anterior, que é muito mais pesada. Tematicamente,
o compositor declara todo seu amor para sua nova companheira, Linda, que havia
conhecido há pouco tempo, e faz promessas que pretende cumprir para o seu novo
relacionamento.
É uma das melodias favoritas
de Paul das canções de sua autoria. Um fato surpreendente é que o próprio Paul afirmou
que ela foi inspirada pela bossa nova brasileira, particularmente pela canção
“A Garota de Ipanema”, a qual ele ouvia bastante durante os anos 1960.
Julia
Uma faixa singular em vários
aspectos. Foi a última a ser registrada para o novo álbum. Além disso, é a
única faixa de toda a carreira dos Beatles na qual John tocou e gravou
totalmente sozinho.
Foi inspirada por um poema
do libanês Kahlil Gibran em sua obra “Sand and Foam”. Na belíssima canção, John
usa a técnica aprendida com Donovan na Índia ao tocar seu violão de forma
delicada e precisa.
A letra faz uma homenagem a
sua querida mãe, Julia, falecida de forma trágica ao ser atropelada logo após
ter visitado seu filho, que tinha apenas 17 anos. John estava finalmente
conseguindo se aproximar dela, após ter sido abandonado por seus pais e sido
criado por sua tia Mimi.
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John e Julia |
Na faixa, John mostra não
apenas todo o amor que sentia por sua mãe, mas também pela nova mulher que
havia surgido em sua vida e que o marcaria profundamente: Yoko Ono, cujo nome
em japonês significa “criança do mar”, uma das expressões que John usa ao longo
da letra dessa que é uma carinhosa e tocante homenagem à mulher que lhe deu a
vida.
Birthday
No dia em que essa faixa foi
criada, os Beatles foram à casa de Paul, próxima ao estúdio de Abbey Road, para
assistirem na TV o filme “The Girl Can’t Help It”, estrelado por Little
Richard, ídolo de Paul, além de outros grandes nomes do rock. Após a sessão,
ficaram tão entusiasmados que, ao regressaram ao estúdio, criaram na hora essa
faixa, que acabou se tornando uma dos melhores rocks de todo o álbum.
Inicialmente foi composta
por Paul, com contribuições posteriores de John. Foi a única faixa genuinamente
de autoria de Lennon & McCartney em todo o álbum. Um detalhe curioso foi
que George usou uma luva nas sessões para evitar ficar com mais bolhas nos
dedos, enquanto fazia overdubs de percussão.
Uma canção que se tornou
obrigatório na celebração de aniversários de todos os fãs dos Beatles no mundo
todo.
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Lennon & McCartney - a maior parceria musical de todos os tempos |
Yer Blues
Mais uma faixa composta na
Índia. John estava se sentindo muito deprimido com o final de seu casamento com
Cynthia e pela distância de seu novo amor, Yoko. A letra da canção expressa
seus sentimentos, que contrastam enormemente com a atmosfera de paz e harmonia
que ele esperava alcançar em seu curso de meditação transcendental com o
Maharishi.
Na hora de gravar a canção,
a banda teve a ideia de fazer o registro em uma pequena sala do estúdio, na
qual todos os quatro ficaram literalmente quase colados uns aos outros, tocando
seus instrumentos em alto volume. Não podiam sequer se mexer sem esbarrar no
outro que estava ao seu lado. Queriam captar uma atmosfera mais vibrante na
gravação, como se estivessem fazendo uma apresentação ao vivo, no que tiveram
êxito.
Posteriormente foi
apresentada ao vivo duas vezes por John. Foi tocada no especial Rock and Roll
Circus, dos Rolling Stones, no qual John foi acompanhado por Eric Clapton na
guitarra, Keith Richards no baixo e Mitch Mitchell (do Jimi Hendrix Experience)
na bateria. A segunda apresentação ocorreu em Toronto, no Canadá, novamente com
Clapton na guitarra, Klaus Voorman no baixo e Alan White (futuro membro do Yes)
na bateria.
É uma das faixas favoritas
de Ringo no álbum.
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Rock and Roll Circus |
Mother Nature’s Son
Enquanto estavam fazendo seu
curso de meditação transcendental em Rishikesh, os Beatles assistiram muitas
palestras do Maharishi. Uma delas em particular, sobre a natureza e os animais,
causou grande impacto em Paul e John, os levando a compor cada um sua própria
canção sobre os ensinamentos abordados na ocasião.
John escreveu uma faixa
intitulada “Child of Nature”, que chegou a ter uma demo gravada antes das
gravações do novo álbum, mas que nunca chegou a ser oficialmente gravada para
inclusão no Álbum Branco. Posteriormente, John manteve a melodia original,
criando uma nova letra para a canção que acabou se tornando um de seus maiores
clássicos em sua carreira solo, a faixa “Jealous Guy”, do álbum “Imagine”.
Já a peça de Paul acabou
sendo incluída, tendo também sido influenciada pela faixa “Nature Boy”, de Nat
King Cole. A canção criada por Paul se chamava “Mother Nature’s Son”, e foi uma
das mais belas e delicadas faixas criadas por ele durante sua carreira com os
Beatles, sendo posteriormente regravada por vários artistas, entre eles, o
renomado cantor americano John Denver.
Everybody’s Got Something to Hide Except For Me and My
Monkey
Mais uma faixa de John,
composta devido ao fato dele estar apaixonado por Yoko, mas, segundo seus
relatos, todos à volta deles pareciam estar paranoicos e tensos. Ele afirmava
que queria viver seu novo relacionamento de forma aberta para o mundo, não
tendo nada a esconder.
O Maharishi serviu de
inspiração para parte da letra, pois costumava dizer repetidamente “Come on is
such a joy”. Já Paul acredita que o “Monkey” mencionado na letra por John seja
na realidade uma referência ao seu vício em heroína na época.
A gravação da faixa foi
muito turbulenta no estúdio. John e George tocaram suas guitarras em volume tão
alto que Paul desistiu de tentar competir com eles e foi tocar um sino ao lado
de Ringo. O relacionamento entre Paul e John estava ficando cada vez mais
abalado nessa fase, especialmente após a chegada de Yoko e pelo fato de John
ter quebrado um código de conduta não escrito entre os membros da banda, no
qual as esposas e namoradas dos membros da banda não deveriam participar das
gravações dos Beatles. John passou a levar Yoko para todas as sessões, fato
esse que criou um grande e crescente atrito entre ele e os outros Beatles, além
dos engenheiros de som e produtores, que também sentiam o clima nas sessões de
gravação ficando cada vez mais pesado.
Embora John não desistisse
de ter Yoko ao seu lado, Paul tentava manter o seu conhecido profissionalismo e
seriedade, não importando o quão deteriorado estivesse o seu relacionamento com
John. Após a difícil sessão de gravação, Paul levou uma garrafa de whisky de
presente para os engenheiros de som que estavam trabalhando com os Beatles,
como um agradecimento por terem aguentado tanta tensão no estúdio e terem
conseguido concluir seu trabalho de forma louvável.
Sexy Sadie
A última canção composta por
John na Índia surgiu quando começaram a circular rumores, que nunca foram
comprovados, de que o Maharishi teria assediado uma das participantes do seu
curso de meditação transcendental. Ao tomar conhecimento do boato, John ficou
furioso, pois já estava com alguma suspeita de que havia algo de errado com o
novo “guru” dos Beatles. Após tal incidente, decidiu retornar ao Reino Unido
com sua esposa Cynthia. George e sua esposa Patti também optaram por deixar a
Índia e o Maharishi para trás.
Na realidade, John tinha um
motivo oculto adicional para querer regressar ao seu país: Yoko, que o enviava
cartas diariamente e estava à sua espera.
Ao ver os últimos Beatles
partindo (John e George), o Maharishi ficou atônito, sem entender o que estava
acontecendo. Foi então que perguntou a John porque eles estavam indo embora e
obteve a seguinte resposta: “Se você é tão cósmico como diz ser, já deve saber
a resposta”.
Originalmente a canção se
chamava “Maharishi”, mas George sugeriu que John mudasse o título para “Sexy
Sadie” para não ter problemas legais. Desta forma, o personagem central da
canção passou a ser uma mulher que enganou a todos, desapontando profundamente
aqueles que acreditavam nela.
Em 1997 a banda britânica
Radiohead gravou uma canção fortemente influenciada por “Sexy Sadie” em seu
álbum clássico, “OK Computer”. A faixa em questão se chama “Karma Police”, na
qual são facilmente notados elementos da faixa do Álbum Branco.
Helter Skelter
Paul leu em uma revista de
música uma entrevista com o guitarrista e compositor principal do The Who, Pete
Townsend, na qual ele afirmava que sua banda havia gravado o rock mais pesado,
barulhento e sujo que qualquer um pudesse imaginar, e que esse seria o novo
lançamento da banda. Paul ficou impressionado com tal relato e vislumbrou como
seria tal canção, que posteriormente se soube que era “I Can See For Miles”,
que não é nem uma sombra do relato do que Townsend havia feito.
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Paul e Pete Townsend |
Paul decidiu criar tal
canção inspirada no relato do guitarrista. Inicialmente a faixa era lenta e
arrastada, sempre muito longa e com muitos improvisos dos Beatles. Uma versão
chegou a durar 27 minutos, a mais longa gravação de toda a história da banda.
Posteriormente, a canção foi
se tornando cada vez mais pesada, com a bateria de Ringo soando em alto volume,
o vocal rasgado e irado de Paul, juntamente com as guitarras super distorcidas
de John e George. Uma verdadeira explosão sonora que muitos consideram a
primeira canção de Heavy Metal da história. Realmente um marco no mundo do rock
e da carreira dos Beatles
Infelizmente, um psicopata
americano chamado Charles Manson, líder de uma seita com vários discípulos, entendeu
que o Álbum Branco dos Beatles era repleto de mensagens codificadas para ele e
que, essa faixa em particular, o guiava a assassinar muitas pessoas.
Infelizmente, sua loucura era tamanha que uma tragédia ocorreu, com Manson e
seus liderados matando a sangue frio sete pessoas, entre elas a famosa atriz
Sharon Tate, então esposa do diretor de cinema Roman Polanski. Posteriormente,
Manson foi condenado à prisão perpétua.
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Charles Manson |
Durante décadas a brilhante
canção ficou marcada pela trágica perda de tantas vidas inocentes e Paul nunca
quis tocá-la ao vivo por tal razão. Em 1987 e 1988, o U2 começou a fazer várias
apresentações ao vivo, nas quais cantavam e tocavam tal canção. Em uma ocasião,
registrada no álbum e filme “Rattle and Hum” antes da banda começar a tocar
“Helter Skelter”, Bono declara: “Charles Manson roubou essa canção dos Beatles.
Nós estamos roubando ela de volta”, antes de iniciaram uma interpretação
incendiária da lendária faixa do Álbum Branco.
A partir dos anos 2000, Paul
finalmente decidiu executá-la ao vivo pela primeira vez, e a canção foi
extremamente bem recebida pelos fãs, pois sempre foi um dos melhores rocks
composto por Paul. Desde então, a canção nunca mais deixou de ser executada nos
shows que McCartney realiza por todo o mundo.
Long, Long, Long
A terceira faixa de George no
álbum aparentemente é uma canção de amor. No entanto, posteriormente foi
revelado que ela era realmente uma canção de amor, só que não entre um homem e
uma mulher, mas sim para Deus.
Foi inspirada pela faixa Sad
Eyed Lady of the Lowlands de Bob Dylan, de que George sempre foi um grande fã e
admirador, vindo futuramente a compor com ele e até mesmo a formar uma banda,
os “Travelling Wilburies”.
Na ocasião em que foi feita
a gravação, havia uma garrafa de vinho em cima da caixa falante Leslie. Quando
Paul tocou uma nota e a segurou a garrafa começou a vibrar. Eles decidiram
deixar tal efeito na gravação final, que pode ser ouvida claramente.
Foi a última canção de
George a ser composta para o álbum.
Revolution 1
A primeira canção a ser
gravada para o álbum. John queria fazer um comentário sobre todas os
acontecimentos da época, pois o mundo estava vivendo um período caótico, com
levantes estudantis na França e Reino Unido, tensões raciais nos EUA, a invasão
da Tchecoslováquia pela União Soviética, a severa política chinesa de Mao Tsé
Tung e tantos outros acontecimentos.
John sentia que o mundo
estava passando uma revolução e queria deixar claro sua posição. No entanto,
até o último instante não conseguia se decidir se era ou não a favor da
destruição, chegando a se declarar a favor e contra ao mesmo tempo na gravação.
Posteriormente, chegou à conclusão que só poderia ser contra qualquer tipo de
violência, da qual ele se recusaria a participar.
John registrou o vocal
deitado no chão do estúdio, pois pensava que precisava se sentir muito relaxado
para conseguir o efeito que queria na voz. No início da gravação podemos ouvir
a voz do Geoff Emerick que fala “Take 2” no início da faixa. Foi um faixa
gravada basicamente com instrumentos acústicos.
John queria que esse fosse o
novo single dos Beatles. No entanto, Paul e George recusaram tal ideia,
acreditando que a canção não teria potencial para ser um sucesso, por ter um
andamento muito lento. Mais tarde, John fez uma nova versão com os Beatles, com
um andamento muito mais rápido e usando guitarras pesadas e distorcidas.
Finalmente a canção acabou entrando em um single, mas não no lado A, como
esperava John, pois Paul havia composto “Hey Jude”, que acabou ocupando a
posição principal e se tornando o maior sucesso da carreira dos Beatles.
Honey Pie
Paul sempre foi um grande
apaixonado pela música dos anos 1920 e pelo estilo Vaudeville. Para esse álbum,
quis compor uma faixa com tal inspiração, lembrando as canções que ouvia seu
pai tocar no piano e no rádio de sua residência.
Criou a história de um
antigo amor por uma atriz que imigrou para os EUA e se tornou uma atriz de
cinema famosa, da qual ele tinha receio em encontrar devido ao seu enorme
sucesso. Uma verdadeira canção para um amor que não voltará mais. Uma faixa
tipicamente no estilo McCartney.
O produtor George Martin fez
um arranjo orquestral belíssimo, trazendo toda a atmosfera dos anos 20 para a
nova canção de Paul. Além
disso, há um toque especial: Paul e George Martin gravaram um verso (Now she's
hit the big time) com um fundo de chiados e sonoridade típica dos antigos LPs
de 78 rpm. Simplesmente genial!
George declarou que “John
fez um solo de guitarra brilhante na faixa, lembrando o estilo de Django
Reinhardt. Foi um daqueles solos quando você fecha os olhos e toca todas as
notas certas. Parece um solo jazzístico.” Apesar de sua ótima participação,
John declarava detestar essa canção.
Savoy Truffle
George compôs essa faixa inspirado
pelo vício de seu amigo Eric Clapton por chocolates. O guitarrista os comia
incessantemente, sendo incapaz de parar de comer bombons até que a caixa
estivesse vazia.
A marca favorita dos
chocolates que Clapton comia era a Mackintosh, que vendia caixas com sabores
variados, muitos dos quais foram usados por George na letra da canção. Outros
sabores foram inventados, por questões fonéticas, pois soavam bem e rimavam com
os outros sabores.
George Martin fez um poderoso
arranjo de metais para a faixa, que foram gravados com um volume saturado,
dando um efeito levemente distorcido, que era o que George queria para sua
composição.
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Caixa de Bombons da Mackintosh |
Cry Baby Cry
Essa canção de John foi inspirada
em um anúncio de revista que dizia “Cry Baby Cry, Make your mother Buy”. Tem
uma temática que lembra as obras infantis que ele tanto gostava de ler quando
vivia em Liverpool, tais como “Alice no País das Maravilhas”. Parece saída de
uma história de faz de conta, com reis e rainhas de lugares distantes e as
aventuras ocorridas em seus reinos.
Musicalmente é uma bela
faixa, muito bem cantada e interpretada por John, com participação de todos os
outros Beatles.
No final de sua vida, John
pensava que essa canção era uma porcaria. Quando lhe perguntaram quem a havia
composto, ele respondeu: “Não fui eu”.
Logo após essa faixa, há um
pequeno trecho de uma outra, cantada por Paul, chamada “Can You Take Me Back?”.
No álbum original ela dura apenas alguns segundos, mas na edição comemorativa
de 50 anos do Álbum Branco, finalmente foi lançada a versão completa.
Revolution 9
A faixa inicialmente fazia
parte da canção Revolution 1, que durava mais de 10 minutos. Foi decidido que
as duas partes deveriam ser separadas e serem abordadas de formas diferentes. A
parte final, que acabou se tornando “Revolution 9” era muito mais experimental
do que a primeira parte, que tinha um formato mais tradicional.
Apenas John e George participaram
dessa faixa, lendo textos ou falando o que lhes vinha à cabeça. Embora tenha contribuído,
George não sentia nenhum entusiasmo pela faixa.
Alguns pensam que essa foi a
primeira composição experimental da banda. No entanto, Paul sempre foi o
pioneiro nesse estilo musical entre os Beatles e já havia composto uma outra
faixa, intitulada “Carnival of Light”, em 1967 que nunca foi oficialmente
lançada, tendo sido tocada apenas uma vez em um evento.
John declarou que passou
mais tempo trabalhando na faixa do que em metade de todas as suas outras
composições. Afirmava também que essa seria a música do futuro, pois não seria
necessário nem mesmo saber tocar um instrumento para criá-la. Quanto ao título,
explicou que o número 9 o seguia por toda sua vida, sendo considerado por ele
um número mágico.
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Poster incluído com o LP original |
Seu entusiasmo por ela era
tão grande que queria que fosse o próximo single dos Beatles, mas foi impedido
de fazer isso por Paul e George Martin, que tentaram inclusive excluir essa
faixa do álbum até o final, pois consideravam que não representava os Beatles,
nem sendo mesmo uma canção, apenas uma colagem de sons. Ambos provaram que
estavam corretos, pois até os dias de hoje é considerada pela grande maioria
dos fãs da banda como a pior faixa de toda a carreira da banda, sendo a menos
popular em todas as enquetes realizadas até hoje.
A gravação inclui trechos de
Symphonic Etudes op.13, de Schumann e da Sétima Sinfonia de Sibelius. Inspirada
em John Cage e Stockhausen. Essa foi mais uma faixa que os integrantes do
Radiohead devem ter ouvido com muita atenção, pois há vários elementos
semelhantes à essa gravação existente em várias faixas da inovadora banda
inglesa de Oxford.
George, Ringo, Paul e George
Martin não gostaram da faixa, sendo que George chegou a declarar: “Não é
particularmente uma faixa dos Beatles, mas ela funcionou bastante bem dentro do
contexto de todas aquelas canções diferentes. Eu acho que ela é muito pesada de
ser ouvida. Na realidade, eu não a ouço.”
Good Night
A faixa final do álbum foi
composta por John para seu filho Julian Lennon. Foi gravada inicialmente uma
demo na qual ele próprio cantava a canção. Infelizmente, tal registro foi
perdido, pois quem a ouviu disse que sua interpretação foi incrivelmente melhor
que a de Ringo, que acabou cantando a versão final incluída no “Álbum Branco”.
O arranjo original era muito
simples, com apenas três guitarras e o vocal de John. Posteriormente, ele
decidiu que não a cantaria e a ofereceu para Ringo gravá-la e pediu que George
Martin criasse um arranjo hollywoodiano grandioso e exagerado para sua nova
canção.
Paul acredita que John deu
essa canção para Ringo gravar pois ela poderia comprometer sua imagem como
vocalista de rock.
E assim termina a coleção de
30 novas canções dos Beatles, coletivamente conhecida como “Álbum Branco”.
Definitivamente a melhor e mais variada coleção de faixas já criadas e lançadas
por qualquer artista em um só volume.
OUTRAS CANÇÕES GRAVADAS, MAS LANÇADAS
SEPARADAMENTE DO ÁLBUM
The Inner Light
George foi à Índia para registrar
algumas faixas com músicos indianos que seriam incluídas na trilha sonora do
filme “Wonderwall”. Como acabou sobrando tempo nas sessões que precisava fazer,
ele acabou gravando várias ragas em Bombaim (atual Mumbai) para uso futuro em
trabalhos dos Beatles. Infelizmente, a única que acabou sendo efetivamente
lançada foi essa bela canção, chamada “The Inner Light”.
A letra dela foi basicamente
extraída da tradução de um poema de Lao Tsé, do Tao Te Ching, o livro sagrado
Taoísta. George teve acesso a tal poema através de um presente do estudioso
Juan Mascaro, que lhe deu o livro que ele próprio havia traduzido, com uma
sugestão que George criasse um acompanhamento musical para um determinado
trecho da obra que ele havia destacado para a leitura do Beatle.
O resultado final ficou tão
belo que encantou até mesmo Paul, pois ele sempre foi um grande apreciador de
belas melodias. George não queria gravar o vocal da faixa, pois não se sentia
confiante que poderia fazer jus a canção. Paul insistiu, lhe dizendo que ele
tinha que tentar e não deveria se preocupar, pois o resultado ficaria bom. Foi
exatamente o que aconteceu. Devido ao apoio de Paul, foi a primeira canção de
George escolhida para fazer parte de um single dos Beatles, como lado B de Lady
Madonna.
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Gravação de "The Inner Light" na Índia |
Lady Madonna
Um dia Paul estava lendo um
exemplar da revista National Geographic quando se deparou com uma foto de uma
mulher africana com um bebê. Embaixo da foto havia a legenda “Mountain
Madonna”. Tal imagem lhe impactou profundamente. Ele afirmou que sentiu uma
forte conexão na imagem entre a mãe e seu filho. Imediatamente teve a ideia de
trocar a legenda para “Lady Madonna” e surgiu a inspiração para a canção.
A letra é uma grande
homenagem às mulheres e ao esforço que fazem para sustentarem suas famílias e
proverem para seus filhos, muitas vezes passando por privações para conseguirem
manter suas famílias.
Musicalmente, foi inspirada
em “Bad Penny Blues”, um tema de jazz tradicional da Humphrey Lyttleton band.
Inicialmente os Beatles queriam gravar a canção inspirada no arranjo original,
com um andamento bem mais lento do que o que acabou sendo usado. Ringo chegou a
fazer uma gravação tocando com escovas de bateria. Posteriormente, Paul decidiu
usar seu tom de voz inspirado em Elvis para cantá-la.
O arranjo da canção incluiu
Paul, George e John imitando os sons dos metais, soprando entre suas mãos. Para
deixar a faixa ainda mais especial, foi recrutado o grande saxofonista Ronnie
Scott para um solo. Um microfone antigo foi usado para captar o som do piano, a
fim de simular uma gravação de décadas atrás.
Para a alegria de Paul,
posteriormente dois de seus ídolos, Fats Domino e Elvis Presley, gravaram
versões dessa canção. A de Fats Domino foi oficialmente lançada. A de Elvis
apenas foi disponibilizada em vídeo, após a sua morte, mostrando o grande ícone
a ensaiando em estúdio com sua banda.
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Mountain Madonna, foto da revista National Geographic |
Hey Bulldog
Os Beatles precisavam fornecer
mais uma canção original para o filme de animação “Yellow Submarine”, que
estava sendo preparado para seu lançamento. John criou uma composição de última
hora, que se chamava “Hey Bullfrog”.
Yoko participou pela
primeira vez de uma sessão de gravação dos Beatles, assistindo eles serem
filmados enquanto gravavam a nova faixa. No final da gravação, Paul começou a
latir, imitando um cachorro, enquanto John cantava. Isso o fez rir e
descontraiu o ambiente da gravação. John gostou tanto da surpresa que decidiu
trocar o título da canção para “Hey Bulldog” e fazer a alteração necessária em
sua letra. Um boa faixa roqueira, com uma ótima atuação de todos os membros da
banda, com riff de guitarra e piano muito marcante, acompanhados por uma
pulsante bateria de Ringo e uma intensa linha de baixo de Paul.
Across the Universe
Uma das melhores letras de
John. Ela surgiu na mente dele enquanto ele estava tentando dormir. Contou que
não conseguia tirá-la da cabeça e precisou descer e anotar tudo antes de voltar
a dormir. John considera que talvez seja a melhor letra que compôs em toda sua
carreira, pois ela é um poema que pode ser lido sem acompanhamento musical, sem
perder nem um pouco de sua qualidade ou encanto. Uma letra e canção
verdadeiramente atemporal.
Um detalhe muito especial e
motivo de orgulho para nós brasileiros, é que quando estavam gravando a canção
os Beatles notaram de última hora que precisavam de vocais femininos para
complementar o arranjo que estavam criando. Como não havia tempo hábil de
contratarem cantoras profissionais, Paul foi para o lado de fora do estúdio e
perguntou se alguma das meninas que ficavam sempre aguardando a entrada e saída
dos Beatles, conhecidas como “Apple Scruffs” conseguiam segurar uma nota em tom
alto. Duas delas disseram que conseguiam. Desta forma, foram convidadas a
entrar e participar da gravação com os Beatles a carioca Lizzie Bravo e a
londrina Gayleen Pease. Elas foram as únicas mulheres que tiveram o privilégio
de cantaram juntos com os Beatles no mesmo microfone que John e Paul. Sem
dúvida, a realização de um sonho considerado praticamente impossível e um marco
na história da banda, reconhecido até mesmo pelos Beatles, pela menção do nome
de ambas no lançamento comemorativo de 50 anos do Álbum Branco.
Infelizmente John não ficou
totalmente contente com a gravação, pois afirmou que os Beatles não estavam
levando a canção a sério, particularmente Paul, que estaria sabotando sua
gravação. Desta forma, acabou sendo lançada em um álbum beneficente para o “World
Wildlife Fund”. Posteriormente foi relançada no álbum Let It Be, em uma versão
diferente, com um andamento mais lento, sem efeitos sonoros de pássaros e
backing vocals.
Uma obra prima da carreira
de John e dos Beatles.
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A inglesa Gayleen Pease e a brasileira Lizzie Bravo |
Hey Jude
Um dia Paul foi visitar
Cynthia e Julian, respectivamente a ex-esposa e filho de John. Eles estavam
passando por um período muito difícil, pois John havia acabado de deixá-los
para viver com Yoko Ono.
Paul conhecia Cynthia desde
os primórdios dos Beatles e tinham uma longa história de amizade. Além disso,
como Paul não tinha filhos ainda na época, tratava Julian como um tio muito
carinhoso e presente, tendo um relacionamento mais próximo dele do que até
mesmo o próprio pai, John.
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Paul e Julian |
Pensando em todos os problemas
que Julian estava enfrentando e querendo motivá-lo a ter confiança e superar os
obstáculos que estavam surgindo em sua vida, Paul teve a inspiração para compor
uma canção chamada “Hey Jules”, que era o apelido do menino. Depois ele chegou à
conclusão que “Hey Jude” soaria melhor, mudando o título da canção.
Ao encontrar Cynthia e
Julian, Paul lhes mostrou em primeira mão a canção que havia composto para o
menino de 5 anos de idade. Ambos ficaram maravilhados com a surpresa e carinho
de Paul com eles.
Posteriormente, Paul
apresentou a canção a John, que a ouviu atentamente e ficou impressionando com
a criação de seu parceiro, declarando que essa era uma de suas obras primas,
provavelmente sua melhor criação. Inicialmente John pensou que a canção fosse
sobre ele e Yoko, até que Paul lhe explicasse que havia escrito a mesma para
seu filho Julian. John declarou que essa poderia ser considerada uma canção
universal de solidariedade e apoio para qualquer pessoa que estava passando por
dificuldades.
A gravação teve seu momento
de tensão quando Paul pediu para George que não repetisse na guitarra o seu
fraseado no final de cada verso. George ficou muito aborrecido, mas Paul não desistiu
de dirigir a gravação, pois tinha a noção exata de como queria que soasse o arranjo
de sua nova canção.
Paul fez duas estreias da
canção em lugares inesperados. A primeira foi em um pequeno pub no vilarejo de
Harrold, em Yorkshire, onde tocou a canção ao vivo no piano disponível no local
para todos os presentes, que adoraram a oportunidade de ouvirem um Beatle
tocando ao vivo uma canção inédita. A segunda estreia foi a da gravação dos
Beatles, no Vesuvio Club, de propriedade dos Rolling Stones, exatamente na data
do aniversário de Mick Jagger e em que estava sendo realizada a prévia do álbum
Beggar´s Banquet.
John declarou que Paul fez
uma jogada de marketing brilhante, roubando o foco das atenções dos Stones para
o lançamento dos Beatles. Por outro lado, John não gostou de ouvir as canções
em público, dizendo que elas ainda não estavam devidamente finalizadas.
Paul estava tão entusiasmado
com sua criação que a mostrou para absolutamente todas as pessoas com as quais
ele encontrava e se dispunham a ouvi-la. Não foi sem razão, pois logo após o
seu lançamento, acabou se tornando o single e canção de maior sucesso de toda a
carreira da banda, sendo considerado até os dias de hoje como um verdadeiro
hino do rock internacional.
Julian Lennon declarou que Paul
foi muito mais presente que John durante sua infância, sempre o visitando e lhe
dando muita atenção. Até hoje Paul lhe envia anualmente cartões de Natal e
aniversário, o que ele considera extraordinário, além da amizade entre eles que
permanece até os dias de hoje.
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Paul de mãos dadas com Julian, com seu pai John atrás |
Revolution
1968 foi um ano muito
turbulento no mundo, com os vários levantes estudantis realizados em Londres e
Paris, além muitos outros acontecimentos de grande relevância política e
cultural. Havia realmente uma revolução em curso no mundo, ainda que não de
forma explícita, mas com uma grande mudança nos padrões de comportamento e das
sociedades.
John queria deixar
registrada sua opinião e visão sobre o assunto. Para isso, compôs essa faixa,
que inicialmente foi gravada para inclusão o no Álbum Branco, em uma versão
quase totalmente acústica e com andamento muito lento. Queria lançá-la como
single, mas teve forte oposição de Paul e George, pois ela era muito arrastada.
A fim de tentar lançá-la como single, resolveu regravá-la, com a participação
no piano do renomado Nicky Hopkins, agora apenas com instrumentos elétricos, e
com um arranjo muito mais pesado e um andamento bem mais rápido, compatível com
o tema da canção. Ela seria o lado A do single até que Paul apareceu com “Hey
Jude”, que o próprio John reconheceu ser muito superior à sua composição, que
acabou sendo relegada ao lado B do single “Hey Jude/Revolution”, que se tornou
sendo o primeiro single no novo selo dos Beatles, “Apple”, e que teve um
sucesso de vendas extraordinário.
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Gravação do vídeo para Revolution |
CANÇÕES COMPOSTAS, MAS NÃO
INCLUÍDAS NO ÁLBUM
Sour Milk Sea
Canção de George que foi vetada
por John. Posteriormente foi gravada por George, Ringo, Paul, Clapton, Nicky
Hopkins e Jackie Lomax.
Junk
Originalmente chamada
Jubilee, acabou sendo incluída no primeiro álbum solo de Paul, intitulado
“McCartney”.
Child of Nature
Inspirada pela mesma
palestra do Maharishi que levou Paul a compor Mother Nature’s Son, foi
posteriormente incluída no álbum “Imagine”, de John.
Circles
Embora uma demo tenha sido
gravada nas famosa sessões de Esher, a canção de George nunca foi oficialmente
gravada pelos Beatles, vindo a ser lançada somente em 1982 no álbum “Gone
Troppo”.
Mean Mr. Mustard e Polythene Pam
Ambas as faixas foram
compostas por John nessa mesma época, mas como eram canções inacabadas acabaram
sendo deixadas de lado, sendo finalmente utilizadas no último álbum gravado
pelos Beatles, “Abbey Road”, na lendária medley que ocupa a maior parte do lado
B do LP original.
Not Guilty
Uma bela canção de George excluída
do álbum no último instante. Foram feitos mais de 100 takes, mas nenhum deles
teria ficado do agrado da banda. Acabou sendo cortada da seleção final por John
e Paul. Só foi lançada em 1979 no álbum “George Harrison”.
Look at me
Uma bela canção de John que só
foi lançada em 1970, no álbum “Plastic Ono Band”.
What´s The New Mary Jane?
Escrita por John e Alex
Mardas, o “Magic Alex”, guru eletrônico de John. Uma canção muito repetitiva e
desinteressante. Felizmente acabou cortada do álbum no último instante, pois Paul
e George Martin conseguiram convencer John de que não haveria espaço para a ela
no álbum.
Spiritual Regeneration/Happy Birthday Mike Love
Um improviso gravado por
Paul na Índia em homenagem ao aniversário de seu amigo Mike Love, dos Beach
Boys.
Etcetera
Uma bela balada composta por
Paul, que a gravou em estúdio, levando para sua casa o único registro feito.
Desde então, nunca mais foi ouvida.
Além das faixas acima, Paul
também gravou uma demo de “The Long and Winding Road”, sua primeira versão, e
deu a única gravação para o assistente dos Beatles, Alistair Taylor, como
presente para sua esposa Lesley, destruindo a fita master em seguida.
Posteriormente, a canção foi oficialmente gravada em estúdio para inclusão no
álbum “Let It Be”.
Uma outra raridade foi uma
breve medley que Paul gravou, cantando “Lady Madonna” e “While My Guitar Gently
Weeps”.
O LEGADO DE “THE WHITE ALBUM”
Após serem concluídas as
gravações, ocorridas durante 5 meses, foi realizada a mais longa sessão em
estúdio da carreira dos Beatles, durante 24 horas, nas quais John, Paul e
George Martin selecionaram a sequência das faixas, fizeram as transições entre
elas e finalizaram a masterização do novo álbum, que apresentava 95 minutos entre
30 nova canções em dois LPs.
Na sequência estabelecida,
os rocks mais pesados ficaram no lado C; as 3 faixas com títulos de animais foram
posicionadas juntas no lado B (Blackbird, Piggies e Rocky Raccoon); cada canção
de George foi colocada em um lado dos álbuns; cada compositor não podia ter
mais do que 2 canções seguidas e cada lado do vinil deveria ter entre 20 e 25
minutos. Além disso, Primeiro álbum que foi originalmente mixado em estéreo e
mono.
Segundo Richard Hamilton,
que foi responsável pelo design da capa, foi o Paul que fez o pedido inicial de
que a capa fosse totalmente oposta à de Sgt Pepper. Inicialmente a capa seria
totalmente branca com a mancha de uma xícara de café que havia sido colocada
sobre o álbum. A ideia foi descartada pois considerada irreverente demais.
Os Beatles queriam fazer
algo original, então decidiram que a primeira tiragem seria numerada como obras
de arte. Ringo ficou com o exemplar número 1. Os dois primeiros milhões de
exemplares foram numerados.
Há muitos fatores que fazem
com que esse álbum seja completamente diferente dos outros gravados pela banda.
Um deles é o fato de que apenas 17 das 30 canções do álbum têm a participação
dos 4 Beatles juntos. As outras faixas foram gravadas individualmente, em
duplas ou trios. Para termos a noção exata de como foram gravadas as canções,
eu as dividi em quatro grupos distintos:
Gravações:
Solo (4)– Wild Honey Pie (Paul) / Blackbird (Paul) /
Julia (John) / Mother Nature’s Son (Paul)
Dupla (3)– Don’t Pass Me By (Ringo & Paul) / Why
Don´t We Do It in The Road? (Paul & Ringo) / Revolution 9 (John &
George)
Trio (6) – Back in the USSR (sem Ringo) / Dear
Prudence (sem Ringo) / Martha My Dear (sem John) / I Will (sem George) / Long,
Long, Long (sem John) / Savoy Truffle (sem John)
Quarteto (17)– Glass Onion / Ob-la-di Ob-la-da / The
Continuing Story of Bungalow Bill / While My Guitar Gently Weeps / Happiness is
a Warm Gun / I’m So Tired / Piggies / Rocky Raccoon / Birthday / Yer Blues /
Everybody´s Trying to Hide Except For Me and My Monkey / Sexy Sadie / Helter
Skelter / Revolution 1 / Honey Pie / Cry Baby Cry / Good Night
Ao analisarmos as informações
acima, podemos perceber que o Beatle menos participativo nas gravações foi
John, com apenas 22 participações. Já George e Ringo empataram em segundo lugar
com 23 participações cada. De longe o Beatle mais ativo foi Paul, com
surpreendentes 28 participações. Ele atuou em todas as faixas, exceto
“Revolution 9” e “Julia”. Essa análise evidencia o predomínio de Paul na
segunda fase da carreira dos Beatles, enquanto John predominou na primeira.
Além disso, ficou claro que
tanto George quanto John contaram muito mais com a participação dos outros
Beatles nas gravações de suas canções do que Paul e Ringo. Nas duas canções em
que Ringo canta no álbum, em uma delas apenas Paul o acompanha. Na outra,
apenas John. Já nas canções de Paul, três delas foram gravadas de forma solo,
enquanto duas outras em dupla com Ringo e três outras em formato trio, estando
John ou George ausentes.
Outro fato importante foi
que o Álbum Branco pode ser considerado como o início do fim dos Beatles. Cada
vez mais surgiam desentendimentos entre os membros da banda no estúdio. John
queria gravar sua guitarra cada vez em volume mais alto. Ringo era geralmente o
primeiro a ir embora do estúdio. Paul estava irritado que John estava dominando
demais as sessões de gravação. George declarou que o Paul sempre o ajudava a
gravar suas canções, depois que ele já tivesse gravado anteriormente 10 canções
de sua autoria.
Paul batizou o “Álbum
Branco” de “o álbum da tensão”. Pela primeira vez em sua carreia os Beatles
estavam trazendo seus problemas para dentro do estúdio. John achava que os Beatles haviam se separado
durante a gravação, pois todas as faixas são individuais, apenas com
participação dos outros membros. Todos os integrantes ficavam mais na defensiva,
sem muito ânimo para colaborarem intensamente nas canções dos outros
compositores. Os únicos Beatles que pareciam estar se dando bem durante as
gravações eram John e George. Todos os outros relacionamentos sofreram
desgaste, em menor ou maior grau.
O produtor George Martin
estava muito insatisfeito com a situação e frequentemente se recusava a se
envolver com as situações problemáticas que surgiam. Os Beatles não confiavam
mais no trabalho feito pela equipe de Abbey Road. Queriam gravar cada vez mais
fora dali, no Trident Studios. Martin cada vez menos atuava como produtor, já
que Paul, John e George queriam produzir suas próprias canções. Ele atuou mais
como arranjador e instrumentista, tocando instrumentos em várias faixas do
álbum. Quando o engenheiro de som Geoff Emerick deixou as gravações, Martin
disse que se arrependera de não ter feito o mesmo e que só não havia deixado as
sessões pois logo sairia de férias por 3 semanas.
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George Martin |
A presença disruptiva de
Yoko também não ajudava em nada a melhorar a atmosfera no estúdio. Paul, George
e Ringo não gostavam que ela participasse das sessões, pois ela se tornou uma verdadeira
sombra de John, o acompanhando até a porta do banheiro. Na maior parte do tempo
ela não falava nada, mas quando falava causa grande desconforto com seus
comentários, fazendo críticas aos arranjos e gravações realizadas pela banda,
sendo tais críticas completamente descabidas. Yoko e John achavam que ela havia
se tornado o quinto membro do grupo, enquanto os outros três a consideravam uma
intrusa no espaço sagrado do estúdio de gravações. Invariavelmente, toda vez
que ela saia do estúdio o clima melhorava, como relatado pelos que trabalhavam no
local e presenciavam tais sessões.
Quando o álbum foi lançado
John disse que gostou dele pois tinha um som mais rock and roll. Também
declarou que: “o Álbum Branco foi o início de meu período de composições de
rock direto. Eu sempre preferi o Álbum Branco a qualquer outro álbum dos
Beatles, incluindo Sgt Pepper’s porque eu achava que a música era melhor. O
mito de Pepper é maior, mas a música no Álbum Branco é muito superior. Eu
escrevi muitas coisas boas naquele álbum. Eu gosto de tudo que eu fiz e das
outras coisas também. Eu gosto do álbum inteiro. Nele eu fui eu mesmo. Não
gosto muito de produções.” Paul concordou, dizendo que haviam decidido dar um
passo atrás, pois era o que eles queriam fazer. Também declarou que a fase de
gravação do álbum foi sombria. Foi um ótimo álbum, mas muito difícil de ser
feito. George declarou que considerou um erro terem lançado um álbum duplo,
pois ele é longo demais para a maioria das pessoas conseguirem assimilar. Disse
que escutava basicamente o lado 1, do qual gostava bastante. Contou também que
nesse álbum eles se sentiram mais como uma banda gravando juntos, pois muitas
faixas foram gravadas ao vivo no estúdio. Ringo achava que um álbum duplo seria
extravagante demais. Também afirmou que sempre achou o Álbum Branco melhor que
Sgt Pepper’s, pois sentiu mais a sensação de fazer parte do grupo novamente. Em
Pepper havia orquestras e overdubs em excesso, segundo o baterista.
Após o seu lançamento o novo
trabalho foi considerado um enorme sucesso. Foi o álbum duplo mais vendido da
história até a aparição “Saturday Night Fever”, dos Bee Gees em 1977. O famoso
produtor de cinema, Steven Spielberg, declarou que não era fã dos Beatles até
ouvir o Álbum Branco. Depois disso, ele se converteu imediatamente.
Havia um forte clamor por
novas apresentações ao vivo dos Beatles, cujo último show tinha sido realizado
há mais de dois anos, em 1966, em São Francisco nos EUA. No entanto, o agente
de imprensa dos Beatles, Tony Barrow, declarou que a banda havia reservado uma
data em dezembro de 1968 para um show no Royal Albert Hall, onde se
apresentariam com a abertura de Jackie Lomax e Mary Hopkin, o que causou enorme
furor entre os fãs dos Beatles. Além disso, o próprio Paul anunciou três 3 apresentações
no Roundhouse Theatre em Londres para dezembro de 1968, nas quais tocariam uma
grande parte das canções do novo álbum ao vivo, além de uma seleção de faixas
mais antigas. Infelizmente, nenhuma dessas apresentações acabou ocorrendo, pois
os outros membros da banda não quiseram participar, particularmente George e
Ringo.
Posteriormente foi revelado
que eles gravariam um especial de uma hora para a TV com o sorteio de 50 pares
de ingressos para fãs da banda assistirem as gravações ao vivo no estúdio com
os Beatles. Tal projeto também acabou sendo abandonado, em favor das sessões de
filmagem sem plateia, que acabou resultando no filme/álbum/projeto “Let it Be”.
Atualmente, mais de cinco
décadas após o seu lançamento, o Álbum Branco continua resistindo ao teste do
tempo. Na realidade, quanto mais o tempo passa, mais reconhecido e valorizado é
por aqueles que tiveram o privilégio de presenciar a sua chegada e por várias
gerações de fãs de música, produtores, músicos e admiradores em geral, pois há
algo para todos os gostos ali. É a coleção mais abrangente de estilos no mundo
do rock, com obras de qualidade atemporal, tendo um repertório extremamente
diversificado, com letras brilhantes, execução musical primorosa e arranjos de
primeira qualidade. Desde que eu o ouvi pela primeira vez fiquei encantando e
se tornou meu álbum favorito de todos os tempos. É como um grande amigo, cuja
amizade permanece e se torna cada vez mais sólida. Tenho certeza de que o “Álbum
Branco” ainda me trará muitas alegrias por muitos anos e despertará o amor pela
boa música nas próximas gerações que tiverem contato com essa verdadeira obra
prima que os quatro rapazes de Liverpool nos deixaram.
Beatles Forever!
De autoria de Marco André Briones - janeiro de 2020
Agradecimento especial:
Teco Fuchs
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BIBLIOGRAFIA
The Beatles as Musicians – Revolver through the
Anthology, por Walter Everett
The Beatles – Todas as
músicas, todas as letras, todas as histórias, por Steve Turner
The Beatles White Album and the launch of Apple –
compilado por Bruce Spizer
Guitar World Magazine – Vol.32 no.13 – The Beatles on
the Record
The Beatles in India – por Paul Saltzman
The Complete Beatles Recording Sessions – por Mark
Lewisohn
The Beatles – The Biography – por Bob Spitz
The Unreleased Beatles – Music and Film – por Richie
Unterberger
The Complete Beatles Chronicle – por Mark Lewisohn
The Best of the Beatles Book – editado por Johnny Dean
The Beatles – 10 Years that Shook the World – Mojo
Revolution in the Head – por Ian Macdonald
The Beatles – White Album Super Deluxe Edition
Beatlesongs – por William J. Dowlding
The Beatles Through Headphones – por Ted Montgomery
The Beatles Archive – por Ray Connolly
Abbey Road to Ziggy Stardust – por Ken Scott & Bob
Owsinski
Um dia na vida dos Beatles –
por Don McCullin
The Beatles Lyrics – editado
por Hunter Davies
Do Rio a Abbey Road – por
Lizzie Bravo
Sound Pictures – The Life of Beatles Producer George
Martin – The Later Years 1966 – 2016, por Kenneth Womack
Here, There and Everywhere – por Geoff Emerick e
Howard Massey
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