domingo, 31 de janeiro de 2021

CHATEAU DE COURSON - FRANÇA

 

CHÂTEAU DE COURSON - FRANÇA

 




Imagine um castelo, um daqueles com os quais sonhamos ou imaginamos existir em algum lugar do mundo, com vista para um lago, em meio a um lindo bosque. Esse lugar existe. Ele é o Château de Courson, situado a 42 km ao sudoeste de Paris, na França.

Depósito


O Château de Courson foi construído em 1676 na região de Courson-Monteloup, no departamento de Éssonne, na região de Île de France.

Capela



Interior da capela

Originalmente, ele foi a residência da família Lamoignon. No entanto, no século XVIII a família Nerveaux-Loys se tornou a proprietária da residência e do parque em torno do castelo. Atualmente, todo o conjunto pertence à família Caraman.

Estufa


Os proprietários atuais têm feito um grande esforço para que a propriedade fique aberta ao público durante o ano inteiro, para visitas ao parque e ao castelo. Também foi criada uma trilha da descoberta, especialmente para as crianças que visitam o parque.

Estábulo


Em 1982, a Associação de Parques Botânicos da França convidou Courson para ser a sede de seu evento anual, a “Jornada das Plantas”. Tal evento foi sediado em Courson até 2015, quando passou a ocorrer em Chantilly.

Vilarejo em frente ao Chateau


Courson é considerado um dos mais belos jardins românticos de toda a França, tendo sido reconhecido como um “Jardim Notável” pelo Ministério da Cultura e Comunicação da França em 2004.

Vista lateral


Todas as espécies das quase 3000 árvores existentes no parque foram escolhidas e arranjadas de forma a criar harmonias sutis e belíssimas, a fim de compor um visual deslumbrante em qualquer estação do ano, com a troca das cores das árvores e arbustos, desde o verde, passando pelo amarelo, vermelho e marrom.

Há também um vasto lago artificial que compõe a paisagem bucólica da propriedade. É possível fazer piqueniques por todo o parque e também na beira do lago. Quando visitei o parque e o castelo, em 2015, tive a oportunidade e prazer de passar algumas horas em um piquenique à beira do lago, vendo o castelo ao fundo. São imagens das quais eu nunca me esquecerei até o fim de minha vida.

Lago atrás do Chateau


O castelo tem inúmeras janelas, o que faz com o que os seus interiores sejam fartamente iluminados pelo sol. A decoração e os objetos encontrados dentro dele são dignos dos maiores museus do mundo. Infelizmente, não é possível fotografar o interior do castelo durante a visita guiada disponível aos visitantes. Em minha visita, consegui apenas fotografar o exterior do castelo, o parque e algumas outras construções existentes, tais como uma bela capela, algumas casas e o estábulo.

Detalhe da fachada


Em 1985, o cantor e compositor Sting alugou o castelo e seus jardins por 9 dias, durante os quais ele e sua banda ensaiaram o show que iriam apresentar por todo o mundo, e cuja estréia ocorreria em Paris, poucos dias após o término dos ensaios. O interior do castelo, os ensaios e muito mais pode ser visto no espetacular filme “Bring On The Night”, no qual acompanhamos Sting e sua experiente banda jazzística pelos salões e corredores de Courson. Eu mesmo tomei conhecimento do Château de Courson através deste filme, quando o assisti e prometi a mim mesmo que iria descobrir que lugar maravilhoso era aquele que aparecia no filme, e que iria visitá-lo algum dia.

Alguns sonhos se tornam realidade.

 

Para maiores informações, consulte o site oficial do Château de Courson.

https://www.domaine-de-courson.fr/en/explore-courson/chateau

Veja Sting ensaiando no Château de Courson no link abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=MUm5KWSlbC0

 

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em agosto de 2015.

sábado, 30 de janeiro de 2021

SANTUÁRIO N.S. DA PIEDADE EM CAETÉ - A MENOR BASÍLICA DO MUNDO

 

SANTUÁRIO N.S DA PIEDADE – CAETÉ – A MENOR BASÍLICA DO MUNDO

 




Todos nós sabemos que Minas Gerais esconde incontáveis segredos e tesouros por todo o seu vasto território, que se situa no coração do Brasil.

No entanto, poucos fora do estado conhecem o lindo Santuário Nossa Senhora da Piedade, localizada a 1746 metros de altura, no alto da Serra da Piedade. Do alto do santuário, podemos ter uma das vistas mais belas de todo o estado de Minas Gerais, com uma visão panorâmica de 360 graus. Lá do alto consegue-se avistar várias cidades, tais como Belo Horizonte, Caeté, Lagoa Santa, Santa Luzia, Raposos, Contagem, Nova União, Vespasiano e Sabará.



A Serra da Piedade fica na divisa dos municípios de Sabará e Caeté, no centro-leste de Minas Gerais. Toda a região é considerada uma área de proteção ambiental e o santuário é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), além de constituir um importante sítio geológico associado à história da exploração do interior do Brasil pelos bandeirantes.

Estrada de acesso


O acesso ao santuário, localizado à 48 km da capital mineira e a 16 km do município de Caeté, é muito fácil e pode ser feito a partir de Belo Horizonte, pela BR 381 até o trevo de Caeté, de onde se segue por uma excelente estrada asfaltada que percorre 6 km dentro de um lindo parque, na subida da serra. O acesso de veículos é pago. A infraestrutura do santuário é ótima. Há um vasto estacionamento para visitantes e peregrinos, um amplo restaurante, cafeteria, local para hospedagem de peregrinos, loja de souvenirs, além de um centro de exposições. O santuário está aberto para visitação diariamente, das 7 às 18h. É altamente recomendável que os visitantes levem um agasalho para a visita, além de calçados confortáveis, pois há uma grande variação de temperatura devido à altitude.



Durante a minha visita, quando eu cheguei no alto, o sol estava brilhando e o céu estava totalmente azul. Após aproximadamente meia hora, o céu se fechou e uma forte neblina cobriu todo o santuário. Foi praticamente impossível ver a basílica e as esculturas. Tive a sensação de estar viajando em um avião, pois eu via as nuvens passando por mim, algumas até passavam abaixo do local elevado onde eu me encontrava. Foi uma sensação mágica, quase como se eu estivesse voando por entre as nuvens.

Os fundadores do santuário foram os fidalgos portugueses Antônio da Silva Bracarena e o irmão Lourenço, fundador do Colégio do Caraça. Ambos chegaram ao local aproximadamente em 1760 e construíram no topo da serra da Piedade um eremitério (local para habitação de eremitas), juntamente com uma igreja dedicada à Nossa Senhora. Bracarena viveu no alto da serra como ermitão, após ter ficado viúvo em Portugal e vindo ganhar dinheiro na construção da Igreja de N.S. do Bom Sucesso, no centro da cidade de Caeté.



Ao avistar a Serra da Piedade rodeada de nuvens, Bracarena pensou que ali seria um local muito apropriado para a construção de uma capela em louvor à santa da qual era devoto.

Bracarena trabalhou com o artesão Manuel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho, que também estava presente ali, ainda jovem, desenvolvendo seu talento incomparável, que o levaria a se tornar um dos maiores mestres do barroco mineiro.



Em 30 de setembro de 1797, Bracarena e Manuel Coelho Santiago receberam a licença para construírem uma capela para Nossa Senhora da Piedade. Em 1856, o frei capuchinho Luiz de Ravena deu prosseguimento às obras, ampliando a capela existente para poder atender à grande e crescente demanda de visitas dos fiéis e peregrinos.

Dentro da basílica podemos encontrar uma belíssima imagem de Nossa Senhora da Piedade, esculpida em cedro, no século XVIII por Aleijadinho, que é venerada há mais de 250 anos pelos fiéis e visitantes. Além disso, Nossa Senhora da Piedade é a Padroeira do Estado de Minas Gerais. Em 2017, houve uma enorme movimentação no local, que foi visitado por 700.000 peregrinos.



No ano da celebração dos 250 anos do santuário, o Papa Francisco elevou a capela à condição de basílica, sendo atualmente considerada a menor basílica do mundo.

O santuário oferece duas opções de Via Sacra para os fiéis que quiserem percorrê-la: uma longa e outra curta, para serem escolhidas de acordo com a disponibilidade de tempo e saúde dos peregrinos.



Diante da fachada da basílica, podemos ver as esculturas do Calvário, moldadas em ferro e executadas pelo artista plástico Vlad Eugen Poenaru, cada uma delas pesando cerca de uma tonelada. O conjunto incluiu uma escultura de Jesus Cristo na cruz, tendo à sua direita a Virgem Maria e à sua esquerda São João.



Após o passeio, pode-se fazer uma refeição ou lanche no restaurante ou cafeteria disponíveis para os turistas. Todas as instalações são muito amplas e bem cuidadas. Há uma loja para que os visitantes possam comprar pequenas lembranças. Além disso, toda a região é excelente para fotógrafos amadores e profissionais, pois oferece vistas inacreditáveis, com uma visão deslumbrante de uma das regiões mais belas do interior do Brasil.

Restaurante


Toda a região tem uma riquíssima beleza natural, sendo um lugar perfeito para a reflexão, meditação e oração. Recomendo a todos que quiserem conhecer um lugar que oferece a possibilidade de nos sentirmos em meio às nuvens, vendo as belas montanhas de Minas Gerais, que não hesitem em visitar o Santuário N.S. da Piedade. Seguramente seus olhos nunca mais se esquecerão da vista lá do alto, nem do belo horizonte sem fim.

 

 

Para maiores informações, visite o site oficial do Santuário N.S. da Piedade

http://santuarionossasenhoradapiedade.arquidiocesebh.org.br/

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em dezembro de 2013.

Bibliografia usada:

Santuário Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas, da Arquidiocese de Belo Horizonte.

DESVENDANDO O ÁLBUM BRANCO DOS BEATLES

Olá pessoal! Estou muito contente pois agora já posso ser considerado um autor publicado! Meu livreto sobre o álbum branco dos Beatles acabou de ser disponibilizado em TODAS as lojas da Amazon do mundo! O título da obra é "Desvendando o Álbum Branco dos Beatles". Já estou começando a preparar uma versão em inglê para poder alcançar um público cada vez mais amplo. Se quiserem conferir o livro, basta clicar no link abaixo. Boa viagem musical!

LINK PARA A AMAZON




sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

THE BEATLES - THE WHITE ALBUM

 

ÁLBUNS CLÁSSICOS DO ROCK – VOLUME 9

THE BEATLES – THE BEATLES (WHITE ALBUM)



 

FICHA TÉCNICA

ANO DE LANÇAMENTO

1968

PRODUZIDO POR

GEORGE MARTIN & CHRIS THOMAS (faixas 8 e 18)

MÚSICOS PRINCIPAIS

JOHN LENNON – VOCAL, VIOLÃO, GUITARRA, BAIXO, PIANO, HARMONIUM, MELLOTRON, GAITA, BATERIA, PERCUSSÃO, TAPE LOOPS, EFEITOS SONOROS

PAUL MCCARTNEY – VOCAL, BAIXO, VIOLÃO, GUITARRA, HAMMOND, PIANO, PERCUSSÃO, BATERIA

GEORGE HARRISON – VOCAL, GUITARRA, VIOLÃO, BAIXO, HAMMOND, BATERIA, PERCUSSÃO, EFEITOS SONOROS

RINGO STARR – VOCAL, BATERIA, PERCUSSÃO, PIANO

ERIC CLAPTON – SOLO DE GUITARRA NA FAIXA 7

YOKO ONO – BACKING VOCAL, VOCAL E EFEITOS SONOROS

MAL EVANS – BACKING VOCAL, PALMAS, TRUMPETE

CHRIS THOMAS – PIANO, MELLOTRON, HARPSICHORD, ÓRGÃO

GEORGE MARTIN - ARRANJOS E PIANO

 

LISTA DE CANÇÕES DO ÁLBUM

1

BACK IN THE USSR

2

DEAR PRUDENCE

3

GLASS ONION

4

OB-LA-DI, OB-LA-DA

5

WILD HONEY PIE

6

THE CONTINUING STORY OF BUNGALOW BILL

7

WHILE MY GUITAR GENTLY WEEPS

8

HAPPINESS IS A WARM GUN

9

MARTHA MY DEAR

10

I’M SO TIRED

11

BLACKBIRD

12

PIGGIES

13

ROCKY RACCOON

14

DON’T PASS ME BY

15

WHY DON’T WE DO IT IN THE ROAD?

16

I WILL

17

JULIA

18

BIRTHDAY

19

YER BLUES

20

MOTHER NATURE’S SON

21

EVERYBODY’S GOT SOMETHING TO HIDE EXCEPT FOR ME AND MY MONKEY

22

SEXY SADIE

23

HELTER SKELTER

24

LONG, LONG, LONG

25

REVOLUTION 1

26

HONEY PIE

27

SAVOY TRUFFLE

28

CRY BABY CRY

29

REVOLUTION 9

30

GOOD NIGHT

 

ORIGENS DO ÁLBUM

No início de 1968 os Beatles tinham um grande dilema: Como superar a criação de uma obra prima, como o álbum mais recente deles “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e, ao mesmo tempo, desbravarem novos rumos musicais e dar espaço à crescente criatividade individual de seus integrantes, mantendo o padrão de qualidade musical estabelecido por eles?

A resposta não era simples. Precisariam se reinventar como grupo e resgatarem suas raízes no rock and roll e outros estilos que fizeram parte de sua extensa formação musical. Seria necessário também encontrar respostas para as perguntas e dúvidas sobre suas vidas e carreiras, que estavam começando a surgir, já que a banda havia atingido todo o sucesso financeiro, material, comercial e fama com os quais poderiam sonhar. Talvez fosse o momento de se voltarem para dentro, para o autoconhecimento a fim de descobrirem suas verdadeiras essências e, se possível, também entenderem qual é o sentido da vida.

A solução para tais problemas e questionamentos, aparentemente, foi encontrada na figura mística do indiano Maharishi Mahesh Yogi, fundador da “Spiritual Regeneration Academy of Transcendental Meditation” (Academia de Regeneração Espiritual de Meditação Transcendental), em Rishikesh, na Índia.

Os Beatles com o Maharishi


Os Beatles haviam tomado conhecimento do “guru” quando a ex-esposa de George Harrison, Patti Boyd, assistiu uma de suas palestras em Londres e recomendou aos Beatles que o vissem também na próxima oportunidade que surgisse.

George sempre teve um desejo de conhecer mais sobre a Índia, sua música, cultura e religião, e estimulou seus companheiros de banda a investigarem mais o trabalho do Maharishi e a conhecê-lo pessoalmente. Desde o primeiro contato, ficaram muito interessados com o que ouviram e impressionados com a figura do carismático guru indiano.

Maharishi Mahesh Yogi


Decidiram acompanhá-lo para um seminário em Bangor, no País de Gales em agosto de 1967, com suas esposas (exceto Cynthia, esposa de John, que acabou perdendo o trem e sido deixada para trás por seu marido) e amigos, como Mick Jagger. Durante a estadia deles por lá receberam a trágica notícia da morte de seu empresário, Brian Epstein, que havia sido o responsável por descobri-los, criar a imagem da banda e levá-los ao estrelato. Epstein era visto com muito respeito e exercia um papel semelhante ao de uma figura paterna, sempre ditando os rumos e próximos caminhos que os Beatles deveriam trilhar. Com sua morte, quase que instantaneamente o Maharishi acabou assumindo tal papel e passou efetivamente a ter uma enorme influência sobre os Beatles, particularmente sobre George e John.

O guru indiano convidou os Beatles para passarem uma temporada em Rishikesh, na Índia, para estudarem meditação transcendental, com a finalidade de transformá-los em instrutores da disciplina e, consequentemente, seus embaixadores por todo o mundo, divulgando o trabalho e obra de Maharishi. Finalmente em fevereiro de 1968 John e George partiram para Índia, junto com suas esposas. Paul com sua noiva e Ringo e sua esposa se juntaram a eles na semana seguinte. A estadia dos Beatles na Índia acabou se tornando um dos períodos mais férteis e criativos em toda a história da banda, que compôs dezenas de canções em Rishikesh, sendo que a grande maioria delas veio a ser incluída no próximo trabalho da banda, que se chamaria simplesmente “The Beatles”, mas se tornaria mais conhecido pelos fãs, crítica e até mesmo pela própria banda como o “Álbum Branco”.

A viagem para a Índia foi a última que os Beatles fizeram juntos, ainda que todos eles não tenham permanecido durante todo o tempo lá. Ringo passou apenas 10 dias, pois sua esposa não suportava os constantes ataques dos insetos e Ringo não se adaptou à comida local, pois sempre havia tido propensão para problemas estomacais. Paul permaneceu durante um mês, o suficiente, segundo ele, para aprender e praticar o queria. George e John ficaram mais tempo, passando dois meses no Ashram do Maharishi.

Os Beatles não foram os únicos a participarem do retiro para a prática da meditação transcendental na Índia. Outras pessoas de vários lugares do mundo também estiveram por lá, incluindo Mike Love, integrante dos Beach Boys, o “guru eletrônico” dos Beatles, Alex Mardas, Mal Evans, assistente dos Beatles, o compositor folk escocês Donovan, o fotógrafo americano Paul Saltzman, que registrou incríveis imagens dos Beatles na ocasião, o músico Paul Horn, além da atriz Mia Farrow (esposa de Frank Sinatra na época) e sua irmã Prudence.

A banda havia levado apenas seus violões para a Índia, instrumento esse que acabou sendo a base para a composição das 48 canções compostas apenas por John e Paul em Rishikesh, além de outras compostas por George. John aprendeu uma nova técnica de dedilhado com Donovan em dois dias e a usou em suas novas composições “Dear Prudence” e “Julia”. A música da banda passou a ser mais simples após a visita à Índia, principalmente pelo fato de grande parte das novas canções terem sido originalmente compostas em violões. Assim que chegou na Índia, Mal Evans comprou uma nova cítara para George, que se aprofundou no estudo do instrumento em sua estadia no Ashram. Foi relatado pelos presentes que, enquanto compunham suas novas obras, John e Paul tocaram versões acústicas de algumas de suas músicas favoritas, como All You Need is Love, Eleanor Rigby, Michelle e Norwegian Wood.

Compondo na Índia


Porém, desde o início os Beatles estavam insatisfeitos com algumas atitudes tomadas pelo Maharishi, sendo consideradas no mínimo suspeitas ou questionáveis. O guru indiano havia lançado um álbum de gravações de seus ensinamentos no qual constava na contracapa a informação de que ele era o “guru” dos Beatles. Tal jogada de marketing para alavancar as vendas não agradou nem um pouco a banda, que sequer foi consultada sobre tal iniciativa. Além disso, o Maharishi deixou Neil Aspinall, responsável pela gestão dos negócios dos Beatles completamente chocado ao lhe pedir 2,5% dos rendimentos gerais dos Beatles, além de 25% da receita liquida deles.

Houve um grande assédio dos fotógrafos no Ashram, pois todos queriam ter fotos e notícias dos Beatles em sua passagem pela Índia. Inicialmente, tentavam registrar fotos da banda de forma escondida e não autorizada. Depois de um tempo Mal Evans fez um acordo com os fotógrafos e levava notícias para eles todos os dias, até que eles acabaram desistindo e indo embora.

John e George já eram vegetarianos na época, Paul sentia falta de comer carne e Ringo achava os pratos condimentados demais. John declarou: “Conseguimos nossos mantras, sentamo-nos nas montanhas comendo péssima comida vegetariana e compondo todas aquelas canções. Escrevemos toneladas de canções na Índia.”



John passava a maior parte do tempo em isolamento. Acordava cedo para buscar a correspondência de Yoko, que lhe enviava cartas diariamente. Tanto ele quanto George levaram o curso a sério. Já Paul encarou a viagem mais como umas merecidas férias, com um pouco de meditação. Ringo não tinha nenhum interesse em estudar a meditação transcendental ou os assuntos abordados nas palestras de Maharishi. Devido ao profundo envolvimento de seus companheiros de banda (John e George), Paul tinha receio de que ambos não voltassem ao Reino Unido, caso o Maharishi lhes fizesse uma enorme revelação, que mudasse suas vidas, o que significaria o fim dos Beatles. Felizmente para Paul, isso não aconteceu, pois John queria regressar para encontrar Yoko e circulou um rumor, iniciado por Alex Mardas, que o Maharishi havia assediado uma das mulheres participantes do curso, o que nunca acabou sendo comprovado. Tal situação enfureceu John, que a usou como pretexto para deixar a Índia e ir ao encontro de Yoko no Reino Unido, dando fim à estadia dos Beatles em Rishikesh. John declarou que das 30 canções acabaram sendo incluídas no novo álbum, 20 haviam sido compostas na Índia, enquanto que as outras 10 foram concluídas após o regresso da viagem.

Antes de serem iniciadas as sessões de gravação, os Beatles fizeram algo inédito na carreira deles até então. Se reuniram na casa de George, em Esher, e fizeram uma gravação completa de demos em um estúdio portátil de 4 canais de todas as faixas que haviam composto na Índia para selecionarem em quais iriam trabalhar para o novo álbum. Eles se divertiram muito gravando as demos, como pode ser constatado nas gravações que foram disponibilizadas na edição de 50 anos do Álbum Branco. O grupo nunca havia ensaiado e feito demos fora dos estúdios da EMI de forma tão metódica e organizada quanto para o novo trabalho. No total, foram realizadas 27 gravações (15 de John, 7 de Paul e 5 de George), que acabaram se tornando conhecidas como “Esher Tapes” ou “Esher Demos”. Paul achava que tinham material para um álbum triplo. O produtor George Martin preferia que gravassem um álbum simples, selecionando apenas as melhores canções. No entanto, 11 faixas que foram incluídas no álbum não foram gravadas nas demos na casa de George. Nessa época ocorreu uma proliferação de canções de George, que começava a compor canções de qualidade cada vez melhor, começando a rivalizar com John e Paul. Além disso, consegui finalmente ter sua primeira canção lançada em um single (The Inner Light).

Outro fato interessante é que os Beatles foram presenteados com uma grande quantidade de equipamentos e instrumentos novos fornecidos pelos fabricantes Fender e Gibson. Todos eles foram usados em maior ou menor grau nas novas faixas. Entre o material que receberam se encontravam guitarras Fender Telecaster, baixos Fender Jazz Bass e Fender Bass VI, amplificadores Fender Bassman 100, com falantes de 12 polegadas, amplificadores Fender Twin Reverb, violões Gibson J200 e guitarras Gibson Les Paul. Além disso, a qualidade das gravações realizadas nos estúdios de Abbey Road contaram com mesas de som de 8 canais na parte final das sessões e, no Trident Studios, desde o início das gravações, fato pelo qual os Beatles preferiram gravar nele em detrimento de Abbey Road, que na época tinha um equipamento defasado tecnologicamente comparado aos novos e mais modernos estúdios de Londres. Fica claro, através da análise detalhada das gravações realizadas, o quão os Beatles eram meticulosos em seus registros, prestando atenção aos mínimos detalhes sonoros. Outra marca das novas sessões foram a ocorrência constante de gravações nas quais nem todos os membros da banda estavam presentes, algumas vezes apenas três, dois ou até mesmo um deles, fazendo gravações solo.

O título do novo álbum também foi motivo de controvérsia. Originalmente seria chamado de “A Doll’s House” (Casa de Bonecas), inspirado na famosa peça teatral de Henrik Ibsen. John chamava o álbum que estavam gravando de “Son of Sgt Pepper” (Filho de Sgt. Pepper). Paul queria chamar o álbum de Umbrella (Guarda-Chuva), pois ele cobria quase todos os estilos musicais. O “Álbum Branco” é conhecido como a “história do rock and roll” por causa da grande quantidade de estilos representados e parodiados. Parece que ouvimos uma banda diferente em cada faixa. Entre os estilos abordados estão o rock clássico, blues, jazz, vaudeville, folk, heavy metal, reggae, experimental, baladas, country, entre outros.



As gravações foram realizadas durante 5 meses, de segunda a sexta feira, geralmente das 14:30h à meia noite. Paul era incrivelmente animado quando estava trabalhando, normalmente sendo o primeiro a chegar e o último a sair. Ele sempre se concentrava muito e era a pessoa dominante no estúdio, segundo relatos de presentes às sessões. Ele sabia tocar todos os instrumentos tão bem quanto os outros Beatles e passava muito mais tempo no estúdio do que os outros, segundo Tony Bramwell. A equipe do estúdio de Abbey Road considerava geralmente as ideias de Paul como viáveis, as de John quase sempre eram inviáveis ou muito difíceis de serem executadas. Há também uma grande diferença entre as técnicas de gravação utilizadas para o registro do álbum “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e “The Beatles (White Album)”. No primeiro caso, normalmente eram feitas “backing tracks”, com um esboço do que seria a gravação final, e iam adicionando cada instrumento individualmente, assim como as vozes. Já no trabalho seguinte, a banda tentava ao máximo captar uma “performance” ao vivo, tentando manter o espírito de uma banda se apresentando e adicionando o mínimo possível de “overdubs” posteriores. Em alguns casos até mesmo o vocal final acabou sendo gravado ao vivo, junto com os outros instrumentos.

Durante as tensas sessões de gravação do Álbum Branco, o produtor George Martin saiu de férias durante 3 semanas, para se afastar no clima hostil e abrasivo que havia no estúdio. O produtor Chris Thomas o substituiu durante sua ausência, pois tinha experiência produzindo o The Who. O engenheiro de som devido Geoff Emerick abandonou as gravações pelo mesmo motivo, só retornando à gravação do álbum final dos Beatles, Abbey Road. Até mesmo o baterista Ringo Starr deixou a banda durante as sessões de gravação durante 12 dias, pois se considerava esquecido e pouco respeitado por seus colegas de banda. Acabou retornando após ter sido convencido que todos sentiam a sua falta e ele era muito querido por seus colegas.

Paul produzindo enquanto Ringo e George Martin olham


Durante o ano de 1968 muitos outros acontecimentos importantes ocorreram na vida dos Beatles. Paul e George passaram a produzir outros artistas, gravando canções para eles e/ou as produzindo. Paul produziu e compôs “Step Inside Love” para Cilla Black, além de “Heather” e “How Do You Do?”, juntamente com Donovan nas sessões de gravação para Mark Hopkin. George gravou o álbum “Wonderwall”, para a trilha sonora de mesmo nome, empregando músicos indianos, a banda Remo Four e até mesmo seu amigo Eric Clapton. Esse foi o primeiro lançamento do novo selo dos Beatles, chamado de “Apple”, além de ter sido o primeiro álbum solo de um dos Beatles. Fez parcerias também com seu amigo e ídolo Bob Dylan, compondo com ele duas canções, “I’d Have You Anytime”, que seria incluída no álbum “All Things Must Pass”, e “Nowhere To Go”, que acabou nunca sendo lançada. Até mesmo John realizou gravações caseiras, compondo “A Case of the Blues”, que nunca foi lançada, “Don’t Let Me Down”, que se tornou um single dos Beatles posteriormente, “Oh My Love”, que foi lançada no álbum solo “Imagine” e “Everyone Had a Hard Year”, que posteriormente foi juntada à uma outra composição de Paul, se tornando “I’ve Got a Feeling”, que foi lançada no álbum “Let It Be”.

O selo criado pelos Beatles, para a distribuição de seus novos trabalhos, assim como de seus protegidos, foi inspirado por um quando do célebre pintor belga, René Magritte, do qual Paul era um grande admirador e colecionador de seus quadros, tendo inclusive adquirido e colocado a obra intitulada “Le Jeu de Mourre” em exposição na sala de sua residência em Londres. Uma outra curiosidade pouco sabida é que a Apple inicialmente seria formada pelos Beatles e Rolling Stones. Paul e Mick Jagger chegaram a discutir o assunto sobre a criação de um estúdio de gravação financiado por ambas as bandas, mas a ideia acabou sendo considerada impraticável.

Quadro "Le Jeu de Mourre", de René Magritte


Paul, Martha e o quadro de Magritte na parede da residência de Paul


Outro projeto que acabou descartado foi a ideia da banda em realizar uma adaptação cinematográfica da lendária obra “O Senhor dos Anéis”, de Tolkien. A ideia da banda era a de que Stanley Kubrick poderia dirigir o filme, que chegou a ser discutido com a United Artists em Nova York. Kubrick jantou uma noite com Paul e John e os convenceu que era um projeto inviável, pois o livro seria impossível de ser recriado na tela de cinema com a tecnologia disponível na época, o que era um argumento verdadeiro, pois tais filmagens acabaram só se concretizando décadas depois, com o advento da computação gráfica. John estava tão entusiasmado que chegou a declarar que comporia um álbum duplo de canções para a trilha sonora do filme.

O filme que efetivamente acabou sendo produzido foi o desenho animado “Yellow Submarine”, com o qual os Beatles tiveram um envolvimento mínimo, cedendo apenas um punhado de canções que não haviam sido usadas até então e gravado uma pequena e rápida participação no final da animação. Ao verem o resultado final do trabalho, os Beatles lamentaram muito não terem se dedicado mais ao projeto, pois adoraram o filme, que superou muito as expectativas que tinham do projeto. John declarou que gostaria de escrever ele mesmo a próxima animação dos Beatles.

Em setembro de 1967, Sir Joseph Lockwood, presidente da EMI (gravadora dos Beatles) compareceu a um evento no Palácio de Buckingham. Ao vê-lo, a Rainha Elizabeth II o abordou e fez o seguinte comentário: “Os Beatles estão se tornando terrivelmente esquisitos, não é mesmo?”, mostrando a familiaridade da soberana com a obra da banda e sua insatisfação com os novos caminhos musicais que estavam trilhando, a partir de sua fase psicodélica. O Prince Philip considerava os Beatles como “caras legais”.  Até o Marechal Montgomery, herói da Primeira e Segunda Guerra Mundial expressou o desejo de convidá-los para passar um final de semana em sua residência para ver “que tipo de pessoas eles eram”. Definitivamente, os Beatles haviam chegado ao topo da sociedade britânica e do mundo. Agora estavam prestes a dar mais um importante novo passo em suas carreiras: a gravação do lendário “Álbum Branco”.


ANÁLISE DO ÁLBUM - FAIXA A FAIXA

 

Back in the USSR

O álbum abre com o som de um avião decolando, seguido pelas guitarras dos Beatles. Uma excepcional faixa de abertura, com um dos maiores rocks da carreira da banda.

Essa é uma faixa de autoria de Paul e foi composta na Índia. A ideia inicial surgiu através de Mike Love, integrante dos Beach Boys e amigo dos Beatles que estava em Rishikesh com eles. Love sugeriu a Paul que eles compusessem juntos uma paródia da canção “Back in the USA”, de Chuck Berry. Paul gostou muito da sugestão e começou imediatamente a escrever a letra, contando a história de um soviético, provavelmente um espião, que estava há muito tempo nos EUA, mas que sonhava em voltar para casa, reencontrando as lindas garotas da Ucrânia e Moscou, que são muito mais belas do que as do Ocidente. Além disso, Paul faz uma brilhante alusão à Georgia, que é um estado nos EUA e era uma das repúblicas que fazia parte da URSS. Para completar a brilhante inspiração, é também uma homenagem à canção “Georgia on my Mind”, de Ray Charles, um dos ídolos de Paul.

Mike Love e George


Uma letra extremamente bem humorada e divertida, apoiada por um instrumental de primeira qualidade. Sem dúvida, uma das melhores faixas já compostas por Paul.

No entanto, por trás de uma composição tão alegre e contagiante, o clima entre o grupo durante as gravações desse álbum e, particularmente dessa canção, foi extremamente tenso. Paul criticou continuamente a maneira como Ringo estava tocando. O baterista já vinha se sentindo muito frustrado e irritado, pois dizia que não era amado nem apreciado pelos outros membros da banda. Para piorar ainda mais a situação, toda vez que ele ia ao banheiro ou beber uma xícara de chá, ao retornar encontrava Paul sentado em sua bateria a tocando.


Paul tocando a bateria de Ringo


Nessas ocasiões, os Beatles pediam para os técnicos e engenheiros de gravação saírem para beber ou comer algo, e tinham sérios desentendimentos entre eles, que não queriam que fossem presenciados por ninguém.

Ringo não suportou o clima tão hostil e decidiu deixar o grupo. Partiu de férias com a família e Paul acabou gravando a bateria dessa canção e da faixa seguinte também, “Dear Prudence”. O baterista ficou ausente durante 12 dias e o motivo de sua partida não foi revelado para ninguém de fora do grupo. Ringo só retornou quando recebeu um telegrama dos Beatles dizendo que eles o amavam e sentiam muito sua falta, que ele deveria voltar para casa. Ao finalmente regressar ao estúdio, encontrou a sua bateria completamente coberta e decorada com flores, uma iniciativa de George. Após o seu regresso, o clima melhorou entre os membro da banda, que conseguiram concluir as gravações do álbum.



Em 2003, Paul fez sua primeira apresentação na Rússia, tocando a Praça Vermelha em Moscou, com a presença do líder Vladimir Putin. Ao executar a faixa “Back in the USSR” a plateia enlouqueceu e o Paul conseguiu realizar seu sonho de tocar sua canção para os russos ao vivo.

 

Dear Prudence

Um dos músicos que estava presente em Rishikesh juntamente com os Beatles era o cantor folk escocês Donovan. Foi um artista bastante popular nos anos 1960 e que se tornou amigo dos quatro membros da banda. Pelo fato de ter uma formação musical folk, dominava técnicas de violão que eram desconhecidas dos Beatles. John se mostrou particularmente interessado em aprendê-las e Donovan as ensinou.

O escocês afirmou que John aprendia muito rapidamente e, em pouco tempo, já havia dominado as novas técnicas aprendidas e já as empregava em suas novas composições, como na canção “Dear Prudence”.

Prudence Farrow é a irmã de Mia Farrow, famosa atriz americana que na época era casada com Frank Sinatra. As duas irmãs haviam ido para a Índia para estudarem meditação transcendental com o Maharishi ao mesmo tempo que os Beatles. Eles se conheceram por lá e ficaram amigos. No entanto, Prudence levava o curso extremamente a sério, pois há muitos anos sonhava em estudar meditação transcendental. Desta forma, logo após as palestras do Maharishi, ela se encaminhava para seu bangalô e ficava dias sem ser vista. Os outros estudantes começaram a ficar preocupados com o desaparecimento dela e os Beatles começaram a ir até o bangalô dela chamá-la para participar das atividades com eles e a socializar como os outros aprendizes.


Prudence Farrow


Prudence recebeu pelo menos três visitas dos Beatles. Na primeira, John, Paul e George cantaram a faixa Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band inteira para ela, lhe convidando que saísse e viesse ficar com eles, segundo relatos de Mia Farrow. Não tiveram êxito. Na segunda tentativa, eles voltaram e Paul cantou uma canção nova que havia compostos há poucos dias, que se chamava “Ob-la-di, Ob-la-da”. Mais uma vez não tiveram sucesso. Na terceira vez, John cantou para Prudence uma linda canção que havia composto especialmente para ela, chamada “Dear Prudence”, na qual ele a convidava para sair para brincar, ver o som e apreciar a natureza. Desta vez, Prudence abriu a cortina de sua janela. Viu os Beatles fazendo uma serenata para ela, sorriu e finalmente abriu a porta e foi acompanhá-los.

Seguramente, um das mais belas faixas do álbum e uma das melhores composições de John. Ringo não participou dessa faixa, pois estava viajando com sua família. A bateria na canção foi tocada por Paul.

 

Glass Onion

A primeira faixa do álbum na qual Ringo toca sua bateria foi composta por John, que sempre ficara surpreso com a tentativa dos fãs e da imprensa em descobrir significados ocultos em suas letras, além de mensagens secretas. Há muitos anos surgiram rumores de que Paul havia morrido durante as sessões de gravação de “Sgt. Pepper’s” e tinha sido substituído por uma outra pessoa, o que era claramente absurdo.


A volta de Ringo


Desta forma, apenas para confundir ainda mais os fãs e crítica, John criou essa letra, cheia de mensagens ocultas e versos absurdos, apenas como diversão e gozação, mostrando aos fanáticos que não havia nenhuma mensagem oculta em suas canções e que, muitas vezes, ele criava versos e letras estranhas apenas pelo fato delas soarem bem juntas, sem terem qualquer sentindo ou nexo.

Essa faixa é uma das favoritas de George em todo o álbum.

 

Ob-la-di, Ob-la-da

Uma das faixas mais populares do álbum e, seguramente, a que mais gerou atritos entre os integrantes da banda.

Paul a compôs em Rishikesh inspirado por uma frase em idioma yoruba que seu amigo Jimmy Scott, percussionista nigeriano que atuava em Londres, repetia frequentemente em suas apresentações ao vivo, que significa “A vida segue em frente”.


Jimmy Scott


Embora a letra tenha sido composta com relativa facilidade, a gravação foi uma das mais problemáticas do álbum, pois Paul enfrentou grandes dificuldades em conseguir captar no estúdio o arranjo e interpretação que ele queria. A banda fez inúmeras tentativas e gravações com andamentos e instrumentos diferentes, nunca conseguindo alcançar os objetivos de Paul.

Lennon reclamou ter ficado gravando a canção por 5 dias ininterruptos, pois já não aguentava mais ouvir essa canção de Paul, que ele considerava péssima e detestava. George também não gostava dela.

É uma letra típica de Paul, contando a história de um casal, com seus filhos e tudo que ocorria na vida deles.

Um dia a situação ficou incrivelmente tensa, quando o produtor George Martin deu uma sugestão para Paul, dizendo que o seu vocal poderia ser melhorado. Paul ficou muito irritado e gritou para Martin lhe perguntando por que ele não descia ao estúdio e cantava a canção ele mesmo. Martin ficou lívido e muito bravo, gritando de volta para Paul cantar novamente a canção e ponto final. O engenheiro de som Geoff Emerick, que havia sido premiado pelas brilhantes gravações que fizera no álbum “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, e que já estava muito desgastado com toda a tensão existente nas gravações do novo álbum, finalmente considerou que esse desentendimento entre Paul e George Martin fora a gota d’água, e que não tinha mais condições emocionais e psicológicas para continuar fazendo seu trabalho, decidindo deixar as gravações imediatamente. George Martin ainda tentou convencê-lo a ficar, assim como John, mas Emerick não quis saber de seus argumentos e abandonou as gravações após tal incidente, tendo sido substituído por Ken Scott.

Um dia, John chegou ao estúdio e gritou para os outros: “Estou chapado e a canção deveria começar assim”, tocando a introdução que conhecemos no piano. Paul ficou tão irritado que quase brigou com John no momento. No entanto, depois percebeu que era exatamente essa peça que estava faltando para a canção ficar completa, tendo sido ela mantida na gravação final.

Paul queria lançá-la como single, mas John e George vetaram tal lançamento, pois não suportavam a faixa nem a consideravam boa o suficiente para um lançamento em nome do grupo como sendo o próximo single da banda.

O famoso baterista Stewart Copeland, do The Police declarou que essa foi uma das primeiras canções de reggae branco já registradas.

 

Wild Honey Pie

A faixa mais fraca de todo o álbum nada mais é do que uma repetição da frase “Honey Pie” por Paul, acompanhado de vários instrumentos tocados por ele mesmo.

Foi gravada na segunda sessão de gravação de “Mother Nature’s Son”, quando Paul decidiu criar uma pequena canção no momento. Foi incluída apenas porque a esposa de George, Pattie Boyd, gostava muito dela.

Uma faixa que poderia ter sido perfeitamente cortada do álbum e ter sido substituída pela faixa “Not Guilty”, de George, de qualidade muito superior e que foi eliminada da lista final de canções no último instante. Seguramente a inclusão de “Not Guilty” teria deixado o álbum ainda melhor e George menos frustrado pela pouca quantidade de canções que ele tinha direito de incluir nos álbuns dos Beatles, especialmente quando a qualidade de suas composições vinha melhorando de forma muito rápida e contínua. 



The Continuing Story of Bungalow Bill

O grupo de pessoas que estava com os Beatles em Rishikesh era bastante diverso, incluindo pessoas de várias nacionalidades e profissões diferentes. Entre elas, havia uma socialite americana com seu filho, chamado Richard A. Cooke III.

Os dois seguiam participando do curso de meditação transcendental com o Maharishi até que um dia decidiram partir para um safári em um cidade próxima. Em tal ocasião, montaram em elefantes e foram acompanhados por guias e assistentes indianos para um excursão na selva local, onde existiam muitos tigres.

Quando um dos tigres surgiu, o jovem Richard o matou com um rifle, trazendo o animal morto como troféu de sua caça. 


Richard A. Cooke (Bungalow Bill, sua mãe e sua presa)

Ao regressarem ao retiro do Maharishi, os Beatles tomaram conhecimento do ocorrido e ficaram horrorizados, particularmente John, que chegou a questionar pessoalmente Richard por seu comportamento absurdo, especialmente se considerarmos que ele e sua mãe haviam viajado para a Índia para meditarem, não para matarem animais nativos a sangue frio.

Essa foi a inspiração para a canção, na qual John destila todo seu veneno contra Richard, o batizando de “Bungalow Bill”, uma alusão ao personagem Buffallo Bill, só que em sua versão bangalô indiano. John ridiculariza a estupidez de Richard, contando que o personagem da canção gostava de caçar tigres e, em caso de acidentes, sempre levava sua mãe consigo para ajudá-lo. O refrão da canção pergunta “Ei Bungalow Bill, o que você matou?”, denotando o comportamento absurdo e inaceitável do jovem americano.

O impressionante violão flamenco na introdução é apenas uma função do teclado Mellotron que foi usado na gravação, que era capaz de reproduzir 7 segundos de um determinado som. O produtor Chris Thomas tocou Mellotron nessa faixa. Paul declarou que essa é uma de suas canções favoritas até hoje.

 

While My Guitar Gently Weeps

Em suas leituras, George havia se deparado com um ensinamento que dizia que nada na vida era aleatório, tudo tinha um sentido e momento exato para ocorrer. Um dia, quando visitava seus familiares em Liverpool, ele abriu um livro aleatoriamente para encontrar uma ideia para uma canção. Achou as palavras “gently weeps” (chora delicadamente). Desta forma, começou a compor inspirado nas palavras que encontrara. A canção é um lamento pelo potencial não alcançado pela humanidade em imbuir a vida com espiritualidade, o “amor que está adormecido”.

Ao apresentar a demo de sua composição aos seus colegas de banda, a reação que teve deles não foi positiva, pois os Beatles não gostaram muito da canção. Fizeram várias tentativas de gravá-la, sem conseguirem atingir o resultado esperado por George. Ele sentia que eles não estavam motivados a tocá-la nem se empenhando muito nas gravações.

George inicialmente queria obter o som de uma guitarra chorando, mas sem usar o pedal Wah. Passaram uma noite inteira buscando alcançar o som desejado, sem sucesso.

Um dia, quando pegara uma carona para Londres com seu amigo Eric Clapton, George teve a ideia de convidá-lo para participar da canção. Clapton inicialmente não aceitou, afirmando que ninguém de fora tocava nas canções dos Beatles. George afirmou que a canção era dele e que, desta forma, poderia convidar quem ele quisesse para gravar com ele no estúdio. Clapton aceitou, ainda que com receio.

Eric Clapton

Ao chegar ao estúdio, os outros Beatles mudaram totalmente de comportamento, se mostrando cordiais, animados, dispostos a fazer uma ótima gravação, apenas para não causar uma má impressão no convidado de George, que ficou surpreso com a nova e melhor atitude de seus colegas de banda com a presença de Clapton.

Clapton usou o equipamento de George, inclusive seus amplificadores e guitarra Gibson Les Paul. Os solos brilhantes que gravou elevaram a canção à um outro patamar, na qual essa se tornou uma das melhores faixas do álbum e, alguns afirmam, de toda a carreira de George Harrison.

A guitarra chorada de Clapton se tornou uma marca registrada da canção. Esse foi considerado um dos melhores solos de toda a carreira do então guitarrista do Cream, por sua emotividade, criatividade e inspiração. Até mesmo Paul declarou que o som de Clapton se encaixou bem com a canção.

 

Happiness is a Warm Gun

George Martin mostrou uma revista de armas americana chamada “American Rifleman” para John que tinha um artigo com esse título. John ficou espantado ao ler tal título pois, significa que você acabou de atirar em algo. Como podemos ficar felizes se acabamos de atirar em algo ou alguém? Tamanho absurdo atiçou a inspiração dele, que iniciou a composição da letra dessa canção e que acabou se tornando uma das melhores do novo álbum e a favorita de Paul nessa coleção. 


Revista American Rifleman


Musicalmente, ela foi formada por 3 ou 4 trechos inacabados que John tinha, mas que não conseguia concluir. John decidiu colocá-los lado a lado e formar uma nova canção, que tem passagens muito diferentes entre si, mas que combinam, criando um todo coeso e harmônico. Os quatro Beatles participaram da canção, trabalhando duramente para fazerem dela a melhor que fosse possível, pois todos eles gostavam da nova canção de John, que dizia que era uma das melhores que já havia composto.

Um dos vários pontos altos do “Álbum Branco”.


O artigo que inspirou John

 

Martha My Dear

Feita em homenagem ao primeiro cachorro que Paul teve em sua vida, uma English Sheepdog chamada Martha, nascida em 1965 e que aparece em várias fotos registradas na época do álbum “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e posteriormente. 


Martha e Paul


É uma canção de amor para sua cadela, que deixou John surpreso como Paul a amava, lhe dizendo que nunca havia visto ele agir daquela maneira.

Musicalmente, Paul estava tentando se aprimorar como pianista e começou a praticar uma técnica nova para ele no piano, a do contraponto, que ele aprendeu sozinho.

Uma das poucas canções de piano do álbum, que tem uma clara predominância de canções de violão ou guitarra elétrica. Originalmente eram duas canções separadas, “Martha My Dear” e “Silly Girl”, que foram juntadas em uma só, sem a participação de John nas gravações.

Martha morreu em 1981, na fazenda de Paul na Escócia.

I’m So Tired

Composta na Índia, a inspiração para essa canção surgiu de uma sensação real de cansaço de John. Como ele passava grande parte do dia em meditação e em palestras com o Maharishi, à noite ao se deitar John sofria de insônia e tinha muita dificuldade em dormir.

O fato de cigarros, álcool e drogas serem proibidas no centro de meditação também não ajudavam, pois John fazia uso regular de todos os itens proibidos. Tais restrições geraram frustração, ansiedade e más noites de sono. 



Para completar a situação, enquanto ficava tentando dormir, John pensava em Yoko, que havia conhecido pouco tempo antes de partir para Rishikesh, o que o deixava com saudades dela e com o desejo de retornar para vê-la novamente. A letra da canção foi toda baseada nessa situação em que vivia enquanto estava na Índia. Acabou se tornando uma das favoritas de seu autor.

 

Blackbird

Quando Paul apresentou sua nova canção os outros Beatles ficaram em silêncio. Inicialmente John tocaria violão e piano nessa canção, juntamente com Paul, mas esse plano acabou sendo abandonado. A pouca receptividade da nova peça provavelmente levou Paul a gravá-la sozinho.

Foi composta na Escócia e inspirada nas tensões raciais que havia na época, e infelizmente persistem até hoje, nos EUA. Paul quis criar uma letra de encorajamento aos movimentos negros, de otimismo e esperança, que dias melhores viriam e eles teriam seus direitos civis reconhecidos e respeitados. No entanto, não quis fazer isso de forma aberta e frontal, como seria mais o estilo de John, e preferiu trilhar um caminho mais sutil, escolhendo um pássaro negro como símbolo para a canção.



Uma das melhores e mais poéticas letras já compostas por Paul, na qual ele estimula o pássaro negro a aprender a voar, pois o momento havia chegado de se levantar. Musicalmente foi baseada na peça “Bourrée em Mi Menor” de J.S. Bach, que Paul ouvira em Liverpool durante sua adolescência e o havia marcado muito. Criou sua própria versão improvisada do que se lembrava e, como resultado, concluiu uma das suas maiores obras primas, uma canção perfeita e profundamente tocante.

 

Piggies

A segunda canção de George no álbum havia sido composta inicialmente em 1966, mas até então não havia sido concluída.

Quando visitou sua família em uma ocasião, reencontrou a canção esquecida anotada em uma folha de papel e resolveu terminá-la. Sua mãe, Louise, contribuiu com um verso, assim como seu primo John.

Musicalmente tem uma forte e importante contribuição do produtor Chris Thomas tocando harpsichord, que é o instrumento predominante na canção. Thomas também contribuiu tocando piano em duas outras faixas de George no álbum, em “Long, Long, Long” e “Savoy Truffle”.

Chris Thomas


Tematicamente foi inspirada em George Orwell e sua célebre obra “A Fazenda dos Animais”. Assim como no livro, na canção os “porcos” são criaturas que oprimem os outros animais, muitas vezes sendo associados aos policiais, deixando a sociedade acuada e amedrontada. O absurdo e paradoxo de tal situação fica mais claro na letra da canção quando os porcos saem para jantar com suas esposas, indo aos restaurantes para comer bacon. Uma canção que é uma crítica social bem-humorada.




Rocky Raccoon

Inicialmente intitulada “Rocky Sassoon”, essa é uma das canções mais divertidas e leves de todo o álbum. Paul a compôs na Índia, como uma sátira aos antigos filmes de cowboy que eram exibidos nos cinemas em sua infância.



O personagem principal, Rocky, vive no velho oeste e resolve se vingar de seu rival, Daniel, que havia “roubado” o amor de sua vida, Nancy. Ocorre um duelo, no qual Rocky é baleado e, em seguida atendido em seu quarto por um médico que tinha bafo de gin.

Embora seja uma ficção, um fruto da criativa mente de Paul, o personagem do médico é real, inspirado no médico que o atendeu quando ele sofreu um pequeno acidente com sua motoneta em 1966, quando ele caiu no chão, sofreu um corte no lábio superior e quebrou um pedaço de um de seus dentes. O médico que atendeu Paul tinha realmente bafo de gin e fez um trabalho de segunda categoria no lábio de Paul, deixando a marca de uma cicatriz, além do fato que ele apareceu com o dente quebrado em fotos da época e até mesmo no vídeo de Paperback Writer e Rain. Posteriormente, isso o levou a deixar crescer um bigode para encobrir a cicatriz, o que acabou sendo copiado pelos outros Beatles e marcou o novo visual da banda na fase “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”.

O piano “Honky Tonk” foi tocando magistralmente pelo produtor George Martin.

Paul após seu acidente


Don’t Pass Me By

Embora tenha sido composta em 1963, a primeira composição de Ringo nunca havia sido efetivamente concluída. Toda vez que os Beatles gravavam um novo álbum, o baterista queria inclui-la, mas isso não acontecia pelo fato dela não estar pronta.

Finalmente em 1968 a canção foi concluída e Ringo quis novamente que o grupo a gravasse para o novo álbum. Seu título original era “This is Some Friendly”.



Inicialmente Ringo não queria cantá-la, tendo oferecido a canção para Paul. No entanto, na gravação final o próprio compositor a gravou. Não é uma canção ótima, apenas tendo sido incluída para agradar aos fãs de Ringo e para deixá-lo menos infeliz durante todo o processo de gravação do novo álbum, que culminara com seu abandono temporário da posição de baterista dos Beatles, como relatado anteriormente.

 

Why Don’t We Do it in the Road?

Durante sua estadia na Índia, Paul presenciou uma cena que o marcou: viu dois macacos tendo uma relação sexual em meio a uma estrada, de forma muito rápida e espontânea. Ficou pensando como isso era diferente em meio aos seres humanos, no qual o sexo era visto de uma forma muito mais complexa, com muitas regras e padrões de comportamento a serem seguidos. Essa foi a inspiração para a brevíssima letra da canção, na qual apenas ele e Ringo tocam.

O vocal de Paul é incrível, com uma interpretação fortemente blueseira, evocando os grandes mestres negros americanos. Em uma passagem, faz até mesmo um falsetto à James Brown, mostrando toda a sua versatilidade e talento como um brilhante cantor.



Paul disse que ouviu John cantando a canção um tempo depois. Posteriormente John confirmou que lamentava não ter sido convidado a participar dessa canção, da qual ele gostava muito. Declarou também que não podia falar por George, mas que ele sempre ficava magoado quando Paul gravava alguma canção sem envolver os outros membros da banda.

Foi a penúltima faixa a ser gravada para o álbum.

 

I Will

A canção foi composta na Índia, mas a letra não. Uma das mais belas e delicadas obras de Paul, em grande contraste musical com a faixa anterior, que é muito mais pesada. Tematicamente, o compositor declara todo seu amor para sua nova companheira, Linda, que havia conhecido há pouco tempo, e faz promessas que pretende cumprir para o seu novo relacionamento.



É uma das melodias favoritas de Paul das canções de sua autoria. Um fato surpreendente é que o próprio Paul afirmou que ela foi inspirada pela bossa nova brasileira, particularmente pela canção “A Garota de Ipanema”, a qual ele ouvia bastante durante os anos 1960.

 

Julia

Uma faixa singular em vários aspectos. Foi a última a ser registrada para o novo álbum. Além disso, é a única faixa de toda a carreira dos Beatles na qual John tocou e gravou totalmente sozinho.

Foi inspirada por um poema do libanês Kahlil Gibran em sua obra “Sand and Foam”. Na belíssima canção, John usa a técnica aprendida com Donovan na Índia ao tocar seu violão de forma delicada e precisa.

A letra faz uma homenagem a sua querida mãe, Julia, falecida de forma trágica ao ser atropelada logo após ter visitado seu filho, que tinha apenas 17 anos. John estava finalmente conseguindo se aproximar dela, após ter sido abandonado por seus pais e sido criado por sua tia Mimi. 

John e Julia

Na faixa, John mostra não apenas todo o amor que sentia por sua mãe, mas também pela nova mulher que havia surgido em sua vida e que o marcaria profundamente: Yoko Ono, cujo nome em japonês significa “criança do mar”, uma das expressões que John usa ao longo da letra dessa que é uma carinhosa e tocante homenagem à mulher que lhe deu a vida.


Birthday

No dia em que essa faixa foi criada, os Beatles foram à casa de Paul, próxima ao estúdio de Abbey Road, para assistirem na TV o filme “The Girl Can’t Help It”, estrelado por Little Richard, ídolo de Paul, além de outros grandes nomes do rock. Após a sessão, ficaram tão entusiasmados que, ao regressaram ao estúdio, criaram na hora essa faixa, que acabou se tornando uma dos melhores rocks de todo o álbum.

Inicialmente foi composta por Paul, com contribuições posteriores de John. Foi a única faixa genuinamente de autoria de Lennon & McCartney em todo o álbum. Um detalhe curioso foi que George usou uma luva nas sessões para evitar ficar com mais bolhas nos dedos, enquanto fazia overdubs de percussão.

Uma canção que se tornou obrigatório na celebração de aniversários de todos os fãs dos Beatles no mundo todo.

Lennon & McCartney - a maior parceria musical de todos os tempos


Yer Blues

Mais uma faixa composta na Índia. John estava se sentindo muito deprimido com o final de seu casamento com Cynthia e pela distância de seu novo amor, Yoko. A letra da canção expressa seus sentimentos, que contrastam enormemente com a atmosfera de paz e harmonia que ele esperava alcançar em seu curso de meditação transcendental com o Maharishi.

Na hora de gravar a canção, a banda teve a ideia de fazer o registro em uma pequena sala do estúdio, na qual todos os quatro ficaram literalmente quase colados uns aos outros, tocando seus instrumentos em alto volume. Não podiam sequer se mexer sem esbarrar no outro que estava ao seu lado. Queriam captar uma atmosfera mais vibrante na gravação, como se estivessem fazendo uma apresentação ao vivo, no que tiveram êxito.

Posteriormente foi apresentada ao vivo duas vezes por John. Foi tocada no especial Rock and Roll Circus, dos Rolling Stones, no qual John foi acompanhado por Eric Clapton na guitarra, Keith Richards no baixo e Mitch Mitchell (do Jimi Hendrix Experience) na bateria. A segunda apresentação ocorreu em Toronto, no Canadá, novamente com Clapton na guitarra, Klaus Voorman no baixo e Alan White (futuro membro do Yes) na bateria.

É uma das faixas favoritas de Ringo no álbum.

Rock and Roll Circus


Mother Nature’s Son

Enquanto estavam fazendo seu curso de meditação transcendental em Rishikesh, os Beatles assistiram muitas palestras do Maharishi. Uma delas em particular, sobre a natureza e os animais, causou grande impacto em Paul e John, os levando a compor cada um sua própria canção sobre os ensinamentos abordados na ocasião.

John escreveu uma faixa intitulada “Child of Nature”, que chegou a ter uma demo gravada antes das gravações do novo álbum, mas que nunca chegou a ser oficialmente gravada para inclusão no Álbum Branco. Posteriormente, John manteve a melodia original, criando uma nova letra para a canção que acabou se tornando um de seus maiores clássicos em sua carreira solo, a faixa “Jealous Guy”, do álbum “Imagine”.

Já a peça de Paul acabou sendo incluída, tendo também sido influenciada pela faixa “Nature Boy”, de Nat King Cole. A canção criada por Paul se chamava “Mother Nature’s Son”, e foi uma das mais belas e delicadas faixas criadas por ele durante sua carreira com os Beatles, sendo posteriormente regravada por vários artistas, entre eles, o renomado cantor americano John Denver.



Everybody’s Got Something to Hide Except For Me and My Monkey

Mais uma faixa de John, composta devido ao fato dele estar apaixonado por Yoko, mas, segundo seus relatos, todos à volta deles pareciam estar paranoicos e tensos. Ele afirmava que queria viver seu novo relacionamento de forma aberta para o mundo, não tendo nada a esconder.

O Maharishi serviu de inspiração para parte da letra, pois costumava dizer repetidamente “Come on is such a joy”. Já Paul acredita que o “Monkey” mencionado na letra por John seja na realidade uma referência ao seu vício em heroína na época.

A gravação da faixa foi muito turbulenta no estúdio. John e George tocaram suas guitarras em volume tão alto que Paul desistiu de tentar competir com eles e foi tocar um sino ao lado de Ringo. O relacionamento entre Paul e John estava ficando cada vez mais abalado nessa fase, especialmente após a chegada de Yoko e pelo fato de John ter quebrado um código de conduta não escrito entre os membros da banda, no qual as esposas e namoradas dos membros da banda não deveriam participar das gravações dos Beatles. John passou a levar Yoko para todas as sessões, fato esse que criou um grande e crescente atrito entre ele e os outros Beatles, além dos engenheiros de som e produtores, que também sentiam o clima nas sessões de gravação ficando cada vez mais pesado.

Embora John não desistisse de ter Yoko ao seu lado, Paul tentava manter o seu conhecido profissionalismo e seriedade, não importando o quão deteriorado estivesse o seu relacionamento com John. Após a difícil sessão de gravação, Paul levou uma garrafa de whisky de presente para os engenheiros de som que estavam trabalhando com os Beatles, como um agradecimento por terem aguentado tanta tensão no estúdio e terem conseguido concluir seu trabalho de forma louvável.



Sexy Sadie

A última canção composta por John na Índia surgiu quando começaram a circular rumores, que nunca foram comprovados, de que o Maharishi teria assediado uma das participantes do seu curso de meditação transcendental. Ao tomar conhecimento do boato, John ficou furioso, pois já estava com alguma suspeita de que havia algo de errado com o novo “guru” dos Beatles. Após tal incidente, decidiu retornar ao Reino Unido com sua esposa Cynthia. George e sua esposa Patti também optaram por deixar a Índia e o Maharishi para trás.

Na realidade, John tinha um motivo oculto adicional para querer regressar ao seu país: Yoko, que o enviava cartas diariamente e estava à sua espera.

Ao ver os últimos Beatles partindo (John e George), o Maharishi ficou atônito, sem entender o que estava acontecendo. Foi então que perguntou a John porque eles estavam indo embora e obteve a seguinte resposta: “Se você é tão cósmico como diz ser, já deve saber a resposta”.

Originalmente a canção se chamava “Maharishi”, mas George sugeriu que John mudasse o título para “Sexy Sadie” para não ter problemas legais. Desta forma, o personagem central da canção passou a ser uma mulher que enganou a todos, desapontando profundamente aqueles que acreditavam nela.

Em 1997 a banda britânica Radiohead gravou uma canção fortemente influenciada por “Sexy Sadie” em seu álbum clássico, “OK Computer”. A faixa em questão se chama “Karma Police”, na qual são facilmente notados elementos da faixa do Álbum Branco.



Helter Skelter

Paul leu em uma revista de música uma entrevista com o guitarrista e compositor principal do The Who, Pete Townsend, na qual ele afirmava que sua banda havia gravado o rock mais pesado, barulhento e sujo que qualquer um pudesse imaginar, e que esse seria o novo lançamento da banda. Paul ficou impressionado com tal relato e vislumbrou como seria tal canção, que posteriormente se soube que era “I Can See For Miles”, que não é nem uma sombra do relato do que Townsend havia feito.

Paul e Pete Townsend


Paul decidiu criar tal canção inspirada no relato do guitarrista. Inicialmente a faixa era lenta e arrastada, sempre muito longa e com muitos improvisos dos Beatles. Uma versão chegou a durar 27 minutos, a mais longa gravação de toda a história da banda.

Posteriormente, a canção foi se tornando cada vez mais pesada, com a bateria de Ringo soando em alto volume, o vocal rasgado e irado de Paul, juntamente com as guitarras super distorcidas de John e George. Uma verdadeira explosão sonora que muitos consideram a primeira canção de Heavy Metal da história. Realmente um marco no mundo do rock e da carreira dos Beatles

Infelizmente, um psicopata americano chamado Charles Manson, líder de uma seita com vários discípulos, entendeu que o Álbum Branco dos Beatles era repleto de mensagens codificadas para ele e que, essa faixa em particular, o guiava a assassinar muitas pessoas. Infelizmente, sua loucura era tamanha que uma tragédia ocorreu, com Manson e seus liderados matando a sangue frio sete pessoas, entre elas a famosa atriz Sharon Tate, então esposa do diretor de cinema Roman Polanski. Posteriormente, Manson foi condenado à prisão perpétua.

Charles Manson


Durante décadas a brilhante canção ficou marcada pela trágica perda de tantas vidas inocentes e Paul nunca quis tocá-la ao vivo por tal razão. Em 1987 e 1988, o U2 começou a fazer várias apresentações ao vivo, nas quais cantavam e tocavam tal canção. Em uma ocasião, registrada no álbum e filme “Rattle and Hum” antes da banda começar a tocar “Helter Skelter”, Bono declara: “Charles Manson roubou essa canção dos Beatles. Nós estamos roubando ela de volta”, antes de iniciaram uma interpretação incendiária da lendária faixa do Álbum Branco.

A partir dos anos 2000, Paul finalmente decidiu executá-la ao vivo pela primeira vez, e a canção foi extremamente bem recebida pelos fãs, pois sempre foi um dos melhores rocks composto por Paul. Desde então, a canção nunca mais deixou de ser executada nos shows que McCartney realiza por todo o mundo.


Long, Long, Long

A terceira faixa de George no álbum aparentemente é uma canção de amor. No entanto, posteriormente foi revelado que ela era realmente uma canção de amor, só que não entre um homem e uma mulher, mas sim para Deus.

Foi inspirada pela faixa Sad Eyed Lady of the Lowlands de Bob Dylan, de que George sempre foi um grande fã e admirador, vindo futuramente a compor com ele e até mesmo a formar uma banda, os “Travelling Wilburies”.

Na ocasião em que foi feita a gravação, havia uma garrafa de vinho em cima da caixa falante Leslie. Quando Paul tocou uma nota e a segurou a garrafa começou a vibrar. Eles decidiram deixar tal efeito na gravação final, que pode ser ouvida claramente.

Foi a última canção de George a ser composta para o álbum.



Revolution 1

A primeira canção a ser gravada para o álbum. John queria fazer um comentário sobre todas os acontecimentos da época, pois o mundo estava vivendo um período caótico, com levantes estudantis na França e Reino Unido, tensões raciais nos EUA, a invasão da Tchecoslováquia pela União Soviética, a severa política chinesa de Mao Tsé Tung e tantos outros acontecimentos.

John sentia que o mundo estava passando uma revolução e queria deixar claro sua posição. No entanto, até o último instante não conseguia se decidir se era ou não a favor da destruição, chegando a se declarar a favor e contra ao mesmo tempo na gravação. Posteriormente, chegou à conclusão que só poderia ser contra qualquer tipo de violência, da qual ele se recusaria a participar. 

John registrou o vocal deitado no chão do estúdio, pois pensava que precisava se sentir muito relaxado para conseguir o efeito que queria na voz. No início da gravação podemos ouvir a voz do Geoff Emerick que fala “Take 2” no início da faixa. Foi um faixa gravada basicamente com instrumentos acústicos.

John queria que esse fosse o novo single dos Beatles. No entanto, Paul e George recusaram tal ideia, acreditando que a canção não teria potencial para ser um sucesso, por ter um andamento muito lento. Mais tarde, John fez uma nova versão com os Beatles, com um andamento muito mais rápido e usando guitarras pesadas e distorcidas. Finalmente a canção acabou entrando em um single, mas não no lado A, como esperava John, pois Paul havia composto “Hey Jude”, que acabou ocupando a posição principal e se tornando o maior sucesso da carreira dos Beatles.



Honey Pie

Paul sempre foi um grande apaixonado pela música dos anos 1920 e pelo estilo Vaudeville. Para esse álbum, quis compor uma faixa com tal inspiração, lembrando as canções que ouvia seu pai tocar no piano e no rádio de sua residência.

Criou a história de um antigo amor por uma atriz que imigrou para os EUA e se tornou uma atriz de cinema famosa, da qual ele tinha receio em encontrar devido ao seu enorme sucesso. Uma verdadeira canção para um amor que não voltará mais. Uma faixa tipicamente no estilo McCartney.

O produtor George Martin fez um arranjo orquestral belíssimo, trazendo toda a atmosfera dos anos 20 para a nova canção de Paul. Além disso, há um toque especial: Paul e George Martin gravaram um verso (Now she's hit the big time) com um fundo de chiados e sonoridade típica dos antigos LPs de 78 rpm. Simplesmente genial!

George declarou que “John fez um solo de guitarra brilhante na faixa, lembrando o estilo de Django Reinhardt. Foi um daqueles solos quando você fecha os olhos e toca todas as notas certas. Parece um solo jazzístico.” Apesar de sua ótima participação, John declarava detestar essa canção.




 

Savoy Truffle

George compôs essa faixa inspirado pelo vício de seu amigo Eric Clapton por chocolates. O guitarrista os comia incessantemente, sendo incapaz de parar de comer bombons até que a caixa estivesse vazia.



A marca favorita dos chocolates que Clapton comia era a Mackintosh, que vendia caixas com sabores variados, muitos dos quais foram usados por George na letra da canção. Outros sabores foram inventados, por questões fonéticas, pois soavam bem e rimavam com os outros sabores.

George Martin fez um poderoso arranjo de metais para a faixa, que foram gravados com um volume saturado, dando um efeito levemente distorcido, que era o que George queria para sua composição.

Caixa de Bombons da Mackintosh


Cry Baby Cry

Essa canção de John foi inspirada em um anúncio de revista que dizia “Cry Baby Cry, Make your mother Buy”. Tem uma temática que lembra as obras infantis que ele tanto gostava de ler quando vivia em Liverpool, tais como “Alice no País das Maravilhas”. Parece saída de uma história de faz de conta, com reis e rainhas de lugares distantes e as aventuras ocorridas em seus reinos.

Musicalmente é uma bela faixa, muito bem cantada e interpretada por John, com participação de todos os outros Beatles.

No final de sua vida, John pensava que essa canção era uma porcaria. Quando lhe perguntaram quem a havia composto, ele respondeu: “Não fui eu”.

Logo após essa faixa, há um pequeno trecho de uma outra, cantada por Paul, chamada “Can You Take Me Back?”. No álbum original ela dura apenas alguns segundos, mas na edição comemorativa de 50 anos do Álbum Branco, finalmente foi lançada a versão completa.



Revolution 9

A faixa inicialmente fazia parte da canção Revolution 1, que durava mais de 10 minutos. Foi decidido que as duas partes deveriam ser separadas e serem abordadas de formas diferentes. A parte final, que acabou se tornando “Revolution 9” era muito mais experimental do que a primeira parte, que tinha um formato mais tradicional.

Apenas John e George participaram dessa faixa, lendo textos ou falando o que lhes vinha à cabeça. Embora tenha contribuído, George não sentia nenhum entusiasmo pela faixa.

Alguns pensam que essa foi a primeira composição experimental da banda. No entanto, Paul sempre foi o pioneiro nesse estilo musical entre os Beatles e já havia composto uma outra faixa, intitulada “Carnival of Light”, em 1967 que nunca foi oficialmente lançada, tendo sido tocada apenas uma vez em um evento.

John declarou que passou mais tempo trabalhando na faixa do que em metade de todas as suas outras composições. Afirmava também que essa seria a música do futuro, pois não seria necessário nem mesmo saber tocar um instrumento para criá-la. Quanto ao título, explicou que o número 9 o seguia por toda sua vida, sendo considerado por ele um número mágico.

Poster incluído com o LP original

Seu entusiasmo por ela era tão grande que queria que fosse o próximo single dos Beatles, mas foi impedido de fazer isso por Paul e George Martin, que tentaram inclusive excluir essa faixa do álbum até o final, pois consideravam que não representava os Beatles, nem sendo mesmo uma canção, apenas uma colagem de sons. Ambos provaram que estavam corretos, pois até os dias de hoje é considerada pela grande maioria dos fãs da banda como a pior faixa de toda a carreira da banda, sendo a menos popular em todas as enquetes realizadas até hoje.

A gravação inclui trechos de Symphonic Etudes op.13, de Schumann e da Sétima Sinfonia de Sibelius. Inspirada em John Cage e Stockhausen. Essa foi mais uma faixa que os integrantes do Radiohead devem ter ouvido com muita atenção, pois há vários elementos semelhantes à essa gravação existente em várias faixas da inovadora banda inglesa de Oxford.

George, Ringo, Paul e George Martin não gostaram da faixa, sendo que George chegou a declarar: “Não é particularmente uma faixa dos Beatles, mas ela funcionou bastante bem dentro do contexto de todas aquelas canções diferentes. Eu acho que ela é muito pesada de ser ouvida. Na realidade, eu não a ouço.”

 

Good Night

A faixa final do álbum foi composta por John para seu filho Julian Lennon. Foi gravada inicialmente uma demo na qual ele próprio cantava a canção. Infelizmente, tal registro foi perdido, pois quem a ouviu disse que sua interpretação foi incrivelmente melhor que a de Ringo, que acabou cantando a versão final incluída no “Álbum Branco”.

O arranjo original era muito simples, com apenas três guitarras e o vocal de John. Posteriormente, ele decidiu que não a cantaria e a ofereceu para Ringo gravá-la e pediu que George Martin criasse um arranjo hollywoodiano grandioso e exagerado para sua nova canção.

Paul acredita que John deu essa canção para Ringo gravar pois ela poderia comprometer sua imagem como vocalista de rock.

E assim termina a coleção de 30 novas canções dos Beatles, coletivamente conhecida como “Álbum Branco”. Definitivamente a melhor e mais variada coleção de faixas já criadas e lançadas por qualquer artista em um só volume.



OUTRAS CANÇÕES GRAVADAS, MAS LANÇADAS SEPARADAMENTE DO ÁLBUM

The Inner Light

George foi à Índia para registrar algumas faixas com músicos indianos que seriam incluídas na trilha sonora do filme “Wonderwall”. Como acabou sobrando tempo nas sessões que precisava fazer, ele acabou gravando várias ragas em Bombaim (atual Mumbai) para uso futuro em trabalhos dos Beatles. Infelizmente, a única que acabou sendo efetivamente lançada foi essa bela canção, chamada “The Inner Light”.

A letra dela foi basicamente extraída da tradução de um poema de Lao Tsé, do Tao Te Ching, o livro sagrado Taoísta. George teve acesso a tal poema através de um presente do estudioso Juan Mascaro, que lhe deu o livro que ele próprio havia traduzido, com uma sugestão que George criasse um acompanhamento musical para um determinado trecho da obra que ele havia destacado para a leitura do Beatle.

O resultado final ficou tão belo que encantou até mesmo Paul, pois ele sempre foi um grande apreciador de belas melodias. George não queria gravar o vocal da faixa, pois não se sentia confiante que poderia fazer jus a canção. Paul insistiu, lhe dizendo que ele tinha que tentar e não deveria se preocupar, pois o resultado ficaria bom. Foi exatamente o que aconteceu. Devido ao apoio de Paul, foi a primeira canção de George escolhida para fazer parte de um single dos Beatles, como lado B de Lady Madonna. 

Gravação de "The Inner Light" na Índia


Lady Madonna

Um dia Paul estava lendo um exemplar da revista National Geographic quando se deparou com uma foto de uma mulher africana com um bebê. Embaixo da foto havia a legenda “Mountain Madonna”. Tal imagem lhe impactou profundamente. Ele afirmou que sentiu uma forte conexão na imagem entre a mãe e seu filho. Imediatamente teve a ideia de trocar a legenda para “Lady Madonna” e surgiu a inspiração para a canção.

A letra é uma grande homenagem às mulheres e ao esforço que fazem para sustentarem suas famílias e proverem para seus filhos, muitas vezes passando por privações para conseguirem manter suas famílias.

Musicalmente, foi inspirada em “Bad Penny Blues”, um tema de jazz tradicional da Humphrey Lyttleton band. Inicialmente os Beatles queriam gravar a canção inspirada no arranjo original, com um andamento bem mais lento do que o que acabou sendo usado. Ringo chegou a fazer uma gravação tocando com escovas de bateria. Posteriormente, Paul decidiu usar seu tom de voz inspirado em Elvis para cantá-la.

O arranjo da canção incluiu Paul, George e John imitando os sons dos metais, soprando entre suas mãos. Para deixar a faixa ainda mais especial, foi recrutado o grande saxofonista Ronnie Scott para um solo. Um microfone antigo foi usado para captar o som do piano, a fim de simular uma gravação de décadas atrás.

Para a alegria de Paul, posteriormente dois de seus ídolos, Fats Domino e Elvis Presley, gravaram versões dessa canção. A de Fats Domino foi oficialmente lançada. A de Elvis apenas foi disponibilizada em vídeo, após a sua morte, mostrando o grande ícone a ensaiando em estúdio com sua banda.

Mountain Madonna, foto da revista National Geographic





Hey Bulldog

Os Beatles precisavam fornecer mais uma canção original para o filme de animação “Yellow Submarine”, que estava sendo preparado para seu lançamento. John criou uma composição de última hora, que se chamava “Hey Bullfrog”.

Yoko participou pela primeira vez de uma sessão de gravação dos Beatles, assistindo eles serem filmados enquanto gravavam a nova faixa. No final da gravação, Paul começou a latir, imitando um cachorro, enquanto John cantava. Isso o fez rir e descontraiu o ambiente da gravação. John gostou tanto da surpresa que decidiu trocar o título da canção para “Hey Bulldog” e fazer a alteração necessária em sua letra. Um boa faixa roqueira, com uma ótima atuação de todos os membros da banda, com riff de guitarra e piano muito marcante, acompanhados por uma pulsante bateria de Ringo e uma intensa linha de baixo de Paul. 



Across the Universe

Uma das melhores letras de John. Ela surgiu na mente dele enquanto ele estava tentando dormir. Contou que não conseguia tirá-la da cabeça e precisou descer e anotar tudo antes de voltar a dormir. John considera que talvez seja a melhor letra que compôs em toda sua carreira, pois ela é um poema que pode ser lido sem acompanhamento musical, sem perder nem um pouco de sua qualidade ou encanto. Uma letra e canção verdadeiramente atemporal.

Um detalhe muito especial e motivo de orgulho para nós brasileiros, é que quando estavam gravando a canção os Beatles notaram de última hora que precisavam de vocais femininos para complementar o arranjo que estavam criando. Como não havia tempo hábil de contratarem cantoras profissionais, Paul foi para o lado de fora do estúdio e perguntou se alguma das meninas que ficavam sempre aguardando a entrada e saída dos Beatles, conhecidas como “Apple Scruffs” conseguiam segurar uma nota em tom alto. Duas delas disseram que conseguiam. Desta forma, foram convidadas a entrar e participar da gravação com os Beatles a carioca Lizzie Bravo e a londrina Gayleen Pease. Elas foram as únicas mulheres que tiveram o privilégio de cantaram juntos com os Beatles no mesmo microfone que John e Paul. Sem dúvida, a realização de um sonho considerado praticamente impossível e um marco na história da banda, reconhecido até mesmo pelos Beatles, pela menção do nome de ambas no lançamento comemorativo de 50 anos do Álbum Branco.

Infelizmente John não ficou totalmente contente com a gravação, pois afirmou que os Beatles não estavam levando a canção a sério, particularmente Paul, que estaria sabotando sua gravação. Desta forma, acabou sendo lançada em um álbum beneficente para o “World Wildlife Fund”. Posteriormente foi relançada no álbum Let It Be, em uma versão diferente, com um andamento mais lento, sem efeitos sonoros de pássaros e backing vocals.

Uma obra prima da carreira de John e dos Beatles.

A inglesa Gayleen Pease e a brasileira Lizzie Bravo


Hey Jude

Um dia Paul foi visitar Cynthia e Julian, respectivamente a ex-esposa e filho de John. Eles estavam passando por um período muito difícil, pois John havia acabado de deixá-los para viver com Yoko Ono.

Paul conhecia Cynthia desde os primórdios dos Beatles e tinham uma longa história de amizade. Além disso, como Paul não tinha filhos ainda na época, tratava Julian como um tio muito carinhoso e presente, tendo um relacionamento mais próximo dele do que até mesmo o próprio pai, John.

Paul e Julian


Pensando em todos os problemas que Julian estava enfrentando e querendo motivá-lo a ter confiança e superar os obstáculos que estavam surgindo em sua vida, Paul teve a inspiração para compor uma canção chamada “Hey Jules”, que era o apelido do menino. Depois ele chegou à conclusão que “Hey Jude” soaria melhor, mudando o título da canção.

Ao encontrar Cynthia e Julian, Paul lhes mostrou em primeira mão a canção que havia composto para o menino de 5 anos de idade. Ambos ficaram maravilhados com a surpresa e carinho de Paul com eles.

Posteriormente, Paul apresentou a canção a John, que a ouviu atentamente e ficou impressionando com a criação de seu parceiro, declarando que essa era uma de suas obras primas, provavelmente sua melhor criação. Inicialmente John pensou que a canção fosse sobre ele e Yoko, até que Paul lhe explicasse que havia escrito a mesma para seu filho Julian. John declarou que essa poderia ser considerada uma canção universal de solidariedade e apoio para qualquer pessoa que estava passando por dificuldades.

A gravação teve seu momento de tensão quando Paul pediu para George que não repetisse na guitarra o seu fraseado no final de cada verso. George ficou muito aborrecido, mas Paul não desistiu de dirigir a gravação, pois tinha a noção exata de como queria que soasse o arranjo de sua nova canção.

Paul fez duas estreias da canção em lugares inesperados. A primeira foi em um pequeno pub no vilarejo de Harrold, em Yorkshire, onde tocou a canção ao vivo no piano disponível no local para todos os presentes, que adoraram a oportunidade de ouvirem um Beatle tocando ao vivo uma canção inédita. A segunda estreia foi a da gravação dos Beatles, no Vesuvio Club, de propriedade dos Rolling Stones, exatamente na data do aniversário de Mick Jagger e em que estava sendo realizada a prévia do álbum Beggar´s Banquet.

John declarou que Paul fez uma jogada de marketing brilhante, roubando o foco das atenções dos Stones para o lançamento dos Beatles. Por outro lado, John não gostou de ouvir as canções em público, dizendo que elas ainda não estavam devidamente finalizadas.

Paul estava tão entusiasmado com sua criação que a mostrou para absolutamente todas as pessoas com as quais ele encontrava e se dispunham a ouvi-la. Não foi sem razão, pois logo após o seu lançamento, acabou se tornando o single e canção de maior sucesso de toda a carreira da banda, sendo considerado até os dias de hoje como um verdadeiro hino do rock internacional.

Julian Lennon declarou que Paul foi muito mais presente que John durante sua infância, sempre o visitando e lhe dando muita atenção. Até hoje Paul lhe envia anualmente cartões de Natal e aniversário, o que ele considera extraordinário, além da amizade entre eles que permanece até os dias de hoje.




Paul de mãos dadas com Julian, com seu pai John atrás


 

Revolution

1968 foi um ano muito turbulento no mundo, com os vários levantes estudantis realizados em Londres e Paris, além muitos outros acontecimentos de grande relevância política e cultural. Havia realmente uma revolução em curso no mundo, ainda que não de forma explícita, mas com uma grande mudança nos padrões de comportamento e das sociedades.

John queria deixar registrada sua opinião e visão sobre o assunto. Para isso, compôs essa faixa, que inicialmente foi gravada para inclusão o no Álbum Branco, em uma versão quase totalmente acústica e com andamento muito lento. Queria lançá-la como single, mas teve forte oposição de Paul e George, pois ela era muito arrastada. A fim de tentar lançá-la como single, resolveu regravá-la, com a participação no piano do renomado Nicky Hopkins, agora apenas com instrumentos elétricos, e com um arranjo muito mais pesado e um andamento bem mais rápido, compatível com o tema da canção. Ela seria o lado A do single até que Paul apareceu com “Hey Jude”, que o próprio John reconheceu ser muito superior à sua composição, que acabou sendo relegada ao lado B do single “Hey Jude/Revolution”, que se tornou sendo o primeiro single no novo selo dos Beatles, “Apple”, e que teve um sucesso de vendas extraordinário.

Gravação do vídeo para Revolution




CANÇÕES COMPOSTAS, MAS NÃO INCLUÍDAS NO ÁLBUM

Sour Milk Sea

Canção de George que foi vetada por John. Posteriormente foi gravada por George, Ringo, Paul, Clapton, Nicky Hopkins e Jackie Lomax.

Junk

Originalmente chamada Jubilee, acabou sendo incluída no primeiro álbum solo de Paul, intitulado “McCartney”.

Child of Nature

Inspirada pela mesma palestra do Maharishi que levou Paul a compor Mother Nature’s Son, foi posteriormente incluída no álbum “Imagine”, de John.



Circles

Embora uma demo tenha sido gravada nas famosa sessões de Esher, a canção de George nunca foi oficialmente gravada pelos Beatles, vindo a ser lançada somente em 1982 no álbum “Gone Troppo”.

Mean Mr. Mustard e Polythene Pam

Ambas as faixas foram compostas por John nessa mesma época, mas como eram canções inacabadas acabaram sendo deixadas de lado, sendo finalmente utilizadas no último álbum gravado pelos Beatles, “Abbey Road”, na lendária medley que ocupa a maior parte do lado B do LP original.

Not Guilty

Uma bela canção de George excluída do álbum no último instante. Foram feitos mais de 100 takes, mas nenhum deles teria ficado do agrado da banda. Acabou sendo cortada da seleção final por John e Paul. Só foi lançada em 1979 no álbum “George Harrison”.

Look at me

Uma bela canção de John que só foi lançada em 1970, no álbum “Plastic Ono Band”.

What´s The New Mary Jane?

Escrita por John e Alex Mardas, o “Magic Alex”, guru eletrônico de John. Uma canção muito repetitiva e desinteressante. Felizmente acabou cortada do álbum no último instante, pois Paul e George Martin conseguiram convencer John de que não haveria espaço para a ela no álbum.



Spiritual Regeneration/Happy Birthday Mike Love

Um improviso gravado por Paul na Índia em homenagem ao aniversário de seu amigo Mike Love, dos Beach Boys.

Etcetera

Uma bela balada composta por Paul, que a gravou em estúdio, levando para sua casa o único registro feito. Desde então, nunca mais foi ouvida.

Além das faixas acima, Paul também gravou uma demo de “The Long and Winding Road”, sua primeira versão, e deu a única gravação para o assistente dos Beatles, Alistair Taylor, como presente para sua esposa Lesley, destruindo a fita master em seguida. Posteriormente, a canção foi oficialmente gravada em estúdio para inclusão no álbum “Let It Be”.

Uma outra raridade foi uma breve medley que Paul gravou, cantando “Lady Madonna” e “While My Guitar Gently Weeps”.


O LEGADO DE “THE WHITE ALBUM”

Após serem concluídas as gravações, ocorridas durante 5 meses, foi realizada a mais longa sessão em estúdio da carreira dos Beatles, durante 24 horas, nas quais John, Paul e George Martin selecionaram a sequência das faixas, fizeram as transições entre elas e finalizaram a masterização do novo álbum, que apresentava 95 minutos entre 30 nova canções em dois LPs.

Na sequência estabelecida, os rocks mais pesados ficaram no lado C; as 3 faixas com títulos de animais foram posicionadas juntas no lado B (Blackbird, Piggies e Rocky Raccoon); cada canção de George foi colocada em um lado dos álbuns; cada compositor não podia ter mais do que 2 canções seguidas e cada lado do vinil deveria ter entre 20 e 25 minutos. Além disso, Primeiro álbum que foi originalmente mixado em estéreo e mono.

Segundo Richard Hamilton, que foi responsável pelo design da capa, foi o Paul que fez o pedido inicial de que a capa fosse totalmente oposta à de Sgt Pepper. Inicialmente a capa seria totalmente branca com a mancha de uma xícara de café que havia sido colocada sobre o álbum. A ideia foi descartada pois considerada irreverente demais.





Os Beatles queriam fazer algo original, então decidiram que a primeira tiragem seria numerada como obras de arte. Ringo ficou com o exemplar número 1. Os dois primeiros milhões de exemplares foram numerados.

Há muitos fatores que fazem com que esse álbum seja completamente diferente dos outros gravados pela banda. Um deles é o fato de que apenas 17 das 30 canções do álbum têm a participação dos 4 Beatles juntos. As outras faixas foram gravadas individualmente, em duplas ou trios. Para termos a noção exata de como foram gravadas as canções, eu as dividi em quatro grupos distintos:

Gravações:

Solo (4)– Wild Honey Pie (Paul) / Blackbird (Paul) / Julia (John) / Mother Nature’s Son (Paul)

Dupla (3)– Don’t Pass Me By (Ringo & Paul) / Why Don´t We Do It in The Road? (Paul & Ringo) / Revolution 9 (John & George)

Trio (6) – Back in the USSR (sem Ringo) / Dear Prudence (sem Ringo) / Martha My Dear (sem John) / I Will (sem George) / Long, Long, Long (sem John) / Savoy Truffle (sem John)

Quarteto (17)– Glass Onion / Ob-la-di Ob-la-da / The Continuing Story of Bungalow Bill / While My Guitar Gently Weeps / Happiness is a Warm Gun / I’m So Tired / Piggies / Rocky Raccoon / Birthday / Yer Blues / Everybody´s Trying to Hide Except For Me and My Monkey / Sexy Sadie / Helter Skelter / Revolution 1 / Honey Pie / Cry Baby Cry / Good Night

Ao analisarmos as informações acima, podemos perceber que o Beatle menos participativo nas gravações foi John, com apenas 22 participações. Já George e Ringo empataram em segundo lugar com 23 participações cada. De longe o Beatle mais ativo foi Paul, com surpreendentes 28 participações. Ele atuou em todas as faixas, exceto “Revolution 9” e “Julia”. Essa análise evidencia o predomínio de Paul na segunda fase da carreira dos Beatles, enquanto John predominou na primeira.



Além disso, ficou claro que tanto George quanto John contaram muito mais com a participação dos outros Beatles nas gravações de suas canções do que Paul e Ringo. Nas duas canções em que Ringo canta no álbum, em uma delas apenas Paul o acompanha. Na outra, apenas John. Já nas canções de Paul, três delas foram gravadas de forma solo, enquanto duas outras em dupla com Ringo e três outras em formato trio, estando John ou George ausentes.

Outro fato importante foi que o Álbum Branco pode ser considerado como o início do fim dos Beatles. Cada vez mais surgiam desentendimentos entre os membros da banda no estúdio. John queria gravar sua guitarra cada vez em volume mais alto. Ringo era geralmente o primeiro a ir embora do estúdio. Paul estava irritado que John estava dominando demais as sessões de gravação. George declarou que o Paul sempre o ajudava a gravar suas canções, depois que ele já tivesse gravado anteriormente 10 canções de sua autoria.



Paul batizou o “Álbum Branco” de “o álbum da tensão”. Pela primeira vez em sua carreia os Beatles estavam trazendo seus problemas para dentro do estúdio.  John achava que os Beatles haviam se separado durante a gravação, pois todas as faixas são individuais, apenas com participação dos outros membros. Todos os integrantes ficavam mais na defensiva, sem muito ânimo para colaborarem intensamente nas canções dos outros compositores. Os únicos Beatles que pareciam estar se dando bem durante as gravações eram John e George. Todos os outros relacionamentos sofreram desgaste, em menor ou maior grau.

O produtor George Martin estava muito insatisfeito com a situação e frequentemente se recusava a se envolver com as situações problemáticas que surgiam. Os Beatles não confiavam mais no trabalho feito pela equipe de Abbey Road. Queriam gravar cada vez mais fora dali, no Trident Studios. Martin cada vez menos atuava como produtor, já que Paul, John e George queriam produzir suas próprias canções. Ele atuou mais como arranjador e instrumentista, tocando instrumentos em várias faixas do álbum. Quando o engenheiro de som Geoff Emerick deixou as gravações, Martin disse que se arrependera de não ter feito o mesmo e que só não havia deixado as sessões pois logo sairia de férias por 3 semanas.

George Martin


A presença disruptiva de Yoko também não ajudava em nada a melhorar a atmosfera no estúdio. Paul, George e Ringo não gostavam que ela participasse das sessões, pois ela se tornou uma verdadeira sombra de John, o acompanhando até a porta do banheiro. Na maior parte do tempo ela não falava nada, mas quando falava causa grande desconforto com seus comentários, fazendo críticas aos arranjos e gravações realizadas pela banda, sendo tais críticas completamente descabidas. Yoko e John achavam que ela havia se tornado o quinto membro do grupo, enquanto os outros três a consideravam uma intrusa no espaço sagrado do estúdio de gravações. Invariavelmente, toda vez que ela saia do estúdio o clima melhorava, como relatado pelos que trabalhavam no local e presenciavam tais sessões.

Quando o álbum foi lançado John disse que gostou dele pois tinha um som mais rock and roll. Também declarou que: “o Álbum Branco foi o início de meu período de composições de rock direto. Eu sempre preferi o Álbum Branco a qualquer outro álbum dos Beatles, incluindo Sgt Pepper’s porque eu achava que a música era melhor. O mito de Pepper é maior, mas a música no Álbum Branco é muito superior. Eu escrevi muitas coisas boas naquele álbum. Eu gosto de tudo que eu fiz e das outras coisas também. Eu gosto do álbum inteiro. Nele eu fui eu mesmo. Não gosto muito de produções.” Paul concordou, dizendo que haviam decidido dar um passo atrás, pois era o que eles queriam fazer. Também declarou que a fase de gravação do álbum foi sombria. Foi um ótimo álbum, mas muito difícil de ser feito. George declarou que considerou um erro terem lançado um álbum duplo, pois ele é longo demais para a maioria das pessoas conseguirem assimilar. Disse que escutava basicamente o lado 1, do qual gostava bastante. Contou também que nesse álbum eles se sentiram mais como uma banda gravando juntos, pois muitas faixas foram gravadas ao vivo no estúdio. Ringo achava que um álbum duplo seria extravagante demais. Também afirmou que sempre achou o Álbum Branco melhor que Sgt Pepper’s, pois sentiu mais a sensação de fazer parte do grupo novamente. Em Pepper havia orquestras e overdubs em excesso, segundo o baterista.

Após o seu lançamento o novo trabalho foi considerado um enorme sucesso. Foi o álbum duplo mais vendido da história até a aparição “Saturday Night Fever”, dos Bee Gees em 1977. O famoso produtor de cinema, Steven Spielberg, declarou que não era fã dos Beatles até ouvir o Álbum Branco. Depois disso, ele se converteu imediatamente.

Havia um forte clamor por novas apresentações ao vivo dos Beatles, cujo último show tinha sido realizado há mais de dois anos, em 1966, em São Francisco nos EUA. No entanto, o agente de imprensa dos Beatles, Tony Barrow, declarou que a banda havia reservado uma data em dezembro de 1968 para um show no Royal Albert Hall, onde se apresentariam com a abertura de Jackie Lomax e Mary Hopkin, o que causou enorme furor entre os fãs dos Beatles. Além disso, o próprio Paul anunciou três 3 apresentações no Roundhouse Theatre em Londres para dezembro de 1968, nas quais tocariam uma grande parte das canções do novo álbum ao vivo, além de uma seleção de faixas mais antigas. Infelizmente, nenhuma dessas apresentações acabou ocorrendo, pois os outros membros da banda não quiseram participar, particularmente George e Ringo.





Posteriormente foi revelado que eles gravariam um especial de uma hora para a TV com o sorteio de 50 pares de ingressos para fãs da banda assistirem as gravações ao vivo no estúdio com os Beatles. Tal projeto também acabou sendo abandonado, em favor das sessões de filmagem sem plateia, que acabou resultando no filme/álbum/projeto “Let it Be”.

Atualmente, mais de cinco décadas após o seu lançamento, o Álbum Branco continua resistindo ao teste do tempo. Na realidade, quanto mais o tempo passa, mais reconhecido e valorizado é por aqueles que tiveram o privilégio de presenciar a sua chegada e por várias gerações de fãs de música, produtores, músicos e admiradores em geral, pois há algo para todos os gostos ali. É a coleção mais abrangente de estilos no mundo do rock, com obras de qualidade atemporal, tendo um repertório extremamente diversificado, com letras brilhantes, execução musical primorosa e arranjos de primeira qualidade. Desde que eu o ouvi pela primeira vez fiquei encantando e se tornou meu álbum favorito de todos os tempos. É como um grande amigo, cuja amizade permanece e se torna cada vez mais sólida. Tenho certeza de que o “Álbum Branco” ainda me trará muitas alegrias por muitos anos e despertará o amor pela boa música nas próximas gerações que tiverem contato com essa verdadeira obra prima que os quatro rapazes de Liverpool nos deixaram.

Beatles Forever!

 

De autoria de Marco André Briones - janeiro de 2020


Agradecimento especial:

Teco Fuchs


Você gostou da matéria? Então entre em contato com o autor através do e-mail:

pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

 

Quer ajudar o autor da coluna a mantê-la ativa, sempre com novas resenhas e análises detalhadas de outros álbuns clássicos? Que tal então comprar os produtos relacionados ao artista analisado diretamente no site da Amazon do Brasil? Usando os links fornecidos abaixo para suas compras você estará dando sua contribuição diretamente. Muito obrigado por seu apoio!

LINK PARA A AMAZON

 

BIBLIOGRAFIA

The Beatles as Musicians – Revolver through the Anthology, por Walter Everett

The Beatles – Todas as músicas, todas as letras, todas as histórias, por Steve Turner

The Beatles White Album and the launch of Apple – compilado por Bruce Spizer

Guitar World Magazine – Vol.32 no.13 – The Beatles on the Record

The Beatles in India – por Paul Saltzman

The Complete Beatles Recording Sessions – por Mark Lewisohn

The Beatles – The Biography – por Bob Spitz

The Unreleased Beatles – Music and Film – por Richie Unterberger

The Complete Beatles Chronicle – por Mark Lewisohn

The Best of the Beatles Book – editado por Johnny Dean

The Beatles – 10 Years that Shook the World – Mojo

Revolution in the Head – por Ian Macdonald

The Beatles – White Album Super Deluxe Edition

Beatlesongs – por William J. Dowlding

The Beatles Through Headphones – por Ted Montgomery

The Beatles Archive – por Ray Connolly

Abbey Road to Ziggy Stardust – por Ken Scott & Bob Owsinski

Um dia na vida dos Beatles – por Don McCullin

The Beatles Lyrics – editado por Hunter Davies

Do Rio a Abbey Road – por Lizzie Bravo

Sound Pictures – The Life of Beatles Producer George Martin – The Later Years 1966 – 2016, por Kenneth Womack

Here, There and Everywhere – por Geoff Emerick e Howard Massey

 

PLAYLIST NO SPOTIFY


 

LINKS DO YOUTUBE

https://www.youtube.com/watch?v=_JbLsYoL3ug

https://www.youtube.com/watch?v=mvbs07wwBjo

https://www.youtube.com/watch?v=A8CivPhu0fw

https://www.youtube.com/watch?v=5mJYYVM-nj4

https://www.youtube.com/watch?v=zLKxhFIhsek

https://www.youtube.com/watch?v=IMQSTpxH9yI

https://www.youtube.com/watch?v=t1gngakVRNw

https://www.youtube.com/watch?v=JGnNQM_9q-w

https://www.youtube.com/watch?v=BTVFzVp1IQI

https://www.youtube.com/watch?v=JeFwaWFTGYU

https://www.youtube.com/watch?v=F0nRNxC1QhU

https://www.youtube.com/watch?v=SB3EcEfv6Lc

https://www.youtube.com/watch?v=BGLGzRXY5Bw

https://www.youtube.com/watch?v=uLRiGX3L-kw

https://www.youtube.com/watch?v=A_MjCqQoLLA