quarta-feira, 3 de março de 2021

SOROCABA

 

SOROCABA E A FEIRA DO TROPEIRISMO

 

Rio Sorocaba


Certas cidades conseguiram deixar uma forte marca na história do Brasil, devido à importância política e econômica que exerceram no desenvolvimento e crescimento do país, como Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Ouro Preto. No entanto, há uma outra cidade que teve um papel fundamental na expansão territorial e na viabilização do surgimento do capitalismo brasileiro, mas não tem o devido reconhecimento nem a merecida análise mais detalhada em nossa historiografia nacional: Sorocaba.

Localizada a apenas 90 km da capital paulista, a região de Sorocaba é muito relevante desde a época em que era ocupada pelos índios, pois se situava em uma encruzilhada de rotas indígenas por onde andavam os Tupis do Tietê, os Tupiniquins e Guaianazes de Piratininga, os Carijós dos campos de Curitiba, além dos Guaranis de Paranapanema. Tais caminhos terrestres-fluviais integravam a famosa trilha do Peabiru, que ligava a região de São Vicente até o Paraguai. Posteriormente, as trilhas coloniais criadas pelos europeus quase sempre eram baseadas nas trilhas indígenas já existentes. Algumas delas persistem até hoje e acabaram sendo adaptadas para as construções das estradas que temos por toda parte no Brasil nos dias de hoje.

O primeiro homem branco europeu a chegar na região foi o português Afonso Sardinha, que cruzou a região de Sorocaba à procura de minério de ferro, que acabou sendo descoberto por ele na região próxima ao morro de Araçoiaba, onde foi criada posteriormente Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema. Até hoje há vestígios dos fornos de fundição de ferro criado pelo pioneiro português, abertos à visitação em meio à mata local. Araçoiaba é considerada o local onde surgiu a siderurgia nacional. Para ler minha matéria sobre a Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema, clique aqui.

Os índios tupi guaranis viviam nas florestas ao redor do morro de Araçoiaba e da serra de São Francisco. Moravam às margens do rio Sorocaba. Tais índios se mudavam constantemente de local de habitação devido à voçoroca, nome dado ao desmoronamento de terra causado pela infiltração das chuvas. O nome “Sorocaba” quer dizer “terra da voçoroca, terra que cai, desmorona” na linguagem indígena.

Único pouso de tropeiros remanescente em Sorocaba


Embora Afonso Sardinha tenha sido o primeiro europeu a circular na região, o fundador da cidade de Sorocaba foi o bandeirante Baltazar Fernandes, que estabeleceu sua residência em 1654 à beira da foz do córrego Lageado, afluente do rio Sorocaba, acompanhado de sua grande comitiva. Os primeiros moradores foram desbravadores que se embrenhavam pelo interior do Brasil abrindo caminhos e fundando sítios. Além disso, caçavam índios, que era a mão de obra que usavam para a expansão das propriedades que fundavam e que, por sua vez, também gerava movimento para os pequenos comerciantes e artesãos que se estabeleciam gradativamente em cada nova localidade ocupada. A enorme capacidade de locomoção dos paulistas se deve sobretudo ao fato de ter sido impossível para eles se tornarem grandes senhores de engenho, além da difícil comunicação com a metrópole.

Baltazar Fernandes construiu a capela de São Bento, dando origem à nova cidade, a mais importante igreja da cidade até os dias de hoje. Ele criou o primeiro núcleo urbano de Sorocaba, formado a partir de seu patrimônio religioso. Além disso, também construiu a igreja Matriz de Sorocaba.

Monumento aos pioneiros de Sorocaba


Com a enorme expansão territorial proveniente do trabalho dos bandeirantes, que caminhavam por todo o interior do território português e espanhol do “Novo Mundo”, acabaram sendo descobertas as minas de ouro e diamantes em Minas Gerais, o que gerou um enorme afluxo de pessoas interessadas em explorar a região. Por tal motivo, começou a surgir uma necessidade cada vez maior de se transportar as riquezas extraídas da terra para as cidades costeiras, onde estavam os representantes da metrópole. Além disso, também se fazia cada vez mais necessário alimentar e manter as populações crescentes de Minas Gerais, pois precisavam de recursos que não estavam disponíveis localmente, além de meios de transporte para fazerem circular pessoas e mercadorias.

Sorocaba sempre fora local de passagem das bandeiras. Quando elas se transformaram em monções, partindo de Porto Feliz até Cuiabá, grande parte delas saiu da região sorocabana. A partir de 1720, as monções anuais despovoavam Sorocaba, pois muitas pessoas desciam o Tietê em busca de ouro. Este foi um outro fato importante na história sorocabana, pois muitos de seus filhos embarcaram nas monções que partiam de Porto Feliz para desbravar o interior do Brasil, chegando até Cuiabá, uma cidade que ajudaram a fundar. Pode-se afirmar que os sorocabanos criaram o Mato Grosso. Para saber mais sobre as monções que partiam de Porto Feliz, leia a minha matéria clicando aqui.

A descoberta do ouro antes da virada do século XVIII, foi um grande incentivo para o comércio das tropas. Criou-se em Minas Gerais um grande mercado consumidor, do qual São Paulo foi a fonte abastecedora de Minas e do Rio de Janeiro.

Ponte 15 de Novembro


Enquanto o ouro continuava a ser extraído de Minas Gerais, a necessidade de se obter carne e muares levava os paulistas a avançar cada vez mais nos domínios das Missões, a fim de obterem gado e índios. Inicialmente, os paulistas enviavam para Minas as sobras de sua pequena produção de alimentos e manufatura. Posteriormente, atraídos pelos lucros, foram buscar em regiões mais distantes aquilo que não podiam produzir na própria região.

As cidades e minas do país precisavam de gado muar para o transporte de mercadorias entre as cidades e regiões. Os cavalos dos campos de Curitiba não eram próprios para tropas cargueiras, sobretudo para descerem a Serra do Mar, em direção à Santos, nem para subirem para Minas Gerais, pela Serra da Mantiqueira.

Na região dos pampas argentinos e uruguaios havia uma espécie muito resistente, os muares, que eram cruzas entre equinos e asininos. Tais animais eram exportados para o Peru, onde conseguiam transportar a prata e ouro para os galeões que ficavam ancorados na costa pacífica do Peru, para levar tais metais preciosos para a Espanha. Imaginou-se que tais muares também poderiam ter grande utilidade por aqui também, em território português, como animais de transporte de carga. É nesse momento que surge a figura dos tropeiros, que sucederam os bandeirantes, e do movimento que mudaria o curso da história do Brasil: o tropeirismo.

Os sorocabanos partiam para se abastecer de mulas no Rio Grande do Sul e até mesmo em regiões de domínio espanhol, como Missiones e Corrientes na Argentina e na Banda Oriental, no Uruguai. Eles eram considerados territórios inimigos e muito gado foi adquirido através de ataques guerreiros, e pouco através de compra.

Capela do Divino Espírito Santo


A primeira rota ligava os campos do sul entre Curitiba e Sorocaba. A Estrada de Sorocaba possibilitou o desenvolvimento do tropeirismo sulino e o povoamento da região sul.

O roteiro dos tropeiros, que incluía o Caminho de Viamão, cobria mais de 1500km, se iniciando em Sorocaba e passando por Araçoiaba da Serra, Itapetininga, Itapeva, Itararé, Castro, Ponta Grossa, Lapa, Lajes, Santo Antônio da Patrulha e Viamão. Já o Caminho Novo da Vacaria, em direção aos Sete Povos das Missões, desviava o caminho de Lajes para o noroeste, passando por Vacaria, Passo Fundo, Cruz Alta até chegar em Santo Ângelo.

A Estrada de Palmas alterou novamente o caminho das tropas, desviando o trajeto original logo depois de Castro para passar por Guarapuava, Palmas, Bom Jesus, Palmeira das Missões, até chegar em Santo Ângelo.

O tropeirismo estava voltado ao abastecimento interno do país. As mercadorias eram transportadas no lombo das mulas. As pessoas viajavam montadas nos cavalos.

Estátua de Baltazar Fernandes


Como Sorocaba se localizava no final da zona dos campos, aproximadamente na metade do caminho para o sul, esse foi um dos fatores que motivou o surgimento de um grupo de tropeiros sorocabanos, negociantes de animais, que percorriam todo o Brasil comprando muares no sul e os vendendo nos estados situados mais ao norte. Sorocaba era o ponto de encontro de compradores e vendedores. Antes de se chegar à São Paulo, a última boa invernada (local de recuperação para os animais recuperarem o peso perdido durante a longa jornada até a feira de Sorocaba) eram os campos sorocabanos, que serviam de abrigo, à espera dos negócios. As tropas permaneciam em campos nas vizinhanças da cidade, para se recuperarem da longa viagem e engordarem antes de serem negociadas. Caso elas não fossem vendidas, deveriam regressar para as invernadas e aguardarem a feira seguinte, o que gerava inúmeros transtornos para os donos das bestas.

Entre os vendedores havia um maior número de gaúchos e paranaenses. Já em meio aos compradores, o número de mineiros era notavelmente maior do que compradores de qualquer outro estado.

Como o negócio da venda das bestas foi sempre um dos mais vantajosos na região sorocabana, muitos nativos da cidade decidiram se dedicar à vida de tropeiro.

Durante os meses de abril e maio começavam a chegar à feira os compradores e vendedores, além dos muares que eram negociados, na quantidade impressionante de 40 a 50 mil animais.

Museu Histórico Sorocabano


As tropas percorriam os antigos caminhos indígenas, entre eles, partes da trilha do Peabiru. O caminho do sul foi totalmente aberto em 1738 por Cristóvão Pereira. Antes dele, as bestas de carga seguiam por terra até Laguna e então eram transportadas de barco até o Rio de Janeiro ou Santos.

A primeira tropa que passou por Sorocaba foi em 1732 e tinha 3 mil peças. A criação da ponte sobre o rio Sorocaba (atualmente denominada 15 de novembro) no século XVII foi um marco na história da cidade. As primeira tropas não passavam por Sorocaba, e sim, por Itu, que servia de caminho alternativo para São Paulo, já que lá não havia o Registro de Impostos, o que facilitava a passagem das tropas sem cobrança de tributos.

Um novo registro de animais foi fundado em Sorocaba pois, até então, só havia o de Curitiba. Quando os tropeiros não tinham dinheiro, por ainda não terem vendidos suas tropas, passavam com uma guia para o pagamento ser realizado em Sorocaba, Itu ou na Provedoria da Fazenda, que existia em Santos. A ponte de Sorocaba foi construída no local escolhido pois na região havia muitos campos que se afunilavam até a entrada da ponte. Após a construção da ponte, precisou ser construído apenas um galpão e um portão. Na Feira de Sorocaba, eram cobrados impostos pela Coroa Portuguesa a fim de bancar a reconstrução de Lisboa após o terremoto de 1755, que praticamente destruiu a capital de Portugal.

A única intervenção governamental, como sempre ocorre e continua acontecendo até os dias de hoje, foi na área da tributação. No entanto, como não havia um arrecadador do governo, o recolhimento dos impostos se fazia através de um particular indicado pelo governo para arrecadar, em nome do governo da Província, os tributos devidos. Notamos que há séculos as indicações e o apadrinhamento dão práticas correntes da política nacional.

Com a instauração da cobrança de impostos a partir de 1750 a passagem por Sorocaba se tornou obrigatória, pois a travessia do rio só poderia ser feita pela ponte onde foram instalados a porteira do Registro de Impostos e o quartel. A localização da ponte foi fator determinante para o estabelecimento do registro dos animais e pagamentos de impostos ao governo, além de ter sido um fator preponderante para a escolha do local para o assentamento do próprio povoado. A ponte é um elemento fundamental para o entendimento da história da cidade e de todo o movimento tropeirista. Por tal motivo, Sorocaba passou a ser conhecida como “Vila Tropeira de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba”. Em Sorocaba se vendiam os meios de transporte (muares) para serem usados por todo o Brasil.

Estima-se que a feira de Sorocaba tenha se iniciado em 1750. Durante os aproximadamente 150 anos de sua existência, foi o evento comercial mais importante do Brasil. Uma peculiaridade é que a feira, desde seus primórdios foi conduzida inteiramente por seus próprios empreendedores. Ela era realizada anualmente na cidade e era conhecida em todo o país. Nela eram comercializados principalmente mulas de carga, que eram o mais importante meio de transporte do Brasil colonial. No entanto, além das mulas eram comercializadas também vacas, bois e cavalos, além de todo tipo de produto agropecuário.

Igreja de São Bento


A feira de Sorocaba teve um papel muito importante ao promover a integração de duas atividades econômicas de relevância: a negociação dos muares xucros trazidos do sul, que atendia a necessidade de transporte terrestre no país, com as diversas atividades comerciais, alimentares e de entretenimento demandadas tanto pelos compradores quanto pelos vendedores das bestas. A maior riqueza de Sorocaba sempre fora o comércio.

Em Sorocaba há vários pontos de descanso para as tropas que deram origem à várias praças na cidade. A primeira parada das tropas localizava-se no Largo das Tropas, hoje Praça 9 de Julho. Há também a Praça do Tropeiro, onde podemos ver o belo e imponente Monumento ao Tropeiro. Um outro ponto de repouso das tropas era a atual Praça do Canhão, na qual podemos ver dois canhões produzidos na Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema. Na mesma praça, se encontra uma estátua em homenagem ao Brigadeiro Tobias de Aguiar, um dos personagens mais importantes da história da cidade.

Monumento ao Tropeiro


O roteiro das tropas era o seguinte: chegavam pela Rua General Carneiro, atravessavam o centro da cidade em direção à rua 15 de novembro, passavam pela ponte onde havia o Registro de Animais, para pagar ou conferir os impostos, seguiam pela avenida São Paulo, seguiam pela avenida Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes (a da Prefeitura) e seguiam pela estrada de Aparecidinha, rumo à São Paulo. As ruas tortas da cidade foram traçadas pelos trajetos das mulas.


Praça do Canhão


Inicialmente, o número de bestas negociadas ficava em torno de 20 a 30 mil unidades ao ano, no período do Império. Depois de 1850, o número subiu para 100 mil unidades. Em 1865, a feira começou a entrar em decadência, sendo reduzido o número de animais negociados no evento anual para a quantia de 50 mil cabeças. O gado bovino e suíno não era negociado em tais ocasiões. Somente a partir de 1815 é que os negócios paralelos, objetos de tropeiro, redes, ourivesaria e outros produtos e serviços começaram a se desenvolver e serem oferecidos aos tropeiros que vinham para a feira.

Os habitantes da cidade de Sorocaba que não negociavam com animais passavam 10 meses do ano fabricando peças de arreios em couro, pano, metal ou prata, tecendo redes e outros itens de utilidade para os tropeiros. Quando ocorria a feira, chegavam aproximadamente 4000 visitantes na cidade, o que fazia com que o valor dos gêneros fosse elevando, prejudicando as classes mais pobres.

Como Portugal não permitia a industrialização do Brasil, apenas a manufatura de pequenas tecelagens e fundições, Sorocaba produzia apenas tecidos grosseiros de algodão que serviam de vestimenta para os escravos. A indústria de fiação e tecelagem de algodão foi a primeira a se instalar na cidade e existe até os dias de hoje. Com o declínio e o fim do ciclo tropeiro, Sorocaba passou a se dedicar à indústria do algodão, que iniciou o processo de industrialização na província de SP.

Estátua do Brigadeiro Tobias de Aguiar


O período do tropeirismo durou de 1733 até 1897, quando ocorreu a última feira. No entanto, o movimento tropeirista havia iniciado seu período de decadência em 1865. Com o surgimento das ferrovias, o comércio de bestas e o tropeirismo entrou em decadência, embora a Feira de Sorocaba tenha continuado a ocorrer até 1950.

O tropeiro, tendo seguido os passos dos bandeirantes, foi responsável pela integração do Brasil, especialmente promovendo a aproximação da região sul com a central. Não foi a criação de gado no Sul que uniu as diferentes regiões e alargou as fronteiras portuguesas, mas sim, o comércio à procura de gado que se irradiava a partir de Minas Gerais. Gerou-se a interdependência das regiões, possibilitando a integração do RS no conjunto da economia brasileira. Esse ciclo expandiu o território português ao sul do continente, conquistou terras e contribuiu para a unificação do país.

Um fato curioso é a presença e forte influência dos paulistas na formação do povo gaúcho, presente até mesmo na literatura, como na obra “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo, que conta a história da família “Terra”, que teria sido sorocabana.

O Tropeirismo consolidou as fronteiras territoriais do Brasil e gerou a acumulação de capital necessária para o surgimento do ciclo do café, pois Sorocaba havia se tornado uma base para a criação de capital mercantil interno. O comércio de gado, na província de São Paulo, além de ter sido responsável pela circulação de capitais também foi o responsável por sua formação e acumulação.

O comércio pecuário advindo do tropeirismo acabou gerando mais recursos financeiros do que o próprio ciclo do açúcar. O tropeirismo foi o elemento criador de riquezas que ajudou na formação de uma base de capitais necessárias ao desenvolvimento da economia cafeeira no estado de São Paulo e do capitalismo brasileiro.

Mosteiro de São Bento


O ciclo do tropeirismo foi pouco considerado na historiografia do Brasil por não ter sido ligado diretamente à economia mercantilista exportadora. Consequentemente, Sorocaba ficou à margem da análise histórica de nossos acadêmicos por não ter tido presença significativa na economia visível, de exportação, que foi objeto de inúmeros estudos sobre as relações entre Colônia e Metrópole.

Aqueles que se interessam pela história do Brasil não podem deixar de conhecer a importantíssima cidade de Sorocaba, uma das principais formadoras do Brasil atual. Devem ser visitados vários pontos importantes, tais como o Monumento ao Tropeiro, no Largo do Canhão, onde as tropas se aglomeravam para passar na ponte; a Capela do Divino Espírito Santo, erigida pelos tropeiros em 1883; o Museu Sorocabano, que é conhecida como Chácara do Quinzinho, construída em estilo bandeirista, do século XVIII, situada dentro do Jardim Zoológico de Sorocaba.

Museu do Tropeirismo


Além disso, eu também recomendo que se visite a bela Estação Ferroviária de Sorocaba, de 1930, construída pelo arquiteto Ramos de Azevedo e a Casa do Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, no município de Brigadeiro Tobias, criada no final do século XVIII, na qual foi instalado o Museu do Tropeirismo.

Estação Ferroviária


Nosso povo deveria ser mais grato à Sorocaba e reconhecer a importância de sua história na formação de nosso país, através de muitas lutas, dificuldades e trabalho árduo. Graças aos pioneiros bandeirantes e aos corajosos tropeiros, que construíram os caminhos que interligam as regiões de nosso país, em cima do lombo de mulas que marcaram para sempre nossa história, com seus passos firmes e seguros, sempre seguindo rumo aos caminhos do futuro, temos hoje o nosso grande país, o Brasil.

 

 

Com agradecimentos especiais à Antônio Carlos Ribeiro.

 

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Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones em 2008 e 2018.

 

Bibliografia usada:

Na Feira de Sorocaba, de D’Abreu Medeiros e Porphirio Rogich Vieira

A Vila Tropeira de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba, de Lucinda Ferreira Prestes

História de Sorocaba, de Aluísio de Almeida

Sorocaba – 3 Séculos de História, de Aluísio de Almeida

segunda-feira, 1 de março de 2021

GUARAREMA

 

GUARAREMA – A PÉROLA DO VALE

 



Poucas cidades do interior do Brasil possuem tantas atrações turísticas de qualidade, além de uma beleza arquitetônica e vários recantos com uma bela natureza preservada. Guararema é uma daquelas cidades que nos cativa desde a primeira visita, deixando em cada turista a vontade de retornar para conhecer um pouco mais daquela que é conhecida como a “Pérola do Vale”.  

A primeira vez em que estive na cidade foi em julho de 2018. Eu gostei tanto que, apenas dois meses depois, regressei para poder conhecer um pouco mais da linda cidade. Desde então, visitei mais uma vez em Guararema, em dezembro de 2019, quando pude descobrir lugares pitorescos que eu ainda não havia conhecido nas passagens anteriores.

Informações básicas sobre Guararema

Situada a apenas 81 km de distância da capital paulista, e com uma população de 27.000 habitantes, Guararema se encontra exatamente na divisa entre o Alto Tietê e o Vale do Paraíba. O nome “Guararema” foi dado pelos índios tupi-guarani à arvore pau-d’alho, que é muito abundante na região.

Portal Terra Guararamense

O acesso à cidade se dá através de duas entradas distintas. Para quem faz o acesso pelo bairro da Escada, logo é possível se vê o Memorial Origens de Guararema. Para aqueles que chegam pelo bairro do Ipiranga, pode ser visto o portal Terra Guararemense.

Abaixo segue um roteiro que eu montei para uma visita bastante completa à charmosa “Pérola do Vale”, para você aproveite ao máximo sua estadia. O ideal é se passar um final de semana na cidade. No entanto, se você chegar cedo e tiver muito fôlego, poderá conhecer tudo em um dia só.

Um pouco de História

Podemos considerar que a história de Guararema se iniciou em 1560, quando o explorador Brás Cubas cruzou a região em busca de ouro. Ele foi o primeiro bandeirante a passar por ali. Já em 1611, Gaspar Vaz, fundador de Mogi das Cruzes, estabeleceu o Aldeamento da Escada, que acabou por ser a origem da atual cidade de Guararema.

Monumento ao Rio Paraíba do Sul


Dois dos símbolos presentes no brasão da cidade são o ramo de pessegueiro e a cana de açúcar, ambas culturas que exerceram um enorme papel no desenvolvimento econômico de Guararema. A cultura do pêssego foi particularmente relevante nas décadas de 1950 e 1960, declinando posteriormente devido a uma praga que devastou a produção local.

 

 

Lugares Turísticos

Iniciamos o passeio pelo Memorial Origens de Guararema, que fica localizado na entrada do bairro Freguesia da Escada. O memorial representa os elementos formadores do povo local: índios, religiosos e colonos, que foram os responsáveis pela construção da primeira capela, a de Nossa Senhora da Escada, em 1652, que foi demolida posteriormente. Esse bairro fica a 3,5 km do centro da cidade, e é repleto de restaurantes charmosos e belos casarões antigos.

Igreja Nossa Senhora da Escada


A atual Igreja Nossa Senhora da Escada foi construída em 1734, no mesmo local da capela original de 1652. Possui arquitetura tipicamente barroca, feita de taipa de pilão e pau a pique e é lindamente pintada em branco e azul, sendo um dos mais importantes cartões postais da cidade. Dentro dela podemos ver a estátua de Nossa Senhora da Escada, que dá o nome à igreja e ao bairro. Curiosamente, ele segura uma escada em uma de suas mãos. Além disso, podemos ver aquela que se acredita ser a única estátua de São Longuinho existente no Brasil, que foi encontrada durante uma reforma nos fundos da igreja em 1954. Há também um pequeno museu ao lado da igreja, no qual podemos ver peças antigas de uso da igreja e que são vestígios da história da cidade.

Detalhe da fachada


Devido à sua posição privilegiada, sendo uma ótima parada situada no caminho entre Rio de Janeiro e São Paulo, a antiga freguesia da Escada recebeu a visita de D. Pedro I, em 1822 a caminho de São Paulo, pouco antes de declaração da Independência do Brasil.

Nossa Senhora da Escada


Em frente à igreja à uma bela praça, com um grande crucifixo no meio dela, além de lindas e frondosas árvores. Bem próximo à praça há o incrível restaurante Maricota, que tem uma agradável varanda, música ao vivo de ótima qualidade e um cardápio excelente, oferecendo petiscos e pratos deliciosos preparados com ingredientes locais. Não perca o palmito pupunha, servido diretamente na casca, com deliciosos temperos.

Depois de uma pausa gastronômica, recomendo que siga o passeio, indo conhecer a outra igreja histórica local, a da Nossa Senhora da Ajuda. No caminho, você passará pelo portal Terra Guararemense, que traz várias referências a elementos da cultura local, como a canoa indígena, que era o meio de transporte original da região, além de representações dos índios, igrejas, árvores centenárias, prédios históricos, aves e animais da região.

Capela Nossa Senhora da Ajuda


A Capela Nossa Senhora da Ajuda fica no alto de uma pequena colina. 81 degraus nos levam até a entrada da capela, que também pode ser acessada lateralmente, através de um estacionamento no alto da colina.

O templo abriga a santa que é considerada a protetora dos navegantes. A estátua de Nossa Senhora da Ajuda foi trazida pelos portugueses em 1532 e foi deixada no local. Atualmente, a estátua original se encontra na igreja Matriz da cidade. Na Capela da Ajuda podemos ver uma réplica. A capela em si foi fundada em 1682, tendo sido também construída em taipa de pilão e pau a pique, como a igreja de Nossa Senhora da Escada. Do alto da capela, podemos ter uma bela vista da região. Infelizmente, a antiga capela não se encontra tão bem preservada quanto à igreja de Nossa Senhora da Escada, necessitando urgentemente de recursos e mão de obra para restaurá-la e evitar que ela seja danificada pela falta de manutenção especializada.

Vista lateral


Uma outra grande atração local é a decoração de Natal, realizada anualmente apenas com materiais recicláveis. Os artesãos locais usam de toda sua habilidade para criar lindos presépios, enfeites e luminárias que enfeitam e decoram toda a cidade. O natal em Guararema já se tornou uma grande tradição, atraindo muitos turistas de todas as partes do estado de São Paulo e do Brasil.

O Parque da Pedra Montada é um dos maiores e mais belos da cidade. Se situa a 6,3km do centro é uma das maiores áreas de lazer para todos os moradores e turistas que visitam Guararema.

Parque da Pedra Montada


O nome do local foi dado devido à uma a obra da natureza, que parece ter posicionado uma enorme pedra montada em cima de outra. Realmente parece algo feito por seres humanos, com o auxílio de um guindaste. No entanto, quando elas foram descobertas, já estavam na posição atual há um longo tempo.

Pedra Montada


Há uma ampla estrutura em madeira, muito bem planejada, que permite que os visitantes caminhem na mesma altura da copa das árvores, vendo o parque do alto, conseguindo visualizar os pássaros, riachos e cascatas que correm pelas encostas do parque. Foi também criado um bom restaurante, que serve petiscos e refeições por quilo. Após alcançarmos a “Pedra Montada” em si, há uma trilha adicional que nos leva à uma das outras grandes atrações do parque, que é a “Pedra do Tubarão”, que é incrivelmente semelhante ao dito animal. Tanto as crianças quanto os adultos ficam perplexos ao vê-la, conseguindo identificar seus olhos e boca. Vale muito conhecer esse parque e passar algumas horas por lá.

Pedra do Tubarão


Continuando o passeio, vamos conhecer o Pátio dos Ferroviários e a Estação Guararema. O pátio foi construído em homenagem a todos os funcionários da rede ferroviária, que sempre desempenhou um importante papel no desenvolvimento local. O Pátio dos Ferroviários apresenta vários murais amplos, com fotos antigas dos trens que circulavam por ali, além de seus maquinistas e funcionários da rede ferroviária, integrante da Central do Brasil. Uma bela forma de se preservar a memória e o nome daqueles que tanto contribuíram para a construção e expansão da cidade.

Estação Guararema


Pouquíssimos municípios brasileiros tem uma preocupação tão grande em manter e preservar sua história e patrimônio como Guararema. Por tal razão, a Estação Guararema, inaugurada em 1891 se encontra em perfeito estado de conservação, pintada, restaurada e ainda em uso. De lá parte um dos melhores passeios da cidade, ligando o centro de Guararema à estação Luís Carlos, um município distante 7 km dali, também lindamente preservado, repleto de lojas e restaurantes agradáveis.

Podemos também ver uma locomotiva original de 1927, perfeitamente restaurada pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF). A cidade reformou seus trilhos, comprou carros novos para passageiros e revitalizou a praça local, criando o Pátio dos Ferroviários e a casa de trem Seu Lopes, na qual a locomotiva é guardada.

Se você estiver procurando o artesanato local, não deixe de visitar o Centro Artesanal Dona Nenê. É uma estrutura moderna, toda em vidro, com ar condicionado central, na qual há pequenos stands para os artesãos locais exibirem seus artigos para os turistas. Há um pouco de tudo: peças de barro, bebidas, doces, enfeites, enfim, tudo muito bem feito e com preços bastante acessíveis.

Centro Artesanal Dona Nenê


A Igreja Matriz de Guararema existente atualmente é a terceira construção. As anteriores foram demolidas em diferentes épocas, sendo que a atual igreja data de 1954. No altar, podemos ver as imagens originais dos padroeiros da cidade, Nossa Senhora da Escada, que ficava originalmente na Igreja de Nossa Senhora da Escada, a de Nossa Senhora da Ajuda e a de São Benedito. É um ponto central da cidade, localizada na praça principal de Guararema.


Igreja Matriz


Bem pertinho da Matriz, há o Pátio do Zé Bala e a Travessa Dona Vitória. O pátio e a travessa formam um espaço público de convivência que abrange também uma ponte sobre o ribeirão Guararema. O local é decorado com amplos painéis que retratam a vida antiga da cidade. Passando pelo local, não deixe de almoçar ou comer um petisco no ótimo Empório Bistrô, um dos melhores restaurantes da cidade, com um amplo cardápio e um atendimento excelente.

Pátio do Zé Bala


Travessa Dona Vitória


Prosseguindo o passeio, conheceremos um dos pontos mais marcantes da cidade de Guararema: a Ilha Grande.

Entrada da Ilha Grande


Núcleo de Educação Ambiental


O rio Paraíba do Sul é o propulsor de todo o turismo na cidade, pois suas águas são mantidas muito limpas, repletas de peixes, fazendo com que a natureza local encante os turistas e visitantes que passam por ali. No meio do rio se encontra a bela Ilha Grande, que ocupa uma área de 20 mil metros quadrados, com quiosques, trilhas, um mirante e um núcleo de educação ambiental. O acesso se dá através de uma ponte pênsil, na qual muitas crianças se divertem ao alimentarem a grande quantidade de peixes que se encontram nas águas do rio, logo abaixo. Sem dúvida, um dos lugares mais agradáveis da cidade, perfeito para um tranquilo passeio em qualquer horário do dia. O entardecer é particularmente marcante no local, pois podemos ver o sol se pondo lentamente e a ilha sendo tomada pelo chegar da noite. Realmente um espetáculo muito especial.



Rio Paraíba do Sul


O Recanto do Américo, também conhecido como “Pau d’Alho”, se situa às margens do rio Paraíba do Sul. Lá se encontra uma árvore pau d’alho bicentenária, de 30 metros de altura. Uma verdadeira referência em toda a cidade e que deu nome à cidade de Guararema. Acredita-se que no passado toda a região da atual Guararema fosse ocupada por uma densa floresta de árvores pau d’alho.


Recanto do Américo


O local possui ilhas e mini pontes que as conectam e permitem que os visitantes caminhem entre elas. O ponto de acesso é através de uma praça ornada por belos decks de madeira e quiosques de vendas de alimentos e bebidas. A vista panorâmica do rio merece uma parada para ser devidamente aproveitada. É um dos pontos de encontros da cidade, pois todos o conhecem e a vista é realmente privilegiada. Infelizmente, em todas as vezes que estive em Guararema o Recanto do Américo estava fechado para reformas. Espero que da próxima vez que estiver na cidade eu finalmente consiga conhecer essa atração que parece ser muito especial.

Vista do Mirante à noite


Se você quiser ter a melhor vista de toda a cidade não pode deixar de conhecer o Mirante de Guararema no Morro do Gerbásio. Lá do alto dos 80 metros de altitude é possível termos uma panorâmica de Guararema. No local foi construída uma praça elevada, com deck de madeira, banheiros públicos, estacionamento e uma divertida fonte com jatos d’água fixos, que faz a alegria da criançada, especialmente nos dias quentes de verão. Aproveitando que já está lá em cima, não deixe de passar pelo restaurante Hangar 13, que serve almoços, jantares e petiscos, tudo isso com uma vista incrível.

Mirante


Restaurante Hangar 13


Para finalizar, ou iniciar o passeio, uma ótima opção é visitar o distrito de Luís Carlos, bastante próximo ao centro de Guararema, no qual podemos conhecer a estação local, perfeitamente restaurada, assim como todo o centro histórico local, incluindo a Capela de São Lourenço. Há um amplo estacionamento que fica lotado aos finais de semana, pois os turistas querem conhecer esse lugar tão charmoso, que possui um pequeno museu, vários bares e restaurantes de ótimo padrão, lojinhas de artesanato e presentes, além do tradicional passeio de Maria Fumaça entre a Estação Luís Carlos e a Estação Guararema, que é um dos favoritos de todos que visitam essa cidade tão pitoresca e agradável.


Parada Luís Carlos


Capela de São Lourenço


Estação Luís Carlos


Guararema hoje em dia

A cidade é a sede de grandes indústrias, as quais empregam a mão de obra local. Como exemplo, podemos citar a Panco, grande indústria alimentícia, a Masterfoods, fabricante dos produtos das marcas de chocolates M&M e Twix, as balas e gomas de mascar Wrigley e o arroz Uncle Ben’s. Um grande polo comercial é o Empório do Algodão, um enorme outlet que vende produtos de grandes marcas a preços acessíveis, além da Petrobrás, que possui o Terminal Transpetro de Guararema, onde são estocados derivados de petróleo. No total há 81 indústrias instaladas na região.

A agricultura local concentra mais de 600 propriedades, a maioria produtora de flores, particularmente orquídeas, além de frutas. O solo local é muito fértil e o clima é muito agradável.

Guararema recebe metade de sua previsão orçamentária dos royalties do petróleo, pagos a municípios como forma de compensação ambiental pela extração do petróleo. A cidade possui um oleoduto que abastece refinarias de todo o estado de São Paulo.

Guararema é um dos poucos municípios do Brasil que investe 4% de seu orçamento em cultura. A preocupação da administração local com assuntos culturais pode ser constatada com a criação de grandes espaços culturais pela cidade, tais como a Estação Literária Professora Maria de Lourdes Évora Camargo, a Casa da Memória e o cinema totalmente restaurado, que preservou a fachada original mas foi equipado com equipamentos de alta tecnologia de entretenimento para a população da cidade.

Vista da cidade a partir da Ilha Grande


Além disso, a cidade já recebeu no passado o título de 1ª cidade no Estado de São Paulo e 8ª de todo o Brasil com o melhor índice de Responsabilidade Fiscal, Social e de Gestão (IRFS). Outro elemento que denota a seriedade da gestão da cidade é que a prefeitura de Guararema foi a segunda do país, atrás apenas de Gramado, no Rio Grande do Sul, a conquistar a certificação ISSO 9001.

Eu tenho certeza de que se você visitar Guararema uma vez, logo ficará com vontade de planejar o seu próximo passeio com seus familiares e amigos, para apreciar um pouco mais da natureza local, dos ótimos restaurantes e da atmosfera hospitaleira e acolhedora desse local mágico. Não perca!!!

 

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Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones em julho e setembro de 2018 e dezembro de 2019.

Bibliografia usada:

Guararema – Suas Belezas e Histórias, de Miliane Moraes, Marta Vicentin e Suéller Costa