sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

PARANAPIACABA

 

PARANAPIACABA – UM ENCLAVE INGLÊS NO BRASIL

 


Um pequeno pedaço da Inglaterra em meio à Mata Atlântica do Estado de São Paulo. Provavelmente essa seja a melhor definição da Vila de Paranapiacaba.

Escondida no topo da serra a 796 metros acima do nível do mar, a Vila de Paranapiacaba foi construída de forma planejada por engenheiros ingleses, que foram os responsáveis pela construção da ferrovia Santos-Jundiaí. Ela se situa próxima às nascentes dos rios Grande e Pequeno que, juntos, são formadores da Represa Billings.

Com a crescente produção cafeeira no Estado de São Paulo, que cobria vastas fazendas até a região de Ribeirão Preto, o escoamento das safras se tornou inviável através do transporte no lombo de mulas, como foi feito durante muito tempo. Foi desse impasse que surgiu a ideia de se construir uma ferrovia que ligasse Jundiaí, um dos grandes polos cafeeiros, até o porto de Santos, para que a produção pudesse ser escoada em quantidade muito maior e com velocidade crescente.



O Governo Imperial concedeu tal empreendimento ao Barão de Mauá, por considerá-lo apto a enfrentar tal dura empreitada, que envolvia o enorme desafio de se transpor a serra entre a baixada santista e o interior do estado.

O Barão de Mauá consultou engenheiros ingleses que, na época, eram os melhores do mundo, pois haviam adquirido uma enorme experiência em criar ferrovias dentro do próprio Reino Unido durante a Revolução Industrial. Tais engenheiros consideraram que era viável a construção da ferrovia Jundiaí-Santos.

Cemitério


A fim de que se superasse o obstáculo existente da serra, foi proposta a adoção do sistema funicular. A subida do litoral ao planalto seria dividida em quatro declives e, na ponta de cada rampa seria criado um patamar no qual seriam montadas casas de força e máquinas a vapor. Elas seriam responsáveis pela tração dos cabos de aço que a serem utilizados para puxar as locomotivas serra acima e nas descidas, para evitar que elas chegassem ao litoral em alta velocidade e perdessem o controle. Para viabilizar tal feito de engenharia foram posicionadas paredes maciças para conter os taludes da serra e pontes e viadutos metálicos para ligar as encostas da serra.



Um projeto de tal magnitude denotou a necessidade de ser fundada uma vila para abrigar os operários que trabalhariam durante anos na grandiosa obra ferroviária. Essa vila seria o local onde residiriam os engenheiros e operários da São Paulo Railway. Daí surgiu a Vila Martin Smith, que foi posteriormente renomeada Vila de Paranapiacaba, tendo sido tombada pelo Condephaat em 1987, por ser considerada um patrimônio histórico nacional. O nome da vila, no idioma tupi, significa “lugar de se ver o mar, ou da visão do mar”, pois da região é possível se ver o mar em Santos.

Inicialmente, a estação que foi estabelecida na localidade foi apropriadamente denominada de “Alto da Serra”. Posteriormente, seu nome foi mudado para Paranapiacaba. A estação atual, preservada até os dias de hoje, foi construída em ferro e madeira e coberta por telhas francesas provenientes do Reino Unido.



Com o surgimento da nova ferrovia e, consequentemente, da Vila de Paranapiacaba, a exportação de café ao exterior pôde prosseguir em uma escala muito maior, com um ritmo consideravelmente mais intenso de circulação de carga.

Durante o período entre 1890 e 1945, a vila foi administrada pela São Paulo Railway, por parte dos ingleses. A partir do término da concessão, em 1946, a ferrovia foi encampada pela União, que assumiu sua gestão.

O ponto mais marcante da vila, e seu principal cartão postal, é a torre do relógio, fabricado em Londres pela empresa Johnny Walker Benson, que não é a mesma produtora do whisky de mesmo nome.

Torre do Relógio


Por ter sido um projeto idealizado e implementado pelos ingleses, Paranapiacaba possui um traçado ímpar no Brasil, pois tem suas ruas, casas e vielas sanitárias totalmente inspiradas no estilo arquitetônico existente na Inglaterra da época. Um exemplo disso é o uso do pinho de riga nas construções, considerado tipicamente característico do estilo vitoriano.

Há várias construções remanescentes até hoje na vila. Uma delas é o Clube União Lyra Serrano, no qual é realizado anualmente um renomado Festival de Inverno, onde se apresentam atrações musicais internacionais e nacionais, além haver de uma intensa oferta de oficinais, peças de teatro, eventos culturais, gastronômicos e feiras de artesanato, entre outros. Além disso, o clube possui um dos campos de futebol mais antigos do Brasil, onde provavelmente foi realizada a primeira partida oficial do país, com a participação de Charles Miller, o introdutor do futebol em terras brasileiras.



Podemos também ver e fotografar muitas residências originais, que foram construídas respeitando a hierarquia dos funcionários da ferrovia. O funcionário mais graduado residia no casarão conhecido como “Castelinho”, pois fica isolado no alto da serra, com uma vista privilegiada de toda a Vila de Paranapiacaba. Os quarteirões residenciais foram planejados de forma que rapidamente pudesse se encontrar qualquer funcionário, de acordo com o seu posto na hierarquia local. Os engenheiros e suas famílias moravam em casas grande e com varandas. Já os operários residiam em casas menores e de construção mais simples. Todas elas ainda permanecem no local e são habitadas por alguns descendentes dos moradores originais. Outras foram vendidas e possuem novos proprietários, sem qualquer vínculo com os imigrantes ingleses.

Castelinho


A estação ferroviária é a maior atração da cidade, pois nela podemos conhecer de perto algumas locomotivas originais, embora elas se encontrem mal preservadas. Há passeios guiados por todo o pátio, oficinas e casas de máquinas ainda existentes. É um passeio que agrada muito os visitantes, especialmente as crianças, que adoram ver os vagões e brincar de maquinistas.

Pátio dos trens


A vila é muito procurada pelos turistas, especialmente no período do inverno e outono pois frequentemente ela se encontra envolta em uma intensa bruma, que dá um aspecto londrino ao local, nos remetendo facilmente à época em que a vila era residência de uma considerável comunidade inglesa.

É também usada regularmente como local para ensaios fotográficos por famílias, casais, gestantes e artistas que aproveitam a atmosfera de mistério que existe no local para elaborarem suas obras.

Vila Alta


Outra bela atração na vila é a Igreja Bom Jesus de Paranapiacaba, que possui um cemitério em sua lateral. A igreja em si é muito bonita, com sua fachada amarela, contrastando com o céu azul da região. Além disso, do cemitério e da igreja se tem uma ótima vista panorâmica de toda Paranapiacaba.

Igreja Bom Jesus


Eu recomendo fortemente uma ida à Paranapiacaba para todos que estejam buscando um magnífico cenário para suas fotos, também para aqueles que gostem da atmosfera da serra e aos amantes da história do Brasil. Garanto que não se arrependerão da visita a esse pedacinho do Brasil desbravado pelos ingleses.

Bom passeio!

 

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com



Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em março de 2016.

Bibliografia usada:

Caminho do Mar – História e Meio Ambiente

A História de Paranapiacaba – de Vicente Lamarca

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

PIRACICABA

 

PIRACICABA – TERRA DO AÇÚCAR

 



A primeira imagem que temos ao chegarmos à Piracicaba é a do rio que a cruza e lhe deu nome, o Rio Piracicaba, com suas águas agitadas, cheias de peixes e histórias. Um verdadeiro paraíso para os pescadores.

Para qualquer turista que visite a cidade, fica muito claro que se trata de um local de abundância de recursos naturais e que ali o calor é intenso o ano inteiro.

Tive a oportunidade de visitar essa bela cidade algumas vezes e, em todas elas, a onipresença de seu rio e do calor marcaram as minhas passagens por lá.

História de Piracicaba

O nome “Piracicaba” significa “lugar onde chega o peixe” ou “lugar onde o peixe para”. Claramente essa denominação indígena denota que no Rio Piracicaba se apanha peixes com facilidade. Tal denominação é uma referência às fortes quedas do rio Piracicaba, que bloqueiam a piracema dos peixes.

Casarão de 1905


A cidade nasceu a partir do rio e, desde sempre, teve nele seu principal parceiro em seu desenvolvimento, desde os tempos coloniais. Inicialmente a região era ocupada pelos índios Paiaguás, provavelmente atraídos pela riqueza da caça e da pesca na região. Posteriormente vieram os sertanejos e posseiros no ciclo das entradas e bandeiras.

O primeiro relato que se tem a respeito de Piracicaba é a tentativa de penetração no território ocorrida em 1693, mas que acabou não resultando na criação de nenhum povoamento. O vale do Rio Piracicaba começou a ser ocupado de fato durante o século XVII, quando alguns colonos penetraram na floresta local e começaram a ocupar as terras ao redor do Rio Piracicaba, praticando a agricultura de subsistência e exploração vegetal.

Apenas após a descoberta das minas de ouro em Cuiabá em 1718 é que se começou a criar uma estrada de São Paulo até Cuiabá. A estrada que foi construída passava pela região que futuramente viria a ser a sede do município de Piracicaba.

A Capitania de São Paulo decidiu fundar uma povoação na região, que serviria de apoio a navegação das embarcações que desceriam o rio Tietê em direção ao rio Paraná e forneceria apoio e retaguarda ao forte de Iguatemi, localizado na divisa com o futuro Paraguai, exatamente onde haviam sido encontradas as minas de ouro de Mato Grosso. O objetivo da fortificação era o de defender as terras portuguesas dos invasores espanhóis e paraguaios.

Passeio de barco


Desta forma, em primeiro de agosto de 1767 o Capitão Antônio Correa Barbosa estabeleceu uma nova povoação na localidade da atual cidade de Piracicaba, a fim de facilitar o transporte de víveres e munições para as tropas da fortificação da Vila Militar de Iguatemi.

A nova povoação foi erguida à margem direita do rio, sendo que em 21 de junho de 1774 foi elevada à categoria de Freguesia. No entanto, o terreno irregular e infértil da margem esquerda provocou a mudança da sede para a margem direita do rio em 1784, aproximadamente onde hoje se situa o Engenho Central, pelo fato do terreno ali ser mais alto e de qualidade superior.

Engenho Central


O pequeno povoado que existia na localidade da atual Piracicaba cresceu devido à expansão de Porto Feliz, no rio Tietê, que foi um ponto de passageiros e cargas para a capitania de Mato Grosso, além de ser o centro de partida das famosas Monções. Por ter o solo rico em terra roxa, a cana de açúcar desde o início teve um papel fundamental no crescimento e enriquecimento de Piracicaba, continuamente atraindo novos moradores e imigrantes da Europa.

A fertilidade da terra atraiu muitos fazendeiros, ocasionando a disputa de terras. A partir de 1836, houve um importante período de expansão. Não havia lote de terra desocupado e predominavam as pequenas propriedades.

O cultivo da cana-de-açúcar e do chá enriqueceu cada vez mais a região com o passar dos anos. O povo piracicabano se orgulha até hoje de ter um dos solos mais férteis conhecidos em todo o país, o que sempre deu uma vocação agrícola para a cidade e seu entorno. Depois da chegada dos portugueses e brasileiros nativos, a região começou a receber imigrantes europeus para trabalhar na terra e desenvolver seu artesanato.

Além da cultura do café, os campos eram cobertos pelas plantações de arroz, feijão e milho, de algodão e fumo, sem deixarmos de mencionar as pastagens para criação de gado. Piracicaba era um respeitado centro abastecedor. Em 1847, o proprietário da Fazenda Ibicaba (na época pertencente ao território de Piracicaba), foi pioneiro em adotar a mão de obra imigrante assalariada em substituição aos escravos africanos, contratando famílias suíças e alemãs.

Trilha à beira do rio


Já no final do século XVIII a região progrediu baseada no cultivo da cana-de-açúcar e na navegação do Rio Piracicaba, tornando-se rapidamente a principal cidade de suas redondezas.

Diferentemente da maioria das outras cidades do Oeste Paulista, que rapidamente adotaram a cultura do café como atividade econômica principal, Piracicaba manteve-se vinculada ao cultivo da cana-de-açúcar. Por tal razão, a região se tornou um dos principais pólos de escravidão no Oeste Paulista, com grande presença de escravos e libertos negros.

O desenvolvimento prosseguiu de forma mais acelerada: os trilhos da Companhia Ituana de Ferrovias chegaram até a cidade, com a inauguração do ramal ferroviário Piracicaba a Itu no ano de 1877. Em 1881 foi fundado o Engenho Central às margens do rio Piracicaba, que viria a se tornar o maior engenho de açúcar do Brasil nos anos seguintes. A cidade começou a substituir o trabalho escravo pelo dos imigrantes assalariados: Piracicaba recebeu importantes contingentes de portugueses, italianos e sírio-libaneses.

Em 1877, a cidade adotou a designação atual de Piracicaba, por intermédio de seu então vereador e futuro primeiro civil Presidente da República, Prudente de Morais, através de um plebiscito.

Vista panorâmica


Piracicaba se firmou como um dos mais importantes pontos do Estado de São Paulo em 1900: era a quarta maior cidade do Estado, possuindo luz elétrica e serviço de telefone. Devido a um certo declínio econômico na cidade de Itu após 1890, Piracicaba se tornou a principal cidade da região. Na virada do século, Piracicaba se alcançou a posição de maior produtora de açúcar da América Latina.

No entanto, tanto progresso não impediu a crise que a cidade enfrentou no século XX, após o fim do ciclo do café e as constantes quedas do preço do açúcar.

Para se reerguer, o município se tornou um dos primeiros do Brasil a se industrializar e investiu no setor metal mecânico e de equipamentos destinados à produção de açúcar. A industrialização, ainda muito baseada no ciclo da cana-de-açúcar, impediu o declínio da cidade, mas não sua estagnação.

Piracicaba chegou aos anos 50 com um complexo agroindustrial desenvolvido, quando passou a ser conhecida como “A Capital do Açúcar”. A partir da segunda metade do século XX a cidade passou a enfrentar mais uma dificuldade para o seu desenvolvimento: o crescimento da cidade de Campinas, com melhor localização geográfica (mais próxima a Capital do Estado e ao Porto de Santos).

A cidade, apesar de sua longa crise, conseguiu se manter na posição de segunda maior em população e terceira em economia na Região Administrativa de Campinas (atrás apenas de Campinas e Jundiaí) e um dos maiores pólos produtores de açúcar e álcool do mundo, além de contar com importante centro industrial e diversas universidades de renome.

A partir da década de 1970 foram tomadas ações para alavancar a economia piracicabana. Foi construída a Rodovia do Açúcar, ligando a cidade a Rodovia Castello Branco, que serviu como uma nova rota de escoamento da produção. A Rodovia Luiz de Queiróz foi duplicada até a Via Anhanguera, melhorando o acesso a cidade e a ligando com a principal rodovia do Interior do Estado. Foram criados distritos industriais e novas empresas chegaram à cidade. Nessa época houve a implantação de um parque industrial complexo, no qual se destacaram as indústrias mecânica e de maquinário agrícola, metalúrgica, de papel e papelão.

A vinda da Caterpillar, produtora de máquinas rodoviárias, marcou o começo da chegada de modernas indústrias de capital estrangeiro de novos segmentos industriais. Além disso, a criação do Proálcool em 1975, deu um grande impulso às usinas e destilarias, historicamente fortes na região, promovendo o desenvolvimento do parque industrial voltado para o setor, pois modernizou o cultivo da cana-de-açúcar e ajudou a revigorar a produção canavieira.

Piracicaba reforçou sua economia e conseguiu sair de seu longo ciclo de crise. Infelizmente, não voltou ao status que possuía no início do século, principalmente por continuar a dividir potenciais novos investimentos com a vasta região industrial e tecnológica de Campinas.

No início do século XXI, a cidade registrou bons índices de desenvolvimento, recuperando áreas degradadas e apostando na biotecnologia e produtos de exportação para o seu desenvolvimento futuro. Atualmente Piracicaba é o 9º Município do Estado de São Paulo em valor de produtos exportados.

Em 2012, o município recebeu a fábrica da Hyundai, o que gerou milhares de empregos e transformou a região, ampliando assim sua participação no setor industrial, passando a ser uma das áreas mais importantes economicamente no interior do Estado de São Paulo.

Em junho de 2012 criou-se a Aglomeração Urbana de Piracicaba, que em 2014 foi listada pelo IBGE entre as 25ª maiores regiões administrativas do país em número de habitantes. Em 2015, estava na 20ª posição na lista, com 1,412 milhão de habitantes.

 

Engenho Central

Foi fundado em 1881 pelo barão Estevão Ribeiro de Rezende, com o objetivo de substituir o trabalho escravo pelo assalariado e pela mecanização. Sua criação representou um enorme avanço na estrutura produtiva, pois industrializava a produção de cana-de-açúcar de forma centralizada e empregou mão de obra especializada pela primeira vez no município, em grande contraste com a mão de obra escrava existente nos pequenos engenhos das fazendas locais. Com sua criação, o Engenho Central começou a substituir o trabalho escravo pelo dos imigrantes, principalmente de contingentes de portugueses, italianos e sírio-libaneses.

O Engenho Central foi durante muitos anos o maior engenho de açúcar do Brasil. No entanto, devido às dificuldades de manutenção das máquinas importadas, ele foi vendido em 1899 à Societé Sucrérie Brèsiliennes, transformando-se no mais importante do país, com uma produção anual de 100 mil sacas de açúcar e três milhões de litros de álcool, incorporando-se a outras seis usinas.

Foi desativado em 1974 e reconhecido como patrimônio histórico. Desapropriado pela Prefeitura, passou a servir de importante espaço cultural, artístico e recreativo para toda a cidade. Sua área verde é de 80 mil metros quadrados e a área construída ocupa 12 mil metros quadrados.

Sem dúvida alguma é a maior atração da cidade, que merece ser visitada por todos os turistas, que poderão conhecer suas instalações muito bem preservadas, além de terem uma vista privilegiada do Rio Piracicaba.

 

Parque da Rua do Porto

Um dos novos parques da cidade. Ocupa uma área verde de 200 mil metros quadrados, com lago, pistas para atividades físicas e parques infantis. É o local onde são realizados campeonatos de pesca, balonismo, canoagem e shows artísticos. Possui uma grande concentração de bares, restaurantes e lanchonetes, constituindo um ponto de encontro obrigatório da população piracicabana e dos turistas.

Bares na Rua do Porto


 

Casa do Povoador

A construção é um casarão de pau-a-pique construído no início do século XIX. É um grande símbolo da história da cidade e um marco da passagem dos bandeirantes pela região.

Situada na famosa rua do Porto, à margem esquerda do rio, foi tombada em 9 de março de 1970 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo (CONDEPHAAT).

Atualmente, a Casa do Povoador é um dos espaços culturais mais procurados da cidade, onde são realizadas exposições, ministrados cursos e oficinas para profissionais de arte, educadores e público em geral.

Casa do Povoador


A Casa do Povoador dispõe de salas alternativas destinadas a exposições periódicas. Seu acervo é composto de documentos e fotos que mostram todo o processo de recuperação e preservação do local.

Com o objetivo de preservar e resgatar o folclore local e regional, nessa área acontecem apresentações folclóricas, exibições de grupos de danças, shows musicais, mostras de pesquisas, acervos e artesanato de diversas regiões e culturas. O espaço também é ocupado pelos Bonecos do Elias, confeccionados pelo folclorista Elias Rocha, um personagem lendário da cidade. Seus bonecos estão permanentemente expostos, e abordam temas relacionados às datas comemorativas de cada mês, além de cenas do cotidiano.

 

Museu Prudente de Moraes

Museu Prudente de Morais


É um casarão de estilo imperial brasileiro, no qual viveu de 1870 a 1920 o primeiro presidente civil do Brasil, Prudente de Moraes. Após sua morte, foi fundado no local o Museu Histórico e Pedagógico “Prudente de Moraes”, com um acervo que ilustra a vida do ex-presidente e a época da formação da República. Seu acervo possui peças relativas à filatelia, numismática, hemeroteca, biblioteca, mobiliário, armaria, etnologia, folclore, objetos de uso doméstico, instrumento musicais, maquinaria, fotos, documentos, mineralogia, mapas e plantas, arte visual além da sessão referente à Revolução Constitucionalista.

 

A pamonha de Piracicaba

Essa iguaria, que é uma herança da cultura indígena, originalmente é feita somente à base de milho. No entanto, ela também pode ser recheada com sabores doces e salgados, como doce de leite e queijo. Piracicaba é referência da produção da pamonha, sendo tal produto conhecido regional, estadual e nacionalmente como as “Pamonhas de Piracicaba”. Quem é que ainda não ouviu um carro com alto falantes em alto volume anunciando: “Pamonhas de Piracicaba” Pamonhas, Pamonhas, Pamonhas...”?

 

Salão Internacional do Humor de Piracicaba

Salão de Humor de Piracicaba - Programa Roda Viva


O Salão Internacional de Humor de Piracicaba é um festival de humor gráfico realizado anualmente desde 1974, no Engenho Central da cidade. Ele foi instituído inicialmente como uma maneira de se protestar e resistir conta a ditadura militar no Brasil. Com o passar dos anos, o evento anual foi crescendo e alcançando uma reputação internacional. Atualmente o evento é considerado um dos mais importantes do mundo no universo das artes gráficas. A competição é dividida em quatro categorias neste salão de humor: cartum, charge, tiras e caricatura.

 

Esalq

A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) é uma unidade da Universidade de São Paulo (USP). Ela foi criada em 1901, em terras da Fazenda São João da Montanha, doadas ao governo do Estado de São Paulo por Luiz Vicente de Queiróz, para a criação de uma escola agrícola.

Atualmente é uma das mais renomadas instituições de ensino da cidade, sendo sua reputação conhecida internacionalmente, por ser uma referência na área de estudos, ensino e pesquisa agrícola. É considerada um centro de excelência, que já formou mais de 15.000 alunos. Em 1964, a Esalq foi a primeira unidade da USP a implantar programas de pós-graduação. Até hoje foram 9.125 titulados, entre mestres e doutores

Escola Superior de Agricultura


A escola é um ambiente voltado à produção de conhecimento, na qual professores, alunos e funcionários exercem suas atividades em uma área de mais de 3800 hectares.

Além de tudo, é uma área que é muito usada pelos moradores da cidade como um lindo parque para passeios, corridas e caminhadas. Eu mesmo passei um final de tarde agradabilíssimo na Esalq, no qual pude conhecer um dos grandes marcos da cidade de Piracicaba.

 

Antiga Escola Normal de Piracicaba

A imponente construção foi fundada em 1897, como Escola Complementar de Piracicaba, voltada à formação de professores. A instituição desempenhou tal função até 1911, quando passou a ser denominada Escola Normal. Essa unidade é uma das mais antigas da rede em todo o estado de São Paulo, tendo sido tombada como patrimônio histórico pelo CONDEPHAAT em janeiro de 2002. Atualmente é conhecida como Escola Estadual Sud Mennucci, atendendo 900 alunos do Ciclo II do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), Ensino Médio e Educação Especial.

Antiga Escola Normal


Quem passa em frente à escola não tem como não notá-la e ficar surpreso com a beleza de sua fachada. É realmente uma das construções mais belas que se encontram na cidade.

Piracicaba é, sem dúvida alguma, uma cidade que merece ser visitada por qualquer turista que se interesse pela história do Brasil, mas não apenas isso. É um lugar muito alegre, cheio de vida, de grande abundância de recursos, cortada por um lindo rio, no qual podemos passear de barco e admirarmos toda sua beleza natural. Em todas as vezes que estive lá me senti feliz, pois Piracicaba é uma cidade sempre ensolarada, com muitas pessoas na rua, bares cheios, crianças correndo pelos parques, enfim, um lugar cheio de vida!

Não deixe de visitar “Pira”, como é carinhosamente denominada por seus habitantes. Mas não se esqueça de trazer seu protetor solar, pois você seguramente precisará dele!

 

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em novembro de 2018.

Bibliografia usada:

Piracicaba – Panorama da Cidade

Fontes variadas da Internet

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

CUBA FOLCLÓRICA


 

REFLEXO


 

CAACUPÉ - TERRA DA PADROEIRA DO PARAGUAI

 CAACUPÉ – TERRA DA PADROEIRA DO PARAGUAI





O nosso vizinho, Paraguai, é um país muito interessante. Embora não tenha o reconhecimento turístico que deveria, possui um patrimônio histórico e cultural de grande relevância.

Além de suas inúmeras ruínas de Reduções Jesuíticas, as maiores, mais belas e mais bem preservadas da América do Sul, o país oferece atrações turísticas para todos os gostos. Entre elas, se encontra a cidade de Caacupé, situada a apenas 53 km da capital do Paraguai, Assunção. Caacupé é uma palavra indígena que significa “Atrás dos montes”.

Fonte com a imagem da Santa


Tive a oportunidade de conhecer esta pequena e pitoresca cidade no mês de junho de 2019, quando visitei o Santuário de Nossa Senhora de Caacupé, a padroeira do povo paraguaio.

O Paraguai é um país singular: é um dos poucos no mundo que preservaram uma língua indígena como língua oficial, o guarani, que é um parente direto do tupi antigo que era falado no Brasil e que foi proibido de ser falado por aqui pelo Marquês de Pombal, quando Portugal ainda era dona das terras brasileiras.

Em termos percentuais, até hoje o Paraguai é o país mais religioso de todo o continente americano, pois 92% de sua população de declara religiosa, em comparação com 79% no Brasil, por exemplo.

Imagem de N.S. de Caacupé


A Nossa Senhora de Caacupé faz parte desta união entre a identidade dos guaranis e da fé católica.

No final do século XVI, um índio convertido, que vivia em uma pequena aldeia próxima do povoado de Tobatí (futura cidade de Caacupé), que era escultor de profissão e paroquiano dos Franciscanos, subiu ao topo de uma colina e se deparou com membros hostis da tribo Mbayá, ainda pagã, que o capturaram. Temendo por sua vida, o índio tentou fugir e conseguiu, se escondendo atrás de um enorme tronco de árvore.

Durante as horas de angústia que passou oculto atrás do tronco, fez uma promessa à Virgem Maria que, caso ele conseguisse escapar dessa situação com vida, faria uma imagem dela como símbolo de sua gratidão por sua salvação.

Visão dos fundos


Mais tarde, após ter conseguido se salvar da tribo Mbayá e ter se livrado do risco de ser morto, o índio voltou ao local onde havia se encondido e retirou a madeira necessária do tronco atrás do qual havia se escondido e a fez secar pacientemente, a fim de poder esculpir duas estátuas de Nossa Senhora e cumprir a sua promessa. Uma delas, a maior, seria encaminhada à Igreja de Tobatí, nas proximidades de sua aldeia, que futuramente cresceria e se tornaria a atual cidade de Caacupé. A outra, menor e de aproximadamente 50 cm de altura, seria usada para sua devoção particular.

Infelizmente, no ano de 1603, o lago de Tapaicuá transbordou e alagou todo o vale do Piray, levando consigo tudo pelo seu caminho, inclusive a imagem da Virgem. Surpresos com a inundação do lago, os habitantes da aldeia trataram de retirar primeiramente as crianças, os idosos e os mais fracos. Depois não conseguiram salvar mais nada, nem mesmo a imagem de Nossa Senhora, que viram ser levada pela correnteza.

Visão do interior


Quando finalmente as águas retrocederam, um outro indígena, um carpinteiro chamado José, encontrou uma maleta de couro descendo pelas águas barrentas. Dentro dela, estava a estátua de Nossa Senhora, a menor das duas, toda envolta em panos brancos. Quanto à maior, supõe-se que tenha sido levada pelos índios pagãos e destruída em um dos saques que fizeram contra o templo de Tobatí. A identidade e o paradeiro do índio cristão escultor permanecem incertos até os dias de hoje.

Os habitantes da aldeia pensaram em abandonar o local onde viviam, mas desistiram de fazê-lo ao constatar que a imagem da Nossa Senhora havia voltado ao mesmo local de onde havia sido levada pelas águas. 

Os habitantes locais começaram a propagar a sua devoção à Nosa Senhora e a invocá-la como “A Virgem dos Milagres”. 

Vitrais


José, que havia encontrado a estátua, construiu uma pequena capela para abrigá-la. Esta foi a origem da veneração da Nossa Senhora de Caacupé, cuja imagem tem os pés descansando sobre uma esfera, rodeada de bandagem branca de seda. 

Atualmente, Nossa Senhora de Caacupé é considerada a Padroeira do Paraguai, e também conhecida como “A Virgem Azul do Paraguai”. Sua festa é celebrada anualmente no dia 08 de dezembro, quando milhares de peregrinos do país inteiro vão ao Santuário de Caacupé para venerá-la e demonstrar seu amor e gratidão por suas graças e proteção. Algumas pessoas trazem também seus animais para serem abençoados pela padroeira do país. 



Em 2015, o Papa Francisco visitou o Santuário de Caacupé e celebrou uma missa no local, que foi tomado por milhares de fiéis vindos de todas as partes do país, em gratidão à Padroeira do Paraguai.

Na parte interna do santuário, podemos fazer uma subida até sua cúpula e termos uma panorâmica vista de toda a cidade. Além disso, anexo ao local se encontra um belo e organizado museu contando toda a história do local, da padroeira do Paraguai e da visita papal ocorrida em 2015, com objetos usados pelo Papa Francisco, o trono no qual se sentou ao realizar a missa e muitos objetos de interesse, especialmente de cunho histórico e religioso.

Após minha passagem por Caacupé pude constatar que a fé do povo paraguaio em sua padroeira continua mais forte do que nunca.



Bibliografia:

Revista da Aleteia, 11 de junho de 2018

Portal Arcanjo no Ar, 19 de janeiro de 2011

Portal Fronteira News, 08 de dezembro de 2018

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones em junho de 2019.

Com agradecimentos especiais à Otávio Gabriel Briones e Thais Aveiro.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

ESQUILO NA ÁRVORE


 

HAVANA - SONHO OU PESADELO? - PARTE 4

 

PARTE 4


 

 

DIA 7

Como o calor havia sido muito intenso no dia anterior, decidi descansar no período da manhã e me recuperar um pouco do ritmo pesado dos meus passeios feitos até então.

A primeira parada rápida do dia foi para dar uma olhada no antigo Hotel Capri, atualmente abandonado e em péssimo estado. O motivo de minha passagem por ali foi para ver um local que no passado foi dominado pela máfia e que, ainda por cima, aparece em uma das cenas do filme “O Poderoso Chefão”, na qual é retratada uma reunião entre os maiores líderes da máfia da época. Realmente bastante interessante imaginar que tal reunião realmente tenha acontecido ali, naquele local totalmente sem qualquer sinal de vida hoje em dia.

Hotel Capri


Depois dessa parada fui almoçar no Edifício Focsa, que é um ícone da cidade por ser muito tradicional e ter um restaurante panorâmico no topo, com uma linda vista de 360 graus de toda a cidade de Havana. O restaurante se chama “La Torre”. O almoço foi bastante simples, no qual comi uma carne com batatas e cenouras. O que mais me chamou a atenção foi que, ao chegar no restaurante, todas as mesas já estavam postas com uma entrada nos pratos. O detalhe é que era uma entrada de frutos do mar. Sabe-se lá há quanto tempo aqueles pratos já estavam postos ali, sem qualquer tipo de refrigeração. Alguém que resolva comer tal entrada, que estava tomando sol há horas ali, é um sério candidato a participar de uma verdadeira roleta russa gastronômica.

Edifício Focsa - entradas já servidas nas mesas


A parada seguinte foi o Hotel Cohiba, no qual eu comprei uma linda Guayabera, um tipo de camisa social típica de Cuba, que é usada em ocasiões especiais. São peças muito bem trabalhadas, especialmente se adquirirmos uma Guayabera de uma marca superior. Foi o único presente que comprei para mim durante toda a minha estadia na ilha.

Há alguns outros pontos que eu gostaria de mencionar, relativos às observações que fiz durante minhas férias em Cuba. Primeiramente quero deixar registrado aqui o alto índice de prostituição existente no país. Todos os dias, sem exceção, fui abordado incontáveis vezes por prostitutas me oferecendo seus serviços. Havia mulheres de todas as idades e tipos. O que me entristeceu ainda mais foi o fato de tomar conhecimento que, para a maioria delas, a prostituição não é apenas uma forma de subsistência, mas também de adquirirem bens como um sabonete, um tubo de pasta de dente, um perfume barato. Realmente uma realidade deprimente. Notei também que, quase sempre, as prostitutas andam acompanhadas por garotos de programa. Caso a abordagem delas aos turistas masculinos estrangeiros não dê certo, logo em seguida somos abordados por um garoto de programa, pois eles imaginam que se o turista não se interessa por uma mulher, provavelmente é porque ele é homossexual, e prefere os serviços de um garoto de programa. Que tristeza presenciar isso diariamente.



Um outro fator marcante foi que, em todas as farmácias que visitei, praticamente não encontrei nenhum medicamento à venda. Na realidade, não havia praticamente nada sendo vendido. Em todas as farmácias, sempre velhíssimas e em péssimo estado de conservação, havia prateleiras e prateleiras vazias, sem nenhum produto exposto. Eventualmente havia um ou dois frascos de medicamento exposto. Nada mais. Nada de sabonetes, pastas de dente, absorventes femininos, fios dentais, lâminas descartáveis, absolutamente nada. Os funcionários ficam sentados o dia inteiro dentro da farmácia, ouvindo música, sem fazerem absolutamente nada.



Em seguida, fiz uma visita bastante inusitada: fui conhecer a Praça Lennon. Sim, em homenagem ao lendário Beatle John Lennon. Fiquei intrigado por não conseguir entender qual a ligação de Lennon com Cuba, já que Fidel Castro e o governo cubano consideram o rock como um produto nocivo do capitalismo, uma forma de dominação cultural criada pelos EUA. Acabei descobrindo que, na visão deles, Lennon era um rebelde revolucionário, que lutava contra os EUA e, desta forma então, seria um aliado de Cuba. Um verdadeiro absurdo, pois John Lennon nunca declarou ser a favor de Fidel Castro, ou de Cuba. Além disso, quando se separou dos Beatles, morou nos EUA em Nova York até a sua morte prematura em 1980. Realmente isso denota o quão equivocada é a leitura do governo cubano quanto ao posicionamento e ideais defendidos pelas pessoas. Não pude deixar de fazer uma foto sentado no banco, ao lado da estátua de John Lennon, especialmente por ser um grande fã dele desde criança. Um pequeno detalhe: há um funcionário público, um senhor muito idoso, provavelmente com mais de 80 anos, cujo único trabalho é tomar conta dos óculos da estátua. Quando não há ninguém na praça, ele guarda os óculos da estátua no bolso. Ao chegar algum turista, ele coloca os óculos na estátua para que possam ser feitas fotos. Feitos os registros fotográficos, ele deixa John Lennon míope novamente e guarda os óculos no bolso. Segundo ele, isso é para evitar roubos, pois a área está cheia de ladrões que querem pegar tal peça para vender e ganhar alguns dólares.

Praça Lennon


Outro ícone de Cuba é o Cocotáxi. Uma estrutura de fibra de vidro, no formato de um coco, montado em cima de uma motocicleta. Serve de táxi para dois passageiros, sempre turistas, que se deparam com tal meio de transporte inusitado. Eu pessoalmente não andei de Cocotáxi, pois soube que há incontáveis registros de acidentes. Desta forma, preferi apenas vê-los de perto e fazer meus registros fotográficos.

Cocotáxi


Fiz uma rápida passagem pela Casa das Américas, onde se situa um organismo de cooperação entre os países do continente e, em seguida, passei pelo ICAIC, Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficos, que foi estabelecido pelo governo cubano em 1959, depois da Revolução Cubana, a fim de promover filmes do país, com um viés propagandístico a apoiar o governo e sua ideologia.

Na sequência, fiz uma breve parada no Cemitério Cólon, onde estão enterrados a política socialista chilena Isabel Allende e o músico Ibrahim Ferrer, do Buena Vista Social Club. Trata-se do maior e mais importante cemitério da cidade.

Um dos lugares mais bizarros que visitei em Havana foi a próxima parada, o Parque Lenin. Sim, há um parque na capital cubana homenageando Vladimir Lenin, o líder soviético. Logo na entrada do parque há um busto em proporções soviéticas, típicas do comunismo, em que Lenin aparece de perfil. Não pude deixar de fazer várias fotos no local, pois parecia realmente uma cena de filme ver tal monumento dentro do maior parque da cidade de Havana.

Parque Lenin


Visitei a Torre de La Chorera, de 1646, remanescente do período hispânico. O lugar está bem preservado e atualmente tem um restaurante para turistas estrangeiros.

Torre de la Chorera


No final da tarde, fui beber uma Tukola no pátio do famoso Hotel Nacional, para ter a oportunidade de ver o lindo mar azul intenso do Caribe, pois no dia seguinte ocorreria o meu regresso ao Brasil. Fiquei horas ali, vendo o mar e pensando em tudo que eu havia visto, vivido e aprendido em minha curta, porém marcante estadia em Cuba. Um momento de profunda reflexão.

Para finalizar o dia, jantei no Hotel Meliá Cohiba, no restaurante La Piazza.

 

DIA 8

O meu último dia em Cuba começou com um café da manhã no Hotel NH. Logo em seguida fui a pé para visitar a fábrica de charutos mais famosa do país.

Antes de chegar até lá, passei por uma praça onde vi um carrinho vendendo “Granizado”. Descobri que é um tipo de raspadinha, uma mistura de gelo com xaropes do tipo groselha. O problema é que, além da falta de higiene total do carrinho, a água usada para preparar o gelo não tem tratamento nenhum. Muitos turistas literalmente “entram em uma fria” ao tentarem experimentar o tal do granizado, passando depois dias sem sair do banheiro, com fortes crises de diarréia. Portanto, ainda não foi dessa vez que eu experimentei essa “iguaria” local.

Granizado


Uma surpresa que tive foi, ao cruzar uma praça, encontrei bustos de dois personagens históricos brasileiros: Tiradentes e José Bonifácio. Depois descobri que era uma homenagem a personagens históricos latino-americanos considerados líderes revolucionários. Tiradentes pode ser considerado um líder revolucionário, mas José Bonifácio?


Busto de Tiradentes. Acima, busto de José Bonifácio


Finalmente cheguei à Fábrica de Charutos Partagás, a mais renomada do país, conhecida por produzir os mais sofisticados, procurados e caros charutos de Cuba. Os conhecedores e apreciadores de charutos pagam centenas de dólares por uma pequena caixa contendo alguns charutos Partagás.

Fábrica de Charutos Partagás


Infelizmente os visitantes não podem tirar fotos dentro da fábrica. A visita é interessantíssima e surpreendente em vários aspectos. A parte boa é que se aprende detalhadamente a história dos charutos cubanos, como eles são elaborados, os principais insumos necessários, as embalagens, e tudo mais. A parte ruim é que vemos as condições de trabalho às quais os empregados da fábrica são submetidos. Vi coisas que jamais seriam permitidas em qualquer país do mundo que tivesse uma legislação trabalhista minimamente séria, além de um departamento de vigilância sanitária atuante. Se você é um fumante de charutos cubanos, talvez seja melhor pular para o próximo parágrafo, pois talvez não queira saber o que vêm colocando em sua boca há tempos. O calor dentro da fábrica é infernal, e ela não possui nenhum tipo de climatização, nem mesmo ventiladores, para atenderem os funcionários para que eles não sofram durante o expediente. Cada um deles suava muito, estando totalmente cobertos de suor nos rostos e, especialmente, nas mãos, usadas para enrolar e embalar os charutos, sem nenhum uso de luvas ou qualquer tipo de higienização. As mesas onde os charutos são enrolados são imundas, assim como todos os objetos usados na elaboração dos renomados charutos. O local tem um odor horrível de suor misturado com sujeira e calor. Definitivamente, quem visita uma fábrica de charutos cubana jamais colocará um desses charutos na boca em sua vida.



No final da visita, há uma loja onde os interessados podem comprar charutos Partagás a preços de fábrica. Eu trouxe apenas alguns de lembrança para amigos que haviam me encomendado tais produtos, além de um para mim, que eu jamais fumarei, mas que guardarei para sempre como lembrança da visita.

Outra coisa assustadora em Cuba são os banheiros públicos, sé é que eles podem ser chamados assim. Trata-se meramente de um cubículo metálico verde com uma portinhola, sem qualquer vaso sanitário, pia ou até mesmo piso, no qual a pessoa entra, fecha a portinhola, faz suas necessidades diretamente no chão (sejam elas quais forem) e, depois disso, não há nenhum tipo de papel higiênico. A pessoa simplesmente abre a porta e vai embora. Um verdadeiro show de horrores. As cenas que eu vi dentro de tais banheiros não poderão ser descritas aqui, envolvendo homens e mulheres, mas creio que vocês possam fazer uma ideia do que eu presenciei. Para quem não acreditar, dê uma olhada na foto dessa matéria.

Banheiro público em Cuba


Na sequência, fui ao Museu do Rum, que é a bebida oficial de Cuba. O local é interessante, bem organizado, porém pequeno. Após a visita, encontramos uma loja na qual podemos comprar todos os tipos de rum produzidos no país, em vários tipos de tamanhos de garrafas diferentes. Eu comprei uma pequena garrafa para mim e um jogo de 5 mini garrafas com tipos diferentes de rum. Embora eu possa reconhecer que a qualidade da bebida é realmente muito boa, provavelmente o melhor rum do mundo, eu não consigo consumir tal bebida pura, pois é realmente forte demais para o meu paladar. Na minha opinião, a melhor maneira de se beber rum é no drink Cuba Libre”, no qual o rum é diluído com Coca-Cola, ficando bem mais suave. Como diz o ditado, “gosto é gosto.

Almocei no hotel NH e depois passei em frente ao prédio onde se localiza a Embaixada do EUA.

O prédio era cercado por todos os lados, altamente vigiado por soldados cubanos, que controlavam absolutamente todos que se aproximavam do local ou tentavam entrar ali, para pedir asilo aos EUA e tentarem fugir de Cuba. Há uma praça enorme em frente ao prédio, com centenas de mastros de bandeiras cubanas, que são usadas para bloquear as imagens exibidas no telão existente dentro do prédio da embaixada.

Praça em frente à embaixada dos EUA


De lá parti para o aeroporto internacional José Martí, no qual havia chegado à Cuba apenas alguns dias anteriormente.

Ao entrar no aeroporto, fazer o check-in e embarcar no vôo de volta ao Brasil, com parada no Panamá, eu não era mais a mesma pessoa. Havia mudado e entendido coisas que somente quem vivencia o que é uma ditadura consegue entender.

Me lembrei daquela linda canção do Lô Borges, do antológico álbum “Clube da Esquina”, com Milton Nascimento, chamada “Tudo que você podia ser”. Nada define melhor Cuba do que o título dessa canção. O potencial do país é enorme, fantástico, com lugares lindos, um povo hospitaleiro, com muito talento musical e artístico de uma forma geral. O país poderia ser um dos maiores destinos turísticos do mundo, pois o sol brilha lá o ano inteiro, a cor do mar é de um azul incrível e as vistas panorâmicas de Havana são realmente especiais. No entanto, tudo isso está submetido a seis décadas de uma ditadura implacável, sanguinária, que escraviza seu povo e lhe tira as condições mínimas para que ele tenha uma vida digna, fazendo tal povo passar todos os tipos de dificuldades, sem dá-los direito à saúde, educação, trabalho, comida e as necessidades básicas. Quem acredita que Cuba tem a melhor educação e saúde do mundo precisa urgentemente pegar um vôo para Havana e tomar um choque de realidade. Fidel Castro, seu irmão Raul e todos os outros líderes cubanos conseguiram destruir um lugar que teria tudo para ser um verdadeiro paraíso no Caribe.

Me despedi de Cuba com tristeza, por ter podido sentir na minha pele um milésimo do sofrimento e angústia aos quais o povo cubano é submetido há mais de 60 anos. Por outro lado, agradeci a Deus por ter nascido no Brasil e ter acesso ao que há de mais precioso na vida de qualquer pessoa: liberdade.

Adeus Cuba!!!


Espero um dia poder retornar a Havana, após a democracia ser restaurada no país e seu povo voltar a ser livre. Quem sabe um dia eu ainda possa conhecer a verdadeira “Cuba Libre?

 

Marco André Briones

Abril de 2020