sábado, 16 de janeiro de 2021

SÃO JOSÉ DO BARREIRO

 

SÃO JOSÉ DO BARREIRO




 

Imagine uma pitoresca cidade de interior, com uma pracinha, igreja, coreto, crianças brincando pelas ruas e um povo muito hospitaleiro. Essa cidade se chama São José do Barreiro.

O município surgiu com a formação das fazendas de café e a construção do Caminho Novo da Piedade, ligando a cidade do Rio de Janeiro a Vila Rica (atual Ouro Preto) pelo interior, evitando-se assim os ataques marítimos de corsários, que atuavam por toda a costa colonial brasileira.

Como as minas no interior do Brasil gradualmente foram se exaurindo, Portugal perdeu a principal fonte de sustentação de seu império colonial. Passou então a procurar atividades alternativas para dar continuidade à exploração de sua colônia mais importante. Tal alternativa mais viável acabou sendo a produção de café.

Com o advento das Guerras Napoleônicas, houve o colapso da produção de café antilhana, exatamente ao mesmo tempo em que a demanda por tal produto estava crescendo, especialmente no mercado norte-americano, que passou a utilizar o café como substituto do chá, que era um produto comercializado pela Inglaterra, sua ex-metrópole. Tal fator foi um dos grandes motivadores à expansão da plantação do café no Brasil.

Após a abertura do Caminho Novo da Piedade, iniciou-se um intenso movimento de tropeiros pela região das imediações do Rio Barreiro, que se tornou um enorme atoleiro que, na época das cheias, dificultava a passagem. Em tal local foi estabelecido um rancho para o pouso de tropeiros, com algumas casas de ferreiros. Com a expansão do café pelas redondezas, novas fazendas e casas foram construídas na vila que nascia e que, futuramente, se tornaria a atual cidade de São José do Barreiro.



Na época em que o transporte era feito essencialmente por animais de carga, os ranchos eram usados para o descanso dos tropeiros e animais. Tais locais se transformaram em importantes pontos de comércio. Eram situados geralmente próximos a uma aldeia ou junto de uma venda onde se pudesse adquirir alimentos.

Os ranchos eram grandes telheiros apoiados em quatro colunas, e serviam para abrigar as mercadorias e os tropeiros. Pagava-se por animal ou pela carga transportada.

O Capitão João Ferreira de Souza fundou a igreja de São José e é também considerado como o fundador do município em 1818. Além disso, era o proprietário da Fazenda Pau d’Alho.

A Casa de Cadeia e Fórum locais foram construídos por Euclides da Cunha, um renomado e frequente visitante das cidades da região. Tal construção está muito bem preservada até os dias de hoje.



No entanto, antes de ser um município independente, a cidade foi território de Areias e também de Bananal.

Em 1790, as lavouras de café começaram a ser plantadas em Areias, Bananal, Silveiras e São José do Barreiro. Esta atividade se expandiu tão rapidamente e de forma tão bem-sucedida que no século XIX o Vale do Paraíba se tornou o maior produtor de café do mundo. Porém, havia um problema. Tais cafezais foram plantados na posição vertical, devido ao relevo local, proporcionando a lavagem do solo e, consequentemente, acelerando o processo de erosão dos solos da região.

A mão de obra utilizada nas plantações de café era de origem escrava africana. As condições de trabalho dos mesmos eram duríssimas. Acordavam muito cedo, antes do sol raiar, andavam a pé ou de carro de boi até os cafezais para realizarem a limpa e a colheita. O almoço era realizado às 10h. A alimentação dos escravos era baseada em angu, farinha de mandioca, feijão, rapadura, gengibre, um doce feito de cidra e, eventualmente, carne seca. Trabalhavam até as 16h. Jantavam o mesmo cardápio do almoço e voltavam a trabalhar até escurecer. Após a chegada da noite, retornavam à sede da fazenda para fazerem o beneficiamento do café e limparem os grãos, enquanto um outro grupo preparava a alimentação para o dia seguinte. Apenas depois de todas essas tarefas é que eles retornavam às senzalas para descansar. Costumavam dançar à noite e cantavam músicas em homenagem à Mãe África e praticavam a capoeira.



No entanto, o trabalho não terminava. Era necessário o transporte do café ensacado, em lombo de muares, até os portos. Os tropeiros faziam continuamente tal trajeto, passando por barreiras, onde eram cobradas taxas de passagens de animais e veículos, exatamente como os pedágios dos dias de hoje, para serem aplicados na conservação das estradas. Além disso, também eram pagas taxas sobre os gêneros transportados.

Como havia uma grande circulação de tropeiros entre São José do Barreiro e Mambucaba, foi necessário criar um calçamento de pedras, que ainda é visível até hoje em boa parte do trajeto.

O período de 1818 a 1829 foi o período áureo do café, quando foram construídas grandes fazendas produtoras do produto, que era exportado em sua maior parte. Esta também foi a época dos coronéis e majores da Guarda Nacional. Com os lucros obtidos com o café, alguns fazendeiros mais ricos passaram a contratar tropeiros e formar suas próprias tropas, além de construírem carros de boi para o transporte da mercadoria preciosa, o ouro verde, como era apelidado o café.



Com o declínio da produção cafeeira, a cidade foi afetada de forma negativa, especialmente durante a crise de 1929, quando o Presidente Getúlio Vargas ordenou que o café fosse queimado, para tentar manter um preço mínimo para o produto. Neste período, muitas fazendas de café foram vendidas para outros fazendeiros que passaram a plantar fumo ou usá-las para a pecuária.

Atualmente o turismo exerce um papel importante na economia da cidade. Eu mesmo visitei a cidade e me senti muito acolhido por sua gente hospitaleira. Pude almoçar uma comida deliciosa no Restaurante Rancho, cujo proprietário, o Sr. Rogério, é muito gentil e atencioso. Em tal ocasião pude saborear a deliciosa cerveja artesanal Ben & Dita, produzida localmente, e que possui várias opções de sabores.



São José do Barreiro é conhecida com o “Paraíso do Trekking” no Brasil, pois oferece trajetos na Serra da Bocaina, a Cachoeira de Santo Izidro, a Cachoeira do Veado e a Trilha do Ouro (Verde), que era usada para transportar o ouro de Minas Gerais até o Rio de Janeiro e que, atualmente, pode ser percorrida em uma travessia de 3 dias, ligando o Vale do Paraíba ao mar. 

Não deixe de visitar a cidade de São José do Barreiro nem a linda Fazenda Pau d’Alho. Você poderá mergulhar na história do Brasil e vivenciar locais tão importantes e marcantes do ciclo cafeeiro no Brasil, além de saborear a deliciosa cozinha local e conhecer seus habitantes tão amigáveis. Boa viagem!

 

  

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2018.

Bibliografia usada:

História de São José do Barreiro: Período do Pré Café e no Tempo Áureo do Café, de Prof. Benedito Rodrigues S. Neto.

Fazenda Pau d’Alho – Roteiro de Visitação, de Antonio Luiz Dias de Andrade, Carlos G.F. Cerqueira e José Saia Neto.

Com agradecimentos especiais ao Prof. Benedito Rodrigues S. Neto e a Beatriz de Carvalho Grandchamp Martins (Prefeitura de São José do Barreiro).

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

FAZENDA PAU D'ALHO - SÃO JOSÉ DO BARREIRO

 

FAZENDA PAU D’ALHO

 



A história da Fazenda Pau d'Alho é repleta de acontecimentos históricos importantes, que serão relatados abaixo.

João Ferreira Guimarães havia comprado as terras da Fazenda do Barreiro em 1792 e seu filho, Francisco Ferreira de Souza, adquiriu outras terras que, ao serem anexadas à Fazenda do Barreiro, formaram a Fazenda Pau d’Alho.



Desde o início, foi produzido milho, arroz e aguardente no local. No entanto, com a valorização do café e do aumento de sua produção, foram criadas instalações específicas para o beneficiamento de tal produto. A Fazenda Pau d’Alho foi uma das primeiras a dedicar-se exclusivamente ao cultivo e beneficiamento do café, se tornando um monumento exemplar da fase inicial do ciclo cafeeiro, além de ser uma das mais belas fazendas em termos arquitetônicos.

Uma das peculiaridades da fazenda é que a senzala ocupa a posição mais elevada, de destaque. Na época, era recomendado que a senzala fosse construída no lugar mais arejado e seco de uma fazenda, pois os escravos representavam um elevado investimento financeiro por parte dos cafeicultores.



No pátio das tropas eram reunidos os muares que transportavam o café até os portos litorâneos e aonde ainda se encontram as duas construções que eram usadas para acolher os tropeiros e seus apetrechos.

Paradoxalmente, um dos destaques da fazenda é espaço não construído, a área vazia. Já o Solar, ou parte alta, foi a primeira construção executada em Campinas pelo escritório do famoso engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo.



A água corrente dos rios era usada para acionar os moinhos de milho, nos quais eram produzidas a farinha, que era a base de alimentação dos escravos e da criação doméstica.

Há também até hoje uma latrina, servida de água corrente do canal local, que alimentava também os moinhos. Tal latrina é localizada sob a caixa da escada.

Nas primeiras fazendas, não se costumava lavar o café.  Ele era exposto no terreiro, deixado ao sol para secar, diretamente sobre a terra batida. Isso fazia com que o produto ficasse misturado com sujeiras do terreno, prejudicando sua qualidade. Posteriormente, o terreiro passou a ser revestido, a fim de melhorar a qualidade do café exportado.

Após o secamento do café, ele era levado para os pilões e, posteriormente, era peneirado e abanado, para que fossem removidos os restos de cascas e demais impurezas. A disponibilidade de águas abundantes no local facilitava o acionamento das rodas d’água distribuídas ao longo dos canais, das baterias de pilão, dos abanadores e descascadores e também a lavagem do café, além de prover água para todas as necessidades domésticas.



A fazenda chegou a ter 150 escravos, 300.000 pés de café e a produzir mais de 6000 arrobas anuais. Em seu período mais próspero, a fazenda tinha até mesmo um professor para os escravos menores.

Um dos episódios mais marcantes e folclóricos ocorridos no local foi a visita de D. Pedro I, em 1822, a caminho de São Paulo e prestes a declarar a Independência do Brasil.

Segundo relatos da época, D. Pedro I teria apostado corrida com os demais membros da comitiva e chegado sozinho, antes do previsto, à Fazenda Pau d’Alho. Ele bateu palmas e, sem se identificar como príncipe, pediu comida à proprietária da casa. Ele foi prontamente atendido por ela, que lhe pediu que comesse sentado nos degraus ao lado de fora da cozinha, pois a sala de jantar estava sendo preparada para receber o príncipe regente.

D. Pedro achou graça na situação e obedeceu às orientações da proprietária da fazenda, sentando nos degraus, onde comeu os assados e guisados que lhe foram servidos, na companhia de escravas e mucamas.

Um detalhe que não fugiu à atenção do príncipe, ao comer seus assados, foi o jardim interno da fazenda, desenhado com símbolos maçônicos, o que lhe possibilitou identificar que o proprietário da fazenda era maçom, assim como o próprio príncipe.



Como gesto de gratidão, D. Pedro deu de presente aos proprietários da fazenda um quadro com seu retrato e convidou ele e seu filho a lhe acompanharem até São Paulo, passando então a fazer parte da Guarda de Honra do Príncipe Regente em sua jornada pela Independência do Brasil.

Quando da data do falecimento do fazendeiro que era o então proprietário do local, seu inventário registrou seu desejo que todos seus escravos fossem libertados após sua morte, com a exceção de dois, que foram excluídos por mau comportamento. Além disso, ele deixou 60 alqueires de terra e 60000 pés de café aos seus escravos. Este foi um caso raro de bom relacionamento entre senhor e seus escravos, lembrado até os dias de hoje.



Com a abolição da escravatura, a produção de café entrou em colapso. Os fazendeiros já não tinham mais condições de competir com a rentabilidade das terras férteis, de coloração roxa, abundantes no oeste do Estado de São Paulo nem com a eficiência da estrada de ferro, que nunca passou pela região, fadando esta e outras localidades ao ostracismo.



A Fazenda Pau d’Alho foi tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional e Estadual em 1968. Foi totalmente restaurada e, atualmente, é um marco histórico destinado à prática de atividades culturais e ecológicas.

Não deixe de visitar a cidade de São José do Barreiro nem a linda Fazenda Pau d’Alho. Você poderá mergulhar na história do Brasil e vivenciar locais tão importantes e marcantes do ciclo cafeeiro no Brasil, além de saborear a deliciosa cozinha local e conhecer seus habitantes tão amigáveis. Boa viagem!

 

  

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2018.

Bibliografia usada:

História de São José do Barreiro: Período do Pré Café e no Tempo Áureo do Café, de Prof. Benedito Rodrigues S. Neto.

Fazenda Pau d’Alho – Roteiro de Visitação, de Antonio Luiz Dias de Andrade, Carlos G.F. Cerqueira e José Saia Neto.

Com agradecimentos especiais ao Prof. Benedito Rodrigues S. Neto e a Beatriz de Carvalho Grandchamp Martins (Prefeitura de São José do Barreiro).

LAGO PLÁCIDO


 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

CATEDRAL DE SAL EM ZIPAQUIRÁ - COLÔMBIA

 

A CATEDRAL DE SAL DE ZIPAQUIRÁ - COLÔMBIA

 



Quando pensamos em turismo na Colômbia, geralmente lembramos de Cartagena, San Andres, Bogotá, Cali ou até mesmo Medellín. No entanto, o que poucas pessoas sabem é que a maior maravilha do país, a atração mais visitada de toda a Colômbia, não é nenhuma das localidades mencionadas acima. A maior atração turística colombiana é a Catedral de Sal, localizada na cidade de Zipaquirá, a apenas 49 km ao norte de Bogotá.



A Catedral de Sal é uma obra monumental, de beleza única, um verdadeiro símbolo do país, além de ser um grande feito dos mineiros e da engenharia de minas colombiana.

O acesso ao local deve ser feito preferencialmente de carro, pois a viagem é mais rápida e confortável. Podem ser contratadas vans com motoristas para indivíduos, casais ou pequenos grupos. Estes motoristas se encarregam de buscar os turistas no hotel, leva-los até a catedral e esperar por eles até que concluam suas visitas, os levando de volta até o hotel. O deslocamento de Bogotá até a Catedral de Sal costuma levar 90 minutos.

Ao chegarmos em Zipaquirá, encontramos um imenso estacionamento, no qual ficam estacionados os ônibus e vans, aguardando os turistas colombianos e provenientes de toda parte do mundo, que vêm visitar a maravilhosa catedral. Ao chegar lá, devemos comprar um ingresso para visitação guiada, disponível em espanhol e inglês. A visita guiada dura aproximadamente uma hora.



A cidade é um importante centro industrial, comercial, agropecuário, mineiro e turístico na Colômbia. Atualmente, Zipaquirá atrai milhões de visitantes do mundo todo, que visitam a belíssima catedral, que foi a primeira catedral subterrânea a ser construída no mundo, e é considerada a “Primeira Maravilha Turística da Colômbia”, recebendo mais de meio milhão de visitantes por ano.

A palavra “Zipaquirá” significa “Cidade do Nosso Pai”, na língua indígena local. Para os indígenas, o sal era um dos produtos mais importantes, pois era a base de todo seu intercâmbio comercial.

A exploração tradicional do sal, que ocorreu durante os períodos pré-colombianos e coloniais, se baseava no mero aproveitamento de fontes ou mananciais salgados que brotavam na superfície, cujas águas eram evaporadas em vasilhas de barro pelos indígenas da região, que solidificavam a massa restante em “pães de sal”.

O início da exploração mineira das salinas de Zipaquirá começou no início do século XIX, através do emprego de técnicas mais seguras, com a introdução de câmaras de exploração. Atualmente se usa o sistema de dissolução in-situ, que consiste em injetar água doce sob pressão para dissolver a rocha em poços profundos, o qual forma uma salmoura que é extraída até a superfície.

A origem desta maravilha nasceu da fé dos mineiros e da devoção que eles têm pela Virgem do Rosário, conhecida como “a Virgem de Guasa”. Estes homens se expõem à inúmeros riscos, tais como desabamentos, explosões, a presença de gases tóxicos, escuridão e asfixia. Desta forma, eles passaram a criar altares por dentro da mina de sal para mostrar sua gratidão e fervorosa devoção à Virgem do Rosário.

A primeira Catedral de Sal foi criada em 1954. No entanto, ela foi fechada à visitação em 1992, por questões de segurança, devido ao escasso planejamento mineiro e da exploração desordenada do local, pois surgiram rachaduras em suas colunas de sustentação. Entre os anos de 1979 e 1982 foi explorado o local onde se encontra atualmente a nova Catedral de Sal. A catedral atual, a segunda construída, foi aberta à visitação em 1995.



A nova catedral ocupa uma área de 8500 metros quadrados e, para sua construção, foram extraídas aproximadamente 2500 toneladas de rocha salina. A nova Catedral de Sal de Zipaquirá está dividida em três setores: A Via Crucis, com catorze estações; a cúpula, coro, balcões e o átrio e, por fim, a igreja em si, com suas três naves.

Toda a iluminação da catedral é feita por um possante sistema de lâmpadas coloridas LED, projetado pela Philips, pois este sistema de luzes não produz calor e consome menos energia elétrica. O efeito das cores no local é surpreendente e encantador. À medida que visitamos o local, as cores vão mudando e, com elas, as sensações que os turistas têm ao fazer a visita ao local. Eu pessoalmente fiquei totalmente encantado, pois senti que estava presenciando um espetáculo de rara beleza, em um local único no mundo.



A cúpula é um dos lugares mais belos da catedral, pois é toda iluminada em azul, simbolizando o encontro de Deus e o homem. O coro é totalmente circular, para obter uma melhor acústica. Nele, se encontra uma estátua do Arcanjo Gabriel. O átrio é a entrada da igreja e tem forma de labirinto, simbolizando a perfeição espiritual de purificação. Neste labirinto se encontram três caminhos pelos quais os fiéis podem escolher qual seguir: o do lado direito é para as pessoas totalmente puras; o do meio é para as pessoas que cometeram pecados, mas que foram perdoadas. O da esquerda é o dos pecadores.



Na nave central da igreja se encontram quatro enormes pilares, representando os quatro evangelistas: São João, São Mateus, São Marcos e São Lucas. Podemos visualizar também uma reprodução da obra de criação de Adão, de Michelangelo, que se encontra na Capela Sistina, no Vaticano. A reprodução é toda feita em sal. No altar principal são realizados concertos sinfônicos e apresentações de corais.



No entanto, o símbolo mais importante da catedral é a cruz, a maior cruz subterrânea de todo o mundo, que tem 16 metros de altura por 10 metros de largura. Ela é iluminada de dentro para fora, para dar a ilusão ótica de solidez e parecer que está suspensa no ar.



Depois de concluída a visita guiada, os turistas podem ficar circulando livremente por dentro da catedral, pelo tempo que quiserem permanecer lá dentro, pois há um mini shopping dentro da catedral, onde podemos fazer pequenas refeições, comprar lembranças e presente, feitos em sal e, por fim,  descansarmos um pouco após a longa caminhada feita durante o passeio guiado.

Eu gostei tanto da visita à Catedral de Sal que fiquei todo o tempo que pude lá dentro, visitando algumas partes dela várias vezes, para poder admirá-la com mais calma e fazer fotos nos lugares dos quais eu mais gostei. Na hora de ir embora, me entristeci, pois sabia que sentiria saudades desta inesquecível visita.



Se você for visitar a Colômbia, não deixe de conhecer a Catedral de Sal de Zipaquirá. Eu tenho certeza que ficará maravilhado com a beleza e escala monumental dela. Além disso, você terá a certeza de ter conhecido um local absolutamente único em todo o planeta.

  

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2016.

Bibliografia usada: Um Maravilloso Recorrido por la Catedral de Sal – Zipaquirá - Colombia, de Alfredo Arévalo Cárdenas e Leonardo Rodriguez


 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

À ESPREITA


 

SILVEIRAS - CAPITAL DO TROPEIRISMO

 

SILVEIRAS – CAPITAL DO TROPEIRISMO

 



Quem visita a pequena e pitoresca cidade de Silveiras nos dias atuais mal pode imaginar quantas histórias podem ser contadas sobre o que se passou por ali. São justamente algumas dessas histórias que eu gostaria de compartilhar com meus leitores, pois tenho certeza que muitos ficarão surpresos ao conhecerem um pouco sobre esta cidade pouco lembrada pelos turistas.

Desde que foram descobertas as primeiras minas de ouro em Mato Grosso e Minas Gerais, no início do século XVIII, havia, por parte das autoridades portuguesas, uma grande preocupação em se criar uma estrada que ligasse São Paulo ao Rio de Janeiro por terra, tendo em vista que o trajeto pelo litoral era muito perigoso, pois o mesmo era frequentemente atacado por corsários, que roubavam as preciosas cargas de ouro e pedras preciosas transportadas pelas embarcações lusitanas, trazendo enorme prejuízo à Coroa Portuguesa.

Tendo como ponto de partida a necessidade de se efetuar o transporte de tais cargas de maneira segura, o governo português passou e estimular que fossem criadas trilhas pelo interior do território da colônia brasileira, através da distribuição de terras a serem povoadas e cultivadas, através do estabelecimento de ranchos ao longo do caminho, a fim de servir de pouso para os tropeiros que faziam o trajeto ligando as “Minas Geraes” até o porto de Paraty, no futuro estado do Rio de Janeiro. Foi surgindo também ao longo de tal trilha um pequeno comércio para atender os tropeiros, que foram os pioneiros no transporte de vários tipos de produtos pelo território colonial.

Tal estrada foi sendo aberta aos poucos, e foi denominada de “Caminho Novo” ou “Estrada Real”, por onde seria escoado o ouro que vinha de Minas Gerais para ser fundido no Rio de Janeiro. Não devemos, no entanto, nos esquecer que a finalidade principal para a criação desta estrada foi a de garantir os cofres de sua Majestade.



Uma das famílias que se estabeleceu ao longo de tal trilha foi a dos Silveiras, que foram seus primeiros habitantes e ergueram o Rancho do Tropeiro que, futuramente, acabou dando origem à cidade que surgiu no local, e que acabou herdando o nome de tal família de pioneiros.

Há fortes indícios de que a futura cidade de Silveiras tenha sido planejada, pois as três praças principais da cidade têm as mesmas medidas, formando retângulos exatamente iguais. As quatro ruas transversais são também do mesmo comprimento e foram traçadas geometricamente, dando a impressão que foram traçadas antes em um mapa. Apenas as duas ruas mais longas da cidade são tortas, desiguais e desalinhadas, mas todas as ruas centrais são perfeitamente alinhadas.

A pequena cidade foi se expandindo e sua primeira visita marcante foi a do futuro Imperador D. Pedro I, que estava a caminho de São Paulo, em sua viagem histórica que acabou culminando com o “Grito do Ipiranga” e a Independência do Brasil. O então Príncipe almoçou em Silveiras, jantou em Cachoeira Paulista e dormiu em Lorena antes de chegar à cidade de São Paulo.

Em 1842, ocorreram as Revoltas Liberais, que foram movimentos que agitaram o país durante o período imperial de D. Pedro II. Tais movimentos foram promovidos, organizados e incitados pelo Partido Liberal, que contestava a ascensão do Partido Conservador ao poder. Tais fatores deram origem a rebeliões em São Paulo e Minas Gerais.

Silveiras, em particular, sofreu muito com tais revoltas, pois sua população levantou-se contra o Imperador D. Pedro II que, por sua vez, enviou o Barão de Caxias, futuro Duque de Caxias, para reprimir tais movimentos.

Como Silveiras foi a única cidade da província de São Paulo a oferecer resistência às tropas imperiais, teve de pagar um preço caro por tal afronta. Após uma batalha, a cidade foi derrotada por Caxias e ocupada pelas tropas imperiais. Silveiras se rendeu após o episódio conhecido como “Trincheiras”, quando 56 chefes de família silveirenses foram assassinados pelas tropas lideradas pelo Barão de Caxias. A cidade foi totalmente destruída na manhã de 12 de julho de 1842 e, no local do grande combate, existe hoje um monumento erguido à tragédia sofrida pela população local. Vestígios de tais trincheiras existem até hoje, para testemunhar os acontecimentos de 1842.

A Revolução Liberal de 1842 deixou marcas tão profundas em Silveiras que a reconstrução da cidade levou mais de 2 anos para ser concluída. Além disso, o município de Silveiras foi desligado da Província de São Paulo e foi anexado ao Rio de Janeiro, como castigo por ter tomado parte da Revolução de 1842. Caxias pensava que os silveirenses deveriam pagar caro pela audácia de terem se levantado em armas contra o Governo Central.

Um outro ilustre visitante que esteve em várias ocasiões na cidade foi Euclides da Cunha, pois este era engenheiro e lá realizou várias obras, entre elas a reforma da cadeia municipal e a canalização de um córrego local para o abastecimento de água da cidade.

A cidade entrou em decadência devido à vários fatores: primeiramente, com a abolição da escravatura e com o esgotamento das terras que eram usadas sem adubo durante o Ciclo do Café e com a posterior expansão dos cafezais para o oeste do Estado de São Paulo. A quebra da bolsa de valores de Nova York trouxe uma queda brutal no preço do café, acentuando o declínio dos fazendeiros silveirenses. Além disso, houve uma enorme frustração gerada quando foi feito o prolongamento da estrada de ferro Central do Brasil, de Cruzeiro até Bananal, que deveria ter passado por Silveiras, Areias e São José do Barreiro, mas, devido ao histórico revoltoso da cidade, esta acabou sendo preterida por outras cidades. Por fim, a industrialização das cidades vizinhas também relegou Silveiras à um segundo plano, deixando-a no ostracismo.

Por todos esses motivos é que Monteiro Lobato, em sua memorável obra “Cidades Mortas”, fez um relato do cenário desolador enfrentado por Silveiras e outras cidades da região, pois ele havia presenciado tal situação de perto, quando residiu em Areias, cidade vizinha à Silveiras.

Em 1932, Silveiras sofreu novamente com a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932, pois foi novamente derrotada pelas tropas governamentais que, desta vez, queimaram todos os arquivos e documentos de cartório e históricos existentes na cidade, além de terem saqueado todas suas casas. Em tal ocasião, a cidade foi bombardeada, suas casas destruídas e seu povo foi intimado a deixar a cidade.

Silveiras precisou de muitos anos para conseguir se reerguer. Atualmente, ela é conhecida como “Capital do Tropeirismo”, devido à sua participação decisiva na época em que os tropeiros faziam a ligação entre Minas Gerais e Rio de Janeiro. Foram criados movimentos para preservar a memória e cultura tropeirista, sua culinária, vestimentas e tradições. Foi criado também o movimento Tropeirista, por Ocílio Ferraz, que também foi proprietário de um restaurante conhecido na região, o Restaurante do Ocílio, além de ter presidido a Fundação Nacional do Tropeiro.

Nos dias de hoje, a cidade recebe visitantes que a procuram por suas belezas naturais, pela cultura tropeirista e seu artesanato de madeira, especializado em lindas peças  reproduzindo pássaros locais. Este artesanato espalhou-se por todo o Brasil e é atualmente exportado para vários países do mundo. Eu mesmo tive a oportunidade de visitar vários ateliês de artesãos talentosos, sendo que o que mais me agradou, devido à qualidade inquestionável de suas peças foi o “Entre no Paraíso Ateliê e Café”, situado na Rodovia dos Tropeiros km 218.




Por fim, uma outra atração para os turistas que visitam Silveiras é o Santuário da Santa Cabeça, também localizado na Rodovia dos Tropeiros, um pouco antes da entrada da cidade.



O santuário teve sua origem por volta de 1829, quando dois homens que pescavam no rio Tietê recolheram em suas redes a cabeça de uma imagem de Nossa Senhora. Eles deram tal achado para uma moradora local, que a guardava em casa tal peça e passou a receber vários visitantes a fim de fazerem pedidos à Nossa Senhora. Como o fluxo de visitantes cresceu exponencialmente, foram angariados fundos para a construção do santuário, que passou a receber peregrinos de todo o Brasil, que vêm rezar e agradecer os milagres que atribuem à imagem.

A imagem venerada com o nome de Santa Cabeça se trata de uma cabeça que está guardada dentro de uma redoma de vidro e cercada de uma moldura dourada, sustentada por dois anjos. No santuário também podemos visitar a sala dos milagres, com inúmeras cabeças de cera, que são objetos de promessas dos fiéis e romeiros, que invocam a Santa Cabeça para interceder em seus nomes por todas as enfermidades relacionadas à cabeça. Atualmente, dois milhões de pessoas visitam o santuário anualmente, tendo sido necessário até mesmo a criação de um estacionamento específico para ônibus de romeiros e peregrinos.



Silveiras também integra o Circuito Religioso do Estado de São Paulo, juntamente com as cidades de Aparecida e Guaratinguetá.

Portanto, se você ficou curioso em conhecer pessoalmente todos os lugares que mencionei, não deixe de visitar Silveiras quando estiver de passagem pela região e aproveite para saborear a deliciosa cozinha tropeira e comprar lindos pássaros de madeira do artesanato local. Serão belas lembranças que lhe farão companhia por muito tempo.

 

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2018.

Bibliografia usada: Silveiras: História e Tradição, de José de Miranda Alves

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

ALDEIA JESUÍTICA DE CARAPICUÍBA

 

ALDEIA JESUÍTICA DE CARAPICUÍBA




Algumas vezes não precisamos viajar para muito longe para conhecermos um tesouro histórico nacional. Às vezes, tais tesouros estão bem perto de nós, escondidos, sem que a gente saiba da existência deles.

Um desses locais, pouquíssimo conhecido e visitado, é a Aldeia Jesuítica de Carapicuíba, situada a apenas 2,5km da Rodovia Raposo Tavares e a 20 km do centro de São Paulo.

Fundada em 12 de outubro de 1580, a Aldeia Jesuítica de Carapicuíba era originalmente uma fazenda com mão de obra escrava indígena trazida do sertão pelo seu dono, Affonso Sardinha. Após a morte deste, a fazenda foi herdada pela Companhia de Jesus, juntamente com os índios administrados e alguns escravos.



Em 1580, o padre jesuíta José de Anchieta fundou 12 aldeias missionárias em torno do Mosteiro de São Bento, entre elas, as de Barueri, Itapecerica, Pinheiros e Carapicuíba.

Os objetivos de Anchieta eram os de catequisar a população indígena da região e, ao mesmo tempo, protegê-la dos ataques dos bandeirantes, liderados por Antônio Raposo Tavares, pois os esses buscavam capturar os índios para a escravidão, e também, para o uso no desbravamento do território desconhecido por eles, no interior deste país, conhecido atualmente por Brasil.



Os jesuítas costumavam construir aldeamentos divididos em três partes, todas elas observadas nessa aldeia: A igreja, que tinha por função receber os fiéis recém-convertidos; as pequenas casas, localizadas em torno de um terreno retangular, que servia para a circulação de pessoas e reuniões e, por fim, as oficinas e áreas de serviço, onde os índios e os jesuítas produziam alimentos e objetos de uso cotidiano.

No centro da praça, há uma cruz colocada sobre um alto pedestal de tijolos, que denota claramente a intenção missionária da aldeia. O espaço entre a fachada da igreja e a cruz no meio da praça era considerado sagrado, pois os jesuítas acreditavam que naquele local o demônio não tinha o poder de se fazer presente.



A igreja, casas e oficinas foram todas construídas através do uso da técnica da taipa de mão, conhecida também por pau-a-pique.

Foram construídas no total 20 casas. Algumas delas são usadas até hoje como lar de famílias que vivem no local há mais de 300 anos. Já outras casas foram utilizadas para instalar a Casa de Cultura, onde pode ser visto o acervo de imagens, objetos indígenas e esculturas, além da Biblioteca Municipal.

A aldeia de Carapicuíba abrigou o Padre Belchior Pontes e índios Guaianases, Tupis, Guarulhos e também de outras tribos. Porém, como os bandeirantes estavam se aproximando da aldeia, o Padre Belchior decidiu partir, juntamente com os índios, para a Aldeia Jesuítica de Itapecerica, pois essa era mais segura e afastada da capital, além de ser de difícil acesso.



Para evitar que parte dos índios catequizados permanecesse no local, os padres jesuítas incendiaram as construções do século XVI. Alguns índios não se conformavam em ter que sair de suas terras e, algumas vezes, retornavam e eram assassinados, a fim de servirem de exemplo para os outros.

As construções que são visíveis até hoje foram reconstruídas a partir de 1727, seguindo o traçado original da antiga aldeia. A igreja foi construída em 1736, com três paredes de taipa de pilão remanescentes do século XVI. O seu padroeiro é São João Batista, que empresta o seu nome à igreja.



A Aldeia Jesuítica de Carapicuíba foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1941, sendo considerada patrimônio nacional, pois é o único exemplo remanescente de uma antiga aldeia jesuítica pois, das 12 aldeias originais fundadas por Anchieta, essa é a única que não foi totalmente destruída, pelo fato de ser de difícil acesso.

Para os visitantes dos dias de hoje, o acesso é muito mais fácil. Basta irmos até o Parque Ecológico Aldeia de Carapicuíba. Ao chegarmos lá, devemos seguir a pé uma curta trilha em subida por dentro do parque. Em poucos minutos de caminhada, já podemos visualizar a Aldeia Jesuítica no alto, com suas casinhas e igreja, todas pintadas de branco e azul. Eu senti uma grande emoção ao chegar no local e saber que estava visitando um lugar tão importante na história de São Paulo e do Brasil.



Recomendo a todos que se interessarem pelo assunto que a visitem também e divulguem suas visitas aos seus amigos, valorizando o local, ajudando a preservar este exemplar único e precioso de nosso patrimônio nacional, mantendo viva a memória de nossa história indígena, bandeirista, jesuítica e brasileira.

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em setembro de 2018.

Bibliografia usada: Carapicuíba – Uma Aldeia Mameluca, de Américo Pellegrini Filho