ALDEIA
JESUÍTICA DE CARAPICUÍBA
Algumas
vezes não precisamos viajar para muito longe para conhecermos um tesouro
histórico nacional. Às vezes, tais tesouros estão bem perto de nós, escondidos,
sem que a gente saiba da existência deles.
Um
desses locais, pouquíssimo conhecido e visitado, é a Aldeia Jesuítica de
Carapicuíba, situada a apenas 2,5km da Rodovia Raposo Tavares e a 20 km do
centro de São Paulo.
Fundada
em 12 de outubro de 1580, a Aldeia Jesuítica de Carapicuíba era originalmente
uma fazenda com mão de obra escrava indígena trazida do sertão pelo seu dono,
Affonso Sardinha. Após a morte deste, a fazenda foi herdada pela Companhia de
Jesus, juntamente com os índios administrados e alguns escravos.
Em
1580, o padre jesuíta José de Anchieta fundou 12 aldeias missionárias em torno
do Mosteiro de São Bento, entre elas, as de Barueri, Itapecerica, Pinheiros e
Carapicuíba.
Os
objetivos de Anchieta eram os de catequisar a população indígena da região e,
ao mesmo tempo, protegê-la dos ataques dos bandeirantes, liderados por Antônio
Raposo Tavares, pois os esses buscavam capturar os índios para a escravidão, e
também, para o uso no desbravamento do território desconhecido por eles, no
interior deste país, conhecido atualmente por Brasil.
Os
jesuítas costumavam construir aldeamentos divididos em três partes, todas elas
observadas nessa aldeia: A igreja, que tinha por função receber os fiéis
recém-convertidos; as pequenas casas, localizadas em torno de um terreno
retangular, que servia para a circulação de pessoas e reuniões e, por fim, as
oficinas e áreas de serviço, onde os índios e os jesuítas produziam alimentos e
objetos de uso cotidiano.
No
centro da praça, há uma cruz colocada sobre um alto pedestal de tijolos, que
denota claramente a intenção missionária da aldeia. O espaço entre a fachada da
igreja e a cruz no meio da praça era considerado sagrado, pois os jesuítas
acreditavam que naquele local o demônio não tinha o poder de se fazer presente.
A
igreja, casas e oficinas foram todas construídas através do uso da técnica da taipa
de mão, conhecida também por pau-a-pique.
Foram
construídas no total 20 casas. Algumas delas são usadas até hoje como lar de
famílias que vivem no local há mais de 300 anos. Já outras casas foram
utilizadas para instalar a Casa de Cultura, onde pode ser visto o acervo de
imagens, objetos indígenas e esculturas, além da Biblioteca Municipal.
A
aldeia de Carapicuíba abrigou o Padre Belchior Pontes e índios Guaianases,
Tupis, Guarulhos e também de outras tribos. Porém, como os bandeirantes estavam
se aproximando da aldeia, o Padre Belchior decidiu partir, juntamente com os
índios, para a Aldeia Jesuítica de Itapecerica, pois essa era mais segura e
afastada da capital, além de ser de difícil acesso.
Para
evitar que parte dos índios catequizados permanecesse no local, os padres
jesuítas incendiaram as construções do século XVI. Alguns índios não se
conformavam em ter que sair de suas terras e, algumas vezes, retornavam e eram
assassinados, a fim de servirem de exemplo para os outros.
As
construções que são visíveis até hoje foram reconstruídas a partir de 1727,
seguindo o traçado original da antiga aldeia. A igreja foi construída em 1736,
com três paredes de taipa de pilão remanescentes do século XVI. O seu padroeiro
é São João Batista, que empresta o seu nome à igreja.
A
Aldeia Jesuítica de Carapicuíba foi tombada pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional em 1941, sendo considerada patrimônio nacional,
pois é o único exemplo remanescente de uma antiga aldeia jesuítica pois, das 12
aldeias originais fundadas por Anchieta, essa é a única que não foi totalmente
destruída, pelo fato de ser de difícil acesso.
Para
os visitantes dos dias de hoje, o acesso é muito mais fácil. Basta irmos até o
Parque Ecológico Aldeia de Carapicuíba. Ao chegarmos lá, devemos seguir a pé uma
curta trilha em subida por dentro do parque. Em poucos minutos de caminhada, já
podemos visualizar a Aldeia Jesuítica no alto, com suas casinhas e igreja,
todas pintadas de branco e azul. Eu senti uma grande emoção ao chegar no local
e saber que estava visitando um lugar tão importante na história de São Paulo e
do Brasil.
Recomendo
a todos que se interessarem pelo assunto que a visitem também e divulguem suas
visitas aos seus amigos, valorizando o local, ajudando a preservar este
exemplar único e precioso de nosso patrimônio nacional, mantendo viva a memória
de nossa história indígena, bandeirista, jesuítica e brasileira.
Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com
Todas as fotos da
matéria foram tiradas por Marco André Briones, em setembro de 2018.
Bibliografia
usada: Carapicuíba – Uma Aldeia Mameluca, de Américo Pellegrini Filho