Um espaço de reflexão e questionamento, abrangendo desde assuntos do cotidiano, passando pelas artes, até história e cultura.
- Página inicial
- Pensamento Crítico - Meus Artigos
- Pensamentos do Dia
- Viajando pela História - Artigos de minha autoria
- Álbuns de Rock Clássico - E-books de Minha autoria disponíveis no site da Amazon (amazon.com.br)
- Minhas Fotos Pessoais
- Minhas Obras de Arte Favoritas
- Arte
- Natureza
- Meu Canal no Youtube
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
sábado, 16 de janeiro de 2021
SÃO JOSÉ DO BARREIRO
SÃO
JOSÉ DO BARREIRO
Imagine
uma pitoresca cidade de interior, com uma pracinha, igreja, coreto, crianças
brincando pelas ruas e um povo muito hospitaleiro. Essa cidade se chama São
José do Barreiro.
O
município surgiu com a formação das fazendas de café e a construção do Caminho
Novo da Piedade, ligando a cidade do Rio de Janeiro a Vila Rica (atual Ouro
Preto) pelo interior, evitando-se assim os ataques marítimos de corsários, que
atuavam por toda a costa colonial brasileira.
Como as minas no interior do Brasil gradualmente foram se exaurindo, Portugal perdeu a principal fonte de sustentação de seu império colonial. Passou então a procurar atividades alternativas para dar continuidade à exploração de sua colônia mais importante. Tal alternativa mais viável acabou sendo a produção de café.
Com
o advento das Guerras Napoleônicas, houve o colapso da produção de café
antilhana, exatamente ao mesmo tempo em que a demanda por tal produto estava
crescendo, especialmente no mercado norte-americano, que passou a utilizar o
café como substituto do chá, que era um produto comercializado pela Inglaterra,
sua ex-metrópole. Tal fator foi um dos grandes motivadores à expansão da
plantação do café no Brasil.
Após
a abertura do Caminho Novo da Piedade, iniciou-se um intenso movimento de
tropeiros pela região das imediações do Rio Barreiro, que se tornou um enorme
atoleiro que, na época das cheias, dificultava a passagem. Em tal local foi
estabelecido um rancho para o pouso de tropeiros, com algumas casas de
ferreiros. Com a expansão do café pelas redondezas, novas fazendas e casas
foram construídas na vila que nascia e que, futuramente, se tornaria a atual
cidade de São José do Barreiro.
Na
época em que o transporte era feito essencialmente por animais de carga, os
ranchos eram usados para o descanso dos tropeiros e animais. Tais locais se
transformaram em importantes pontos de comércio. Eram situados geralmente
próximos a uma aldeia ou junto de uma venda onde se pudesse adquirir alimentos.
Os
ranchos eram grandes telheiros apoiados em quatro colunas, e serviam para
abrigar as mercadorias e os tropeiros. Pagava-se por animal ou pela carga
transportada.
O
Capitão João Ferreira de Souza fundou a igreja de São José e é também
considerado como o fundador do município em 1818. Além disso, era o proprietário
da Fazenda Pau d’Alho.
A
Casa de Cadeia e Fórum locais foram construídos por Euclides da Cunha, um
renomado e frequente visitante das cidades da região. Tal construção está muito
bem preservada até os dias de hoje.
No
entanto, antes de ser um município independente, a cidade foi território de
Areias e também de Bananal.
Em
1790, as lavouras de café começaram a ser plantadas em Areias, Bananal,
Silveiras e São José do Barreiro. Esta atividade se expandiu tão rapidamente e
de forma tão bem-sucedida que no século XIX o Vale do Paraíba se tornou o maior
produtor de café do mundo. Porém, havia um problema. Tais cafezais foram
plantados na posição vertical, devido ao relevo local, proporcionando a lavagem
do solo e, consequentemente, acelerando o processo de erosão dos solos da
região.
A
mão de obra utilizada nas plantações de café era de origem escrava africana. As
condições de trabalho dos mesmos eram duríssimas. Acordavam muito cedo, antes
do sol raiar, andavam a pé ou de carro de boi até os cafezais para realizarem a
limpa e a colheita. O almoço era realizado às 10h. A alimentação dos escravos
era baseada em angu, farinha de mandioca, feijão, rapadura, gengibre, um doce
feito de cidra e, eventualmente, carne seca. Trabalhavam até as 16h. Jantavam o
mesmo cardápio do almoço e voltavam a trabalhar até escurecer. Após a chegada da
noite, retornavam à sede da fazenda para fazerem o beneficiamento do café e
limparem os grãos, enquanto um outro grupo preparava a alimentação para o dia
seguinte. Apenas depois de todas essas tarefas é que eles retornavam às
senzalas para descansar. Costumavam dançar à noite e cantavam músicas em
homenagem à Mãe África e praticavam a capoeira.
No
entanto, o trabalho não terminava. Era necessário o transporte do café
ensacado, em lombo de muares, até os portos. Os tropeiros faziam continuamente
tal trajeto, passando por barreiras, onde eram cobradas taxas de passagens de
animais e veículos, exatamente como os pedágios dos dias de hoje, para serem
aplicados na conservação das estradas. Além disso, também eram pagas taxas
sobre os gêneros transportados.
Como
havia uma grande circulação de tropeiros entre São José do Barreiro e
Mambucaba, foi necessário criar um calçamento de pedras, que ainda é visível
até hoje em boa parte do trajeto.
O
período de 1818 a 1829 foi o período áureo do café, quando foram construídas
grandes fazendas produtoras do produto, que era exportado em sua maior parte.
Esta também foi a época dos coronéis e majores da Guarda Nacional. Com os
lucros obtidos com o café, alguns fazendeiros mais ricos passaram a contratar
tropeiros e formar suas próprias tropas, além de construírem carros de boi para
o transporte da mercadoria preciosa, o ouro verde, como era apelidado o café.
Com
o declínio da produção cafeeira, a cidade foi afetada de forma negativa,
especialmente durante a crise de 1929, quando o Presidente Getúlio Vargas
ordenou que o café fosse queimado, para tentar manter um preço mínimo para o
produto. Neste período, muitas fazendas de café foram vendidas para outros
fazendeiros que passaram a plantar fumo ou usá-las para a pecuária.
Atualmente
o turismo exerce um papel importante na economia da cidade. Eu mesmo visitei a
cidade e me senti muito acolhido por sua gente hospitaleira. Pude almoçar uma
comida deliciosa no Restaurante Rancho, cujo proprietário, o Sr. Rogério, é
muito gentil e atencioso. Em tal ocasião pude saborear a deliciosa cerveja
artesanal Ben & Dita, produzida localmente, e que possui várias opções de
sabores.
São José do Barreiro é conhecida com o “Paraíso do Trekking” no Brasil, pois oferece trajetos na Serra da Bocaina, a Cachoeira de Santo Izidro, a Cachoeira do Veado e a Trilha do Ouro (Verde), que era usada para transportar o ouro de Minas Gerais até o Rio de Janeiro e que, atualmente, pode ser percorrida em uma travessia de 3 dias, ligando o Vale do Paraíba ao mar.
Não deixe de visitar a cidade de São José do Barreiro nem a linda Fazenda Pau d’Alho. Você poderá mergulhar na história do Brasil e vivenciar locais tão importantes e marcantes do ciclo cafeeiro no Brasil, além de saborear a deliciosa cozinha local e conhecer seus habitantes tão amigáveis. Boa viagem!
Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com
Todas as fotos da
matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2018.
Bibliografia
usada:
História
de São José do Barreiro: Período do Pré Café e no Tempo Áureo do Café, de Prof.
Benedito Rodrigues S. Neto.
Fazenda
Pau d’Alho – Roteiro de Visitação, de Antonio Luiz Dias de Andrade, Carlos G.F.
Cerqueira e José Saia Neto.
Com
agradecimentos especiais ao Prof. Benedito Rodrigues S. Neto e a Beatriz de
Carvalho Grandchamp Martins (Prefeitura de São José do Barreiro).
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
FAZENDA PAU D'ALHO - SÃO JOSÉ DO BARREIRO
FAZENDA
PAU D’ALHO
A história da Fazenda Pau d'Alho é repleta de acontecimentos históricos importantes, que serão relatados abaixo.
João Ferreira Guimarães havia comprado as terras da Fazenda do Barreiro em 1792 e seu filho, Francisco Ferreira de Souza, adquiriu outras terras que, ao serem anexadas à Fazenda do Barreiro, formaram a Fazenda Pau d’Alho.
Desde
o início, foi produzido milho, arroz e aguardente no local. No entanto, com a
valorização do café e do aumento de sua produção, foram criadas instalações
específicas para o beneficiamento de tal produto. A Fazenda Pau d’Alho foi uma
das primeiras a dedicar-se exclusivamente ao cultivo e beneficiamento do café,
se tornando um monumento exemplar da fase inicial do ciclo cafeeiro, além de
ser uma das mais belas fazendas em termos arquitetônicos.
Uma
das peculiaridades da fazenda é que a senzala ocupa a posição mais elevada, de
destaque. Na época, era recomendado que a senzala fosse construída no lugar
mais arejado e seco de uma fazenda, pois os escravos representavam um elevado
investimento financeiro por parte dos cafeicultores.
No
pátio das tropas eram reunidos os muares que transportavam o café até os portos
litorâneos e aonde ainda se encontram as duas construções que eram usadas para acolher
os tropeiros e seus apetrechos.
Paradoxalmente,
um dos destaques da fazenda é espaço não construído, a área vazia. Já o Solar,
ou parte alta, foi a primeira construção executada em Campinas pelo escritório
do famoso engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo.
A
água corrente dos rios era usada para acionar os moinhos de milho, nos quais
eram produzidas a farinha, que era a base de alimentação dos escravos e da
criação doméstica.
Há
também até hoje uma latrina, servida de água corrente do canal local, que
alimentava também os moinhos. Tal latrina é localizada sob a caixa da escada.
Nas
primeiras fazendas, não se costumava lavar o café. Ele era exposto no terreiro, deixado ao sol
para secar, diretamente sobre a terra batida. Isso fazia com que o produto
ficasse misturado com sujeiras do terreno, prejudicando sua qualidade.
Posteriormente, o terreiro passou a ser revestido, a fim de melhorar a
qualidade do café exportado.
Após
o secamento do café, ele era levado para os pilões e, posteriormente, era
peneirado e abanado, para que fossem removidos os restos de cascas e demais
impurezas. A disponibilidade de águas abundantes no local facilitava o
acionamento das rodas d’água distribuídas ao longo dos canais, das baterias de
pilão, dos abanadores e descascadores e também a lavagem do café, além de prover
água para todas as necessidades domésticas.
A
fazenda chegou a ter 150 escravos, 300.000 pés de café e a produzir mais de
6000 arrobas anuais. Em seu período mais próspero, a fazenda tinha até mesmo um
professor para os escravos menores.
Um
dos episódios mais marcantes e folclóricos ocorridos no local foi a visita de
D. Pedro I, em 1822, a caminho de São Paulo e prestes a declarar a
Independência do Brasil.
Segundo
relatos da época, D. Pedro I teria apostado corrida com os demais membros da
comitiva e chegado sozinho, antes do previsto, à Fazenda Pau d’Alho. Ele bateu
palmas e, sem se identificar como príncipe, pediu comida à proprietária da
casa. Ele foi prontamente atendido por ela, que lhe pediu que comesse sentado
nos degraus ao lado de fora da cozinha, pois a sala de jantar estava sendo
preparada para receber o príncipe regente.
D.
Pedro achou graça na situação e obedeceu às orientações da proprietária da
fazenda, sentando nos degraus, onde comeu os assados e guisados que lhe foram
servidos, na companhia de escravas e mucamas.
Um
detalhe que não fugiu à atenção do príncipe, ao comer seus assados, foi o
jardim interno da fazenda, desenhado com símbolos maçônicos, o que lhe
possibilitou identificar que o proprietário da fazenda era maçom, assim como o
próprio príncipe.
Como
gesto de gratidão, D. Pedro deu de presente aos proprietários da fazenda um
quadro com seu retrato e convidou ele e seu filho a lhe acompanharem até São
Paulo, passando então a fazer parte da Guarda de Honra do Príncipe Regente em
sua jornada pela Independência do Brasil.
Quando
da data do falecimento do fazendeiro que era o então proprietário do local, seu
inventário registrou seu desejo que todos seus escravos fossem libertados após
sua morte, com a exceção de dois, que foram excluídos por mau comportamento.
Além disso, ele deixou 60 alqueires de terra e 60000 pés de café aos seus
escravos. Este foi um caso raro de bom relacionamento entre senhor e seus
escravos, lembrado até os dias de hoje.
Com
a abolição da escravatura, a produção de café entrou em colapso. Os fazendeiros
já não tinham mais condições de competir com a rentabilidade das terras
férteis, de coloração roxa, abundantes no oeste do Estado de São Paulo nem com
a eficiência da estrada de ferro, que nunca passou pela região, fadando esta e
outras localidades ao ostracismo.
A
Fazenda Pau d’Alho foi tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional e Estadual em
1968. Foi totalmente restaurada e, atualmente, é um marco histórico destinado à
prática de atividades culturais e ecológicas.
Não
deixe de visitar a cidade de São José do Barreiro nem a linda Fazenda Pau
d’Alho. Você poderá mergulhar na história do Brasil e vivenciar locais tão
importantes e marcantes do ciclo cafeeiro no Brasil, além de saborear a
deliciosa cozinha local e conhecer seus habitantes tão amigáveis. Boa viagem!
Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com
Todas as fotos da
matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2018.
Bibliografia
usada:
História
de São José do Barreiro: Período do Pré Café e no Tempo Áureo do Café, de Prof.
Benedito Rodrigues S. Neto.
Fazenda
Pau d’Alho – Roteiro de Visitação, de Antonio Luiz Dias de Andrade, Carlos G.F.
Cerqueira e José Saia Neto.
Com
agradecimentos especiais ao Prof. Benedito Rodrigues S. Neto e a Beatriz de
Carvalho Grandchamp Martins (Prefeitura de São José do Barreiro).
quinta-feira, 14 de janeiro de 2021
CATEDRAL DE SAL EM ZIPAQUIRÁ - COLÔMBIA
A
CATEDRAL DE SAL DE ZIPAQUIRÁ - COLÔMBIA
Quando
pensamos em turismo na Colômbia, geralmente lembramos de Cartagena, San Andres,
Bogotá, Cali ou até mesmo Medellín. No entanto, o que poucas pessoas sabem é
que a maior maravilha do país, a atração mais visitada de toda a Colômbia, não
é nenhuma das localidades mencionadas acima. A maior atração turística colombiana
é a Catedral de Sal, localizada na cidade de Zipaquirá, a apenas 49 km ao norte
de Bogotá.
A
Catedral de Sal é uma obra monumental, de beleza única, um verdadeiro símbolo
do país, além de ser um grande feito dos mineiros e da engenharia de minas
colombiana.
O
acesso ao local deve ser feito preferencialmente de carro, pois a viagem é mais
rápida e confortável. Podem ser contratadas vans com motoristas para
indivíduos, casais ou pequenos grupos. Estes motoristas se encarregam de buscar
os turistas no hotel, leva-los até a catedral e esperar por eles até que
concluam suas visitas, os levando de volta até o hotel. O deslocamento de
Bogotá até a Catedral de Sal costuma levar 90 minutos.
Ao
chegarmos em Zipaquirá, encontramos um imenso estacionamento, no qual ficam
estacionados os ônibus e vans, aguardando os turistas colombianos e
provenientes de toda parte do mundo, que vêm visitar a maravilhosa catedral. Ao
chegar lá, devemos comprar um ingresso para visitação guiada, disponível em
espanhol e inglês. A visita guiada dura aproximadamente uma hora.
A
cidade é um importante centro industrial, comercial, agropecuário, mineiro e
turístico na Colômbia. Atualmente, Zipaquirá atrai milhões de visitantes do
mundo todo, que visitam a belíssima catedral, que foi a primeira catedral
subterrânea a ser construída no mundo, e é considerada a “Primeira Maravilha
Turística da Colômbia”, recebendo mais de meio milhão de visitantes por ano.
A
palavra “Zipaquirá” significa “Cidade do Nosso Pai”, na língua indígena local.
Para os indígenas, o sal era um dos produtos mais importantes, pois era a base
de todo seu intercâmbio comercial.
A
exploração tradicional do sal, que ocorreu durante os períodos pré-colombianos
e coloniais, se baseava no mero aproveitamento de fontes ou mananciais salgados
que brotavam na superfície, cujas águas eram evaporadas em vasilhas de barro
pelos indígenas da região, que solidificavam a massa restante em “pães de sal”.
O
início da exploração mineira das salinas de Zipaquirá começou no início do
século XIX, através do emprego de técnicas mais seguras, com a introdução de
câmaras de exploração. Atualmente se usa o sistema de dissolução in-situ, que
consiste em injetar água doce sob pressão para dissolver a rocha em poços
profundos, o qual forma uma salmoura que é extraída até a superfície.
A
origem desta maravilha nasceu da fé dos mineiros e da devoção que eles têm pela
Virgem do Rosário, conhecida como “a Virgem de Guasa”. Estes homens se expõem à
inúmeros riscos, tais como desabamentos, explosões, a presença de gases
tóxicos, escuridão e asfixia. Desta forma, eles passaram a criar altares por
dentro da mina de sal para mostrar sua gratidão e fervorosa devoção à Virgem do
Rosário.
A
primeira Catedral de Sal foi criada em 1954. No entanto, ela foi fechada à
visitação em 1992, por questões de segurança, devido ao escasso planejamento
mineiro e da exploração desordenada do local, pois surgiram rachaduras em suas
colunas de sustentação. Entre os anos de 1979 e 1982 foi explorado o local onde
se encontra atualmente a nova Catedral de Sal. A catedral atual, a segunda
construída, foi aberta à visitação em 1995.
A
nova catedral ocupa uma área de 8500 metros quadrados e, para sua construção,
foram extraídas aproximadamente 2500 toneladas de rocha salina. A nova Catedral
de Sal de Zipaquirá está dividida em três setores: A Via Crucis, com catorze
estações; a cúpula, coro, balcões e o átrio e, por fim, a igreja em si, com
suas três naves.
Toda
a iluminação da catedral é feita por um possante sistema de lâmpadas coloridas
LED, projetado pela Philips, pois este sistema de luzes não produz calor e
consome menos energia elétrica. O efeito das cores no local é surpreendente e
encantador. À medida que visitamos o local, as cores vão mudando e, com elas,
as sensações que os turistas têm ao fazer a visita ao local. Eu pessoalmente
fiquei totalmente encantado, pois senti que estava presenciando um espetáculo
de rara beleza, em um local único no mundo.
A
cúpula é um dos lugares mais belos da catedral, pois é toda iluminada em azul,
simbolizando o encontro de Deus e o homem. O coro é totalmente circular, para
obter uma melhor acústica. Nele, se encontra uma estátua do Arcanjo Gabriel. O
átrio é a entrada da igreja e tem forma de labirinto, simbolizando a perfeição
espiritual de purificação. Neste labirinto se encontram três caminhos pelos
quais os fiéis podem escolher qual seguir: o do lado direito é para as pessoas
totalmente puras; o do meio é para as pessoas que cometeram pecados, mas que
foram perdoadas. O da esquerda é o dos pecadores.
Na
nave central da igreja se encontram quatro enormes pilares, representando os
quatro evangelistas: São João, São Mateus, São Marcos e São Lucas. Podemos
visualizar também uma reprodução da obra de criação de Adão, de Michelangelo,
que se encontra na Capela Sistina, no Vaticano. A reprodução é toda feita em
sal. No altar principal são realizados concertos sinfônicos e apresentações de
corais.
No
entanto, o símbolo mais importante da catedral é a cruz, a maior cruz
subterrânea de todo o mundo, que tem 16 metros de altura por 10 metros de
largura. Ela é iluminada de dentro para fora, para dar a ilusão ótica de
solidez e parecer que está suspensa no ar.
Depois
de concluída a visita guiada, os turistas podem ficar circulando livremente por
dentro da catedral, pelo tempo que quiserem permanecer lá dentro, pois há um
mini shopping dentro da catedral, onde podemos fazer pequenas refeições,
comprar lembranças e presente, feitos em sal e, por fim, descansarmos um pouco após a longa caminhada feita
durante o passeio guiado.
Eu
gostei tanto da visita à Catedral de Sal que fiquei todo o tempo que pude lá
dentro, visitando algumas partes dela várias vezes, para poder admirá-la com
mais calma e fazer fotos nos lugares dos quais eu mais gostei. Na hora de ir
embora, me entristeci, pois sabia que sentiria saudades desta inesquecível
visita.
Se
você for visitar a Colômbia, não deixe de conhecer a Catedral de Sal de
Zipaquirá. Eu tenho certeza que ficará maravilhado com a beleza e escala
monumental dela. Além disso, você terá a certeza de ter conhecido um local
absolutamente único em todo o planeta.
Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com
Todas as fotos da
matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2016.
Bibliografia
usada: Um Maravilloso Recorrido por la Catedral de Sal – Zipaquirá - Colombia,
de Alfredo Arévalo Cárdenas e Leonardo Rodriguez
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
SILVEIRAS - CAPITAL DO TROPEIRISMO
SILVEIRAS
– CAPITAL DO TROPEIRISMO
Quem
visita a pequena e pitoresca cidade de Silveiras nos dias atuais mal pode
imaginar quantas histórias podem ser contadas sobre o que se passou por ali.
São justamente algumas dessas histórias que eu gostaria de compartilhar com
meus leitores, pois tenho certeza que muitos ficarão surpresos ao conhecerem um
pouco sobre esta cidade pouco lembrada pelos turistas.
Desde
que foram descobertas as primeiras minas de ouro em Mato Grosso e Minas Gerais,
no início do século XVIII, havia, por parte das autoridades portuguesas, uma
grande preocupação em se criar uma estrada que ligasse São Paulo ao Rio de
Janeiro por terra, tendo em vista que o trajeto pelo litoral era muito
perigoso, pois o mesmo era frequentemente atacado por corsários, que roubavam
as preciosas cargas de ouro e pedras preciosas transportadas pelas embarcações
lusitanas, trazendo enorme prejuízo à Coroa Portuguesa.
Tendo
como ponto de partida a necessidade de se efetuar o transporte de tais cargas
de maneira segura, o governo português passou e estimular que fossem criadas
trilhas pelo interior do território da colônia brasileira, através da
distribuição de terras a serem povoadas e cultivadas, através do
estabelecimento de ranchos ao longo do caminho, a fim de servir de pouso para
os tropeiros que faziam o trajeto ligando as “Minas Geraes” até o porto de
Paraty, no futuro estado do Rio de Janeiro. Foi surgindo também ao longo de tal
trilha um pequeno comércio para atender os tropeiros, que foram os pioneiros no
transporte de vários tipos de produtos pelo território colonial.
Tal
estrada foi sendo aberta aos poucos, e foi denominada de “Caminho Novo” ou
“Estrada Real”, por onde seria escoado o ouro que vinha de Minas Gerais para
ser fundido no Rio de Janeiro. Não devemos, no entanto, nos esquecer que a
finalidade principal para a criação desta estrada foi a de garantir os cofres
de sua Majestade.
Uma
das famílias que se estabeleceu ao longo de tal trilha foi a dos Silveiras, que
foram seus primeiros habitantes e ergueram o Rancho do Tropeiro que,
futuramente, acabou dando origem à cidade que surgiu no local, e que acabou
herdando o nome de tal família de pioneiros.
Há
fortes indícios de que a futura cidade de Silveiras tenha sido planejada, pois
as três praças principais da cidade têm as mesmas medidas, formando retângulos
exatamente iguais. As quatro ruas transversais são também do mesmo comprimento
e foram traçadas geometricamente, dando a impressão que foram traçadas antes em
um mapa. Apenas as duas ruas mais longas da cidade são tortas, desiguais e
desalinhadas, mas todas as ruas centrais são perfeitamente alinhadas.
A
pequena cidade foi se expandindo e sua primeira visita marcante foi a do futuro
Imperador D. Pedro I, que estava a caminho de São Paulo, em sua viagem
histórica que acabou culminando com o “Grito do Ipiranga” e a Independência do
Brasil. O então Príncipe almoçou em Silveiras, jantou em Cachoeira Paulista e
dormiu em Lorena antes de chegar à cidade de São Paulo.
Em
1842, ocorreram as Revoltas Liberais, que foram movimentos que agitaram o país
durante o período imperial de D. Pedro II. Tais movimentos foram promovidos,
organizados e incitados pelo Partido Liberal, que contestava a ascensão do
Partido Conservador ao poder. Tais fatores deram origem a rebeliões em São
Paulo e Minas Gerais.
Silveiras,
em particular, sofreu muito com tais revoltas, pois sua população levantou-se
contra o Imperador D. Pedro II que, por sua vez, enviou o Barão de Caxias,
futuro Duque de Caxias, para reprimir tais movimentos.
Como
Silveiras foi a única cidade da província de São Paulo a oferecer resistência
às tropas imperiais, teve de pagar um preço caro por tal afronta. Após uma
batalha, a cidade foi derrotada por Caxias e ocupada pelas tropas imperiais. Silveiras
se rendeu após o episódio conhecido como “Trincheiras”, quando 56 chefes de
família silveirenses foram assassinados pelas tropas lideradas pelo Barão de
Caxias. A cidade foi totalmente destruída na manhã de 12 de julho de 1842 e, no
local do grande combate, existe hoje um monumento erguido à tragédia sofrida
pela população local. Vestígios de tais trincheiras existem até hoje, para
testemunhar os acontecimentos de 1842.
A
Revolução Liberal de 1842 deixou marcas tão profundas em Silveiras que a
reconstrução da cidade levou mais de 2 anos para ser concluída. Além disso, o
município de Silveiras foi desligado da Província de São Paulo e foi anexado ao
Rio de Janeiro, como castigo por ter tomado parte da Revolução de 1842. Caxias
pensava que os silveirenses deveriam pagar caro pela audácia de terem se
levantado em armas contra o Governo Central.
Um
outro ilustre visitante que esteve em várias ocasiões na cidade foi Euclides da
Cunha, pois este era engenheiro e lá realizou várias obras, entre elas a
reforma da cadeia municipal e a canalização de um córrego local para o
abastecimento de água da cidade.
A
cidade entrou em decadência devido à vários fatores: primeiramente, com a
abolição da escravatura e com o esgotamento das terras que eram usadas sem
adubo durante o Ciclo do Café e com a posterior expansão dos cafezais para o
oeste do Estado de São Paulo. A quebra da bolsa de valores de Nova York trouxe
uma queda brutal no preço do café, acentuando o declínio dos fazendeiros
silveirenses. Além disso, houve uma enorme frustração gerada quando foi feito o
prolongamento da estrada de ferro Central do Brasil, de Cruzeiro até Bananal, que
deveria ter passado por Silveiras, Areias e São José do Barreiro, mas, devido
ao histórico revoltoso da cidade, esta acabou sendo preterida por outras
cidades. Por fim, a industrialização das cidades vizinhas também relegou
Silveiras à um segundo plano, deixando-a no ostracismo.
Por
todos esses motivos é que Monteiro Lobato, em sua memorável obra “Cidades
Mortas”, fez um relato do cenário desolador enfrentado por Silveiras e outras
cidades da região, pois ele havia presenciado tal situação de perto, quando
residiu em Areias, cidade vizinha à Silveiras.
Em
1932, Silveiras sofreu novamente com a eclosão da Revolução Constitucionalista de
1932, pois foi novamente derrotada pelas tropas governamentais que, desta vez, queimaram
todos os arquivos e documentos de cartório e históricos existentes na cidade,
além de terem saqueado todas suas casas. Em tal ocasião, a cidade foi
bombardeada, suas casas destruídas e seu povo foi intimado a deixar a cidade.
Silveiras
precisou de muitos anos para conseguir se reerguer. Atualmente, ela é conhecida
como “Capital do Tropeirismo”, devido à sua participação decisiva na época em
que os tropeiros faziam a ligação entre Minas Gerais e Rio de Janeiro. Foram criados
movimentos para preservar a memória e cultura tropeirista, sua culinária,
vestimentas e tradições. Foi criado também o movimento Tropeirista, por Ocílio
Ferraz, que também foi proprietário de um restaurante conhecido na região, o
Restaurante do Ocílio, além de ter presidido a Fundação Nacional do Tropeiro.
Nos
dias de hoje, a cidade recebe visitantes que a procuram por suas belezas naturais,
pela cultura tropeirista e seu artesanato de madeira, especializado em lindas
peças reproduzindo pássaros locais. Este
artesanato espalhou-se por todo o Brasil e é atualmente exportado para vários
países do mundo. Eu mesmo tive a oportunidade de visitar vários ateliês de
artesãos talentosos, sendo que o que mais me agradou, devido à qualidade
inquestionável de suas peças foi o “Entre no Paraíso Ateliê e Café”, situado na
Rodovia dos Tropeiros km 218.
Por
fim, uma outra atração para os turistas que visitam Silveiras é o Santuário da
Santa Cabeça, também localizado na Rodovia dos Tropeiros, um pouco antes da
entrada da cidade.
O
santuário teve sua origem por volta de 1829, quando dois homens que pescavam no
rio Tietê recolheram em suas redes a cabeça de uma imagem de Nossa Senhora.
Eles deram tal achado para uma moradora local, que a guardava em casa tal peça
e passou a receber vários visitantes a fim de fazerem pedidos à Nossa Senhora.
Como o fluxo de visitantes cresceu exponencialmente, foram angariados fundos
para a construção do santuário, que passou a receber peregrinos de todo o
Brasil, que vêm rezar e agradecer os milagres que atribuem à imagem.
A
imagem venerada com o nome de Santa Cabeça se trata de uma cabeça que está
guardada dentro de uma redoma de vidro e cercada de uma moldura dourada,
sustentada por dois anjos. No santuário também podemos visitar a sala dos milagres,
com inúmeras cabeças de cera, que são objetos de promessas dos fiéis e
romeiros, que invocam a Santa Cabeça para interceder em seus nomes por todas as
enfermidades relacionadas à cabeça. Atualmente, dois milhões de pessoas visitam
o santuário anualmente, tendo sido necessário até mesmo a criação de um
estacionamento específico para ônibus de romeiros e peregrinos.
Silveiras
também integra o Circuito Religioso do Estado de São Paulo, juntamente com as
cidades de Aparecida e Guaratinguetá.
Portanto,
se você ficou curioso em conhecer pessoalmente todos os lugares que mencionei,
não deixe de visitar Silveiras quando estiver de passagem pela região e
aproveite para saborear a deliciosa cozinha tropeira e comprar lindos pássaros
de madeira do artesanato local. Serão belas lembranças que lhe farão companhia
por muito tempo.
Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com
Todas as fotos da
matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2018.
Bibliografia
usada: Silveiras: História e Tradição, de José de Miranda Alves
terça-feira, 12 de janeiro de 2021
ALDEIA JESUÍTICA DE CARAPICUÍBA
ALDEIA
JESUÍTICA DE CARAPICUÍBA
Algumas
vezes não precisamos viajar para muito longe para conhecermos um tesouro
histórico nacional. Às vezes, tais tesouros estão bem perto de nós, escondidos,
sem que a gente saiba da existência deles.
Um
desses locais, pouquíssimo conhecido e visitado, é a Aldeia Jesuítica de
Carapicuíba, situada a apenas 2,5km da Rodovia Raposo Tavares e a 20 km do
centro de São Paulo.
Fundada
em 12 de outubro de 1580, a Aldeia Jesuítica de Carapicuíba era originalmente
uma fazenda com mão de obra escrava indígena trazida do sertão pelo seu dono,
Affonso Sardinha. Após a morte deste, a fazenda foi herdada pela Companhia de
Jesus, juntamente com os índios administrados e alguns escravos.
Em
1580, o padre jesuíta José de Anchieta fundou 12 aldeias missionárias em torno
do Mosteiro de São Bento, entre elas, as de Barueri, Itapecerica, Pinheiros e
Carapicuíba.
Os
objetivos de Anchieta eram os de catequisar a população indígena da região e,
ao mesmo tempo, protegê-la dos ataques dos bandeirantes, liderados por Antônio
Raposo Tavares, pois os esses buscavam capturar os índios para a escravidão, e
também, para o uso no desbravamento do território desconhecido por eles, no
interior deste país, conhecido atualmente por Brasil.
Os
jesuítas costumavam construir aldeamentos divididos em três partes, todas elas
observadas nessa aldeia: A igreja, que tinha por função receber os fiéis
recém-convertidos; as pequenas casas, localizadas em torno de um terreno
retangular, que servia para a circulação de pessoas e reuniões e, por fim, as
oficinas e áreas de serviço, onde os índios e os jesuítas produziam alimentos e
objetos de uso cotidiano.
No
centro da praça, há uma cruz colocada sobre um alto pedestal de tijolos, que
denota claramente a intenção missionária da aldeia. O espaço entre a fachada da
igreja e a cruz no meio da praça era considerado sagrado, pois os jesuítas
acreditavam que naquele local o demônio não tinha o poder de se fazer presente.
A
igreja, casas e oficinas foram todas construídas através do uso da técnica da taipa
de mão, conhecida também por pau-a-pique.
Foram
construídas no total 20 casas. Algumas delas são usadas até hoje como lar de
famílias que vivem no local há mais de 300 anos. Já outras casas foram
utilizadas para instalar a Casa de Cultura, onde pode ser visto o acervo de
imagens, objetos indígenas e esculturas, além da Biblioteca Municipal.
A
aldeia de Carapicuíba abrigou o Padre Belchior Pontes e índios Guaianases,
Tupis, Guarulhos e também de outras tribos. Porém, como os bandeirantes estavam
se aproximando da aldeia, o Padre Belchior decidiu partir, juntamente com os
índios, para a Aldeia Jesuítica de Itapecerica, pois essa era mais segura e
afastada da capital, além de ser de difícil acesso.
Para
evitar que parte dos índios catequizados permanecesse no local, os padres
jesuítas incendiaram as construções do século XVI. Alguns índios não se
conformavam em ter que sair de suas terras e, algumas vezes, retornavam e eram
assassinados, a fim de servirem de exemplo para os outros.
As
construções que são visíveis até hoje foram reconstruídas a partir de 1727,
seguindo o traçado original da antiga aldeia. A igreja foi construída em 1736,
com três paredes de taipa de pilão remanescentes do século XVI. O seu padroeiro
é São João Batista, que empresta o seu nome à igreja.
A
Aldeia Jesuítica de Carapicuíba foi tombada pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional em 1941, sendo considerada patrimônio nacional,
pois é o único exemplo remanescente de uma antiga aldeia jesuítica pois, das 12
aldeias originais fundadas por Anchieta, essa é a única que não foi totalmente
destruída, pelo fato de ser de difícil acesso.
Para
os visitantes dos dias de hoje, o acesso é muito mais fácil. Basta irmos até o
Parque Ecológico Aldeia de Carapicuíba. Ao chegarmos lá, devemos seguir a pé uma
curta trilha em subida por dentro do parque. Em poucos minutos de caminhada, já
podemos visualizar a Aldeia Jesuítica no alto, com suas casinhas e igreja,
todas pintadas de branco e azul. Eu senti uma grande emoção ao chegar no local
e saber que estava visitando um lugar tão importante na história de São Paulo e
do Brasil.
Recomendo
a todos que se interessarem pelo assunto que a visitem também e divulguem suas
visitas aos seus amigos, valorizando o local, ajudando a preservar este
exemplar único e precioso de nosso patrimônio nacional, mantendo viva a memória
de nossa história indígena, bandeirista, jesuítica e brasileira.
Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com
Todas as fotos da
matéria foram tiradas por Marco André Briones, em setembro de 2018.
Bibliografia
usada: Carapicuíba – Uma Aldeia Mameluca, de Américo Pellegrini Filho