O Meio Ambiente e as brumas ouro-pretanas
O ano de 2020 tem sido
peculiar, difícil, desafiador para todos. Tem sido um ano de muitos
acontecimentos. Ansiedade, dor, insegurança e medo à flor da pele. As
dificuldades, antes de ganharem as nossas casas, tomaram conta do cenário
político, econômico, cultural. Poucos países e poucos setores da economia se
safaram desta onda de instabilidade chamada “2020”. Tem sido também em 2020 que
soubemos que muitos não acreditam na Ciência, nas pesquisas acadêmicas, nos
esforços dos intelectuais e cientistas. Será esse o começo do nosso fim? Ou a
salvação está nas cavernas neandertais?
No entanto, minha opinião
é que a questão ambiental é, de longe, a que mais se destaca em 2020, e não é
pelos melhores motivos...
A começar, a Pandemia do
Covid-19 que tem parado o mundo, literalmente, é fruto de um desequilíbrio entre
costumes humanos e a natureza. Pouco foi noticiado e consequentemente refletido
sobre isso. A maioria dos especialistas se dedicaram (e eu entendo) em explicar
a doença de maneira clínica. Era o que de fato interessa aos expectadores.
Cidadãos e, especialmente, aos empresários. Sobre a origem da Pandemia e do
vírus, foi resumida às especulações e às teorias da conspiração. Portanto, como
poderemos evitar que isso volte a acontecer, num futuro (talvez próximo), com
um outro vírus qualquer?
Outro triste destaque para
o Meio Ambiente teve o Brasil como protagonista: o aumento dos desmatamentos e
das queimadas nem nossos mais importantes biomas o Pantanal e a Amazônico. O
que isso tem a ver com a Pandemia do Covid-19? Nada. Mas pode ter a ver com
futuras pandemias, uma vez que, ainda desconhecemos a maior parte dos vírus e
bactérias nessas regiões. E, pode ser que, conheçamos de um jeito negativo/
reativo.
As consequências no
Brasil, desse desmonte ambiental (que também escala para a esfera regulatória),
estão gravados nas mais elevadas temperaturas experimentadas no mês de setembro
de 2020, na má qualidade do ar, no dia que virou noite na cidade de São Paulo
por causa da fumaça vinda da Amazônia, nas chuvas torrenciais e irregulares, na
estiagem prolongada... cada região do país vivencia essas consequências de um
modo.
Amazônia, Pantanal,
Chapada dos Veadeiros, Chapada Diamantina, até chegar no Parque Estadual do
Itacolomi, em Ouro Preto. Esse é um dos caminhos percorridos pelas chamas. As consequências ambientais das queimadas e
desmatamentos, e como tudo isso vai interferir na nossa qualidade de vida, já
sabemos ou ao menos imaginamos. Mas e as consequências turísticas?
Bom existem algumas...
Existem as consequências óbvias, especialmente para as Chapadas, que são as
próprias atrações turísticas. Os turistas vão para admirar e estar em contato
com a natureza. Se a natureza não mais existe, os turistas não vão. Ponto. Segue-se uma quebradeira de pousadas, hotéis,
restaurantes, bares, funcionários do parque etc.
Mas este atual ataque ao
Meio Ambiente esconde outras consequências ao turismo. Alguns fenômenos
naturais, característicos de algumas cidades ou regiões, que viraram atrações
turísticas podem simplesmente desaparecerem. As brumas, por exemplo, que não
existem só no lugar imaginário de “Avalon”. Brumas são um tipo de nevoeiro que
ocorre em regiões de elevada altitude, cercadas por montanhas vegetadas. É como
se fosse um “caldeirão da bruxa” gigante. No estado de São Paulo, vemos (ainda)
esse fenômeno em Paranapiacaba.
E as brumas ouro-pretanas?
Ah as brumas ouro-pretanas! Elas dão um charme a mais à cidade que já é linda!
Cria um cenário misterioso, pitoresco, bucólico. À medida que vai dançando
pelas ladeiras, as brumas escondem alguns casarões, revelam outros, e seguem num
balé cheio de frescor anuviado de fim de tarde. As pedras das ladeiras cintilam
em um dia de bruma, como reflexo das luzes da cidade e da lua. Escurece mais
cedo em um dia de bruma. É quase um convite da natureza ao recolhimento, à
introspecção.
Estes pequenos espetáculos
que despertam tanto, e tantas memórias em nós, podem estar ameaçados pelos
impactos ao meio ambiente, decorrentes (ou acelerados) pelas ações humanas.
Quero continuar apreciando a grandiosidade delicada de cada um deles: as brumas
ouro-pretanas, os lagos azuis turquesa da Chapada dos Veadeiros, as rochas que
parecem que foram esculpidas da Chapada Diamantina, e outros tantos que ainda
vou conhecer... Por isso, agradeço a quem veio antes de mim, por preservar, e
clamo aos meus contemporâneos, para defender o que ainda temos. Avante!
Emiliana Fonseca
Brasileira
Ouro-pretana
Engenheira Ambiental
Mestre em Energias Renováveis
2020
bruma
bru·ma
sf
1 Designação genérica da falta de claridade na atmosfera,
causada por partículas carregadas pelo ar (poluição, poeira) ou por névoa fina,
que comprometem a transparência atmosférica ou anulam totalmente a
visibilidade; nevoeiro, neblina, névoa seca.
2 Cerração, especialmente no mar.
3 FIG Aquilo que impede a clareza de visão e/ou de entendimento:
As brumas do ódio e da embriaguez deixaram-no cego a quaisquer apelos.
4 FIG Falta de clareza; incerteza, obscuridade, vagueza.
5 FIG Coisa antiga, que se perde no tempo; enigma, mistério,
sombra: Vive mergulhado nas brumas do passado.
ETIMOLOGIA
lat bruma.
[Dicionário Michaelis]
Nenhum comentário:
Postar um comentário