BANANAL
– AVALISTA DO IMPÉRIO
Bananal
é uma cidade bastante peculiar, além de ser extremamente importante para a
história do Brasil. Apesar de ser uma cidade paulista, Bananal conserva as
características e a atmosfera tranquila de uma cidade do interior do Rio de
Janeiro. O povo bananalense tem um estilo de vida e hospitalidade muito próximo
dos habitantes das cidades fluminenses.
Localizada
a 316 km de São Paulo e a 164 km do Rio de Janeiro, o local onde está situada a
cidade de Bananal atualmente, originalmente era habitado pelos índios Puris.
Prova disso é que na atual Praça Rubião Junior foram encontradas ossadas,
vestígios de um cemitério dos Puris.
A
denominação da cidade, de origem tupi, vem do rio que cruza a cidade, o Banani,
que significa “rio sinuoso”, e era como os índios Puris se referiam ao rio que
corta a região.
A
região de Bananal foi desbravada pelos bandeirantes. No entanto, por um longo
período após sua abertura, a região de Bananal continuou despovoada, exceto por
alguns agrupamentos formados pelos desbravadores e, posteriormente, pelos
tropeiros que circulavam por ali. Entretanto, ali já haviam surgido algumas
culturas que foram iniciadas pelos primeiros povoadores e por aventureiros que
haviam se desiludido com o sonho de enriquecer com as minas das “Geraes”.
Muitos desse indivíduos se apossaram ou adquiriram terras por compra ou
herança.
Com
o passar do tempo, foram surgindo os ranchos e pousos para atender à
conveniência dos tropeiros que circulavam na região. As cidades fundadas pelos
tropeiros estão estrategicamente situadas a uma distância aproximada de 24 km
entre si, pois era a distância que eles conseguiam percorrer durante um dia de
viagem até que precisassem repousar durante a noite, antes de prosseguir em
seus caminhos no dia seguinte.
Os
tropeiros que vinham do sul de Minas Gerais com destino a Angra dos Reis
começaram a fazer trilhas na região. Paravam nesta localidade para descansar e
alimentar os animais, dormindo em um rancho grande, construído por eles mesmos.
Este rancho, por volta de 1906, foi demolido e no local foi construída a atual
igreja de N.S. Sant’anna.
Igreja Matriz |
O
Arraial do Bom Jesus do Livramento de Bananal surgiu de uma sesmaria, por volta
de 1783. No princípio era apenas uma pequena povoação iniciada por João Barboza
de Camargo e sua esposa, D. Maria Ribeiro de Jesus, que foi crescendo em volta
à capelinha por eles erguida. A povoação de Bananal pertencia primeiramente ao
município de Lorena. Mesmo antes de ser elevada à Vila, Bananal possuía sua
própria paróquia, desmembrada da de Areias em 1811. Em 1849, Bananal se tornou
uma cidade.
No
entanto, que trouxe riqueza e reconhecimento à cidade foi o ciclo do café,
conhecido na região como “ouro verde”. Graças ao café, a cidade de Bananal foi
a mais rica do Vale do Paraíba durante praticamente todo o século XIX.
Em
1836, Bananal era o segundo maior produtor de café da província de São Paulo. Não
é possível separar o desenvolvimento urbano do crescimento da cultura cafeeira
bananalense. A riqueza produzida no local chegou a ultrapassar a arrecadação de
impostos da capital. Além disso, devido à grande soma de impostos dali
proveniente, Bananal chegou até mesmo a sustentar a economia do estado e até
mesmo do país. É impressionante pensarmos que, durante o segundo reinado,
Bananal era o centro da economia nacional e a terceira receita municipal de
todo o Estado Brasileiro.
A
riqueza do município era tão expressiva que banqueiros ingleses chegaram a
pedir o aval de sua Câmara para a garantia de um empréstimo que o Governo
Imperial negociava em Londres. Os avais dos fazendeiros bananalenses eram
imprescindíveis nas grandes transações com bancos europeus, pois era grande o
número de fazendeiros de Bananal que possuía grandes somas de dinheiro
depositadas em bancos estrangeiros, especialmente em Londres, que era o centro
financeiro mundial da época.
Durante
a Guerra do Paraguai, os fazendeiros de Bananal também colaboraram com o
governo imperial, fornecendo contingente humano para as batalhas e também
avalizando títulos de empréstimos feitos a banqueiros ingleses pela Coroa
brasileira.
Chafariz de bronze |
Títulos
de nobreza eram agraciados às pessoas mais ricas. Eram os cafeicultores e
senhores de engenho que efetivamente trocavam favores com o imperador: títulos
de nobreza por legitimação da Monarquia.
Em
seu período áureo, Bananal chegou a ter 82 grandes fazendas de café e 8
engenhos de açúcar e aguardente.
Os barões do café, que formavam a elite do Império, tinham dinheiro depositado em bancos estrangeiros e financiaram obras como a construção do ramal bananalense da Estrada de Ferro, que passava pelas fazendas mais ricas da região, transportando o “ouro verde” produzido na região e o levava até Barra Mansa, no Rio de Janeiro.
Igreja N.S. da Boa Morte |
Os
recursos dos grandes cafeicultores de Bananal eram tão vultuosos que a estação
ferroviária de Bananal foi construída na Bélgica e montada na cidade em 1889. É
totalmente metálica e seus assoalhos são todos de pinho de Riga. Sua
arquitetura é única em toda a América Latina.
Ela foi restaurada e pelo CONDEPHAAT e atualmente abriga uma biblioteca
municipal.
Estação Ferroviária |
Bananal
chegou a ter uma orquestra permanente com duas bandas de música, especializadas
em óperas europeias. Por algum tempo também, a cidade teve sua própria moeda,
que era aceita também em Barra Mansa e no Rio de Janeiro.
Em
torno da Igreja Matriz, casarões exibiam os brasões de seus proprietários, e
tanto residências urbanas quanto rurais exibiam azulejos portugueses, cristais
belgas e uma enorme quantidade de artefatos e móveis importados. As sedes das fazendas
se transformaram em verdadeiros palacetes.
Em
Bananal existe a farmácia mais antiga do Brasil ainda em operação. Trata-se da
“Pharmacia Popular”. Ela foi inaugurada em 1830 pelo boticário francês Tourin
Monsier, o primeiro farmacêutico da cidade.
Pharmacia Popular |
Foi
pela Estrada dos Tropeiros, que liga Bananal à Silveiras, que D.Pedro I passou
na viagem entre Rio e São Paulo, no ano de 1822, quando o Brasil conquistou sua
independência. Atualmente ela é conhecida como SP-68. A mesma estrada serviu de
base para a antiga Rio-São Paulo.
Bananal
hospedou D. Pedro II por duas vezes, sempre na Fazenda Três Barras, que o
recebeu com muitas festas e homenagens, que se espalharam por toda a cidade.
O
período de riqueza e prosperidade chegou ao fim, impulsionado por fatores como
a exaustão da terra, explorada ininterruptamente por tanto tempo, a abolição da
escravatura em 1888, que dificultou o acesso à mão de obra e a abertura da
Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, que viabilizou a expansão das plantações de
café no Oeste Paulista pela possibilidade de escoamento da produção em pontos
mais distantes do litoral. As grandes fortunas herdadas foram se perdendo, as
fazendas foram sendo vendidas e o gado foi ocupando o lugar do café. Eu mesmo pude
presenciar isso em minha visita, pois tive grande dificuldade em encontrar café
produzido em Bananal, pois a região atualmente foi tomada pela produção
pecuária.
Igreja N.S. do Rosário |
No
período de escravidão no Brasil, a população escrava de Bananal era maior do
que a de brancos, pois o número de escravos usados nos serviços domésticos
havia aumentado consideravelmente com a expansão e enriquecimento das fazendas
produtoras de café.
Na
época da abolição da escravatura, as sedes das fazendas haviam sido
transformadas em verdadeiros palácios, decorados com móveis importados e
afrescos de pintores europeus nas paredes. Havia cristais belgas, azulejos
portugueses, baixelas inglesas, objetos femininos franceses e obras de arte de
todo o mundo.
Antes
mesmo do fim da escravatura, os grandes barões do café já vinham tentando
diversificar seus negócios e, consequentemente, reduzir os riscos inerentes à
dependência do negócio do café. Desta forma, começaram a estimular a vinda de
imigrantes de várias partes do mundo para ajuda-los a diversificar seus
negócios.
Os
chineses começaram a chegar em Bananal após um pedido feito pela Câmara
Municipal de Bananal, em 1835, pois se queria abrir uma nova opção
agroindustrial além do café, a do chá. Os chineses começaram a chegar, mas sem
terem uma orientação apropriada, acabaram abandonados à própria sorte e foram
se ocupando em atividades urbanas, com pequenos comércios, venda de água,
lavanderias e, principalmente, com a fabricação de fogos de artifício. Isso deu
um apelido à uma rua, a Rua do Fogo, pelas constantes explosões que lá
ocorriam. Por imposição de uma lei, os chineses de Bananal passaram a adotar
nomes nacionais para poderem comercializar e casar.
Os
libaneses começaram a chegar em Bananal no final da década de 1890 e foram
trabalhar como mascates, vendendo tecidos e criando armarinhos nas fazendas de
café.
A
cidade também foi cenário de outros momentos históricos. Bananal foi o primeiro
município paulista a ser invadido e atravessado pelas forças de Getúlio Vargas
durante a Revolução de 1932. O próprio Getúlio Vargas passou por Bananal e foi
até a frente de combate, junto com caminhões e ônibus de tropas de artilharia
pesada.
Em
1951, a antiga estrada Rio-São Paulo deu lugar à grande Rodovia Presidente
Dutra, cujo traçado desviava, definitivamente, o trânsito de todas as cidades
do Vale do Paraíba. Tal obra teve consequências muito negativas para as cidades
da região, como Bananal, que passaram a ter cada vez menos relevância e, aos
poucos, infelizmente passaram a ser esquecidas.
Praça Rubião Jr. - antigo cemitério dos índios Puris |
Um
fato pitoresco ocorreu em 1981, quando houve um jogo de futebol memorável na
inauguração do estádio da cidade de Bananal entre a seleção da cidade contra
veteranos do futebol nacional, entre eles, Garrincha, Vavá e Nilton Santos.
Atualmente,
Bananal vive basicamente da atividade pecuária e do turismo, que tem florescido
continuamente, devido à grande beleza da região e pela enorme concentração de
lindas fazendas e casarões históricos. Muitos deles foram transformados em
hotéis-fazenda ou pousadas, que estão sempre disponíveis para receber seus
hóspedes de maneira calorosa e hospitaleira. Além disso, a culinária da região
é muito boa, oferecendo produtos de excelente qualidade. Há também as festas
comemorativas e tradicionais, que ocorrem anualmente. Não faltam motivos para que
você programe a sua visita e vá conhecer essa cidade tão importante, histórica
e charmosa que é Bananal.
Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com
Todas as fotos da
matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2018.
Bibliografia
usada:
Bananal
– Terra dos Barões do Café, de Plínio Graça (org.)
O
Caminho Novo: Povoadores de Bananal, de Píndaro de Carvalho Rodrigues
Bananal
– Cidade Histórica – Berço do Café, de Maria Aparecida Rezende Gouveia de
Freitas