quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

BANANAL - AVALISTA DO IMPÉRIO

 

BANANAL – AVALISTA DO IMPÉRIO

 



Bananal é uma cidade bastante peculiar, além de ser extremamente importante para a história do Brasil. Apesar de ser uma cidade paulista, Bananal conserva as características e a atmosfera tranquila de uma cidade do interior do Rio de Janeiro. O povo bananalense tem um estilo de vida e hospitalidade muito próximo dos habitantes das cidades fluminenses.

Localizada a 316 km de São Paulo e a 164 km do Rio de Janeiro, o local onde está situada a cidade de Bananal atualmente, originalmente era habitado pelos índios Puris. Prova disso é que na atual Praça Rubião Junior foram encontradas ossadas, vestígios de um cemitério dos Puris.

A denominação da cidade, de origem tupi, vem do rio que cruza a cidade, o Banani, que significa “rio sinuoso”, e era como os índios Puris se referiam ao rio que corta a região.



A região de Bananal foi desbravada pelos bandeirantes. No entanto, por um longo período após sua abertura, a região de Bananal continuou despovoada, exceto por alguns agrupamentos formados pelos desbravadores e, posteriormente, pelos tropeiros que circulavam por ali. Entretanto, ali já haviam surgido algumas culturas que foram iniciadas pelos primeiros povoadores e por aventureiros que haviam se desiludido com o sonho de enriquecer com as minas das “Geraes”. Muitos desse indivíduos se apossaram ou adquiriram terras por compra ou herança.

Com o passar do tempo, foram surgindo os ranchos e pousos para atender à conveniência dos tropeiros que circulavam na região. As cidades fundadas pelos tropeiros estão estrategicamente situadas a uma distância aproximada de 24 km entre si, pois era a distância que eles conseguiam percorrer durante um dia de viagem até que precisassem repousar durante a noite, antes de prosseguir em seus caminhos no dia seguinte.

Os tropeiros que vinham do sul de Minas Gerais com destino a Angra dos Reis começaram a fazer trilhas na região. Paravam nesta localidade para descansar e alimentar os animais, dormindo em um rancho grande, construído por eles mesmos. Este rancho, por volta de 1906, foi demolido e no local foi construída a atual igreja de N.S. Sant’anna.

Igreja Matriz


O Arraial do Bom Jesus do Livramento de Bananal surgiu de uma sesmaria, por volta de 1783. No princípio era apenas uma pequena povoação iniciada por João Barboza de Camargo e sua esposa, D. Maria Ribeiro de Jesus, que foi crescendo em volta à capelinha por eles erguida. A povoação de Bananal pertencia primeiramente ao município de Lorena. Mesmo antes de ser elevada à Vila, Bananal possuía sua própria paróquia, desmembrada da de Areias em 1811. Em 1849, Bananal se tornou uma cidade.

No entanto, que trouxe riqueza e reconhecimento à cidade foi o ciclo do café, conhecido na região como “ouro verde”. Graças ao café, a cidade de Bananal foi a mais rica do Vale do Paraíba durante praticamente todo o século XIX.

Em 1836, Bananal era o segundo maior produtor de café da província de São Paulo. Não é possível separar o desenvolvimento urbano do crescimento da cultura cafeeira bananalense. A riqueza produzida no local chegou a ultrapassar a arrecadação de impostos da capital. Além disso, devido à grande soma de impostos dali proveniente, Bananal chegou até mesmo a sustentar a economia do estado e até mesmo do país. É impressionante pensarmos que, durante o segundo reinado, Bananal era o centro da economia nacional e a terceira receita municipal de todo o Estado Brasileiro.



A riqueza do município era tão expressiva que banqueiros ingleses chegaram a pedir o aval de sua Câmara para a garantia de um empréstimo que o Governo Imperial negociava em Londres. Os avais dos fazendeiros bananalenses eram imprescindíveis nas grandes transações com bancos europeus, pois era grande o número de fazendeiros de Bananal que possuía grandes somas de dinheiro depositadas em bancos estrangeiros, especialmente em Londres, que era o centro financeiro mundial da época.

Durante a Guerra do Paraguai, os fazendeiros de Bananal também colaboraram com o governo imperial, fornecendo contingente humano para as batalhas e também avalizando títulos de empréstimos feitos a banqueiros ingleses pela Coroa brasileira.

Chafariz de bronze


Títulos de nobreza eram agraciados às pessoas mais ricas. Eram os cafeicultores e senhores de engenho que efetivamente trocavam favores com o imperador: títulos de nobreza por legitimação da Monarquia.

Em seu período áureo, Bananal chegou a ter 82 grandes fazendas de café e 8 engenhos de açúcar e aguardente.

Os barões do café, que formavam a elite do Império, tinham dinheiro depositado em bancos estrangeiros e financiaram obras como a construção do ramal bananalense da Estrada de Ferro, que passava pelas fazendas mais ricas da região, transportando o “ouro verde” produzido na região e o levava até Barra Mansa, no Rio de Janeiro.

Igreja N.S. da Boa Morte


Os recursos dos grandes cafeicultores de Bananal eram tão vultuosos que a estação ferroviária de Bananal foi construída na Bélgica e montada na cidade em 1889. É totalmente metálica e seus assoalhos são todos de pinho de Riga. Sua arquitetura é única em toda a América Latina.  Ela foi restaurada e pelo CONDEPHAAT e atualmente abriga uma biblioteca municipal.

Estação Ferroviária


Bananal chegou a ter uma orquestra permanente com duas bandas de música, especializadas em óperas europeias. Por algum tempo também, a cidade teve sua própria moeda, que era aceita também em Barra Mansa e no Rio de Janeiro.

Em torno da Igreja Matriz, casarões exibiam os brasões de seus proprietários, e tanto residências urbanas quanto rurais exibiam azulejos portugueses, cristais belgas e uma enorme quantidade de artefatos e móveis importados. As sedes das fazendas se transformaram em verdadeiros palacetes.

 

Solar Aguiar Valim

Em Bananal existe a farmácia mais antiga do Brasil ainda em operação. Trata-se da “Pharmacia Popular”. Ela foi inaugurada em 1830 pelo boticário francês Tourin Monsier, o primeiro farmacêutico da cidade.

Pharmacia Popular


Foi pela Estrada dos Tropeiros, que liga Bananal à Silveiras, que D.Pedro I passou na viagem entre Rio e São Paulo, no ano de 1822, quando o Brasil conquistou sua independência. Atualmente ela é conhecida como SP-68. A mesma estrada serviu de base para a antiga Rio-São Paulo.

Bananal hospedou D. Pedro II por duas vezes, sempre na Fazenda Três Barras, que o recebeu com muitas festas e homenagens, que se espalharam por toda a cidade.

O período de riqueza e prosperidade chegou ao fim, impulsionado por fatores como a exaustão da terra, explorada ininterruptamente por tanto tempo, a abolição da escravatura em 1888, que dificultou o acesso à mão de obra e a abertura da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, que viabilizou a expansão das plantações de café no Oeste Paulista pela possibilidade de escoamento da produção em pontos mais distantes do litoral. As grandes fortunas herdadas foram se perdendo, as fazendas foram sendo vendidas e o gado foi ocupando o lugar do café. Eu mesmo pude presenciar isso em minha visita, pois tive grande dificuldade em encontrar café produzido em Bananal, pois a região atualmente foi tomada pela produção pecuária.

Igreja N.S. do Rosário


No período de escravidão no Brasil, a população escrava de Bananal era maior do que a de brancos, pois o número de escravos usados nos serviços domésticos havia aumentado consideravelmente com a expansão e enriquecimento das fazendas produtoras de café.

Na época da abolição da escravatura, as sedes das fazendas haviam sido transformadas em verdadeiros palácios, decorados com móveis importados e afrescos de pintores europeus nas paredes. Havia cristais belgas, azulejos portugueses, baixelas inglesas, objetos femininos franceses e obras de arte de todo o mundo.

Antes mesmo do fim da escravatura, os grandes barões do café já vinham tentando diversificar seus negócios e, consequentemente, reduzir os riscos inerentes à dependência do negócio do café. Desta forma, começaram a estimular a vinda de imigrantes de várias partes do mundo para ajuda-los a diversificar seus negócios.

Os chineses começaram a chegar em Bananal após um pedido feito pela Câmara Municipal de Bananal, em 1835, pois se queria abrir uma nova opção agroindustrial além do café, a do chá. Os chineses começaram a chegar, mas sem terem uma orientação apropriada, acabaram abandonados à própria sorte e foram se ocupando em atividades urbanas, com pequenos comércios, venda de água, lavanderias e, principalmente, com a fabricação de fogos de artifício. Isso deu um apelido à uma rua, a Rua do Fogo, pelas constantes explosões que lá ocorriam. Por imposição de uma lei, os chineses de Bananal passaram a adotar nomes nacionais para poderem comercializar e casar.

Os libaneses começaram a chegar em Bananal no final da década de 1890 e foram trabalhar como mascates, vendendo tecidos e criando armarinhos nas fazendas de café.

A cidade também foi cenário de outros momentos históricos. Bananal foi o primeiro município paulista a ser invadido e atravessado pelas forças de Getúlio Vargas durante a Revolução de 1932. O próprio Getúlio Vargas passou por Bananal e foi até a frente de combate, junto com caminhões e ônibus de tropas de artilharia pesada.

Em 1951, a antiga estrada Rio-São Paulo deu lugar à grande Rodovia Presidente Dutra, cujo traçado desviava, definitivamente, o trânsito de todas as cidades do Vale do Paraíba. Tal obra teve consequências muito negativas para as cidades da região, como Bananal, que passaram a ter cada vez menos relevância e, aos poucos, infelizmente passaram a ser esquecidas.

Praça Rubião Jr. - antigo cemitério dos índios Puris


Um fato pitoresco ocorreu em 1981, quando houve um jogo de futebol memorável na inauguração do estádio da cidade de Bananal entre a seleção da cidade contra veteranos do futebol nacional, entre eles, Garrincha, Vavá e Nilton Santos.

Atualmente, Bananal vive basicamente da atividade pecuária e do turismo, que tem florescido continuamente, devido à grande beleza da região e pela enorme concentração de lindas fazendas e casarões históricos. Muitos deles foram transformados em hotéis-fazenda ou pousadas, que estão sempre disponíveis para receber seus hóspedes de maneira calorosa e hospitaleira. Além disso, a culinária da região é muito boa, oferecendo produtos de excelente qualidade. Há também as festas comemorativas e tradicionais, que ocorrem anualmente. Não faltam motivos para que você programe a sua visita e vá conhecer essa cidade tão importante, histórica e charmosa que é Bananal.

 

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2018.

Bibliografia usada:

Bananal – Terra dos Barões do Café, de Plínio Graça (org.)

O Caminho Novo: Povoadores de Bananal, de Píndaro de Carvalho Rodrigues

Bananal – Cidade Histórica – Berço do Café, de Maria Aparecida Rezende Gouveia de Freitas

LINDO POR DO SOL


 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

FAZENDA SANTA MARIA DO MONJOLINHO - SÃO CARLOS

 

FAZENDA SANTA MARIA DO MONJOLINHO – SÃO CARLOS



 

Imponente, majestosa e surpreendente são alguns dos adjetivos que podemos usar para descrever a Fazenda Santa Maria do Monjolinho, situada a 10 km do centro de São Carlos.

Tive a oportunidade de conhecê-la há algum tempo atrás e, ao chegar no local, fiquei muito impressionado pela beleza do casarão da fazenda e pelo bom estado de conservação em que a propriedade se encontra, de uma maneira geral.

Escritório


Trata-se de uma fazenda que foi fundada em 1850 pelo Comendador Theodoro Leite de Almeida Camargo e seu irmão, José Inácio Camargo. A propriedade adquiriu tal nome devido ao fato da esposa de Theodoro Camargo se chamar Maria, além do fato da fazenda estar ao lado do rio Monjolinho, que banha a cidade de São Carlos.

A fazenda foi criada em uma área de 1200 hectares, que fazem parte da propriedade até os dias de hoje. Os fundadores iniciaram a construção da fazenda com a ajuda de 60 escravos, que trabalharam na retirada da mata nativa e no preparo do solo para o plantio do café.

A história da Fazenda Santa Maria do Monjolinho e de seu proprietário, Theodoro Camargo, ensina uma dura lição a todos a que a visitam. A lição é a de que a ambição e a busca desmesurada pela ascensão social e status pode nos levar à desgraça e, até mesmo, à falência.

Foi exatamente isso que aconteceu com Theodoro Camargo.

Vista do Palacete


Durante o período áureo do café no Brasil, a distribuição de títulos de nobreza foi uma forma que a monarquia local encontrou para angariar o apoio dos grandes cafeicultores e da elite econômica e social que se formava em todas as partes do território brasileiro.

Desta forma, quando o então Imperador D. Pedro II visitou São Carlos em 1886, Theodoro Camargo vislumbrou a possibilidade de ascender à nobreza, caso conseguisse solicitar um título de barão diretamente à D. Pedro II, se comprometendo a cumprir algumas promessas, que poderiam impressionar o Imperador do Brasil.

Camargo prometeu que em 5 anos teria concluído as obras prometidas, que poderiam ser inspecionadas pessoalmente pelo Imperador quando regressasse à São Carlos. Ficando D. Pedro II satisfeito com o cumprimento das promessas, seria dado o título de barão a Theodoro Camargo.

Piso em Pé de Moleque, feito pelos escravos


Como era uma pessoa que almejava ascender socialmente e ter certos privilégios que um título de nobreza lhe traria, Camargo prometeu ao Imperador que construiria um palacete em estilo europeu em sua fazenda e, além disso, também criaria um ramal de trem, com estação de passageiros e carga, dentro de sua propriedade. O palacete foi construído pelo renomado arquiteto italiano Pietro David Cassinelli.

Próximo ao palacete, foi construído um lindo aqueduto, usado para movimentar a roda d’água e gerar energia para o beneficiamento do café, que ficava descansando em um grande terreiro atijolado. Havia ainda um sino que ficava ao lado da casa do administrador. Tal sino era usado para ditar o ritmo dos trabalhos.

Aqueduto e área para visitas escolares


Terreiro Atijolado para descanso do café


Tendo em vista que o movimento tropeirista passou a perder relevância com a chegada das ferrovias ao Brasil, pois as cargas que eram anteriormente transportadas pelas mulas dos tropeiros passaram a ser carregadas em quantidade muito maior e em velocidade extremamente superior através dos trens, cujas linhas estavam começando a ser construídas em vários pontos do território nacional. Tal facilidade permitia aos grandes fazendeiros uma otimização da produção cafeeira e do escoamento das mesmas aos grandes centros consumidores e ao exterior. A via férrea beneficiou São Carlos a partir de 1884, quando foi inaugurada a estrada de ferro que ligava São Carlos a Rio Claro.

No entanto, a história seguiu um curso que não havia sido previsto por Camargo e que, no final das contas, traria a ele grande infortúnio e tristeza.

Vista interior


Foi proclamada a abolição da escravatura no Brasil, que acabou por extinguir, de uma hora para a outra, a maior fonte de mão de obra da cultura do café existente na época. Portanto, após tal impactante acontecimento, a execução das obras prometidas por Camargo ficou comprometida. Não havia mais uso também para a Casa das Mucamas, que havia sido construída para abrigar as negras escravizadas que cuidavam dos afazeres domésticos e das que eram amas de leite. Esta construção, existente até hoje, ficava aos fundos do palacete. A senzala ficava um pouco mais afastada, próxima à Tulha, onde era beneficiado o café. Até os dias de hoje podemos ver o pelourinho local e os postes nos quais os escravos eram amarrados e castigados.

Casa das Mucamas


Senzala - Troncos de Tortura e Casas de Colonos


Para piorar ainda mais a situação, houve a Proclamação da República em 1889, o que fez com que a monarquia fosse deposta e, consequentemente, tornou totalmente inúteis quaisquer títulos de nobreza.

Já que agora não havia mais um Imperador no Brasil e, muito menos a possibilidade de se obter um título de barão, Camargo se viu endividado, sendo suas dívidas impiedosamente cobradas por seus credores e financiadores.

Camargo foi levado a vender sua propriedade, incluindo o palacete em estilo europeu que havia construído, a tulha, senzala, o trecho da ferrovia dentro de sua propriedade e a Estação Monjolinho, que ficava no ramal que interligava São Carlos a Ribeirão Bonito. Esse ramal operou continuamente até seu fechamento definitivo em 1969. Ele acabou vendendo tudo de “porteiras fechadas”, ou seja, com todo o mobiliário e obras de arte adquiridas para sua propriedade.

Interior do Palacete


A fazenda foi vendida em 1904 para o casal Candido de Souza Campos e Zuleika de Toledo Malta. Desde então, a propriedade tem se mantido sob posse da família Souza Campos. A partir de 1904, a mão de obra escrava foi substituída pela dos imigrantes italianos, que passaram a ocupar a antiga senzala, que foi adaptada para receber a nova mão de obra proveniente da Europa, que daria prosseguimento às atividades cafeeiras da fazenda. Foram recebidos 400 imigrantes italianos, que eram remunerados através do sistema meeiro, no qual metade da produção era destinada ao fazendeiro produtor e a outra metade era dividida entre as famílias dos imigrantes.

Em 2007 a Fazenda Santa Maria do Monjolinho foi tombada pelo CONDEPHAAT. A família Souza Campos criou um museu casa, que pode ser visitado diariamente por todos os interessados através de um agendamento prévio ou apenas pelo comparecimento direto ao local nos horários de funcionamento da fazenda. Na visita, podemos conhecer por dentro todo o maravilhoso casarão e suas belas obras de arte, mobiliário e lembranças do período áureo do café. Também são recebidas muitas visitas escolares ao longo do ano. As crianças ficam fascinadas ao conhecer a história do local e ao terem contato com um maquinário e vestígios de uma época passada de nossa história.

Estação Monjolinho


Hoje em dia, parte da antiga Estação Monjolinho foi restaurada, e lá se encontra um restaurante de cozinha típica brasileira, além de uma pequena loja, no qual podemos comprar o delicioso café produzido localmente até os dias de hoje.

Restaurante Rural


Recomendo que todos que quiserem ter uma noção do que foi o apogeu do ciclo cafeeiro do Brasil e de São Paulo que não deixem de conhecer esta linda fazenda, com toda sua rica história, marcada por muita ambição, desilusão e reviravoltas.

Para maiores informações, consulte o site oficial da fazenda.

http://santamariadomonjolinho.com.br/

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em novembro de 2018.

Com agradecimentos especiais à Sara de Jesus Silva

Bibliografia usada:

Café, Indústria e Conhecimento – São Carlos – Uma História de 150 anos, de Oswaldo Mario Serra Truzzi, Paulo Reali Nunes e Ricardo Tilkian.

História da Fazenda Santa Maria do Monjolinho, de Sara de Jesus Silva e Edmar Neves.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

COPENHAGEN - PORTO DOS COMERCIANTES

 

COPENHAGEN – PORTO DOS COMERCIANTES


Ministérios


O tema da matéria de hoje é a cidade de Copenhagen, capital da Dinamarca, cuja região tem sido habitada há mais de 5000 anos. É um local com forte tradição na área comercial e de navegação. É exatamente por esse motivo que a cidade adquiriu o seu nome que, em dinamarquês, significa “Porto dos Comerciantes”. Oficialmente, foi fundada em 1167. Também é muito conhecida por ter sido um dos grandes centros dos Vikings.

Copenhagen tradicionalmente teve fortes laços comerciais com a Inglaterra, Noruega, Alemanha e Holanda. Já a Suécia, durante séculos, foi seu oponente, rival e inimiga. O principal produto da região e que gerou a movimentação comercial com outras nações foi o do arenque, muito abundante nas águas da região.

Borsen - Antiga Bolsa de Valores


Atualmente, as desavenças com a Suécia ficaram para trás, especialmente porque ambos países fazem parte da Comunidade Europeia e são interligados pela extraordinária ponte de Oresund, que conecta os dois países, estabelecendo uma ligação direta entre Copenhagen e Malmo, na Suécia.

Em 1417, Copenhagen já era a maior e mais rica cidade do país, sendo a residência oficial dos reis, o que a transformou em um centro político, econômico e cultural de toda a Dinamarca. Além disso, se tornou a base mais importante da frota marítima do país. Nesta época, a coroa dinamarquesa se tornou tão poderosa que passou a cobrar pedágio para os navios que passavam na região do rio Oresund, que separa a Dinamarca da Suécia. Em 1536, o Luteranismo se tornou a religião oficial do país.

Durante as duas guerras mundiais, a Dinamarca foi neutra. No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, o país chegou a ser ocupado pelos alemães, o que acabou levando ao surgimento de um forte movimento de resistência anti-germânico.

Atualmente Copenhagen tem 1,9 milhões de habitantes. Possui um dos padrões de vida mais elevados do mundo, que é em grande parte financiado pelos altíssimos impostos cobrados de seus cidadãos. Ainda assim, o custo de vida no país ainda é mais baixo do que na Suécia e Noruega.

Praça Amagertorv e Rua Stroget


A cidade tem uma das ruas de pedestres mais longas do mundo, conhecida como Stroget, que se inicia na conhecida praça Amagertorv. A prefeitura da cidade é a Radhuset, um lindo palácio em estilo barroco, em uma ampla praça no centro da cidade.

Radhuset


Uma das maiores atrações da cidade são os jardins de Tivoli, uma mistura de parque de diversões, restaurantes, salas de concerto, lagos, atrações infantis e área de lazer. É conhecido por todos os habitantes da cidade, que frequentam seus jardins para longos passeios, especialmente nos dias de verão.

Jardins de Tivoli


A Ny Carlsberg Glyptotek é um dos maiores museus especializados em escultura em todo o mundo. Sua coleção é extraordinária, possuindo exemplares de arte etrusca, romana, além de esculturas de todos os tamanhos e variados materiais. É muito visitada por escolas e turistas, sendo muito popular também devido aos seus lindos jardins de inverno cobertos, onde existem até mesmo palmeiras.

Glyptotek - Museu de Esculturas


O Palácio de Christiansborg já foi um palácio real, mas atualmente é a sede do Parlamento Dinamarquês. Já o Nyhavn é um canal portuário onde ficavam antigamente os bordéis e onde atualmente se encontra uma grande concentração de pubs e restaurantes. É um dos lugares mais animados e movimentados da cidade, além de ser um ótimo ponto de início ou término de um passeio pela cidade, para que se possa conhecer a gastronomia e as bebidas locais.

Palácio de Christiansborg


Nyhavn


O símbolo da cidade é a estátua da pequena sereia, situada no porto de Langelinie. Há filas de turistas do mundo inteiro tentando tirar uma foto junto com pequena e solitária sereia. No entanto, está longe de ser uma atração imperdível, valendo a visita apenas se você tiver tempo de sobra na cidade. Há também o Botanisk Have, um lindo jardim botânico, com grandes estufas nas quais se encontram exemplares da flora de todas as partes do mundo.

Pequena Sereia - Símbolo de Copenhagen


Botanisk Have


O Kasteleet é uma área ocupada atualmente pelo exército dinamarquês, onde ficam seus alojamentos e centros de treinamento. Dentro dele há um lindo lago e também a bela igreja de Santo Albano. O local é aberto à visitação pública e é um excelente ponto para fotógrafos profissionais e amadores.

Igreja de Santo Albano - Dentro do Kastelet


Em termos de arte, um dos melhores e maiores museus da cidade é o Staten Museum for Kunst (Museu Nacional de Arte), que possui uma coleção fantástica de obras de Ticiano, Rubens, Rembrandt, El Greco, Picasso e Matisse.

Museu Nacional de Arte


O Rosenborg Slot é o palácio Real, onde se encontram as jóias da coroa, além de lindos e vastos jardins. Slotsholmen é a ilha de pescadores onde foi fundada a cidade de Copenhagen, atualmente ligada por várias pontes ao restante da área metropolitana. A Rundetarn é uma torre de 1640 construída no centro da cidade. O acesso ao topo dela, de onde se tem uma incrível vista da cidade, é feito através de amplas rampas internas, que levam os visitantes até o topo da torre.

Rosenborg Slot - Castelo Real


Rundertarn - Torre Circular


A cidade é recortada por incontáveis canais, neste aspecto, lembrando muito o traçado de outras cidades europeias tais como Amsterdam, Bruges e Veneza. Há também muitos barcos que são usados como casas para a habitação familiar.

Canais de Copenhagen


O Den Sorte Diamant é uma enorme e moderníssima biblioteca na qual estão guardados exemplares de todos os livros que já foram publicados no país. Já o Amber Museum é um museu especializado na gema nacional da Dinamarca, o âmbar. Há belíssimas peças em exposição, além de uma loja que vende jóias em âmbar, a preços exorbitantes. A loja Magasin du Nord, de inspiração francesa, é a mais antiga e tradicional da cidade, sendo uma equivalente da Harrod’s em Londres ou da Galleries Lafayette em Paris.

Museu do Âmbar


Magasin du Nord


Para quem aprecia igrejas, podem ser visitadas, por exemplo, a Holmens Kirke, uma linda igreja renascentista e a igreja de Nosso Salvador, com sua impressionante torre em espiral, pintada em dourado.

Holmens Kirke


Igreja de Nosso Salvador


Christiania é um tipo de enclave dentro de Copenhagen, uma chamada “Cidade Livre”, na qual habitam todo tipo de pessoas que não aceitam viver segundo as regras da sociedade local. Há o uso liberado de drogas, centros anarquistas, cafés, ateliês, casas de shows e residências. Lá dentro há apenas duas regras: não é permitido fotografar nem correr pois, segundo os locais, isso poderia assustar os moradores, que poderiam acreditar estar sendo atacados por policiais. Muitos dinamarqueses consideram que a existência de tal lugar é muito conveniente, pois permite que todos os “indesejáveis” fiquem concentrados em um só lugar, reduzindo a ocorrência de crimes, do uso de drogas e pequenos delitos em outras partes da cidade.

As bicicletas são parte indissociável da vida dos dinamarqueses. Em Copenhagen, mais de 37% de seus habitantes as usam diariamente para ir e voltar do trabalho, escola e também para atividades de lazer.

Capital das Bicicletas


Centro de Arquitetura Dinamarquesa


A arquitetura e o design são pontos muito fortes na cultura dinamarquesa, sendo que seus profissionais estão entre os mais renomados e conhecidos do mundo. Para aqueles que apreciam a arquitetura e o design moderno e inovador, vale muito conhecer o Dansk Design Center, centro de Design dinamarquês, além do Kunstindustrimuseet, museu de Design moderno. Pode-se também admirar a beleza da Operaen, casa de ópera de arquitetura ultra-moderna, dentro da qual há esculturas que mudam de cor de acordo com o clima.

Museu de Design Moderno


Operaen


Copenhagen é a sede de empresas de renome internacional, tais como a Lego, conhecida e amada por crianças do mundo todo, pois montam seus brinquedos usando as peças coloridas de Lego, além da poderosa Maersk Sealand, um gigante da navegação e do transporte de cargas por todos os oceanos do planeta. A cerveja Carlsberg também é produzida na cidade e exportada para todo mundo. É possível visitar sua fábrica e degustar suas deliciosas cervejas, conhecidas internacionalmente.

Soldado Dinamarquês feito em LEGO


Cervejaria Carlsberg


Entre os habitantes mais famosos de Copenhagen, podemos citar Hans Christian Andersen, conhecido em tudo mundo por suas lindas e encantadoras fábulas e contos infantis. Já Soren Kierkegaard foi um dos grandes mestres da filosofia, sendo considerado um dos pais do Existencialismo. Niels Bohr foi um dos maiores gênios da física, que desvendou segredos da energia atômica e física quântica, tendo sido posteriormente agraciado com o Prêmio Nobel de Física.

Hans Christian Andersen


Para aqueles que já tiverem conhecido as grande capitais da Europa, tais como Londres, Paris, Roma e Berlim, ou que apreciem lugares menos visitados, mas não menos interessantes, eu recomendo que visitem Copenhagen, pois ficarão impressionados com a tradição histórica da cidade, por sua arquitetura e design inovadores,  por sua culinária saborosa, além da beleza e simpatia de seu povo.

 

 

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em setembro de 2015.

Bibliografia usada: Copenhagen – A Historical Guide, de Torben Ejlersen