FAZENDA
SANTA MARIA DO MONJOLINHO – SÃO CARLOS
Imponente, majestosa e surpreendente são alguns dos adjetivos que podemos usar para descrever a Fazenda Santa Maria do Monjolinho, situada a 10 km do centro de São Carlos.
Tive
a oportunidade de conhecê-la há algum tempo atrás e, ao chegar no local, fiquei
muito impressionado pela beleza do casarão da fazenda e pelo bom estado de
conservação em que a propriedade se encontra, de uma maneira geral.
Escritório |
Trata-se
de uma fazenda que foi fundada em 1850 pelo Comendador Theodoro Leite de
Almeida Camargo e seu irmão, José Inácio Camargo. A propriedade adquiriu tal
nome devido ao fato da esposa de Theodoro Camargo se chamar Maria, além do fato
da fazenda estar ao lado do rio Monjolinho, que banha a cidade de São Carlos.
A
fazenda foi criada em uma área de 1200 hectares, que fazem parte da propriedade
até os dias de hoje. Os fundadores iniciaram a construção da fazenda com a
ajuda de 60 escravos, que trabalharam na retirada da mata nativa e no preparo
do solo para o plantio do café.
A
história da Fazenda Santa Maria do Monjolinho e de seu proprietário, Theodoro
Camargo, ensina uma dura lição a todos a que a visitam. A lição é a de que a
ambição e a busca desmesurada pela ascensão social e status pode nos levar à
desgraça e, até mesmo, à falência.
Foi
exatamente isso que aconteceu com Theodoro Camargo.
Vista do Palacete |
Durante
o período áureo do café no Brasil, a distribuição de títulos de nobreza foi uma
forma que a monarquia local encontrou para angariar o apoio dos grandes
cafeicultores e da elite econômica e social que se formava em todas as partes
do território brasileiro.
Desta
forma, quando o então Imperador D. Pedro II visitou São Carlos em 1886,
Theodoro Camargo vislumbrou a possibilidade de ascender à nobreza, caso
conseguisse solicitar um título de barão diretamente à D. Pedro II, se
comprometendo a cumprir algumas promessas, que poderiam impressionar o
Imperador do Brasil.
Camargo
prometeu que em 5 anos teria concluído as obras prometidas, que poderiam ser
inspecionadas pessoalmente pelo Imperador quando regressasse à São Carlos. Ficando
D. Pedro II satisfeito com o cumprimento das promessas, seria dado o título de
barão a Theodoro Camargo.
Piso em Pé de Moleque, feito pelos escravos |
Como
era uma pessoa que almejava ascender socialmente e ter certos privilégios que
um título de nobreza lhe traria, Camargo prometeu ao Imperador que construiria
um palacete em estilo europeu em sua fazenda e, além disso, também criaria um
ramal de trem, com estação de passageiros e carga, dentro de sua propriedade. O
palacete foi construído pelo renomado arquiteto italiano Pietro David
Cassinelli.
Próximo
ao palacete, foi construído um lindo aqueduto, usado para movimentar a roda
d’água e gerar energia para o beneficiamento do café, que ficava descansando em
um grande terreiro atijolado. Havia ainda um sino que ficava ao lado da casa do
administrador. Tal sino era usado para ditar o ritmo dos trabalhos.
Aqueduto e área para visitas escolares |
Terreiro Atijolado para descanso do café |
Tendo
em vista que o movimento tropeirista passou a perder relevância com a chegada
das ferrovias ao Brasil, pois as cargas que eram anteriormente transportadas
pelas mulas dos tropeiros passaram a ser carregadas em quantidade muito maior e
em velocidade extremamente superior através dos trens, cujas linhas estavam
começando a ser construídas em vários pontos do território nacional. Tal
facilidade permitia aos grandes fazendeiros uma otimização da produção cafeeira
e do escoamento das mesmas aos grandes centros consumidores e ao exterior. A
via férrea beneficiou São Carlos a partir de 1884, quando foi inaugurada a
estrada de ferro que ligava São Carlos a Rio Claro.
No
entanto, a história seguiu um curso que não havia sido previsto por Camargo
e que, no final das contas, traria a ele grande infortúnio e tristeza.
Vista interior |
Foi
proclamada a abolição da escravatura no Brasil, que acabou por extinguir, de
uma hora para a outra, a maior fonte de mão de obra da cultura do café
existente na época. Portanto, após tal impactante acontecimento, a execução das
obras prometidas por Camargo ficou comprometida. Não havia mais uso também para
a Casa das Mucamas, que havia sido construída para abrigar as negras escravizadas
que cuidavam dos afazeres domésticos e das que eram amas de leite. Esta
construção, existente até hoje, ficava aos fundos do palacete. A senzala ficava
um pouco mais afastada, próxima à Tulha, onde era beneficiado o café. Até os
dias de hoje podemos ver o pelourinho local e os postes nos quais os escravos
eram amarrados e castigados.
Casa das Mucamas |
Senzala - Troncos de Tortura e Casas de Colonos |
Para
piorar ainda mais a situação, houve a Proclamação da República em 1889, o que
fez com que a monarquia fosse deposta e, consequentemente, tornou totalmente
inúteis quaisquer títulos de nobreza.
Já
que agora não havia mais um Imperador no Brasil e, muito menos a possibilidade
de se obter um título de barão, Camargo se viu endividado, sendo suas dívidas
impiedosamente cobradas por seus credores e financiadores.
Camargo
foi levado a vender sua propriedade, incluindo o palacete em estilo europeu que
havia construído, a tulha, senzala, o trecho da ferrovia dentro de sua
propriedade e a Estação Monjolinho, que ficava no ramal que interligava São
Carlos a Ribeirão Bonito. Esse ramal operou continuamente até seu fechamento
definitivo em 1969. Ele acabou vendendo tudo de “porteiras fechadas”, ou seja,
com todo o mobiliário e obras de arte adquiridas para sua propriedade.
Interior do Palacete |
A
fazenda foi vendida em 1904 para o casal Candido de Souza Campos e Zuleika de
Toledo Malta. Desde então, a propriedade tem se mantido sob posse da família
Souza Campos. A partir de 1904, a mão de obra escrava foi substituída pela dos
imigrantes italianos, que passaram a ocupar a antiga senzala, que foi adaptada
para receber a nova mão de obra proveniente da Europa, que daria prosseguimento
às atividades cafeeiras da fazenda. Foram recebidos 400 imigrantes italianos,
que eram remunerados através do sistema meeiro, no qual metade da produção era
destinada ao fazendeiro produtor e a outra metade era dividida entre as
famílias dos imigrantes.
Em
2007 a Fazenda Santa Maria do Monjolinho foi tombada pelo CONDEPHAAT. A família
Souza Campos criou um museu casa, que pode ser visitado diariamente por todos
os interessados através de um agendamento prévio ou apenas pelo comparecimento
direto ao local nos horários de funcionamento da fazenda. Na visita, podemos
conhecer por dentro todo o maravilhoso casarão e suas belas obras de arte,
mobiliário e lembranças do período áureo do café. Também são recebidas muitas
visitas escolares ao longo do ano. As crianças ficam fascinadas ao conhecer a
história do local e ao terem contato com um maquinário e vestígios de uma época
passada de nossa história.
Estação Monjolinho |
Hoje
em dia, parte da antiga Estação Monjolinho foi restaurada, e lá se encontra um
restaurante de cozinha típica brasileira, além de uma pequena loja, no qual
podemos comprar o delicioso café produzido localmente até os dias de hoje.
Restaurante Rural |
Recomendo
que todos que quiserem ter uma noção do que foi o apogeu do ciclo cafeeiro do
Brasil e de São Paulo que não deixem de conhecer esta linda fazenda, com toda
sua rica história, marcada por muita ambição, desilusão e reviravoltas.
Para
maiores informações, consulte o site oficial da fazenda.
http://santamariadomonjolinho.com.br/
Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com
Todas as fotos da
matéria foram tiradas por Marco André Briones, em novembro de 2018.
Com agradecimentos
especiais à Sara de Jesus Silva
Bibliografia
usada:
Café,
Indústria e Conhecimento – São Carlos – Uma História de 150 anos, de Oswaldo
Mario Serra Truzzi, Paulo Reali Nunes e Ricardo Tilkian.
História
da Fazenda Santa Maria do Monjolinho, de Sara de Jesus Silva e Edmar Neves.