terça-feira, 19 de janeiro de 2021

ITAPETININGA

 

ITAPETININGA – TERRA DAS ESCOLAS

 



A palavra Itapetininga significa caminho das pedras secas, ou caminho seco. No entanto, inicialmente a pequena vila se chamava Nossa Senhora dos Prazeres e foi fundada em 1770.

Os bandeirantes traçaram as trilhas e indicaram os roteiros que cruzaram nossas terras. Já os tropeiros firmaram as vias de comunicação por estas mesmas trilhas e roteiros, ao mesmo tempo que demarcaram os pontos nos quais deveriam ser construídas as nossas cidades. O tropeiro foi, desta forma, o continuador e consolidador do trabalho dos bandeirantes.



Itapetininga surgiu e se desenvolveu por causa do tropeirismo. Estes tropeiros descobriram um pouso excelente à beira do Rio Itapetininga, um ótimo local para descanso obrigatório para aqueles provenientes do sul do país. Eles montavam ranchos e arraiais para o pouso, antes de seguirem em direção ao Rio Grande do Sul. Esse ponto ainda existe sob o nome de “Porto”.

A atual Rua Quintino Bocaiúva se chamava inicialmente Rua das Tropas, pois era por lá que passavam as tropas provenientes do sul. Tal influência sulista é notada até os dias de hoje, pois o sotaque dos itapetininganos lembra bastante o dos gaúchos.



O primeiro núcleo de tropeiros na região de Itapetininga surgiu em 1724, quando descobriu-se que o pasto no local era abundante e a terra fértil para o plantio. Além disso, outro fator determinante para a escolha do local atual onde se situa a cidade foi a distância da Vila de Sorocaba - 12 léguas - que correspondia a uma jornada de tropa solta. Nessa época, a viagem de São Paulo até Itapetininga levava entre 6 a 8 dias. O local também era um pequeno centro comercial de mulas.

O Governador Geral da época determinou a abertura de um caminho novo para o sul da colônia, que permanecesse sempre seco, em substituição ao antigo, que ficava constantemente encharcado.



Em 1766, um grupo de portugueses, chefiado por Domingos José Vieira, deixou o primeiro núcleo (hoje, bairro do Porto), às margens do Rio Itapetininga, e formou outro, a 6 km do local original, em uma região alta e circundada por dois ribeirões, precisamente onde se localiza a Catedral, onde construíram a primeira capela de Nossa Senhora dos Prazeres. As primeiras cerimônias da instalação da freguesia de N.S. dos Prazeres de Itapetininga foram realizadas em 5 de novembro de 1770.



O antigo núcleo foi ocupado por Paschoal Leite de Moraes, que, vindo do Paraná com sua família, deu continuidade àquele núcleo populacional. Nessa época, a instalação de uma freguesia se dava com o levantamento do pelourinho.

O Capitão General da Capitania, D. Luiz Antônio de Sousa Botelho Mourão, baixou uma portaria em 17 de abril de 1768, na qual ordenava que fosse fundada a povoação de Itapetininga.

Nessa época, houve uma disputa entre os dois núcleos que queriam ser elevados à condição de vila. Desta forma, em 17 de abril de 1770, Simão Barbosa Franco foi nomeado para fundar o novo povoado, cabendo, a ele, a escolha do núcleo principal. Alguns historiadores contam que uma mula ruana marchadeira, ofertada como presente a Simão Barbosa Franco, garantiu a vitória de Domingos José Vieira.



Os campos de Itapetininga sempre tiveram fama de produzirem galináceos da melhor qualidade e em grande quantidade. Esse é um dos motivos pelos quais também a cidade é conhecida por sua deliciosa receita de bolinho de frango, criada há mais de 100 anos e que foi declarada patrimônio cultural imaterial da cidade.

Itapetininga sempre teve uma reputação de oferecer ótimas frutas, que eram vendidas à preços exorbitantes e também por seus animais de criação, que são excelentes, bem tratados, fortes e bonitos. Uma vez o governador da Província de São Paulo ordenou que toda a cavalaria de seu exército fosse adquirida em Itapetininga, devido à excelente qualidade dos animais da região.



A cidade de Itapetininga prosperou muito com o passar dos anos. Foi construído o Teatro São João, no qual se apresentavam alguns conjuntos teatrais esporadicamente. Nestas ocasiões, as famílias levavam às costas suas próprias cadeiras para sentar. Terminado o espetáculo, traziam de volta às costas cada um à sua cadeira. Nem mesmo na igreja Matriz havia bancos para os fiéis se sentarem.

Neste período, o arroz era considerado um artigo de luxo e era somente servido às visitas, pois era proveniente do Japão, de onde vinha em barris.

Em 1852 foi fundada a Loja Maçônica Firmeza, existente até hoje. Já em 1873 foi construída a Igreja N.S. do Rosário, com mão de obra escrava.



Sem dúvida, o itapetiningano mais ilustre nasceu em 1882. Seu nome era Júlio Prestes, integrante de uma família muito tradicional e renomada na cidade. Foi o último presidente do Brasil eleito durante a República Velha, mas foi impedido de assumir o cargo devido a Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, que assumiu a Presidência da República em seu lugar. Prestes foi o único político eleito presidente da república do Brasil pelo voto popular a ser impedido de tomar posse, além de ter sido o primeiro brasileiro a ser capa da renomada revista Time, em 1930.



Durante a Revolução de 1930, a cidade foi ocupada pelas tropas de Getúlio Vargas. Um triste episódio ocorreu quando o prédio da Escola Normal, marco da cidade, foi transformado em quartel e lá os soldados transformaram o pátio em local para preparo de churrasco.

Uma outra Itapetiningana célebre é Anésia Pinheiro Machado, que foi a primeira aviadora do Brasil. Outro famoso cidadão nascido na cidade foi o autor da canção “Menino da Porteira”, chamado Teddy Vieira.



Itapetininga é também conhecida como “Terra das Escolas” por causa de sua longa tradição educacional, refletida na alta qualidade de suas escolas, professores e alunos.



A forte tradição educacional da cidade foi iniciada com a criação da Escola Normal Superior, a única do interior do Estado de São Paulo na época. Depois ela se transformou na renomada Escola Peixoto Gomide, obra do famoso arquiteto Ramos de Azevedo. Em 1920 foi criada a Faculdade de Odontologia e Farmácia, a terceira de todo o estado, atrás apenas da capital e de Araraquara. Há também o conhecido Colégio das Freiras. Durante muito tempo a cidade foi o centro escolar de toda a região.



Na área cultural, há também referências que são reconhecidas por sua população, entre elas o “Cururu”, comum na zona rural, que é um canto de improviso, espécie de ‘repente’ paulista, no qual a viola caipira dita o ritmo e a melodia.

Em 1921, o célebre francês Marechal Pétain, herói da Primeira Guerra Mundial e futuro presidente da França passou por Itapetininga, onde foi recebido pelo Professor Haddock Lobo, que o homenageou com um discurso feito em francês. Ao final do discurso, Pétain o beijo, dizendo que naquele momento a França precisava de homens como ele.



Entre os visitantes ilustres que a cidade recebeu ao longo dos anos estão, entre outros, o Conde D’Eu, Garibaldi, Washington Luiz, Heitor Villa Lobos e Rui Barbosa.

Atualmente, Itapetininga possui uma economia fortemente voltada à agricultura, possuindo o maior produto interno bruto agrícola do estado de São Paulo. Além disso, conta com algumas indústrias de expressão nacional de grande porte, tais como a 3M, Baterias Moura, Duratex, Nishimbo entre outras. É considerada um grande polo moveleiro e têxtil do Sudoeste Paulista. Não podemos deixar de mencionar também as saborosas batatas cultivadas na cidade, que abastecem operações do McDonald’s e da Elma Chips no Brasil.

Também são muito conhecidos o Pesqueiro Itograss, cujo grupo é o maior fornecedor de grama do Brasil, para campos de futebol e estradas; a Churrascaria Sacy, famosa por seu “Lombinho com Queijo”, além dos Chocolates Aspen, de ótima qualidade.



Um fato curioso sobre a cidade é que há um elevado número de habitantes com idade acima dos 80 anos vivendo em Itapetininga. Acredita-se que tal fato se deva à qualidade de vida na cidade.

A distância de Itapetininga até São Paulo é de apenas 160 km, duas horas de carro. Portanto, se estiver na região, não deixe de conhecer essa tradicional cidade, tão renomada por suas escolas, seus filhos ilustres e também pela qualidade dos produtos de sua terra. Você não se esquecerá de Itapetininga.

 

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda.gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, entre 2009 e 2018.

Bibliografia usada:

Um Adeus em Cada Esquina – Recordações de Gente Nossa – História de Itapetininga, de Hehil Abuázar.

Itapetinga e Sua História – de Antônio Galvão Jr.

Com agradecimentos especiais à Sra Ana de Lourdes Ribeiro Secco e ao Sr. José de Almeida Ribeiro

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

MUSEU KROLLER MULLER - EM OTTERLO, HOLANDA

 

MUSEU KROLLER MULLER EM OTTERLO – A SEGUNDA MAIOR COLEÇÃO DE QUADROS DE VAN GOGH NO MUNDO

 



Se você é um admirador das obras de Vincent Van Gogh, você precisa conhecer o Museu Kröller-Müller, localizado em Otterlo, a apenas 95 km de Amsterdã, aproximadamente uma hora de viagem de carro.

Trata-se de um dos melhores e mais desconhecidos museus de arte do mundo. Poucos turistas fora da Holanda já ouviram falar ou visitaram o Museu Kroller Muller, pois eles usualmente restringem suas visitas aos locais mais famosos do país, tais como Amsterdã, Haia ou Rotterdã.



Eu tive a oportunidade de visitar o Museu Kroller Muller em janeiro de 2006, no auge do inverno europeu, quando toda a região estava totalmente coberta de neve.

O Museu Kroller Muller foi fundado por Helene Kroller Muller, que era filha de um riquíssimo magnata da indústria do aço na Holanda. Helene era uma ávida colecionadora que foi uma das primeiras pessoas a reconhecer o talento incomparável de Vincent Van Gogh e a colecionar suas obras. Além disso, como adquiriu uma enorme quantidade de quadros do pintor, até então pouco conhecido, ela contribuiu muito para que sua obra se tornasse cada vez mais popular e reconhecida internacionalmente.



Atualmente, o museu abriga nada menos do que a segunda maior coleção de quadros de Van Gogh no mundo, ficando atrás apenas do próprio Museu Van Gogh, em Amsterdã.

Helene sonhava em construir seu museu dos sonhos, no qual ela pudesse compartilhar seu amor pela arte moderna com todo mundo. Durante 1907 e 1922, ela adquiriu aproximadamente 11.500 obras de arte, fazendo de sua coleção uma das maiores de todo o século XX. Ela finalmente conseguiu materializar seu sonho em 1938, quando o Museu Kroller Muller abriu suas portas.



O museu é localizado no meio de um lindo e enorme parque, que já foi uma reserva natural de 30 hectares, chamado Parque Nacional Hoge Veluwe, na cidade de Otterlo. Lá podemos ver algumas das melhores vistas do interior da Holanda, pois no parque há dunas de areia, lagos, bosques, além da fauna e flora local.

Além do museu, situado no parque, podemos visitar o melhor jardim de esculturas modernas e contemporâneas do mundo, com mais de 160 obras de escultores icônicos como Aristide Maillol, Auguste Rodin e Henry Moore, entre outros. O parque reflete o conceito de simbiose entre arte, arquitetura e natureza de Helene Kroller Muller. Ao visitar o local, podemos realmente sentir como todos esses três elementos combinam harmoniosamente. O parque é aberto durante o ano todo, e muda de aparência de acordo com as estações. A área externa do museu serve também de espaço para concertos musicais no verão, além de muitas workshops.



No entanto, não são apenas os quadros de Van Gogh que podem ser apreciados pelos turistas. Há muitas outras obras de grandes artistas que também estão permanentemente em exposição no museu, entre elas, vários quadros de Monet, Mondrian, Seurat, Braque, Gauguin e Picasso. Além disso, também podem ser vistos outros quadros de artistas holandeses, italianos, alemães dos séculos XVI a XVIII, mobiliário, cerâmicas chinesas, egípcias, francesas e gregas.

Atualmente o museu recebe mais de 330.000 visitantes ao ano, sendo o sexto museu de arte mais popular da Holanda. O parque no qual se situa o museu foi vendido pela família Kroller Muller ao governo holandês em 1935. Na ocasião, Helene e seu marido doaram toda a sua coleção de obras de arte à Holanda. Em 1938, o museu foi finalmente aberto ao público. Já o jardim de esculturas foi adicionado em 1961 e uma nova ala de exposições foi construída em 1977.



Como não há nenhuma estação de trem nos arredores do parque, a maneira mais fácil de se conhecer o parque e o Museu Kroller Muller é de carro, pois o acesso é mais rápido e há vários estacionamentos no local. Todo o espaço é também muito bom de ser visitado de bicicleta, nos meses mais quentes do ano, pois há muitas bicicletas brancas para aluguel, permitindo que os turistas possam conhecer o parque, o jardim de esculturas e, por fim, visitar as obras maravilhosas em exposição no museu. Dentro dele, há também um ótimo restaurante self-service, chamado “Monsieur Jacques”.

Nunca me esquecerei da visita ao Museu Kroller Muller, em pleno inverno, e de ficar surpreso com a quantidade e qualidade das obras expostas no local. Foi realmente uma visita muito especial para mim, pois as paredes do museu são praticamente todas de vidro, permitindo que eu pudesse ver toda a neve do lado de fora, no jardim de esculturas, enquanto conhecia este maravilhoso museu.



Se estiver na Holanda e tiver algum tempo disponível, não perca a oportunidade de visitar um lugar único, pouquíssimo conhecido pelos turistas brasileiros, e que lhe deixará surpreso com suas belezas e a qualidade indiscutível de sua coleção de obras de arte. Bom passeio!

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em janeiro de 2006.

A MAIS BELA SACADA


 

PAPAGAIO

 


sábado, 16 de janeiro de 2021

SÃO JOSÉ DO BARREIRO

 

SÃO JOSÉ DO BARREIRO




 

Imagine uma pitoresca cidade de interior, com uma pracinha, igreja, coreto, crianças brincando pelas ruas e um povo muito hospitaleiro. Essa cidade se chama São José do Barreiro.

O município surgiu com a formação das fazendas de café e a construção do Caminho Novo da Piedade, ligando a cidade do Rio de Janeiro a Vila Rica (atual Ouro Preto) pelo interior, evitando-se assim os ataques marítimos de corsários, que atuavam por toda a costa colonial brasileira.

Como as minas no interior do Brasil gradualmente foram se exaurindo, Portugal perdeu a principal fonte de sustentação de seu império colonial. Passou então a procurar atividades alternativas para dar continuidade à exploração de sua colônia mais importante. Tal alternativa mais viável acabou sendo a produção de café.

Com o advento das Guerras Napoleônicas, houve o colapso da produção de café antilhana, exatamente ao mesmo tempo em que a demanda por tal produto estava crescendo, especialmente no mercado norte-americano, que passou a utilizar o café como substituto do chá, que era um produto comercializado pela Inglaterra, sua ex-metrópole. Tal fator foi um dos grandes motivadores à expansão da plantação do café no Brasil.

Após a abertura do Caminho Novo da Piedade, iniciou-se um intenso movimento de tropeiros pela região das imediações do Rio Barreiro, que se tornou um enorme atoleiro que, na época das cheias, dificultava a passagem. Em tal local foi estabelecido um rancho para o pouso de tropeiros, com algumas casas de ferreiros. Com a expansão do café pelas redondezas, novas fazendas e casas foram construídas na vila que nascia e que, futuramente, se tornaria a atual cidade de São José do Barreiro.



Na época em que o transporte era feito essencialmente por animais de carga, os ranchos eram usados para o descanso dos tropeiros e animais. Tais locais se transformaram em importantes pontos de comércio. Eram situados geralmente próximos a uma aldeia ou junto de uma venda onde se pudesse adquirir alimentos.

Os ranchos eram grandes telheiros apoiados em quatro colunas, e serviam para abrigar as mercadorias e os tropeiros. Pagava-se por animal ou pela carga transportada.

O Capitão João Ferreira de Souza fundou a igreja de São José e é também considerado como o fundador do município em 1818. Além disso, era o proprietário da Fazenda Pau d’Alho.

A Casa de Cadeia e Fórum locais foram construídos por Euclides da Cunha, um renomado e frequente visitante das cidades da região. Tal construção está muito bem preservada até os dias de hoje.



No entanto, antes de ser um município independente, a cidade foi território de Areias e também de Bananal.

Em 1790, as lavouras de café começaram a ser plantadas em Areias, Bananal, Silveiras e São José do Barreiro. Esta atividade se expandiu tão rapidamente e de forma tão bem-sucedida que no século XIX o Vale do Paraíba se tornou o maior produtor de café do mundo. Porém, havia um problema. Tais cafezais foram plantados na posição vertical, devido ao relevo local, proporcionando a lavagem do solo e, consequentemente, acelerando o processo de erosão dos solos da região.

A mão de obra utilizada nas plantações de café era de origem escrava africana. As condições de trabalho dos mesmos eram duríssimas. Acordavam muito cedo, antes do sol raiar, andavam a pé ou de carro de boi até os cafezais para realizarem a limpa e a colheita. O almoço era realizado às 10h. A alimentação dos escravos era baseada em angu, farinha de mandioca, feijão, rapadura, gengibre, um doce feito de cidra e, eventualmente, carne seca. Trabalhavam até as 16h. Jantavam o mesmo cardápio do almoço e voltavam a trabalhar até escurecer. Após a chegada da noite, retornavam à sede da fazenda para fazerem o beneficiamento do café e limparem os grãos, enquanto um outro grupo preparava a alimentação para o dia seguinte. Apenas depois de todas essas tarefas é que eles retornavam às senzalas para descansar. Costumavam dançar à noite e cantavam músicas em homenagem à Mãe África e praticavam a capoeira.



No entanto, o trabalho não terminava. Era necessário o transporte do café ensacado, em lombo de muares, até os portos. Os tropeiros faziam continuamente tal trajeto, passando por barreiras, onde eram cobradas taxas de passagens de animais e veículos, exatamente como os pedágios dos dias de hoje, para serem aplicados na conservação das estradas. Além disso, também eram pagas taxas sobre os gêneros transportados.

Como havia uma grande circulação de tropeiros entre São José do Barreiro e Mambucaba, foi necessário criar um calçamento de pedras, que ainda é visível até hoje em boa parte do trajeto.

O período de 1818 a 1829 foi o período áureo do café, quando foram construídas grandes fazendas produtoras do produto, que era exportado em sua maior parte. Esta também foi a época dos coronéis e majores da Guarda Nacional. Com os lucros obtidos com o café, alguns fazendeiros mais ricos passaram a contratar tropeiros e formar suas próprias tropas, além de construírem carros de boi para o transporte da mercadoria preciosa, o ouro verde, como era apelidado o café.



Com o declínio da produção cafeeira, a cidade foi afetada de forma negativa, especialmente durante a crise de 1929, quando o Presidente Getúlio Vargas ordenou que o café fosse queimado, para tentar manter um preço mínimo para o produto. Neste período, muitas fazendas de café foram vendidas para outros fazendeiros que passaram a plantar fumo ou usá-las para a pecuária.

Atualmente o turismo exerce um papel importante na economia da cidade. Eu mesmo visitei a cidade e me senti muito acolhido por sua gente hospitaleira. Pude almoçar uma comida deliciosa no Restaurante Rancho, cujo proprietário, o Sr. Rogério, é muito gentil e atencioso. Em tal ocasião pude saborear a deliciosa cerveja artesanal Ben & Dita, produzida localmente, e que possui várias opções de sabores.



São José do Barreiro é conhecida com o “Paraíso do Trekking” no Brasil, pois oferece trajetos na Serra da Bocaina, a Cachoeira de Santo Izidro, a Cachoeira do Veado e a Trilha do Ouro (Verde), que era usada para transportar o ouro de Minas Gerais até o Rio de Janeiro e que, atualmente, pode ser percorrida em uma travessia de 3 dias, ligando o Vale do Paraíba ao mar. 

Não deixe de visitar a cidade de São José do Barreiro nem a linda Fazenda Pau d’Alho. Você poderá mergulhar na história do Brasil e vivenciar locais tão importantes e marcantes do ciclo cafeeiro no Brasil, além de saborear a deliciosa cozinha local e conhecer seus habitantes tão amigáveis. Boa viagem!

 

  

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2018.

Bibliografia usada:

História de São José do Barreiro: Período do Pré Café e no Tempo Áureo do Café, de Prof. Benedito Rodrigues S. Neto.

Fazenda Pau d’Alho – Roteiro de Visitação, de Antonio Luiz Dias de Andrade, Carlos G.F. Cerqueira e José Saia Neto.

Com agradecimentos especiais ao Prof. Benedito Rodrigues S. Neto e a Beatriz de Carvalho Grandchamp Martins (Prefeitura de São José do Barreiro).

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

FAZENDA PAU D'ALHO - SÃO JOSÉ DO BARREIRO

 

FAZENDA PAU D’ALHO

 



A história da Fazenda Pau d'Alho é repleta de acontecimentos históricos importantes, que serão relatados abaixo.

João Ferreira Guimarães havia comprado as terras da Fazenda do Barreiro em 1792 e seu filho, Francisco Ferreira de Souza, adquiriu outras terras que, ao serem anexadas à Fazenda do Barreiro, formaram a Fazenda Pau d’Alho.



Desde o início, foi produzido milho, arroz e aguardente no local. No entanto, com a valorização do café e do aumento de sua produção, foram criadas instalações específicas para o beneficiamento de tal produto. A Fazenda Pau d’Alho foi uma das primeiras a dedicar-se exclusivamente ao cultivo e beneficiamento do café, se tornando um monumento exemplar da fase inicial do ciclo cafeeiro, além de ser uma das mais belas fazendas em termos arquitetônicos.

Uma das peculiaridades da fazenda é que a senzala ocupa a posição mais elevada, de destaque. Na época, era recomendado que a senzala fosse construída no lugar mais arejado e seco de uma fazenda, pois os escravos representavam um elevado investimento financeiro por parte dos cafeicultores.



No pátio das tropas eram reunidos os muares que transportavam o café até os portos litorâneos e aonde ainda se encontram as duas construções que eram usadas para acolher os tropeiros e seus apetrechos.

Paradoxalmente, um dos destaques da fazenda é espaço não construído, a área vazia. Já o Solar, ou parte alta, foi a primeira construção executada em Campinas pelo escritório do famoso engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo.



A água corrente dos rios era usada para acionar os moinhos de milho, nos quais eram produzidas a farinha, que era a base de alimentação dos escravos e da criação doméstica.

Há também até hoje uma latrina, servida de água corrente do canal local, que alimentava também os moinhos. Tal latrina é localizada sob a caixa da escada.

Nas primeiras fazendas, não se costumava lavar o café.  Ele era exposto no terreiro, deixado ao sol para secar, diretamente sobre a terra batida. Isso fazia com que o produto ficasse misturado com sujeiras do terreno, prejudicando sua qualidade. Posteriormente, o terreiro passou a ser revestido, a fim de melhorar a qualidade do café exportado.

Após o secamento do café, ele era levado para os pilões e, posteriormente, era peneirado e abanado, para que fossem removidos os restos de cascas e demais impurezas. A disponibilidade de águas abundantes no local facilitava o acionamento das rodas d’água distribuídas ao longo dos canais, das baterias de pilão, dos abanadores e descascadores e também a lavagem do café, além de prover água para todas as necessidades domésticas.



A fazenda chegou a ter 150 escravos, 300.000 pés de café e a produzir mais de 6000 arrobas anuais. Em seu período mais próspero, a fazenda tinha até mesmo um professor para os escravos menores.

Um dos episódios mais marcantes e folclóricos ocorridos no local foi a visita de D. Pedro I, em 1822, a caminho de São Paulo e prestes a declarar a Independência do Brasil.

Segundo relatos da época, D. Pedro I teria apostado corrida com os demais membros da comitiva e chegado sozinho, antes do previsto, à Fazenda Pau d’Alho. Ele bateu palmas e, sem se identificar como príncipe, pediu comida à proprietária da casa. Ele foi prontamente atendido por ela, que lhe pediu que comesse sentado nos degraus ao lado de fora da cozinha, pois a sala de jantar estava sendo preparada para receber o príncipe regente.

D. Pedro achou graça na situação e obedeceu às orientações da proprietária da fazenda, sentando nos degraus, onde comeu os assados e guisados que lhe foram servidos, na companhia de escravas e mucamas.

Um detalhe que não fugiu à atenção do príncipe, ao comer seus assados, foi o jardim interno da fazenda, desenhado com símbolos maçônicos, o que lhe possibilitou identificar que o proprietário da fazenda era maçom, assim como o próprio príncipe.



Como gesto de gratidão, D. Pedro deu de presente aos proprietários da fazenda um quadro com seu retrato e convidou ele e seu filho a lhe acompanharem até São Paulo, passando então a fazer parte da Guarda de Honra do Príncipe Regente em sua jornada pela Independência do Brasil.

Quando da data do falecimento do fazendeiro que era o então proprietário do local, seu inventário registrou seu desejo que todos seus escravos fossem libertados após sua morte, com a exceção de dois, que foram excluídos por mau comportamento. Além disso, ele deixou 60 alqueires de terra e 60000 pés de café aos seus escravos. Este foi um caso raro de bom relacionamento entre senhor e seus escravos, lembrado até os dias de hoje.



Com a abolição da escravatura, a produção de café entrou em colapso. Os fazendeiros já não tinham mais condições de competir com a rentabilidade das terras férteis, de coloração roxa, abundantes no oeste do Estado de São Paulo nem com a eficiência da estrada de ferro, que nunca passou pela região, fadando esta e outras localidades ao ostracismo.



A Fazenda Pau d’Alho foi tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional e Estadual em 1968. Foi totalmente restaurada e, atualmente, é um marco histórico destinado à prática de atividades culturais e ecológicas.

Não deixe de visitar a cidade de São José do Barreiro nem a linda Fazenda Pau d’Alho. Você poderá mergulhar na história do Brasil e vivenciar locais tão importantes e marcantes do ciclo cafeeiro no Brasil, além de saborear a deliciosa cozinha local e conhecer seus habitantes tão amigáveis. Boa viagem!

 

  

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2018.

Bibliografia usada:

História de São José do Barreiro: Período do Pré Café e no Tempo Áureo do Café, de Prof. Benedito Rodrigues S. Neto.

Fazenda Pau d’Alho – Roteiro de Visitação, de Antonio Luiz Dias de Andrade, Carlos G.F. Cerqueira e José Saia Neto.

Com agradecimentos especiais ao Prof. Benedito Rodrigues S. Neto e a Beatriz de Carvalho Grandchamp Martins (Prefeitura de São José do Barreiro).

LAGO PLÁCIDO


 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

CATEDRAL DE SAL EM ZIPAQUIRÁ - COLÔMBIA

 

A CATEDRAL DE SAL DE ZIPAQUIRÁ - COLÔMBIA

 



Quando pensamos em turismo na Colômbia, geralmente lembramos de Cartagena, San Andres, Bogotá, Cali ou até mesmo Medellín. No entanto, o que poucas pessoas sabem é que a maior maravilha do país, a atração mais visitada de toda a Colômbia, não é nenhuma das localidades mencionadas acima. A maior atração turística colombiana é a Catedral de Sal, localizada na cidade de Zipaquirá, a apenas 49 km ao norte de Bogotá.



A Catedral de Sal é uma obra monumental, de beleza única, um verdadeiro símbolo do país, além de ser um grande feito dos mineiros e da engenharia de minas colombiana.

O acesso ao local deve ser feito preferencialmente de carro, pois a viagem é mais rápida e confortável. Podem ser contratadas vans com motoristas para indivíduos, casais ou pequenos grupos. Estes motoristas se encarregam de buscar os turistas no hotel, leva-los até a catedral e esperar por eles até que concluam suas visitas, os levando de volta até o hotel. O deslocamento de Bogotá até a Catedral de Sal costuma levar 90 minutos.

Ao chegarmos em Zipaquirá, encontramos um imenso estacionamento, no qual ficam estacionados os ônibus e vans, aguardando os turistas colombianos e provenientes de toda parte do mundo, que vêm visitar a maravilhosa catedral. Ao chegar lá, devemos comprar um ingresso para visitação guiada, disponível em espanhol e inglês. A visita guiada dura aproximadamente uma hora.



A cidade é um importante centro industrial, comercial, agropecuário, mineiro e turístico na Colômbia. Atualmente, Zipaquirá atrai milhões de visitantes do mundo todo, que visitam a belíssima catedral, que foi a primeira catedral subterrânea a ser construída no mundo, e é considerada a “Primeira Maravilha Turística da Colômbia”, recebendo mais de meio milhão de visitantes por ano.

A palavra “Zipaquirá” significa “Cidade do Nosso Pai”, na língua indígena local. Para os indígenas, o sal era um dos produtos mais importantes, pois era a base de todo seu intercâmbio comercial.

A exploração tradicional do sal, que ocorreu durante os períodos pré-colombianos e coloniais, se baseava no mero aproveitamento de fontes ou mananciais salgados que brotavam na superfície, cujas águas eram evaporadas em vasilhas de barro pelos indígenas da região, que solidificavam a massa restante em “pães de sal”.

O início da exploração mineira das salinas de Zipaquirá começou no início do século XIX, através do emprego de técnicas mais seguras, com a introdução de câmaras de exploração. Atualmente se usa o sistema de dissolução in-situ, que consiste em injetar água doce sob pressão para dissolver a rocha em poços profundos, o qual forma uma salmoura que é extraída até a superfície.

A origem desta maravilha nasceu da fé dos mineiros e da devoção que eles têm pela Virgem do Rosário, conhecida como “a Virgem de Guasa”. Estes homens se expõem à inúmeros riscos, tais como desabamentos, explosões, a presença de gases tóxicos, escuridão e asfixia. Desta forma, eles passaram a criar altares por dentro da mina de sal para mostrar sua gratidão e fervorosa devoção à Virgem do Rosário.

A primeira Catedral de Sal foi criada em 1954. No entanto, ela foi fechada à visitação em 1992, por questões de segurança, devido ao escasso planejamento mineiro e da exploração desordenada do local, pois surgiram rachaduras em suas colunas de sustentação. Entre os anos de 1979 e 1982 foi explorado o local onde se encontra atualmente a nova Catedral de Sal. A catedral atual, a segunda construída, foi aberta à visitação em 1995.



A nova catedral ocupa uma área de 8500 metros quadrados e, para sua construção, foram extraídas aproximadamente 2500 toneladas de rocha salina. A nova Catedral de Sal de Zipaquirá está dividida em três setores: A Via Crucis, com catorze estações; a cúpula, coro, balcões e o átrio e, por fim, a igreja em si, com suas três naves.

Toda a iluminação da catedral é feita por um possante sistema de lâmpadas coloridas LED, projetado pela Philips, pois este sistema de luzes não produz calor e consome menos energia elétrica. O efeito das cores no local é surpreendente e encantador. À medida que visitamos o local, as cores vão mudando e, com elas, as sensações que os turistas têm ao fazer a visita ao local. Eu pessoalmente fiquei totalmente encantado, pois senti que estava presenciando um espetáculo de rara beleza, em um local único no mundo.



A cúpula é um dos lugares mais belos da catedral, pois é toda iluminada em azul, simbolizando o encontro de Deus e o homem. O coro é totalmente circular, para obter uma melhor acústica. Nele, se encontra uma estátua do Arcanjo Gabriel. O átrio é a entrada da igreja e tem forma de labirinto, simbolizando a perfeição espiritual de purificação. Neste labirinto se encontram três caminhos pelos quais os fiéis podem escolher qual seguir: o do lado direito é para as pessoas totalmente puras; o do meio é para as pessoas que cometeram pecados, mas que foram perdoadas. O da esquerda é o dos pecadores.



Na nave central da igreja se encontram quatro enormes pilares, representando os quatro evangelistas: São João, São Mateus, São Marcos e São Lucas. Podemos visualizar também uma reprodução da obra de criação de Adão, de Michelangelo, que se encontra na Capela Sistina, no Vaticano. A reprodução é toda feita em sal. No altar principal são realizados concertos sinfônicos e apresentações de corais.



No entanto, o símbolo mais importante da catedral é a cruz, a maior cruz subterrânea de todo o mundo, que tem 16 metros de altura por 10 metros de largura. Ela é iluminada de dentro para fora, para dar a ilusão ótica de solidez e parecer que está suspensa no ar.



Depois de concluída a visita guiada, os turistas podem ficar circulando livremente por dentro da catedral, pelo tempo que quiserem permanecer lá dentro, pois há um mini shopping dentro da catedral, onde podemos fazer pequenas refeições, comprar lembranças e presente, feitos em sal e, por fim,  descansarmos um pouco após a longa caminhada feita durante o passeio guiado.

Eu gostei tanto da visita à Catedral de Sal que fiquei todo o tempo que pude lá dentro, visitando algumas partes dela várias vezes, para poder admirá-la com mais calma e fazer fotos nos lugares dos quais eu mais gostei. Na hora de ir embora, me entristeci, pois sabia que sentiria saudades desta inesquecível visita.



Se você for visitar a Colômbia, não deixe de conhecer a Catedral de Sal de Zipaquirá. Eu tenho certeza que ficará maravilhado com a beleza e escala monumental dela. Além disso, você terá a certeza de ter conhecido um local absolutamente único em todo o planeta.

  

Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2016.

Bibliografia usada: Um Maravilloso Recorrido por la Catedral de Sal – Zipaquirá - Colombia, de Alfredo Arévalo Cárdenas e Leonardo Rodriguez