SANTUÁRIO
DO CARAÇA – CATAS ALTAS
“Nas
minhas viagens, não vi colégio mais bem organizado. Fiquei satisfeitíssimo com
o Caraça. Só o Caraça paga toda a viagem à Minas”
D. Pedro II, em seu diário, comentando suas viagens por
Minas Gerais.
Uma
torre de igreja bem ao longe, no meio do nada. Seria uma miragem? Essa é a
visão que temos ao nos aproximarmos do Santuário do Caraça. À medida que nos
aproximamos, começamos a ver toda a grandiosidade da obra, que se espalha em
meio à uma linda reserva florestal. Desde o primeiro contato, o Caraça, como é
mais conhecido, nos inspira e acalma, e também nos convida a meditar sobre a
vida e os caminhos que nos conduziram até esse local tão belo e isolado.
Tive
a oportunidade de conhecer o Caraça em dezembro de 2013 durante uma viagem que
fiz com meu irmão por todo o circuito das cidades históricas de Minas Gerais.
Sem dúvida alguma, o Caraça foi um dos lugares mais marcantes de todo o passeio.
Serra do Caraça |
O
Santuário do Caraça está situado entre os municípios de Santa Bárbara e Catas
Altas, a 120 quilômetros de Belo Horizonte. O Caraça é uma enorme área de
11.000 hectares, que combina religião, história, natureza e cultura. Além
disso, a área inclui uma grande reserva natural, o Parque Nacional do Caraça, além
do complexo religioso. Atualmente, recebe mais de 70.000 visitantes ao ano.
A
história do Santuário do Caraça se iniciou em torno de 1770, quando o Irmão
Lourenço de Nossa Senhora comprou a sesmaria do Caraça, onde decidiu construir
uma capela barroca dedicada à Nossa Senhora Mãe dos Homens e uma casa de
hospedagem de peregrinos na região. Quatro anos depois, o Santuário do Caraça
foi inaugurado para acolher peregrinos.
Jardins |
O
Irmão Lourenço faleceu com 95 anos, deixando sua fundação em herança ao rei D.
João VI, que posteriormente entregou as terras à Congregação da Missão. O Irmão
Lourenço foi sepultado dentro da capela que ele construiu, rezando para que
Deus realizasse o seu sonho de ver o Caraça repleto de missionários. No
entanto, eles só chegaram sete meses após sua morte, quando fundaram o Colégio
do Caraça.
Com
o passar dos anos, o local que foi originalmente construído para ser a
hospedaria acabou se tornando o colégio para meninos, o que acabou dando origem
à um dos mais tradicionais colégios do Brasil. Entre 1820 e 1868, estima-se que
mais de 11.000 meninos tenham estudado ali, sob a orientação severa dos padres
e professores.
Em
1876, o Padre Cavelin demoliu a capela barroca e erigiu em seu lugar uma igreja
em estilo neo-gótico. A igreja do Caraça foi a primeira do estilo no Brasil,
tendo sido construída antes mesmo da famosa Catedral de Petrópolis, no Rio de
Janeiro. A igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens foi inaugurada em 1883 e é
composta basicamente de materiais locais, tais como pedra-sabão, mármore e
quartzito. Possui também lindos vitrais franceses do século XIX e um órgão de
fole. Além disso, foi construída sem mão-de-obra escrava, pois foram
basicamente imigrantes portugueses e espanhóis que a erigiram.
Vista do complexo |
O
Caraça atraiu a visita dos dois únicos Imperadores do Brasil. D. Pedro I esteve
no local para se aconselhar com o padre Leandro Rebelo Peixoto e Castro,
ilustre educador em Portugal. Já D. Pedro II visitou o Caraça a fim de conhecer
a natureza local, o colégio e as montanhas mineiras. Até hoje há uma pedra no
calçamento talhada com os dizeres “PII – 1881”, marcando o local onde o
Imperador escorregou e caiu.
Pedra na qual D. Pedro II escorregou |
Devido
à rigorosidade do colégio do Caraça, o Imperador Dom Pedro I só foi saudado à
noite na Igreja. Nem a figura mais importante do Brasil na época foi capaz de
interromper as aulas do colégio que formou dois ex-presidentes (Artur Bernardes
e Afonso Pena), 17 governadores do estado e mais de 100 deputados e senadores
que fizeram história tanto no Brasil quanto em Minas Gerais.
O
Caraça possui inúmeras relíquias religiosas. A mais importante é o corpo de um
soldado romano martirizado, que traz o nome de São Pio Mártir. Seu corpo foi
encontrado em Roma, na Catacumba de Santa Ciríaca. Seus ossos foram revestidos
de cera e foi feito um altar especial, dentro do qual se vê seu corpo dentro de
um relicário de madeira e vidro. Há também no local seis obras do grande mestre
Ataíde, um dos maiores expoentes do barroco mineiro. Entre suas obras expostas
no local, se encontra a sua versão da “Santa Ceia”.
N.S. das Graças na entrada da igreja |
O
incêndio de 28 de maio de 1968 deu um fim às atividades educacionais do colégio
do Caraça. Após o incêndio de 1968, o antigo colégio foi parcialmente
restaurado para abrigar o museu que abriga lembranças de tempos passados. Grande
parte dos livros da biblioteca foram resgatados do incêndio e estão atualmente
disponíveis na nova biblioteca, situada acima do museu. A biblioteca possui um
acervo de mais de 1400 livros dos séculos XVI, XVII e XVIII. No entanto, o
Caraça nunca mais retomou suas atividades de seminário ou escola.
Os
peregrinos que visitam o Caraça podem conhecer uma “Via Crucis”, existente no
local, onde encontramos lindas esculturas de Jesus crucificado, Maria e São
João. Podemos também visitar as catacumbas, onde estão enterrados os religiosos
que moraram no Caraça, assim como alguns alunos ilustres.
Via Crucis |
O
Caraça também está associado à uma triste lembrança, a do acidente aéreo que
ocorreu em 1982, quando um avião caiu na Serra do Caraça, matando todos os seus
passageiros e tripulantes. Seus destroços se encontram até hoje no local, em
meio à mata fechada.
Em
1982, o irmão Thomas começou a deixar no adro da igreja uma vasilha com carne
para os lobos guará da região, que viviam remexendo o lixo e atacando os
galinheiros. Os lobos gostaram do “presente” e passaram a visitar o local
diariamente, sempre em torno das 18:30h. As visitas dos lobos guará se tornaram
uma tradição do local, atraindo muitos turistas que esperam ansiosamente a
chegada dos lobos para vê-los de perto e fazerem muitas fotos, pois os animais
parecem não se incomodar com a presença dos humanos nem dos flashes das câmeras
e celulares.
Entrada principal |
Atualmente,
podemos conhecer o Caraça como turistas, passando o dia no local, conhecendo
todas as suas belezas naturais e arquitetônicas ou até mesmo como hóspedes,
dormindo no hotel situado ao lado do santuário. O restaurante do hotel oferece
refeições comunitárias e é muito procurado também pelos turistas. Muitos
visitantes aproveitam o passeio para visitar a “Cascatinha” e a “Cascatona”,
ambas dentro da área da reserva florestal. É necessário seguir uma trilha pela
floresta até que se possa alcançá-las. A fauna e flora locais são muito ricas,
permitindo que se possa descobrir vistas encantadoras e fazer fotos belíssimas.
Crucifixação |
Uma
visita ao Caraça será um daqueles momentos dos quais você jamais se esquecerá,
pois a sensação de se estar em meio à floresta, vendo uma igreja neo-gótica,
com vista para a Serra do Caraça, é indescritível. Somente pode ser
experimentada pessoalmente. Desta forma, não hesite em planejar sua visita ao
Santuário do Caraça.
Isolamento do Santuário |
Para
maiores informações, visite o site oficial do Santuário do Caraça
http://www.santuariodocaraca.com.br/
Marco André Briones – pensarnaoeproibidoainda@gmail.com
Todas as fotos da
matéria foram tiradas por Marco André Briones, em dezembro de 2013.
Com agradecimentos
especiais à Emiliana Fonseca
Bibliografia
usada:
Caraça
– Sua Igreja e outras construções – Padre José Tobias Zico C.M.
Caraça
– Peregrinação, Cultura, Turismo – Padre José Tobias Zico C.M.
Santuário
do Caraça, onde história e natureza andam juntas – Estado de São Paulo –
18/09/2018, - Bruna Tiussu.
Espaço
Religioso e Espaço Turístico: Significações culturais e ambiguidades no
Santuário do Caraça/MG – Denise Pereira e Alexandre de Pádua Carrieri.
Santuário
do Caraça – Revista Sagarana.com.br – Cezar Felix