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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

 EXTORSÃO CONSENTIDA










Todos os brasileiros sabem que nossas ruas e calçadas são imundas, cheias de dejetos e lixo por toda parte. No entanto, um outro indício da completa crise social que vivemos é a onipresença dos flanelinhas.

Há algum tempo não havia ninguém nos importunando quando estacionávamos nossos veículos pelas ruas de nossas cidades. Porém, com o empobrecimento acentuado e contínuo do povo brasileiro nas últimas décadas, começaram a aparecer indivíduos, inicialmente inofensivos, que pediam humildemente uma moeda, qualquer trocado que tivéssemos nos bolsos, a fim de ajudá-los. Ofereciam limpar nossos carros com flanelas imundas que carregavam consigo. Muita gente também contribuía somente para manter tais flanelas longe de seus veículos.

Nascia aí uma nova figura na sociedade brasileira: o flanelinha.

Até hoje me questiono se tal nome foi dado pelo povo por causa das pequenas flanelas carregadas por tais indivíduos ou foi um apelido carinhoso que lhes foi dado, já que nós brasileiros costumamos fazer uso dos sufixos “inho” ou “inha” nessas situações. Seja qual for a resposta, tal personagem já faz parte de qualquer área metropolitana brasileira

Sentindo pena, muitas pessoas contribuíam, pois acreditavam que estavam realmente ajudando tais pessoas e que, de tal forma, sanariam um problema social ignorado pelo governo e pela sociedade brasileira, de uma forma geral.

Com o passar dos anos, e o aumento contínuo da violência e dos roubos de veículos, tais pedintes começaram a oferecer “segurança” para seus “clientes”. Diziam que, se lhes fosse dado algum trocado, ficariam observando o veículo de seu “cliente” para evitar que ele fosse roubado, “assegurando”, portanto, que, ao retornar, o “cliente” não teria surpresas desagradáveis.

Ao invés de cobrar e exigir dos governantes que houvesse segurança nas ruas e em toda parte, o povo brasileiro, que não gosta de se aborrecer e é acomodado, acabou aceitando o caminho “mais fácil”, concordando em pagar por tal segurança que, de fato, já era paga por ele através de seus impostos, continuamente desperdiçados por nossos governantes , através de falcatruas, corrupção e outros fins escusos.

Tal processo foi se acelerando, e logo, os flanelinhas já se consideravam “autoridades”, começando a usar coletes coloridos que lhes conferiam uma pseudo-autoridade, como se fossem guardas de trânsito ou até mesmo funcionários responsáveis pela segurança pública.

A forma de cobrança também mudou. Passou a ser antecipada, com valores que variavam de acordo com o veículo do “cliente” e da “boa aparência” do mesmo. Alguns pagavam R$1, outros, R$5 e alguns, até mesmo R$10 para terem a “segurança” de não terem seus carros roubados, arranhados, pneus furados e vários outros tipos de problemas. Eu mesmo já passei várias vezes por tal situação, por recusar-me terminantemente a dar qualquer tipo de gorjeta para qualquer pessoa que venha pedir-me dinheiro para “vigiar” o meu carro.

Atualmente, nossas ruas são verdadeiras selvas, nas quais tais flanelinhas atuam como animais selvagens, demarcando seus territórios, brigando entre si para “conquistarem” áreas privilegiadas, onde as gorjetas são melhores, garantidas e que ocorrem durante o dia todo.

Há um verdadeiro loteamento em curso de nossas calçadas e ruas sem que ninguém, absolutamente ninguém faça nada para acabar com tal aberração. Pelo contrário, o povo brasileiro continua aceitando docilmente mais um desrespeito aos seus direitos, uma violação acintosa à qual somos submetidos e que consideramos absolutamente normal.

Quanta gente não acaba “contribuindo” com tais nefastos flanelinhas por terem medo de serem agredidos ou até mesmo roubados por eles? Tal situação continua ocorrendo pois nós, cidadãos brasileiros não nos mobilizamos e exigimos a retirada de todos os flanelinhas de nossas ruas e nos recusamos a sermos extorquidos por tais indivíduos.

Somente quando o povo brasileiro começar a exigir o respeito aos seus direitos, em todos os níveis e esferas, é que teremos paz.

Enquanto isso, continuaremos sendo extorquidos a cada esquina, indefesos, dóceis como uma ovelhas que, ingenuamente, caminham rumo ao matadouro.