sexta-feira, 30 de outubro de 2020

CHIQUEIROS PÚBLICOS

 CHIQUEIROS PÚBLICOS

 


Quando eu era criança, bem pequeno, aprendi uma lição extremamente importante, que ainda tenho em mente mesmo após tantos anos. Lugar de lixo é na lixeira!

Infelizmente, nos dias de hoje tal ensinamento parece ter sido quase que completamente esquecido.  Imagino que os pais, professores e outras pessoas mais velhas não estejam transmitindo tal mensagem para as novas gerações. Talvez os jovens de hoje não se importem com sujeira exposta por toda parte.  Porém, o que importa é que nossas ruas estão cada vez mais imundas, repletas de dejetos de todos os tipos.

O que mais me causa espanto é ver pessoas a bordo de seus veículos importados e blindados, de suas caminhonetes e utilitários, de suas super motos, muitos deles jogando fora latas de refrigerante ou cerveja, pontas de cigarro, papéis, embalagens de alimentos e todo tido de lixo em nossas ruas. Quem é que já não foi (ou quase foi) atingido por um petardo arremessado por tais motoristas irresponsáveis?

É inadmissível que alguém que conduza uma BMW ou Audi tenha tal atitude tão desrespeitosa! Alguém que tem dinheiro para possuir um veículo deste porte teve condições de estudar nos melhores colégios, de aprender boas maneiras, de ser devidamente socializado. Não há desculpa para tal desprezo para com o espaço público e com os bens de toda a sociedade. As ruas são de todos, assim com as praças, os parques, os monumentos, as praias, enfim, todos existem para serem usados pelo povo, que tem a obrigação de mantê-los limpos para o bem-estar da comunidade.

O fato de um indivíduo ter uma situação financeira privilegiada não significa que necessariamente será mais bem-educado ou mais respeitoso com os bens e espaços públicos. Todos nós já vimos pessoas humildes, pobres ou até mesmo mendigos, jogando lixo nas lixeiras. Nem todos que possuem contas bancárias bem recheadas tem a mesma atitude, mas deveriam ser os primeiros a respeitarem e a manterem nossas cidades limpas.

Porém, poucas coisas me causam tanto repúdio e nojo como as malditas feiras de rua. Os feirantes brasileiros atuam como verdadeiros seres predadores. Invadem um local público, interditam ruas, cobrem completamente as ruas com suas inúmeras barracas, fazem uma baderna absurda, enlouquecem os moradores vizinhos da feira com o barulho que fazem e, por fim, ao irem embora deixam um “presente” para toda a vizinhança: a rua completamente imunda, coberta de restos de alimentos e detritos.

O mais surpreendente de tudo é que a maior parte das feiras públicas tem o aval e autorização para funcionamento dado pelas prefeituras de nossas cidades, pois são fortemente influenciadas pela pressão das associações de feirantes, além dos casos em que propinas são recebidas para dar um status legal à tais chiqueiros públicos.

Quem tem a infelicidade de morar numa rua onde ocorre feiras semanais sabe exatamente do que estou falando. Não podem entrar ou sair de seus imóveis quando bem entendem, pois com as ruas interditadas, somente uma bicicleta consegue sair de uma garagem. Imagine todas as pessoas doentes, que precisam de repouso, descanso ou, até mesmo, precisam se dirigir imediatamente à um hospital em casos de emergência. Tais pessoas correm o risco de morrerem, pois uma ambulância jamais conseguirá passar por entre centenas de barracas de feiras e contornar outros tantos caminhões de frutas e verduras estacionados irregularmente nas cercanias.

Isso é mais uma faceta infeliz do cotidiano do brasileiro. Resultado de um governo absolutamente incompetente, em todas as esferas, e de um povo que não se mobiliza para exigir seus direitos. Os moradores de ruas “invadidas” tem todo o direito e a obrigação de apelarem à justiça, aos veículos de comunicação para expulsarem tais invasores de suas ruas, e lutarem pelo direito de ir e vir, de poderem entrar e sair de seus imóveis à qualquer hora, e não a terem de deixar seus veículos fora da garagem de véspera, para poderem sair de casa depois da chegada dos “invasores”.

Os lixeiros que limpam a imundície deixada pelos feirantes invasores são pagos por todos nós, cidadãos que pagamos nossos impostos. Por que devemos deixar nosso dinheiro ser usado para limpar a sujeira que pessoas irresponsáveis vem fazer bem longe de suas residências? Falta mais uma vez uma mobilização da sociedade brasileira para resolver essa e tantas outras questões que continuam ocorrendo no Brasil por causa de nosso conformismo e acomodação.

Nos calamos perante a esse e tantos outros absurdos. Portanto, damos nosso consentimento para perpetuá-los.

4 comentários:

  1. Ótimo texto, como sempre! A educação não é um traço marcante dos endinheirados brasileiros, definitivamente. E quanto às feiras, só consigo pensar que cidades mais estruturadas e pensadas possuem áreas especiais para esse tipo de comércio. Acho que tudo se resume à bagunça generalizada e falta de civilidade.

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    1. Fico contente que tenha gostado do texto, Samanta. Realmente esse é um problema que poderia ser facilmente resolvido, desde que houvesse a mínima preocupação com o planejamento urbano em nossas cidades, além de um nível mínimo educacional de nossa população. Infelizmente, nenhum deles é prioridade para nossos governantes ou sociedade.

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  2. Ótima cutucada na nossa consciência Marco.

    A gente não vive o problema e não reflete sobre ele. As feiras realmente invadem espaços que não às pertence, deixam um presente de péssimo gosto, na verdade péssimo cheiro, e a farra é custeada pelo povo para ao seu término tentar amenizar o trauma dos moradores locais.

    Imagino o descaso com as leis de transito na cercania. Sem dúvidas um tema urgente que segue no descaso à anos!

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    1. Agradeço-lhe pelos comentários e participação, Rodolfo. Realmente as feiras são um problema social importante em nossas cidades, pois sistematicamente desrespeitam o direito das pessoas que residem nas regiões onde elas ocorrem, além de desvalorizarem tais regiões e causarem enormes transtornos aos moradores. Não podemos ficar acomodados e permitir que tais abusos persistam. Um abraço

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