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domingo, 13 de dezembro de 2020
sábado, 12 de dezembro de 2020
sexta-feira, 11 de dezembro de 2020
ESTRELA CADENTE
ESTRELA CADENTE
Pergunte
à qualquer estrangeiro qual é a primeira imagem que lhe vem à cabeça quando se
fala em Brasil. Muito provavelmente a resposta será: Rio de Janeiro.
Não é por acaso que tal referência continua ocorrendo até hoje. Durante décadas, a imagem da dita “Cidade Maravilhosa” preencheu páginas de revistas, apareceu em filmes, foi cantada pela Bossa Nova e pelo samba e, através destes, deu a volta ao mundo, levando ao exterior uma imagem pitoresca, alegre, belíssima daquela que era a representação máxima do Brasil e de seu povo.
O imaginário de várias gerações de estrangeiros foi povoado por palavras mágicas, de uma língua incompreensível, tais como “Copacabana” e “Ipanema”.
Aqueles
que por lá haviam passado confirmavam a veracidade do que era divulgado mundo
afora. O paraíso realmente ali se encontrava.
Grupos de estrangeiros vinham de todas as partes do mundo para se fartarem com a beleza sinuosa e feminina da antiga capital do estado da Guanabara e do Brasil. Ao chegar, se deslumbravam com as magníficas vistas da cidade do Rio de Janeiro, assim como com a hospitalidade e o bom-humor dos cariocas.
Carmem Miranda, Tom Jobim, Vinícius de Morais e muitos outros contribuíram para povoar os sonhos de muitos estrangeiros com ícones tropicais, tão atraentes especialmente para povos provenientes de países distantes, de clima frio, onde o sol simboliza uma alegria constante, vida e puro lazer.
Quantos estrangeiros não vieram para o Brasil atrás da beleza tão real e, ao mesmo tempo, imaginária e idealizada da musa de Vinícius e Tom, a garota de Ipanema? Se os gregos tinham na Vênus de Milo o seu ideal de beleza, a dupla de compositores da bossa nova criou a versão nacional, a nossa Vênus bronzeada.
Porém, algo aconteceu que não estava nos planos: Brasília
A mudança da capital federal para o interior do país, no meio do planalto central, foi um golpe duríssimo para a “Cidade Maravilhosa”. Tão duro, que ela não conseguiu se recuperar até hoje.
Brasília necessariamente atraiu a elite política do país, assim como as sedes de ministérios, importantes organizações, embaixadas, altos funcionários do governo e todo um corpo de burocratas para povoar e preencher todos os cargos existentes com a criação da nova capital.
Muitos foram os que deixaram posições importantes no governo federal porque não queriam abandonar o Rio de Janeiro, trocando-o por um destino incerto no meio do cerrado, tão árido e distante.
Porém,
os cariocas continuaram acreditando que apenas a beleza da cidade e seus
encantos seriam suficientes para perpetuar a qualidade de vida que tinham,
assim como o estilo de vida pacato, despreocupado, irreverente e divertido que
sempre caracterizara a agora ex-capital federal.
Houve um empobrecimento generalizado na cidade, o padrão de vida de milhares de pessoas começou a declinar. Muitos perderam seus empregos, por não quererem se mudar para Brasília. O Rio de Janeiro deixou de ser o ator principal para ter um papel cada vez mais de figurante no cenário nacional.
Mesmo assim, os turistas ainda continuavam a chegar em grande quantidade. Todos em busca de um paraíso que, aos poucos, ia desaparecendo.
O povo carioca entrou numa crise de identidade. Quem somos nós? Qual o nosso
papel no país? Qual será o nosso futuro, agora que deixamos de ser o centro
político, econômico e cultural do país? – eram perguntas que estavam dentro de
cada um.
O crescimento econômico de São Paulo só fez acelerar e acentuar tal declínio do Rio de Janeiro, que passou gradualmente a ser apenas um destino turístico dos estrangeiros, que vinham para a “terra da garoa” para trabalhar e fazer negócios.
Muitos foram os fatores que contribuíram para que a sociedade carioca e a cidade do Rio de Janeiro chegassem ao atoleiro em que se encontram atualmente. Primeiramente, o espírito da malandragem, que antigamente era algo quase que folclórico, beirando a ingenuidade, tornou-se algo diferente, maléfico, que foi corroendo as bases da sociedade.
O desemprego, o surgimento das primeiras favelas, a crise na educação e uma contínua sucessão de governantes corruptos e incompetentes apenas acentuou a crise carioca, acelerando o declínio da cidade, outrora maravilhosa.
Os dias de glória foram ficando para trás, na memória daqueles que os presenciaram, e que não se conformam com cenário caótico que surgiu nas últimas décadas. O sonho acabou. Em seu lugar, veio o pesadelo.
Atualmente, o Rio de Janeiro não é mais do que uma ruína do passado. Uma pálida cópia da grande cidade que foi. Seu povo infelizmente aceita tal sina, acreditando serem ainda privilegiados por ali residirem. No entanto, não percebem que o paraíso se tornou um inferno. Mesmo que a vista da cidade ainda seja linda.
Bem
de cima. Bem de longe.
Teço tais comentários não com despeito ou raiva, mas com tristeza. Eu mesmo sou carioca, e ainda pude presenciar resquícios da época gloriosa do Rio de Janeiro em minha infância. Infelizmente, agora só restam as lembranças de um tempo que jamais voltará.
A auto-estima dos cariocas só não está mais baixa pelo fato da Rede Globo ainda ter seu núcleo de teledramaturgia na cidade. O Projac ainda é responsável pela propagação das belas imagens da praia, do Corcovado, das lindas mulheres, enfim, de todo um cenário paradisíaco, cuidadosamente retocado nos estúdios, onde são removidos quaisquer vestígios de sujeira, violência, caos ou qualquer outra coisa que venha a macular o sonho que se propõem a vender.
Ao se verem nas telas de TV, os cariocas pensam que são privilegiados em residirem em tal paraíso, mesmo que ele não corresponda à realidade que pode ser vista das janelas de seus apartamentos e barracos.
Temo pelo destino da cidade quando a Rede Globo decidir levar para São Paulo o seu núcleo de teledramaturgia, pois lá já se encontra o núcleo de jornalismo.
Para
a auto-estima do povo do Rio de Janeiro, tal “abandono”, tal “traição” poderá
ser um golpe quase mortal. Levando a
cidade à uma situação ainda mais caótica do que a atual.
Só restará realmente aos cariocas apelar ao Cristo. Ao Redentor que, firme como uma rocha, nunca os deixará.