sexta-feira, 13 de novembro de 2020

O CIRCO TRÁGICO

O CIRCO TRÁGICO




Conduzir nossos veículos pelas ruas e avenidas das grandes cidades do Brasil atualmente é presenciar a cada semáforo e a cada esquina um verdadeiro espetáculo circense ao ar livre. No entanto, não nos traz alegria assistir tais apresentações à céu aberto, longe da lona protetora dos circos. A tragédia é verdadeira essência destes personagens de rua metropolitanos.

É de se perder de conta o número de malabaristas, engolidores de fogo, palhaços e outros artistas maltrapilhos que encontramos diariamente ao circularmos pelas metrópoles brasileiras. Tais ocorrências pouco variam de cidade para cidade.

A primeira impressão que se tem é de que as ruas se tornaram um refúgio para todo tipo de artistas circenses desempregados. Porém, a realidade é muito mais cruel e trágica.

Não há nada de engraçado no fato de vermos nossas crianças, jovens e, até mesmo, idosos, se sujeitando a fazer palhaçadas em troca de uma moeda, uma migalha de nossas vidas privilegiadas.

Quantos palhaços nas esquinas do Brasil, por trás de sua maquiagem ocultam não um sorriso, mas a tristeza e muitas lágrimas?

Tais pessoas lutam para sobreviver, para terem o que comer, para levarem para seus familiares e amigos uma pequena dose de esperança, acreditando num amanhã melhor e num futuro menos incerto.

Crianças tão pequenas que mal as conseguimos ver na frente de nossos carros, fazendo malabarismo, se arriscando no meio do caótico trânsito da cidade. Podendo ser atropeladas a qualquer segundo, longe das escolas, de um prato de comida, sem expectativa de uma vida mais digna.

Homens e mulheres que poderiam ter uma profissão, um emprego, escola para seus filhos, hospitais nos quais pudessem se tratar, todos abandonados pelas ruas pois não tem qualificações mínimas para conseguirem empregos. Sequer possuem um domicílio fixo, um pequeno lar que possam chamar de seu.

Todos fazendo acrobacias com bolas que voam pelo ar. Elas parecem representar o futuro deles, pois ninguém sabe onde cairão, se as conseguirão alcançar ou até quando aguentarão fazer tal esforço, repleto de incertezas.

Engolidores que, por falta do que comer, têm que se contentar com o fogo ou com lâminas de espadas.

Mágicos que conseguem fazer tudo desaparecer, exceto, a miséria em que se encontram.

Até quando seremos espectadores deste circo trágico? Quando iremos nos mobilizar para ajudarmos a dar oportunidades a todos os homens, mulheres e crianças que lutam tão arduamente para sobreviver mais um dia na floresta de aço, concreto e vidro de nossas grandes cidades?

Não podemos deixá-los abandonados e nos esquecer que também poderíamos estar do outro lado do para-brisa, como artistas frente à uma platéia indiferente.