ÁLBUNS
CLÁSSICOS DO ROCK – VOLUME 3
THE
POLICE – SYNCHRONICITY
FICHA TÉCNICA
ANO
DE LANÇAMENTO |
1983 |
PRODUZIDO
POR |
HUGH
PADGHAM |
MÚSICOS
PRINCIPAIS |
TODAS
AS LETRAS E CANÇÕES DE STING, EXCETO: STEWART COPELAND – FAIXA 5 ANDY SUMMERS – FAIXA 4 STING & ANDY SUMMERS – FAIXAS 11 E 12 STING
– VOCAL, BAIXO, TECLADOS, BATERIA ELETRÔNICA, SEQUENCER, SAXOFONE, OBOÉ E
FLAUTA ANDY
SUMMERS – GUITARRAS, BAIXO, BACKING VOCALS, TECLADOS, VOCAIS EM “MOTHER” STEWART
COPELAND – BATERIA, MARIMBA, PERCUSSÃO, CO-VOCAL EM “MISS GRADENKO” MÚSICO
CONVIDADO: TESSA NILES – BACKING VOCALS |
LISTA DE CANÇÕES DO ÁLBUM
1 |
SYNCHRONICITY 1 |
2 |
WALKING IN YOUR FOOTSTEPS |
3 |
O
MY GOD |
4 |
MOTHER |
5 |
MISS
GRADENKO |
6 |
SYNCHRONICITY
2 |
7 |
EVERY
BREATH YOU TAKE |
8 |
KING
OF PAIN |
9 |
WRAPPED
AROUND YOUR FINGER |
10 |
TEA
IN THE SAHARA |
11 |
MURDER
BY NUMBERS |
12 |
ONCE
UPON A DAYDREAM |
ORIGENS DO ÁLBUM
Em 1981 o The Police lançou o excelente álbum “Ghost
in the Machine”, no qual havia grandes clássicos da banda como “Spirits in the
Material World”, “Invisible Sun” e “Every Little Thing She Does is Magic”. Fizeram
uma longa tour internacional de grande repercussão, que inclusive passou pelo
Brasil. Por todos esses fatores, a banda se tornou uma das maiores do planeta.
O grande sucesso e
reconhecimento que o The Police obteve nessa fase veio com um grande custo
emocional para seus integrantes. Ambos Sting e Andy Summers tiveram seus
casamentos arruinados pela pressão constante do processo ininterrupto de tours,
gravações e viagens pelo mundo. Seus relacionamentos conjugais foram
profundamente abalados e destruídos por seus constantes e prologados períodos
de ausência, até atingirem uma situação irreversível. Além disso, ambos
sofreram muito por não terem podido acompanhar o crescimento de seus filhos, já
que ambos se tornaram pais antes do reconhecimento internacional do The Police.
![]() |
Da esquerda para a direita: Andy Summers, Sting e Stewart Copeland |
Além dos problemas
familiares, havia uma tensão constante entre os membros da banda, com muitos
conflitos e brigas, particularmente entre Sting (baixista, vocalista,
compositor principal e líder de fato da banda) e Stewart Copeland (baterista),
o fundador do The Police. Ambos queriam liderar o grupo e discordavam em
praticamente tudo, desde o nível pessoal até o musical. Essa constante fricção
entre ambos gerava um contínuo desconforto e a certeza de que a parceria
musical entre os três talentosos músicos não duraria muito tempo. A atuação de
Andy Summers (guitarrista) foi a de um pacificador, tentando acalmar os ânimos
das outras duas partes. Ele conseguiu alcançar algum sucesso com seus esforços
diplomáticos, embora sempre soubesse que, mais cedo ou mais tarde, a banda iria
se desfazer e Sting partiria para sua sonhada carreiro solo. Ele já havia
declarado abertamente à Summers e Copeland que no momento que o grupo não fosse
mais útil para ele, que os deixaria imediatamente.
Ao ser questionado sobre a
importância do grupo em sua vida, respondeu: “O grupo é apenas uma parte de
nossas vidas. Não é tudo o que somos ou que queremos da vida. Se fosse, seria
horrível. Eu não conseguiria suportar. Necessito de uma vida privada e de modos
individuais de expressão”.
![]() |
O produtor Hugh Padgham |
Quanto à predominância de suas canções em todos os álbuns, afirmou: “Eu queria que apenas as minhas canções fossem gravadas. Eu achava que era a melhor coisa que a banda poderia fazer. Tive de lutar a cada minuto. Era desgastante e difícil”.
Sting nunca escondeu sua
enorme ambição em alcançar o topo do sucesso e da fama, continuamente
trabalhando duro para fazer com que sua banda se tornasse a maior do mundo. Ele
sempre foi um grande fã declarado dos Beatles, particularmente de Paul
McCartney, e queria seguir os passos da maior banda da história, em cada uma de
suas conquistas.
Em uma entrevista declarou o
seguinte: “Os Beatles foram a banda mais popular de todos os tempos e nosso
objetivo é superá-los.” Prosseguindo, afirmou: “Eu sempre quis ser o melhor. Eu
sou um egoísta. Eu não subiria em cima do palco e faria o que eu faço se eu não
fosse extremamente confiante em tudo que eu faço. Eu acho que seria falso da
minha parte ser modesto. Eu acredito que eu sou um grande compositor e cantor”.
Seu sentimento antes da
gravação de “Synchronicity foi o de que eles tinham que mudar o som pelo qual
eram reconhecidos e haviam se tornado famosos, pois existia muitos outros
grupos que tentavam clonar o som deles, como o “Men at Work”. Se por um lado se
sentia lisonjeado, por outro, sentia que chegara o momento de experimentar algo
diferente.
Para isso, ele precisava
compor um novo álbum, com canções e letras extraordinárias, que marcassem
profundamente os ouvintes e fãs da banda. Algo que levasse o The Police ao topo
das paradas de todo o mundo e, definitivamente, fizesse de sua banda a número
1. No entanto havia uma questão a ser resolvida. Sting declarou: “O problema é
que eu sou um compositor rico e bem-sucedido. Sobre o qual assunto eu irei
escrever agora?”
Para solucionar essa
questão, decidiu se isolar de tudo e de todos, alugando uma casa na Jamaica por
alguns meses, chamada “Golden Eye”, a qual havia pertencido a ninguém menos que
Ian Fleming, o célebre autor inglês, criador do lendário personagem “James
Bond”. Sting usou a mesma escrivaninha que Fleming usara anteriormente para
compor suas novas canções e letras, que foram profundamente inspiradas pelas
obras dos escritores Arthur Koestler, autor de “Roots of Coincidence” e do
grande mestre austríaco da psicanálise, Carl Gustav Jung, e sua obra
“Synchronicity”. Andy Summers já havia feito terapia junguiana antes que Sting e
era um admirador da obra do grande mestre austríaco. No entanto, só revelou
isso ao seu colega baixista ao vê-lo lendo a autobiografia de Jung, intitulada
“Memórias, Sonhos e Reflexões”.
Sting sentiu-se tão
inspirado que teve a certeza de que suas novas canções, juntamente com o novo
álbum, levariam o The Police ao topo, ainda que isso significasse o fim da
banda. Para ele, valeria a pena o sacrifício. A coleção de canções compostas
por Sting foi lançada no quinto e último álbum da curta, mas profundamente rica,
carreira de sua banda
Na hora de escolherem a
sequência das faixas do álbum, ninguém consegui chegar à um acordo até que Andy
Summers sugeriu: “Por que não colocamos as faixas mais rápidas e agitadas no
lado A e as mais lentas no lado B?” Pareceu uma ideia absurda, mas ela foi aceita
pela banda.
O novo álbum foi batizado de
“Synchronicity”, em homenagem à Carl Jung, e Sting conseguiu atingir seu
objetivo: O The Police se tornou a maior banda do mundo.
ANÁLISE DO ÁLBUM – FAIXA A
FAIXA
Synchronicity 1
A canção título e que abre o
álbum aborda o conceito desenvolvido por Carl Jung, relativo às coincidências e
como as coisas se conectam, sem que haja aparentemente uma relação lógica entre
os eventos. Algumas vezes há acontecimentos que não são ligados de uma maneira
lógica, mas simbolicamente e emocionalmente eles o são.
Andy Summers declarou em uma
entrevista que essa canção foi tão difícil de gravar que em uma determinada
noite ele e Stewart Copeland ficaram exauridos com a gravação e deixaram o
estúdio para irem dormir. Ao voltarem no dia seguinte ficaram sabendo que Sting
havia passado a noite em claro, trabalhando sozinho na canção até que ela
estivesse totalmente pronta, pois era uma canção pessoalmente muito importante
para ele, que havia passado por um período de terapia junguiana para tentar
superar o trauma de seu recente divórcio.
Musicalmente, é uma faixa
muito energética, rápida, dinâmica, repleta de referências à Jung e a sua obra.
Sem dúvida, uma grande faixa de abertura para esse álbum inesquecível.
Walking in Your Footsteps
Inspirada em uma fotografia
de Sting tirada no Museu de História Natural de Nova York, na qual ele se
encontra dentro das costelas de um dinossauro, essa é uma das canções mais
diferentes e exóticas de toda a carreira do The Police. Não há nada semelhante
em nenhum outro álbum deles. São usados instrumentos primitivos, como flautas e
tambores, todos eles com a finalidade de remeter o ouvinte à pré-história e à
época em que os dinossauros viviam na terra.
Há 15 milhões de anos atrás
nosso planeta foi habitado por tais criaturas enormes, donos do planeta,
reinando sobre o mundo todo. No entanto, não poderiam esperar que acabariam se
tornando extintos, nos deixando apenas suas ossadas e pegadas no solo como
vestígios. Sting nos mostra que os seres humanos meramente seguem as pegadas
dos dinossauros.
Será que nós não estaríamos seguindo o mesmo caminho? Será que a humanidade não poderia aprender uma lição com a extinção dos dinossauros? Esses são alguns dos questionamentos feitos por Sting nessa faixa ao mesmo tempo bela e incomum.
O My God
Embora a palavra religião
venha do latim “ligare”, que significa conectar, Sting analisa que, ao
contrário disso, em toda a história da humanidade, poucas instituições
separaram tanto as pessoas quanto as diferentes religiões existentes no
planeta.
O personagem da canção se
mostra irritado, zangado com Deus, pois todas as pessoas que ele conhece são
solitárias, sem amor em suas vidas e vivem distantes umas das outras. Pede para
Deus preencher o espaço entre as pessoas de alguma maneira.
Avisa à Deus que não espere
que ele lhe dê a outra face, em uma clara citação bíblica em Mateus 5:39, pois
ele está machucado, frustrado e revoltado com o tratamento que vem recebendo da
divindade suprema desde o dia que nasceu.
Sting chega ao ponto de
chamar a atenção de Deus, pedindo que ele acorde, pois não é possível que não
esteja vendo tanta desigualdade no mundo entre os seres humanos, especialmente
entre os ricos e os pobres.
Além disso, essa canção iniciou uma tradição na obra de Sting, na qual ele faz uma autocitação, sempre mencionando uma faixa do álbum anterior que, nesse caso, foi “Every Little Thing She Does is Magic”. O seu intuito foi o de mostrar que, na realidade, todas as canções do mundo são uma só, formando um todo indivisível.
Mother
Andy Summers parece não ter
sido muito feliz com sua composição totalmente solo selecionada para o álbum,
que é um relato paranoico no qual o personagem tem um relacionamento totalmente
doentio e perturbado com sua mãe, que nunca lhe dá sossego, dominando
totalmente sua vida e inviabilizando o seu relacionamento com qualquer outra
mulher. Ele deixou muito claro que não compôs a canção pensando em sua mãe, com
a qual tinha um ótimo relacionamento.
Sting não quis a cantar nessa
faixa, e apenas tocou seu baixo. Isso levou Andy Summers a cantá-la, além de gravar
as guitarras. Stewart Copeland aceitou participar normalmente, tocando sua bateria.
Andy Summers tem outras
composições muito melhores do que essa em sua carreira, como “Omegaman”, do
álbum anterior. É uma pena que não tenha lançado uma outra tão boa nesse álbum.
As duas faixas finais do álbum, compostas por ele em parceria com Sting, são
bem melhores.
O autor com Andy Summers |
Miss Gradenko
Uma composição agradável de
Stewart Copeland, na qual ele e Sting dividem os vocais. Embora não seja memorável,
musicalmente não destoa do álbum como a faixa anterior. Copeland também teve
momentos melhores em suas composições nos álbuns anteriores do The Police, como
“Does Everyone Stare”, “The Other Way of Stopping” e “Darkness”.
O autor com Stewart Copeland |
Um acontecimento muito
curioso ocorreu durante as gravações do álbum, quando a tensão no estúdio
chegou à níveis insuportáveis. Eles estavam gravando na ilha de Montserrat, no
Caribe, no famoso “Air Studios” de propriedade do lendário George Martin,
produtor dos álbuns dos Beatles. Eles decidiram pedir ajuda a Martin. Quem sabe
ele pudesse socorrê-los e ajudá-los a terminar o álbum? O escolhido para
procurar o maestro foi Andy Summers, que foi a pé até sua casa. Tocou a
campainha e foi atendido pela empregada da casa, que chamou George Martin, que
veio recebê-lo e o convidou para entrar, pois estava ciente da presença do The
Police gravando em seu estúdio.
Martin ouviu atentamente o
relato de Summers, lhe contando todos os problemas que estavam enfrentando. A
resposta do maior produtor musical de todos os tempos foi a seguinte: “Lamento
saber que vocês estejam tendo problemas. No entanto, tenho certeza de que vocês
conseguirão superá-los juntos. Eu já vi tudo isso antes. Nós somos ingleses.
Aceita mais uma xícara de chá?”.
Synchronicity 2
Depois de uma pausa para as
composições de seus parceiros musicais, provavelmente muito a contragosto,
Sting volta com força total, com uma das canções mais energéticas e
contagiantes de toda a carreira do The Police. Um verdadeiro clássico
instantâneo no qual o vocalista solta seu grito de guerra, destinado a
conquistar o mundo da música internacional.
A letra, mais uma das que
foi inspirada na obra de Carl Jung, estabelece um paralelo entre o surgimento
de um monstro nas profundezas de um lago na Escócia e a vida monótona de um
operário, à beira de um colapso mental, que trabalha em uma fábrica e cuja vida
está preenchida apenas pelo aborrecimento, frustrações e infelicidade. O
monstro representa sua ansiedade, tudo que ele nega e esconde de si mesmo em seu
inconsciente, até que uma hora isso se torna impossível. A cada estrofe da
canção, enquanto Sting relata a monotonia e humilhações pela qual o
protagonista passa em sua carreira, o monstro do lago na Escócia vai se
aproximando, primeiramente rastejando no fundo do lago, depois subindo para a
superfície, até que, ao fim da canção, a sombra do monstro já está porta da
casa do operário. Sting nos deixa imaginar qual final trágico foi reservado ao
protagonista da canção.
Uma canção fantástica, muito pesada em todos os sentidos.
Every Breath You Take
Em uma entrevista realizada
na época, Sting afirmou: “Eu acho mais fácil escrever canções infelizes. “Every
Breath You Take” é uma canção muito triste, que me deixa triste, mas é uma
tristeza maravilhosa. Ela foi escrita em um período de uma horrível angústia
pessoal e foi algo catártico eu ter escrito aquela canção”. “Essa canção tem
algum tipo de poder, acho que talvez seja devido à sua ambiguidade, pois ela é
ao mesmo tempo sedutora e sinistra”. “Meu objetivo original era escrever uma
canção sedutora de amor. No entanto, o que eu obtive no final foi algo muito
mais sombrio. A minha vida particular invadiu a canção. Tudo à minha volta
parecia estar se desintegrando: meu casamento, minha banda, minha sanidade, e
tudo isso em uma época que, visto de fora, eu aparentava ser um dos músicos
mais bem-sucedidos do mundo.”
Através de seu sincero
relato podemos ter alguma noção das dificuldades enfrentadas pelo líder da
banda. No entanto, temos que concordar com ele. A canção é realmente
maravilhosa, e acabou se tornando a mais famosa de toda sua carreira, tanto no
The Police quanto em seus álbuns solo.
Se há alguma canção perfeita no mundo, provavelmente essa é uma delas. Tudo funciona magistralmente, desde a letra profundamente tocante, a bateria impecável de Stewart Copeland, a guitarra precisa e melódica de Andy Summers, além do vocal sofrido e o baixo pulsante de Sting.
A letra da canção conta a
história de um relacionamento doentio, no qual o protagonista controla, vigia e
observa cada passo e movimento de sua companheira. A situação é tão grave que
ele pergunta: “Será que você não percebe que você me pertence?” O protagonista
sofre com qualquer movimento de liberdade de sua amada que, no final das
contas, o abandona. É um caso clássico de amor possessivo e controlador.
Após ter concluído a canção,
Sting teve sentimentos dúbios em relação a ela. Se por um lado ficou satisfeito
com sua beleza e perfeição estética, a mensagem e a letra o assustaram. Será
que o caso de amor descrito na canção era o amor real? Claro que não. Para
tentar remediar a situação, ele compôs uma canção “antídoto”, que foi lançada
no álbum seguinte, o primeiro de sua bem-sucedida carreira solo. O título dela é “If You Love Somebody, Set Them Free”.
Agora
sim ficara satisfeito: se você ama alguém, deixe o livre.
Sting declarou que muitas
vezes que encontra seus fãs, especialmente casais, eles lhe dizem que
escolheram “Every Breath You Take” como a música do casal, ou a canção que foi
tocada em suas cerimônias de casamento. A reação dele sempre é a mesma, de
espanto e horror. Ele se pergunta se as pessoas realmente prestaram atenção à
letra que ele canta. Sua resposta aos que fazem tal comentário também é sempre
a mesma: deseja boa sorte ao casal e vai embora imediatamente.
King of Pain
A inspiração para essa maravilhosa
canção, uma das melhores de toda a carreira do grupo, surgiu em uma tarde,
quando Sting estava sentado embaixo de uma árvore em seu jardim, vendo o pôr do
sol. Ao prestar atenção no belo espetáculo, notou que havia uma mancha preta na
superfície solar. Ficou espantado com sua descoberta e se virou para sua
namorada da época, Trudie Styler, que posteriormente se tornou sua segunda
esposa, e lhe disse que havia uma pequena mancha preta no sol. Além disso,
falou: “Acho que é a minha alma lá em cima”. Sua namorada fez pouco caso de seu
comentário e respondeu: “Lá vai ele novamente, o rei da dor!”, que acabou se
tornando o título da canção.
Também declarou: “Parece que
sou duas pessoas. Por um lado, uma personalidade soturna, voltada para a
destruição e, por outro, um louco despreocupado.”
“King of Pain” foi uma daqueles canções que fez sucesso imediato em todas as rádios e com os fãs do The Police. Além da incrível letra, a melodia da canção e o seu refrão são extremamente contagiantes. Sempre foi uma faixa que levantou o público em todas as apresentações em que foi executada e, até hoje, é a favorita de muitos fãs.
A letra da canção lida com
temas abordados na teoria da sincronicidade de Jung, mesclada com sentimentos
pessoais do autor, sempre mencionando a sensação de alienação, isolamento, na
esperança de que alguém consiga salvá-lo de todo o seu sofrimento. No final,
lamenta profundamente toda a situação e admite que ele sempre será o rei da
dor.
Uma obra prima do grande
compositor e baixista.
Wrapped Around Your Finger
Essa é a terceira de uma
sequência de quatro canções épicas do álbum “Synchronicity”. Um dos arranjos
musicais mais belos e delicados da carreira do The Police, executado magistralmente
pelos fabulosos músicos Andy Summers, com sua guitarra discreta e com enorme
bom gosto, juntamente com um trabalho percussivo sutil, porém poderoso do
incrível Stewart Copeland. Tudo isso em cima de uma letra brilhante, cantada
com a voz inconfundível e marcante de Sting. Mais uma obra perfeita.
A inspiração para a canção veio de várias fontes diferentes. Por um lado, há um elemento de alquimia, assunto de interesse do compositor. Por outro, há influências do tarô e da história lendária do folclore alemão do Dr. Fausto, que vende sua alma ao diabo em uma encruzilhada em troca de sucesso, conhecimento ilimitado e prazeres terrenos, com o qual Sting se identificava.
A letra, bastante complexa e
obscura, dá espaço a inúmeras interpretações diferentes. Em uma passagem, Sting
afirma que “Mefistófoles (o demônio com o qual o Dr Fausto negocia sua alma)
não é o seu nome, mesmo assim eu sei o que você almeja”. Há uma clara relação
entre mestre e aprendiz, no qual inicialmente o aprendiz se encontra preso em
torno do dedo de seu mestre. Ele veio apenas buscar conhecimento, coisas que
não são ensinadas na escola. No final da canção, os papéis se invertem.
Tea in the Sahara
O livro “The Sheltering
Sky”, de Paul Bowles. Trata-se da história de três irmãs, cuja única ambição é
a de tomar chá no deserto do Saara. Elas dançam em troca de dinheiro em cafés
na Argélia, mas vivem frustradas pois os homens argelinos para quem elas dançam
são feios e as pagam mal. A situação persiste até que um dia conhecem um homem
bonito e charmoso que pedem que elas dancem para ele, lhes dizendo que tem uma
casa no meio do deserto e, em seguida, vai embora. Elas haviam se apaixonado.
As irmãs economizam
dinheiro, compram um bule de chá e algumas xícaras e partem para o deserto, a
fim de encontrá-lo e realizarem seu sonho. Infelizmente, a história termina de
maneira trágica.
Essa é uma canção sobre
promessas não cumpridas e sobre sonhos não realizados.
Sting canta suavemente a
letra da canção, provavelmente a mais atmosférica da carreira da banda, com uma
instrumentação magistral, esparsa. Andy Summers usa seus pedais de efeito delay
de forma brilhante, assim como Stewart Copeland com sua percussão inspirada e
delicada. Realmente é uma das melhores canções da banda, uma das mais “vazias”
que já ouvi, com muito espaço entre as notas musicais.
Sting declarou que essa é
uma de suas canções favoritas.
Murder by Numbers
Essa canção foi criada inicialmente
por Andy Summers, que trouxe para Sting uma sequência de acordes jazzísticos
altamente sofisticados, exóticos e incrivelmente belos.
O vocalista ficou
interessado pela canção e perguntou à Summers se poderia escrever uma letra
para ele. Andy concordou com a proposta. Sting então fez uma gravação da
sequência musical e saiu para uma caminhada ouvindo a fita. Durante o passeio
lhe veio a ideia de escrever uma ácida paródia, crítica aos livros de autoajuda,
nos ensinando a fazer de tudo e a resolver todos os nossos problemas.
Na canção, o protagonista
nos ensina a cometer um assassinato e como fazer isso com classe, de maneira
profissional, sem derramamento de sangue. Conta que você poderá transformar
isso em uma forma de arte. Assassinar alguém é tão fácil como aprender o ABC.
No final das contas, se você
assassinar um grande número de pessoas poderá juntar aos maiores líderes,
fazendo parte do “Hall da Fama Sombrio”, podendo até mesmo chegar a ser eleito
para algum cargo importante, quando então poderá mandar matar pessoas
livremente, sem ter que mexer um dedo de sua mão.
A canção é ao mesmo tempo
brilhante e bizarra. Tão incomum que até Frank Zappa convidou Sting para
cantá-la em um dos seus shows. Um encontro único.
Once Upon a Daydream
Embora não seja oficialmente
uma faixa de “Synchonicity”, essa canção foi lançada na mesma época como lado B
do single “Synchronicity 2”, pois foi gravada nas mesmas sessões do álbum. Além
disso, o próprio Sting a considera uma canção do álbum em seu livro de letras
intitulado “Lyrics by Sting”. Como o próprio autor a incluiu no álbum, me vi no
dever de fazer o mesmo, pois ela se encaixa perfeitamente com o restante das
canções.
Mais uma canção
originalmente composta por Andy Summers, a qual foi apresentada à Sting, que
criou sua letra trágica e assustadora.
O protagonista da canção se apaixonou por uma moça, a engravidando, e ambos se casaram. O pai da moça descobriu que ela estava grávida, a espancou e acabou matando o bebê que ainda estava em seu ventre. Como vingança, o protagonista comprou uma arma e matou o pai da moça, sendo preso logo em seguida.
A canção conta do sofrimento
e tristeza sentida pelo rapaz, que passará o resto de seus dias na cadeia,
imaginando uma vida a qual nunca terá com sua esposa e filho. Ele passa seus
dias sonhando e chorando.
Sting interpreta a canção
com uma voz apática, como se o mundo estivesse desmoronando ao seu redor e ele
em estado de choque, sem conseguir esboçar qualquer reação. Sem dúvida alguma,
um final muito impactante para a obra máxima dessa que foi uma das maiores
bandas de todos os tempos, com a breve colaboração entre três músicos geniais:
The Police.
O LEGADO DE “SYNCHRONICITY”
Quando o álbum foi lançado atingiu o primeiro lugar das paradas nos EUA e Reino Unido, ficando 17 semanas no topo, chegando a tomar o lugar ocupado pelo mega álbum de Michael Jackson, “Thriller”. “Synchronicity” vendeu mais de 11 milhões de cópias no seu lançamento.
Sobre o enorme sucesso do
álbum, Sting declarou: “As pessoas gostam de canções tristes. Eu tenho o tipo
de voz que combina com canções tristes. No passado, várias vezes eu tive a sensação
de que criava a infelicidade deliberadamente. Dessa vez eu não tive esse
problema”.
O líder do The Police
considerou que “Synchronicity” foi o álbum mais refinado que fizeram em sua
carreira. No entanto ficou surpreso com o sucesso e vendagem do álbum, pois ele
considerava que esse fora o seu trabalho mais esotérico até então. Ele também
declarou ter ficado muito orgulhoso com a alta qualidade do álbum, que levou
muito tempo para ser composto e concluído, além de ter sido o mais difícil que
a banda gravou.
A “Synchronicity Tour” foi
uma das mais bem sucedidas da história, pois a banda esgotava todos os ingressos
dos shows agendados, sendo recebidos pelos seus fãs como a maior banda do mundo
deveria ser tratada. Há um registro sensacional em DVD dessa tour, chamado “The
Synchronicity Concert”. É seguramente um dos melhores shows que eu já assisti,
com a banda executando todos os seus clássicos ao vivo em plena forma,
particularmente as novas canções. É um show contagiante, que deixa qualquer um
eletrizado.
O ápice da tour aconteceu em
Nova York, quando se apresentaram no famoso Shea Stadium, local do maior show
da carreira dos Beatles, que se apresentaram para 50.000 fãs 19 anos antes do
The Police. Sting se sentiu glorioso, pois sua banda conseguiu vender 70.000
ingressos, uma plateia maior do que a de seus ídolos. Durante a apresentação,
Sting agradeceu aos Beatles por “emprestarem a eles o seu estádio”. Nessa
noite, o vocalista decidiu que o fim da banda havia chegado. Não havia mais
nada ser feito. Eram a maior banda do mundo, haviam batido o recorde de plateia
dos Beatles, eram famosos pelo mundo inteiro. Eles estavam no ápice da
carreira. O que restava a ser feito? Para Sting chegara o tão aguardado momento
de partir para uma carreira solo, livre de seus ex-colegas de banda e ávido
para criar obras com outros músicos diferentes.
“A coisa mais importante para
mim é tocar e desenvolver o lado artístico de minha natureza. Infelizmente,
isso tende a arruinar o lado pessoal da minha vida. Isso destrói
relacionamentos e você se torna para sempre um escravo de uma outra amante: a
música”, declarou Sting em uma entrevista realizada na época do lançamento do
álbum.
Andy Summers foi o único que
lamentou o fim do grupo, pois achava que foi algo prematuro, eles ainda eram
muito queridos e vendiam uma enorme quantidade de álbuns.
O The Police chegou a começar a gravar um álbum depois de “Synchronicity”, mas abandonou o projeto, pois o relacionamento entre Sting e Stewart Copeland havia chegado à uma ruptura.
Em 1986 a banda fez uma participação em três show da tour “Conspiracy of Hope”, na qual Sting havia sido convidado a se apresentar. Ele estendeu o convite a seus dois ex-colegas de banda, em uma tentativa de reaproximação com eles. Embora tenham sido muito bem acolhidos pelo público e tocado como se nunca tivessem se separado, ficou claro para Sting que não havia mais a possibilidade de prosseguir com a banda. O mundo havia mudado e uma jovem banda irlandesa estava lutando para alcançar o topo. O nome dela era U2. Sting viu neles os sucessores naturais do The Police.
Em 2007, para a surpresa de
todos, o grupo se reuniu, aceitando o convite feito por Sting a seus dois
ex-colegas de banda. A tour de reunião deles foi um sucesso total, passando
rapidamente pelo Brasil, para um show no Rio de Janeiro, tocando sempre em
estádios lotados por todo o mundo. Isso provou que o poder da música do trio
ainda estava intacto e que seus fãs não haviam se esquecido deles, além de
muitos outros que haviam descoberto a banda mais tarde, quando ela não existia
mais. Para Andy Summers, foi a tour de
despedida que eles nunca haviam feito e que o deixara amargurado por tantos
anos. Ele dizia que a história da banda nunca havia tido um fechamento digno,
que eles não tiveram a oportunidade de se despedir de seus fãs e lhes
agradecerem por todos os anos de apoio que receberam. Agora, encerrada a tour,
os três poderiam novamente seguir os seus caminhos individuais, com sua amizade
renovada, pois todos eles já tinham amadurecido e compreendido que a obra que
criaram juntas era algo muito especial, um legado que ficará marcado para
sempre na história do rock mundial.
Quer ajudar o autor da
coluna a mantê-la ativa, sempre com novas resenhas e análises detalhadas de
outros álbuns clássicos? Que tal então comprar os produtos relacionados ao artista
analisado diretamente no site da Amazon do Brasil? Ao usar os links fornecidos
abaixo para suas compras você estará dando sua contribuição diretamente. Muito
obrigado por seu apoio!
BIBLIOGRAFIA:
Lyrics by Sting - Sting
One Train Later – Andy Summers
Strange Things Happen – Stewart Copeland
The Police – A Visual Documentary by Miles
The Police – James Milton
Sting – Uma Biografia – Wensley Clarkson
The Words and Music of Sting – Christopher Gable
The Complete Guide to the Music of The Police and
Sting – Chris Welch
Wikipedia
LINKS
https://www.youtube.com/watch?v=OMOGaugKpzs
https://www.youtube.com/watch?v=svWINSRhQU0
https://www.youtube.com/watch?v=o5FPPoLqkCk
https://www.youtube.com/watch?v=tFN5DveQH0o
https://www.youtube.com/watch?v=ug-qQ6fXevo
https://www.youtube.com/watch?v=FMmCJ6-uu3M
https://www.youtube.com/watch?v=QZAPm1NKgKE
https://www.youtube.com/watch?v=FTYl1yq334Y