ÁLBUNS
CLÁSSICOS DO ROCK – VOLUME 2
RUSH
– PERMANENT WAVES
FICHA TÉCNICA
ANO
DE LANÇAMENTO |
1980 |
PRODUZIDO
POR |
TERRY
BROWN |
MÚSICOS
PRINCIPAIS |
LETRAS
DE NEIL PEART MÚSICAS
DE GEDDY LEE E ALEX LIFESON, EXCETO A FAIXA 5, APENAS DE GEDDY LEE GEDDY
LEE – VOCAL, BAIXO, TECLADOS, PEDAIS TALRUS ALEX
LIFESON – GUITARRAS, VIOLÕES, PEDAIS TALRUS NEIL
PEART – BATERIA E PERCUSSÃO HUGH
SYME – PIANO NA FAIXA 5 |
LISTA DE CANÇÕES DO ÁLBUM
1 |
THE SPIRIT OF RADIO |
2 |
FREEWILL |
3 |
JACOB´S
LADDER |
4 |
ENTRE
NOUS |
5 |
DIFFERENT
STRINGS |
6 |
NATURAL
SCIENCE |
ORIGENS DO ÁLBUM
Em 1978, o trio canadense
Rush lançou o álbum “Hemispheres”, que continha apenas 4 canções, sendo que a
primeira delas ocupava sozinha todo o lado A do vinil. No lado B, apenas 3
canções, sendo que duas bastante extensas.
O vocalista e baixista,
Geddy Lee, teve muitos problemas na gravação de seus vocais, pois a banda havia
composto as canções de “Hemispheres” sem levar em consideração o tom da voz
dele. Só quando todas as gravações estavam concluídas é ele se deu conta que
teria que cantar em um tom muito acima do seu alcance normal, fazendo com que
ele tivesse que forçar muito a voz, gerando grande desconforto especialmente
nas apresentações ao vivo.
Além das dificuldades
técnicas de gravação, as canções eram muito longas, complexas, difíceis de
serem executadas e não menos complicadas para serem assimiladas pelo grande
público, já que nessa época o Rush ainda era considerada uma banda “cult”, com
um fã clube já considerável, mas ainda sem o grande apelo comercial e de vendas
de outras bandas da época. Eles já haviam tentado fazer algo mais “acessível”
no álbum “A Farewell to Kings”, com a canção “Closer to the Heart”, que foi
muito bem recebida pelos fãs e tocada nas rádios.
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Gravação de Permanent Waves |
Pela primeira vez a banda teve um intervalo entre uma tour e a gravação de um novo álbum, devido ao grande esforço despendido por eles na gravação de “Hemispheres” e sua respectiva tour.
Por todas essas razões, a
banda (e particularmente o vocalista Geddy Lee) decidiu que o álbum seguinte
seria completamente diferente, mais fácil de ser gravado, com canções mais
curtas e acessíveis ao público. O trabalho anterior fechou um ciclo da história
da banda. Com o trabalho que seria gravado na sequência, o Rush iniciaria uma
nova fase em sua longa trajetória musical.
O grande dilema da banda era
como conseguir compor canções mais curtas e acessíveis ao público,
especialmente os ouvintes das rádios, mas ao mesmo tempo manter o virtuosismo e
habilidade que sempre caracterizou os trabalhos anteriores do Rush. Eles
queriam reduzir as canções habituais deles, que duravam entre 8 a 11 minutos,
para outras mais condensadas, entre 4 a 5 minutos.
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Da esquerda para a direita, Geddy Lee, Neil Peart e Alex Lifeson |
Além de todos esses fatores,
a banda vinha acompanhando de perto a então nova onda musical, intitulada “New
Wave”, da qual todos eram fãs, em particular da melhor banda do movimento: “The
Police”, com suas fortes influências do reggae e que, assim como o Rush, também
era um trio.
Decidiram que tentariam
alcançar um equilíbrio perfeito, com canções épicas, progressivas, com muito
virtuosismo musical, porém mais enxutas e “fáceis” de serem ouvidas e
assimiladas.
Seria possível alcançarem
tal objetivo? O álbum seguinte, que acabou sendo batizado de “Permanent Waves”,
provou que sim.
ANÁLISE DO ÁLBUM – FAIXA A
FAIXA
The Spirit of Radio
Segundo Geddy Lee, todo o
processo de gravação de “Permanent Waves” foi fácil e agradável. Foi uma
alegria para a banda fazer esse álbum, pois tudo fluiu com muita rapidez e
espontaneidade. Todo esse sentimento de satisfação e leveza foi incorporado às
novas composições.
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Geddy Lee gravando seus vocais |
O baterista Neil Peart disse
que a hora do Rush havia finalmente chegado e que as pessoas ligavam para as
rádios pedindo para elas tocarem canções deles. Para muitas bandas, a execução
nas rádios trouxe a popularidade. Para eles o caminho foi o inverso.
A faixa que abre o álbum, “The Spirit of Radio” é definitivamente uma das melhores que a banda compôs em sua carreira. Ela se inicia com um arpegio do virtuoso guitarrista Alex Lifeson em altíssima velocidade, simulando as ondas do rádio circulando pelo ar, como se o ouvinte estivesse tentando sintonizar seu rádio.
A letra da canção, como
todas as outras do álbum (e quase todas da carreira da banda) foi escrita pelo
brilhante letrista e baterista, Neil Peart. Nela, ele celebra a alegria de se
acordar pela manhã com o som do rádio tocando sua canção favorita, todo o
prazer que isso nos traz ao longo do dia, indo para o trabalho e conduzindo
nossas vidas.
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Neil Peart e sua paixão pelos livros |
Peart descreve de maneira profundamente
poética a energia e magia da música, o poder que ela tem de nos fazer felizes,
ainda que estejamos sozinhos. Em outra parte da letra, nos alerta que, apesar
de acreditarmos na liberdade da música, infelizmente ela é comprometida através
do fascínio com prêmios, paradas de sucesso e fama que, por vezes, acabam
abalando a integridade da obra musical, mostrando que isso pode ser uma grande ilusão.
O título da canção faz
alusão ao slogan de uma rádio popular de Toronto a época, chamada “CFNY”, cuja
história difícil serviu de inspiração para Peart.
Ele também faz uma menção à célebre canção de Paul Simon, “The Sounds of Silence”, cuja letra original diz que as palavras dos profetas estão escritas nas paredes das estações do metrô. Aqui, Peart diz que as palavras do lucro estão escritas nas paredes dos estúdios, criticando a incessante busca do sucesso financeiro por parte das gravadoras. Nesse mesmo trecho da canção, fazem uma pequena homenagem à banda favorita deles na época, “The Police”, tocando uma passagem no estilo reggae típico do trio liderado por Sting.
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Momento acústico |
“The Spirit of Radio” foi um
clássico imediato, uma daquelas canções que se torna inesquecível desde a
primeira vez que a ouvimos. Passou instantaneamente a ser uma das mais queridas
pelos fãs da banda e nunca mais saiu do setlist em seus shows, até o fim de
seus 40 anos de carreira.
Freewill
Essa é uma rara canção
complexa mas, ainda assim, acessível. Com uma letra brilhante, Peart fala sobre
o livre arbítrio e nos alerta sobre os perigos de seguirmos cegamente alguma
ideologia ou religião. Nos mostra também a importância de criarmos nossos
próprios destinos, usando para tal o mencionado livre arbítrio.
O grande letrista rejeita
aqui qualquer tipo de fatalismo, encorajando o ouvinte a acreditar na
construção de seu próprio caminho e futuro. Afirma que alguns pensam que somos
espíritos em meio de uma dança sem qualquer propósito, sendo dominados por
poderes os quais não conseguimos ver. Mostra o perigo de seguirmos um guru
qualquer com uma voz celestial, acreditando que ele ou ela nos levará ao
caminho da salvação. Provavelmente a melhor letra de todo o álbum e uma das
melhores da carreira do inspirado baterista e letrista do Rush.
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Geddy Lee |
No quesito musical, o arranjo é bastante difícil, mas possui um refrão muito forte. No meio da canção há uma passagem no qual o baixista Geddy Lee faz um incrível solo de baixo, logo seguido por um brilhante solo alucinado do guitarrista Alex Lifeson. Realmente um dos pontos altos de “Permanent Waves”.
Jacob´s Ladder
Neil Peart sempre foi um estudioso
dos fenômenos climáticos, conhecendo profundamente o assunto. A letra da canção
descreve um raro evento, que ocorre quando as nuvens ficam escuras, bloqueando
toda a luz do sol e, de repente, se abre um espaço no meio delas pelo qual
passa um feixo de raios brilhantes do sol, como se fosse uma escadaria para os
céus.
Eu tive o privilégio de
presenciar um evento desses em dezembro de 2013, quando visitei o Santuário
Nossa Senhora da Piedade, em Minas Gerais. Fiquei encantado e impressionado com
a beleza do fenômeno nos céus, com sua magnitude e imponência. Uma das fotos
que fiz na ocasião faz parte dessa matéria. Para ler minha matéria completa
sobre tal local, clique no link a seguir: https://www.cidadeecultura.com/santuario-nossa-senhora-da-piedade/
Provavelmente essa é a canção
mais no estilo tradicional dos trabalhos anteriores da banda, inclusive por ser
uma das mais longas do álbum, com mais de 7 minutos de duração.
O letrista descreve o
acontecimento como se as nuvens estivessem se preparando para uma batalha nos
céus. O clima instrumental ameaçador acentua sua descrição e nos envolve em uma
incrível paisagem cinematográfica sonora, na qual o ouvinte consegue imaginar o
grande espetáculo no céu.
Essa canção inicialmente foi criada como uma faixa instrumental, com o arranjo dos instrumentos criando uma rica paisagem sonora descrevendo o fenômeno único. Somente após a criação de toda a parte instrumental é que a letra foi composta, complementando o que já havia sido descrito em forma de música.
Seguramente a faixa mais densa e grandiosa do álbum “Permanent Waves”.
Entre Nous
Uma faixa bastante singular,
pois é uma das poucas da carreira do Rush que não possui um solo de guitarra. É
uma canção bastante curta, fácil de ser assimilada e muito agradável.
Ao contrário das três
primeiras canções do álbum, essa faixa não foi executada ao vivo durante a tour do lançamento de “Permanent Waves”.
Somente em 2007, 27 anos depois, foi tocada ao vivo durante a tour promocional
do álbum “Snakes and Arrows”, realizando o sonho de muitos fãs, que sempre
sonharam em ouví-la em um show do Rush.
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Alex Lifeson e sua coleção de instrumentos |
Uma outra peculiaridade da
canção é que se trata da única de toda a carreira da banda que possui um título
em francês, significando “Entre Nós”. No entanto, na letra em si, tudo está
escrito em inglês.
Essa expressão que deu título à faixa foi amplamente usada por Ayn Rand em sua grande obra “The Fountainhead”, um dos livros favoritos de Peart, que sempre foi um grande admirador da grande escritora e que serviu de inspiração para vários outros trabalhos do Rush, particularmente no álbum “2112”.
A letra da canção ressalta a
importância do indivíduo, até mesmo nos relacionamentos mais íntimos, nos quais
nossas diferenças podem permanecer escondidas das pessoas com quem nos
envolvemos. No entanto, o autor ressalta que isso pode ser algo positivo, pois
cada um de nós seria “um romance que jamais foi lido”, repleto de descobertas a
serem feitas pela outra parte. Celebra a individualidade e a necessidade de
crescermos como pessoas, com todas as nossas particularidades que nos tornam
únicos.
Na canção, Peart afirma que
cada um de nós é um planeta em sua própria órbita, que ocasionalmente atinge um
eclipse. Também diz que as diferenças que existem entre nós, as quais muitas
vezes temos medo de mostrar, na realidade dão espaço para que ambas as partes
possam crescer como pessoas. Mais uma letra inspiradíssima do grande mestre das
baquetas e palavras.
Different Strings
Uma das minhas canções
favoritas em toda a carreira do Rush. É uma canção única em vários aspectos.
Foi a única do álbum que nunca foi executada ao vivo, embora sempre tenha sido
muito querida pelos fãs. Além disso, possui um arranjo instrumental bastante
esparso, muito incomum na obra do Rush, onde todos os instrumentos sempre tem
uma atuação constante e intensa.
O amigo da banda, Hugh Syme, fez uma participação especial, tocando piano na faixa composta apenas por Geddy Lee e com letra de Neil Peart. Embora não tenha participado da composição da faixa, o guitarrista Alex Lifeson deu uma contribuição brilhante, tocando com muito bom gosto e refinamento, além de ter criado um solo blueseiro extraordinário no final da canção.
O guitarrista afirmou em uma
entrevista que em todo álbum do Rush eles faziam um canção experimental, que
nunca seria tocada ao vivo, na qual fariam coisas incomuns no estilo da banda.
Tal tradição se iniciou com a belíssima faixa “Tears”, do álbum “2112”, e foi
seguida por “Madrigal”, do álbum “A Farewell to Kings”. Em “Permanent Waves”,
foi a vez de “Different Strings”.
Na letra da canção, Peart se
aprofunda no tema abordado na faixa anterior, contando que, apesar de todas as
nossas diferenças e individualidade, nós fazemos parte de algo maior,
compartilhando características em comum. Ele também lamenta a perda de nossa
inocência e ingenuidade. Seria quase que uma canção de amor, algo muito raro na
carreira do Rush. No final das contas “não há nada para explicar, isso é uma
parte de nós a ser encontrada dentro de uma canção.”. Pura poesia.
Natural Science
Foi a última faixa a ser
composta para o álbum. Ela foi intencionalmente criada para ser a mais longa,
com mais de 9 minutos de duração, além de apresentar um estilo mais
progressivo, próximo aos trabalhos anteriores da banda.
Teve um nascimento difícil
mas, posteriormente, acabou se tornando uma das favoritas da banda, pois sempre
consideraram um grande desafio tocá-la ao vivo.
Aqui o tema é a beleza da ciência e das tentativas em vão por parte da humanidade em tentar controlar a natureza. Peart afirma que nosso destino será a aniquilação total a menos que prevaleça o esclarecimento das mentes de cada indivíduo.
“Natural Science” é uma peça
ambiciosa e complexa, que acabou sendo muito apreciada pelos fãs, sendo sempre
muito bem recebida em todos os shows do Rush.
O grande letrista descreve
uma infinidade de micro universos que desconhecem completamente a existência de
seus vizinhos mais próximos. No entanto, todos nós fazemos parte da natureza,
sendo parte de um grande todo.
Felizmente, a conclusão da
canção é positiva, pois o autor afirma que as “ondas permanentes”, que deram o
título ao álbum, representam a natureza cíclica e infinita de todas as coisas,
um ensinamento fortemente presente no Budismo.
Desta forma, o Rush encerra
sua obra prima de forma magistral.
O LEGADO DE “PERMANENT WAVES”
“Permanent Waves” foi um
marco na carreira banda, pois conseguiu abrir as rádios para o Rush, que
começou a ser reconhecido como uma das maiores bandas do mundo, passando a
lotar arenas por todos os lugares onde se apresentavam.
Fizeram uma tour longa por
todos os EUA e Canadá, além de uma visita à Inglaterra, onde são muito queridos
e tem um grande fã clube.
Neil Peart acabou
estabelecendo uma forte amizade com Stewart Copeland, baterista do “The
Police”, pois um era fã e admirador do trabalho do outro. Permaneceram sendo
grandes amigos até o final da vida de Peart.
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Stewart Copeland e Neil Peart tocando juntos |
O álbum marcou o início de
uma fase muito feliz e de grande sucesso comercial e artístico para o Rush.
Conseguiram alcançar um público mais abrangente, que reconheceu a alta
qualidade do trabalho da maior banda canadense de todos os tempos.
Até hoje “Permanent Waves” é
considerado um dos maiores clássicos do Rush, que abriu o caminho para a obra
seguinte, que lhes traria ainda mais sucesso e fama, o álbum “Moving Pictures”.
Mas essa é uma outra história...
A presente matéria é dedicada à memória do genial músico e letrista Neil Peart, como um modesto tributo de minha parte, por todo o legado musical e literário que nos deixou, o qual jamais será esquecido.
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Neil Peart |
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BIBLIOGRAFIA:
Rush – The Illustrated
History – Martin Popoff
Rush – Album by Album – Martin Popoff
Contents Under Pressure – 30 Years of Rush at Home and
Away – Martin Popoff
Rush – Chemistry – Jon Collins
Rush – Song by Song – Alex E. Body
Wikipedia
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